"Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham, nem fiam. E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles".

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Martini seco, de Fernando Sabino.

Martini seco é uma narrativa policial. Logo em seu início acontece um crime que permanece inexplicado até ao final. Existe a possibilidade de que o crime se repita, sendo que novas informações vão gerando novas possibilidades a cada momento. O texto é dividido em quatro partes, que delimitam as etapas da história e as transformações ocorridas. Vamos, a seguir, acompanhar cada uma dessas partes.

Primeira parte
Esta parte se inicia com a narrativa do crime ocorrido em 17 de novembro de 1957. Amadeu Miraglia e sua esposa Carmem entraram em um bar, sentaram-se e pediram dois martinis. Ela foi ao telefone e ele foi ao banheiro. Quando retomaram, a mulher tomou a bebida e caiu morta. Estabelecida a confusão, ninguém sabe como a polícia chegou. Após a hipótese inicial de suicídio. Entretanto logo surgiram as suspeitas de que se tratava de assassinato. O marido foi considerado como o principal suspeito. Preso, acabou confessando; mais tarde, em juízo, alegou que fora torturado para confessar e acabou sendo absolvido da acusação.
Cinco anos depois, Maria, a segunda mulher de Amadeu Miraglia, vai à delegacia apresentar queixa, porque desconfia que ele quer matá-la e que usará veneno para que o caso termine como o anterior. Amadeu é interrogado e nega tudo. Levanta a hipótese de que ela. Maria, pretende se matar e jogar a culpa nele. Acrescenta que já está acostumado com este tipo de injustiça, pois quando criança também foi acusado pelo pai, injustamente, pela morte de um passarinho.

Segunda parte
Curiosamente, esta parte se inicia da mesma forma que a primeira, inclusive com a repetição das mesmas palavras. Para o leitor, fica parecendo que Miraglia e a mulher estão envolvidos num novo assassinato, mas na realidade o que se passa é a reconstituição do crime. A partir deste momento, o leitor toma contato com novas informações, que ele terá de juntar às anteriores para compor um quadro de hipóteses coerentes quanto à atitude dos personagens. Miraglia conta que ia se casar com Carmem e que ela estava grávida. Miraglia diz que o filho não poderia ser seu, pois ele era estéril. Miraglia explica que Carmem se suicidou porque não queria admitir que lhe fora infiel. Miraglia diz que Maria também queria se matar, porque também estava grávida e sabia que o filho era ilegítimo. Em meio a tantas informações, o caso toma vários caminhos, que o detetive Serpa tenta questionar, concluindo que todas as suspeitas apontam para Miraglia. A história se repete: Maria vai com Miraglia ao bar, toma um Martini e cai morta.

Terceira parte
Como se pode ver, esta história acontece como num jogo, o de damas por exemplo, em que novas possibilidades de jogadas vão acontecendo. O detetive Serpa levanta a hipótese de que Miraglia pretendia se matar, mas que Carmem acaba tomando o Martini no cálice errado, e que com esse engano acabou falecendo. Neste momento, Maria lhe telefona para saber se deve tomar o cálice de Martini que Miraglia lhe oferece. Serpa diz que ela deve beber o outro cálice, o que pode configurar um erro, pois se Miraglia pretendia se matar, ela, Maria, morreria fatalmente.

Quarta parte
Novamente o leitor é levado a crer num real assassinato, mas que acaba por não ocorrer. Maria não havia morrido e resolve retirar a queixa contra Miraglia porque se arrependeu, sendo que o caso acabou dado como encerrado. Porém, uma desconhecida morre, também por envenenamento, no mesmo bar em que ocorreu a primeira morte, e Serpa, finalmente, tem uma pista concreta em suas mãos. O fato leva Serpa a concluir que uma desconhecida havia tomado o Martini de Miraglia e morrera, o que confirma que ele pretendia mesmo se matar.

O final é inconcluso, não deixando que o leitor tenha qualquer certeza sobre a culpabilidade ou não de Miraglia.


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