Excelentíssimo Senhor Presidente da República do Brasil,
Erradicamos a pobreza e muitas doenças. A distribuição de renda prima pela eqüidade, o que permitiu o decréscimo da violência. Revertemos o efeito estufa e o aquecimento global não mais ameaça a existência dos seres vivos. Nossas indústrias são ecotecnológicas. A expectativa de vida é alta e a taxa de mortalidade quase inexistente.
Condições de trabalho satisfatórias e a medicina preventiva têm feito as pessoas adiarem a aposentadoria, desafogando o sistema de previdência. Um judiciário eficiente acabou com a corrupção.
Contudo, a Educação de nossas crianças e jovens preocupa. Desde a implantação do sistema educacional robótico, mediado por computadores, percebemos que os estudantes estão perdendo a capacidade de compreensão do todo, tornando-se incapazes de pensar por si mesmos.
Todo o sistema é previsível: para um problema de Química, apertar o botão Q36; para um fato histórico, aperta-se o H43; para a Redação, o código 53, que, seguido do gênero, traz um texto pronto. Matemática já não é mais um problema, como foi para os nossos antepassados: o programa Hackermats num só clique resolve qualquer desafio. Viajar? Bastam simuladores.
Acredito que, se acontecer dos nossos supergeradores entrarem em pane, nossa sociedade será destruída, pois quem conseguiria sobreviver sem os botões da vida ultramoderna?
Soube de uma antiga classe chamada professores, especialistas em fazerem pessoas pensarem de forma autônoma, um grupo dos ofícios já extintos, desenvolvidos pelos grandes mestres, que envolvia processos complexos, de dimensões técnicas, éticas e estéticas, entre outras. Tiveram grandes conflitos: às vezes eram considerados sacerdotes e salvadores e em outras, grandes vilões. Trabalhavam em condições precárias e exigia-se deles o uso de recursos mais modernos. Eram exaltados e ao mesmo tempo enxovalhados. Quando lhes tiraram a autonomia intelectual, não resistiram e pereceram.
Peço, Vossa Excelência, que resgatemos esses profissionais para não morrermos num mar perigoso disfarçado de calmaria. Compreendemos agora, a duras penas, que uma sociedade se faz com uma juventude crítica e quem pode construí-la é um profissional insubstituível chamado professor.
Atenciosamente,
Sócrates de Paulo Freire
Ministro da Educação
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