"Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham, nem fiam. E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles".

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Sobre o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

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Língua não se congela. Ela é viva, pulsante. Palavras e expressões em voga numa época caem em desuso em outra. Até mesmo tempos verbais são criados e eliminados e não há sábios ou academias que possam deter a dinâmica histórica de uma língua. O português do Brasil, com suas variantes regionais, é bem mais vocálico do que o de Portugal, mais consonantal. Não é por acaso que nós achamos que eles “engolem” letras e eles que nós falamos “descansadinho”. Mas, se não chegamos a um consenso sobre a forma de falar, seria possível ao menos um acordo sobre como escrever? O que está certo, “pequeno-almoço” ou “café-da-manhã”? O que soa mais “português”, “mountain bike” ou “btt(bicicleta todo-o-terreno); banda desenhada ou história em quadrinhos? O mais adequado seria “facto”, como querem eles, ou “fato”, como queremos nós? De uma maneira ou de outra, não estamos mais dispostos a aceitar que tomamos a língua “deles” emprestada e nos cabe apenas respeitá-la. Afinal, somos a maioria. De resto, os ingleses inventaram o futebol e não são eles os mestres da bola. Por que seriam os portugueses os donos de uma língua falada por 180 milhões de brasileiros? O novo Acordo Ortográfico busca um consenso, quando for possível, e duas redações oficiais, quando isso não for possível. Ele não mexe, nem poderia fazê-lo, na nossa forma de falar, mas busca facilitar, padronizar a escrita. Assim, na opinião dos defensores do acordo, livros publicados em Portugal não precisariam mais sofrer revisão para serem publicados aqui, por conta das diferenças na ortografia lá e cá. Dessa forma, tanto o mercado português como o de países como Angola e Moçambique ficariam mais acessíveis aos livros e às revistas produzidos no Brasil. Se depender do novo Acordo Ortográfico, o português terá as mesmas regras em todos os países em que é adotado como língua oficial.

Considerado um dos aspectos mais importantes das línguas escritas, a ortografia é também um dos mais polêmicos, e o caso do português não é uma exceção: presente, desde o século XVI, nas primeiras gramáticas de nosso idioma, a reflexão acerca do modo correto de escrever (horto = correto; grafia = escrita) foi palco dos mais acirrados embates lingüísticos, conhecendo um processo desgastante de relativa estabilização idiomática que, a despeito dos mais intensos esforços, não logrou atingir o consenso até os dias de hoje. Com efeito, falar de ortografia é provocar acirradas polêmicas em torno não apenas do modo como se escreve determinada língua, mas da maneira como esse idioma se constitui e dialoga com o vasto universo de significados (sociais, lingüísticos, históricos, culturais etc.) que se encontra à sua volta.

AD

sexta-feira, 28 de maio de 2010

A acentuação de ditongos e hiatos com o Novo Acordo Ortográfico

ACENTUAÇÃO
Nova Regra:
Ditongos abertos (ei, oi) não são mais acentuados em palavras paroxítonas
Regra Antiga: assembléia, platéia, idéia, colméia, boléia, panacéia, Coréia, hebréia, bóia, paranóia, jibóia, apóio, heróico, paranóico
Como Será: assembleia, plateia, ideia, colmeia, boleia, panaceia, Coreia, hebreia, boia, paranoia, jiboia, apoio, heroico, paranoico
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obs: nos ditongos abertos de palavras oxítonas e monossílabas o acento continua: herói, constrói, dói, anéis, papéis.
obs2: o acento no ditongo aberto "eu" continua: chapéu, véu, céu, ilhéu.
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Nova Regra:
O hiato "oo" não é mais acentuado
Regra Antiga: enjôo, vôo, corôo, perdôo, côo, môo, abençôo, povôo
Como Será: enjoo, voo, coroo, perdoo, coo, moo, abençoo, povoo
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O hiato "ee" não é mais acentuado
Regra Antiga: crêem, dêem, lêem, vêem, descrêem, relêem, revêem
Como Será: creem, deem, leem, veem, descreem, releem, reveem
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Nova Regra:
Não existe mais o acento diferencial em palavras homógrafas
Regra Antiga: pára (verbo), péla (substantivo e verbo), pêlo (substantivo), pêra (substantivo), péra (substantivo), pólo (substantivo)
Como Será: para (verbo), pela (substantivo e verbo), pelo (substantivo), pera (substantivo), pera (substantivo), polo (substantivo)
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Obs: o acento diferencial ainda permanece no verbo "poder" (3ª pessoa do Pretérito Perfeito do Indicativo - "pôde") e no verbo "pôr" para diferenciar da preposição "por"
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Nova Regra:
*Não se acentua mais a letra "u" nas formas verbais rizotônicas, quando precedido de "g" ou "q" e antes de "e" ou "i" (gue, que, gui, qui)
Regra Antiga: argúi, apazigúe, averigúe, enxagúe, enxagúemos, obliqúe
Como Será: argui, apazigue,averigue, enxague, ensaguemos, oblique
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*Não se acentua mais "i" e "u" tônicos em paroxítonas quando precedidos de ditongo
Regra Antiga: baiúca, boiúna, cheiínho, saiínha, feiúra, feiúme
Como Será: baiuca, boiuna, cheiinho, saiinha, feiura, feiume

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GRAMÁTICA

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Entendemos que o objetivo desta disciplina é o de propiciar situações de estudos e leituras que possibilitem ao graduando capacitar-se para lidar com os conteúdos e exercícios, de maneira que possam adquirir uma visão panorâmica da língua portuguesa falada e escrita atualmente no Brasil, em todos os níveis, principalmente na modalidade culta. Para isto, procuraremos transmitir os conceitos, critérios e classificações morfossintáticas; desenvolver a capacidade expressiva dos usuários da língua, para que sejam capazes de empregá-la adequadamente nas várias situações de comunicação; desenvolver o raciocínio e a capacidade de análise e reflexão sobre a língua através da gramática normativa.

O estudo da ortografia. A origem, estrutura, formação, classificação e flexão das palavras; a análise sintática, os termos essenciais, integrantes e os acessórios da oração, o período composto, as sintaxes de concordância, de regência e de colocação constituem alguns dos tópicos a serem abordados.

Como critérios de avaliação, nossa proposta é a de interação nos estudos e nas avaliações grupais; elaboração de resumos dos tópicos gramaticais e fichamentos de exemplos; avaliações formais [verificações de aprendizagem] e informais [participação e dedicação nas atividades].

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BIBLIOGRAFIA BÁSICA:

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37ª ed., Rio de Janeiro: Lucerna, 2001.

CARONE, Flavia de Barros. Morfossintaxe. 9ª ed. São Paulo: Ática, 2001.

CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática. 43ª ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2000.

GUIMARÃES, F. & GUIMARÃES, M. A gramática lê o texto. São Paulo: Moderna, 1997

PERINI, Mário A. Gramática descritiva do português. 4ª ed. São Paulo: Ática, 2003.

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quinta-feira, 27 de maio de 2010

A crônica: um gênero tão livre e tão perigoso


Já escrevi mais de cinco mil crônicas. E a uns estudantes que me pediram uma síntese sobre o gênero, respondi o seguinte:

É o samba da literatura. É ao mesmo tempo, a poesia, o ensaio, a crítica, o registro histórico, o factual, o apontamento, a filosofia, o flagrante, o miniconto, o retrato, o testemunho, a opinião, o depoimento, a análise, a interpretação, o humor. Tudo isso ela contém, a polivalente. Direta a simples como um samba. Profunda como a sinfonia”.

(Artur da Távola, Jornal O Dia, 27 de junho de 2001.)

Talvez iniciasse este texto dizendo que ele poderia ser uma das tantas crônicas sobre a crônica. Mas vou deixando para depois. O que me leva a escrever aqui e agora, neste nosso espaço educador, é o fato de estarmos em tempo de oficinas na Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro.O gênero se inaugura nesta edição.

Este texto – crônica ou não - quer mexer um pouco com nossas ideias sobre o gênero e com os afazeres pedagógicos que por certo andarão acontecendo em muitas escolas que desenham, num silencioso trabalho, o sonho e a esperança de uma educação melhor.

O que temos como alicerce comum é o caderno do professor - real ou virtual - com a orientação minuciosa do trabalho, compartilhada por tantas cabeças e corações numa mesma sintonia de intenções. Ele mapeia nossa primeira investida, nosso pensar e repensar, e nos encoraja a rascunhar e tecer outros projetos para outros futuros e próximos alunos que virão.

Também oferece ao nosso dispor leitor uma pequena coletânea de crônicas e cronistas, de Machado de Assis a Carlos Heitor Cony, numa linha do tempo situada entre 1877 a 2007.

Fico pensando, engolindo seco, que ainda se fala que o professor, de um certo modo, não tem um projeto leitor. O que pode ser uma reflexão para uma outra crônica, mas não a de agora, deste pedaço encorajador e laborioso. Considerando-se, no entanto, a polêmica mal tocada, nada melhor do que cada professor se organizar e realizar a sua leitura como um mote para os alunos realizarem as suas. É como se o seu patrimônio de leituras circulasse em meio às oficinas de preparação para a Olimpíada, arejando-a. Assim se descobrirá muita coisa sobre a crônica. Outros olimpos.

Penso e acredito que os professores que mergulharem nesse projeto irão usufruir também de suas ideias próprias sobre a crônica. Por conta de suas íntimas e intensas provocações. Já adiantei no título e volto a ressaltar: a crônica para mim tem um toque de liberdade e uma brisa de perigo.Será?

Imagino que boa parte de vocês já perambulou pelo caderno “A ocasião faz o escritor” e já organizou sua leitura inicial no percurso da sua sequência didática. E em meio a tudo isto deve estar ainda se dizendo: afinal, o que é mesmo uma crônica?

Fico pensando se é tão importante assim, ter uma definição certa e apurada deste gênero que nos aponta a tantos caminhos e nos leva a tantas direções. Penso eu que tudo aquilo que é aparentemente livre tem sua dose exata e correspondente de perigoso. Falo isso porque podemos formar um conceito sobre este gênero tão delicioso e delicado de ler e tão bem inserido na cultura brasileira.

No começo pode ser que a gente faça algumas pequenas confusões nas hipóteses de apropriação pedagógica, e assim achemos que a crônica tem algo próximo e parecido com o conto, por exemplo. E tem mesmo. Parece, é próxima, similar, tudo bem. Mas, é bem diferente.

Talvez valha a pena relembrar -“Cronos”, o deus grego do tempo - que a crônica narra fatos históricos em ordem cronológica e trata de temas da atualidade. Verdade relativa e parcial. Há outras características da crônica a serem consideradas num projeto que deseja a sua produção. Assim como a fábula e o enigma, por exemplo, a crônica é um gênero narrativo. Nessa hora a gente se lembra de uma das mais famosas crônicas da História da literatura luso-brasileira que corresponde à definição de crônica como "narração histórica": É a "Carta de Achamento do Brasil", de Pero Vaz de Caminha", na qual são narrados a D. Manuel, o descobrimento do Brasil e os primeiros dias que os marinheiros portugueses passaram aqui.

O que sabemos hoje, depois de tantos redescobrimentos, é que a crônica assume vários tons ao retratar os acontecimentos da vida brasileira. Como se vê, há no modus operandi genuinamente brasileiro um certo ar camalêonico na crônica. Pode ser? Podemos considerar que a crônica tal qual se configura, nasce com Machado de Assis. Veja uma pitada quando, no final do século XIX, escreve uma crônica sobre a crônica:

Há um meio certo de começar a crônica por uma trivialidade. É dizer: Que calor! Que desenfreado calor! Diz-se isto, agitando as pontas do lenço, bufando como um touro, ou simplesmente sacudindo a sobrecasaca. Resvala-se do calor aos fenômenos atmosféricos, fazem-se conjecturas acerca do sol e da lua, outras sobre a febre amarela, manda-se um suspiro a Petrópolis, e la glace est rompue está começada a crônica.(...)”.

(Machado de Assis. O nascimento da crônica. "Crônicas Escolhidas", São Paulo: Ática, 1994)

Numa outra síntese podemos dizer que a crônica, publicada em jornais ou revistas, virtuais ou reais, destina-se à leitura dos e sobre os acontecimentos sociais e cotidianos. Destaca-se: não busca a exatidão da informação. É pois, diferente da notícia, da reportagem, que trata de relatar os fatos que acontecem. A crônica os analisa num outro enfoque. Livre e perigoso. Por assim se constituir, inaugura no real um colorido emocional, sutil, intenso. Oferece aos olhos do leitor uma situação comum e ao mesmo tempo inusitada, vista por outro ângulo, singular, íntimo, revelador. (Imagino quantos outros adjetivos você poderá à crônica atribuir).

Quem é o leitor da crônica? Boa pergunta. O leitor pressuposto da crônica é urbano e, em princípio, um leitor de jornal ou de revista. Talvez uma espécie de preocupação que acompanha a vida cotidiana faça com que esse leitor, dentre os assuntos tratados, dê ao cronista maior atenção aos problemas do modo de vida urbano, do mundo contemporâneo, dos pequenos acontecimentos do dia a dia comuns nas grandes cidades. É como se esses acontecimentos pudessem contemplar os problemas humanos vividos em todos os lugares e em todas as ordens sociais. Mas, cá entre nós, penso que a crônica já circula pelos cotidianos das tantas comunidades, guetos e espaços alternativos e vai cronicando onde houver a ocasião para se cronicar.

Podemos também dizer que a crônica tem jornalismo na literatura. Ou literatura no jornalismo. De um, recebe a observação atenta da realidade que pulsa e do outro, a construção da linguagem, o jogo verbal. Há uma dita ideia de que a crônica seria um gênero menor, que iria embora esquecida como as noticias de jornal que, desatualizadas, embrulham peixes. Pelo fato de ser acolhida pela literatura, a crônica literária se descobre na sua engenhosa grandeza. Assim, temos hoje a crônica eternizada nos muitos livros já editados. O que comprova o seu valor literário, histórico e cultural, no sentido de garantir durabilidade no tempo. O que acontece nesse caso é que o escritor autor não prioriza no seu dizer o acontecimento em si. Revela a sua própria leitura, outorgando a ele uma espécie de análise ou retrato agudo em especial. O que configura a temporalidade à crônica por trazer sutilmente temas ligados a questões éticas, sociais, econômicas, culturais, educacionais, políticas. Em suma, posso mesmo dizer que a crônica situada entre o Jornalismo e a Literatura, permite considerar o cronista como poeta dos acontecimentos cotidianos.

Por nisso falar, veja uma pitada da crônica de Rubem Braga ao trazer para este gênero um assunto tão comum da vida cotidiana: uma reclamação de vizinhos:

Recado ao senhor 903

Vizinho, Quem fala aqui é o homem do 1003. Recebi outro dia, consternado, a visita do zelador que me mostrou a carta que o senhor reclamava contra o barulho em meu apartamento. Recebi depois a sua própria visita pessoal – devia ser meia-noite - e a sua veemente reclamação verbal. Devo dizer que estou desolado com tudo isso, e lhe dou inteira razão. O regulamento do prédio é explicito e, se não o fosse, o senhor ainda teria ao seu lado a Lei e a Polícia. Quem trabalha o dia inteiro tem direito ao repouso noturno e é impossível repousar no 903 quando há vozes, passos e músicas no 1.003.(...)

(Rubem Braga, Recado ao senhor 903, Para gostar de ler: crônicas, S.P. Ática, 1977).

Um trunfo da crônica é que nela os eventos aparentemente banais, corriqueiros ganham outra "dimensão" graças ao olhar subjetivo e cuidadoso do autor. E o leitor acompanha o acontecimento, como uma testemunha guiada por esse olhar cronista que lhe configura uma versão única e singular.

As personagens, quando passeiam nas crônicas, realçam o assunto. Elas acabam não tendo descrição psicológica profunda como no conto ou romance. Geralmente apresentam características suficientes para compor traços genéricos com os quais o leitor se identifica. Um aspecto a conferir nas oficinas, não é?

Há uma característica da crônica fácil de conferir: é um texto narrativo que, em geral, é curto, narrado em primeira pessoa. É o próprio escrito do escritor que está “dialogando” com o leitor. Apresenta-lhe assim a sua visão de mundo, através de sua forma pessoal de compreender os acontecimentos que o cercam. É, em geral, menor que o conto. Em toque de palavras. O que lhe configura o ar moderno e dinâmico do contemporâneo, quando tudo acontece rapidamente. Urge tocar o leitor.Sinal dos tempos.

Outro detalhe importante. Geralmente, as crônicas apresentam linguagem simples, espontânea, situada entre a linguagem oral e a literária. Isso contribui também para que o leitor se identifique com o cronista, que acaba se tornando o porta-voz daquele que lê.

É muito comum a ironia se materializar em humor. E vice versa. O que no leitor tem um efeito de empatia e crítica social. Fica evidente na produção da crônica que o autor não que dar uma resposta a alguma problemática social eleita como tema ou assunto. Mas sim promover uma reflexão inteligente, viva e criativa, de maneira a provocar o surgimento de possíveis respostas frente à situação enfocada. E são as escolhas linguísticas que vão constituindo a ligação do texto com o contexto que lhe configura como base, suporte ou ponto de partida. É importante saber suas articulações na construção dos sentidos de um texto. É a linguagem que fisga o leitor: parceiro, coadjuvante, o adepto.

É importante dizer, como nos convida o “Caderno do Professor” em sua intenção de colaborar com cada fazer pedagógico que é preciso mergulhar nessa ocasião de fazer o escritor. É hora de iniciar o contato direto e inteligente com a crônica. Com a leitura apurada de alguns exemplos delas poderemos vislumbrar a sua diversidade, saber de sua arquitetura e de sua natureza tão diversa. Talvez os primeiros escritos de seus alunos-cronistas não contenham todos os elementos ou recursos inerentes ao gênero. Com um pouco de tempo revelado em oficinas e experiências mediadas virão os cronistas-alunos, levando-os à consistência de uma autoria com estilo, propriedade e algum tom e olhar característicos sobre a vida de cada lugar. O importante é que eles se conduzam por um olhar investigativo e poético sobre o cotidiano da sua comunidade e desvele em palavras uma situação que mereça ser retratada em crônica. Seja ela no tom que o autor escolher.

O que nos resta agora? Mergulhar no trabalho do ser professor. Compartilhar os primeiros segredos e os pequenos mistérios desse gênero textual. Este é um bom começo para favorecer a instalação desse olhar especial sobre um lugar onde se vive e transformá-lo em palavras estampadas em crônica: este texto contemporâneo que nos traz humor, intimidade, lirismo, reflexão, surpresa, estilo, seriedade, leveza, elegância, solidariedade...

Para terminar essa conversa, vou fazer (com seu aval, é claro) o seguinte: na próxima edição mergulharei num fato incomum acontecido no meu trivial viver e que lateja na minha cabeça por esses dias banais e comuns e dele escreverei, uma crônica, quem sabe uma breve crônica. Mais: Depois, numa edição posterior, tendo como base o mesmo fato vivido, escreverei um pequeno conto. Aí teremos mais coisas para alimentar a nossa conversa nessa nossa praça virtual. Você topa?

Vamos ver o que acontece. Aqui voltarei para saber...

Antonio Gil Neto

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Alguns links úteis sobre cronistas e crônicas. Visite, saboreie e...bom apetite!

http://www.releituras.com/
http://www.tvcultura.com.br/aloescola/literatura/cronicas/index.htm
http://scliar.org/moacyr/
http://www.marioprataonline.com.br
http://www.estadao.com.br/busca/cronicas
http://www.scribd.com/doc/10940016/Cronicas-Selecionadas-Do-Jornal-Estadao-Luis-Fernando-Verissimo
http://almanaque.folha.uol.com.br/rubem_braga.htm

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Fonte: http://escrevendo.cenpec.org.br

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Deusas Gregas

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Afrodite: Deusa do amor e da beleza

Anfitrite: Deusa do mar.

Ártemis: Tida como virgem e defensora da pureza, era também protetora das parturientes e estava ligada a ritos de fecundidade; embora fosse em essência uma deusa caçadora, encarnava as forças da natureza e tutelava as ninfas, os animais selvagens e o mundo vegetal.

Atena: Era o símbolo da inteligência, da guerra justa, da casta mocidade e das artes domésticas e uma das divindades mais veneradas.

Deméter: Deusa da colheita

Destinos: As três deusas que determinavam a vida humana e suas ligações, também conhecidas como "Moiras". As Moiras repartiam para cada pessoa, no momento de seu nascimento, uma parcela do bem e do mau, embora uma pessoa pudesse acrescer o mau em sua vida por si própria. Retratadas na arte e na poesia tanto como mulheres velhas e severas quanto virgens sombrias, as deusas eram freqüentemente vistas como fiadeiras. Cloto, a fiadeira principal, tecia o fio da vida; Láquesis, a distribuidora de quinhões, decidia a quantidade e designava o destino de cada pessoa; e Átropos, a implacável, carregava o poder de cortar o fio da vida no tempo designado. As decisões das Moiras não podiam ser alteradas, nem mesmo pelos deuses.

Eumênides: Antigos espíritos da terra ou deusas associados à fertilidade, mas também tendo certas funções sociais e morais. Protetoras dos suplicantes.

Erínias: Também conhecidas como “Fúrias”, eram as três divindades que administravam a vingança divina, sendo elas: Tisífona (a vingança contra os assassinos); Megera (o ciúme) e Alecto (a raiva contínua). Eram justas, mas sem piedade e jamais analisavam as circunstâncias que levaram a pessoa a cometer o erro.

Géia: O nome Géia, Gaia ou Gê, é utilizado como prefixo para designar as diversas ciências relacionadas com o estudo do planeta. A deusa foi também a propiciadora dos sonhos e a protetora da fecundidade. Gaia é a personificação da Terra.

Graças: Graças (ou Cárites), as três deusas da alegria, charme e beleza. Chamavam-se: Aglaia (o Esplendor); Eufrosina (a Alegria) e Tália (a Floração). As Graças presidiam sobre os banquetes, danças e todos os outros eventos sociais agradáveis, trazendo alegria e boa vontade tanto para os deuses quanto para os mortais.

Hebe: Deusa da juventude. Durante muito tempo Hebe foi a copeira dos deuses.

Hécate: Deusa da escuridão, representava seus terrores. Em noites sem luar, acreditava-se que ela vagava pela terra com uma matilha de uivantes lobos fantasmas. Era a deusa da feitiçaria e era especialmente adorada por mágicos e feiticeiras, que sacrificavam cães e cordeiros negros a ela. Como deusa da encruzilhada, acreditava-se que Hécate e seu bando de cães assombravam lugares fúnebres que pareciam sinistros aos viajantes.

Hera: Rainha dos deuses, protegia o casamento e era a protetora de mulheres casadas.

Íris: Como mensageira de Zeus e de sua esposa Hera, Íris deixava o Olimpo apenas para transmitir os ordenamentos divinos à raça humana, por quem ela era considerada como uma conselheira e guia. Viajava com a velocidade do vento, podia ir de um canto do mundo ao outro, ao fundo do mar ou às profundezas do mundo subterrâneo. Era representada como uma linda virgem com asas e mantos de cores brilhantes e um aro de luz em sua cabeça, deixando no céu o arco-íris como seu rastro. Para os gregos, a ligação entre os homens e os deuses é simbolizada pelo arco-íris.

Musas: Nove deusas e filhas de Zeus e de Mnemósina, a deusa da memória. As Musas presidiam as artes e as ciências e acreditava-se que inspiravam todos os artistas, especialmente poetas, filósofos e músicos. Calíope era a musa da poesia épica, Clio da história, Euterpe da poesia lírica, Melpômene da tragédia, Terpsícore das canções de coral e da dança, Erato da poesia romântica, Polímnia da poesia sagrada, Urânia da astronomia e Tália da comédia.

Nêmesis: Entre os antigos gregos, Nêmesis foi a deusa da equanimidade e, mais tarde, a personificação da desaprovação dos deuses à arrogância. Seu nome se inspira no grego némein, "repartir segundo o costume ou a conveniência". A missão de Nêmesis era punir os faltosos e impor a execução de normas que restabelecessem o equilíbrio entre os homens.

Nikê: Deusa da vitória. É representada carregando uma grinalda ou palma da vitória.

Perséfone: Deusa da terra e da agricultura. Era uma personificação do renascimento da natureza na primavera.

Selene: Deusa da Lua. Era uma linda deusa, de braços brancos, com longas asas, que percorria o céu sobre um carro para levar aos homens a sua plácida luz.

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quarta-feira, 26 de maio de 2010

Texto para teatro escolar

O Médico

Farsa de Luce Hinter, tirada de uma commédia de Molière , traduzida da “Collection Feu et Flamme”, Éditions Fleuries, Paris.

Personagens: Pedro, lenhador; Maria, sua mulher; O mensageiro do rei; O rei; A filha do rei

1o Ato

Cenário: Um jardim.

Pedro, armado de um pau, chama por Maria.

Pedro ― Maria! Maria! Você vem ou não vem? (Anda pelo palco, furioso) Maria! Ó Maria!...

[Chega Maria, sua mulher, tremendo de medo.]

Maria ― Pronto. Aqui estou... aqui estou...

Pedro ― Onde é que você andava, mulher? Na certa, tagarelando com as comadres faladeiras como você. Venha aqui que eu lhe mostro o que é desobedecer ao marido.

[Com um pau, Pedro bate em Maria.]

Maria ― Ui... Ui... Ui.... Deixe estar, malvado, que eu me vingo. Hoje mesmo eu me vingarei.

[Sai resmungando queixas.]

Pedro ― E agora irei à floresta arranjar um pau mais forte. Este aqui está ficando muito usado.

[Sai.]

[Entra o mensageiro do rei procurando alguém.]

Mensageiro ― Ó de casa! Não há ninguém aqui?

[Maria arrisca a cabeça.]

Maria ― O que o senhor deseja?

Mensageiro ― Saber se este caminho vai até a cidade.

Maria ― Bem... É sim. É o caminho. Mas por que o senhor quer ir até a cidade? Fazer o quê?

Mensageiro ― Você quer mesmo saber? (Confidencial) Pois vou arranjar um médico para a filha do rei.

Maria ― Um médico para a filha do rei! Coitada... Ela está doente?

Mensageiro ― Muito doente. Está com uma espinha de peixe atravessada no gogó. Não pode nem beber nem comer!

Maria (À parte) Está na hora de eu me vingar de meu marido. (Alto) Senhor mensageiro, não é preciso ir à cidade. Meu marido é um ótimo médico.

Mensageiro ― É médico?

Maria ― É, mas...

Mensageiro ― Mas, o quê?

Maria (Aproximando-se dele e confidencialmente) ― Ele não ira se o senhor não lhe bater bastante. É uma Mania... Quanto mais apanha, melhor médico fica. É assim mesmo meu marido...

Mensageiro ― Onde está este homem? Quero levá-lo vivo ou morto, à presença do rei.

Maria ― Ele deve estar ali perto daquele bosque. Pode chamá-lo. O nome dele é Pedro.

Mensageiro ― Pedro! Pedro! Ó Pedro...

[Maria desaparece.]

Pedro ― Quem me chama?

Mensageiro ― Sou eu... Venha depressa encontrar-se com o rei.

Pedro ― Com o rei?! Por quê?

Mensageiro ― Ora! Porque você é um médico e o rei está precisando de um urgentemente.

Pedro (Furioso) ― Que tenho eu que o rei esteja precisando de um médico? É melhor você me deixar em paz e ir procurar o raio do médico em outro lugar.

Mensageiro ― Calma, Pedro, calma. (Aproximando-se) Sei que é preciso bater muito em você para... (Bem perto) Chegou o momento...

[O mensageiro começa a bater vigorosamente em Pedro. Este grita, esperneia, foge e depois torna a gritar.]

Pedro ― Chega! Chega! Eu vou! Eu vou!...

[De vez em quando aparece Maria e dá umas risadinhas.]

Maria ― (Para o público) Cada um por sua vez... Ah... ah... ah!...

Mensageiro (Batendo sempre) ― Ande, Pedro... Para o palácio do rei. Depressa!

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2o Ato

Cenário: Palácio do rei

A princesa está recostada num canto, sofrendo. O rei anda de um lado para o outro, aflitíssimo. De vez em quando pára, olha a filha e suspira

Rei ― O mensageiro está demorando muito... (Torna a andar) Estou ouvindo barulho.

Mensageiro (Falando baixo) ― Senhor rei, eu vos trago um famoso médico. Mas ele tem uma mania esquisita. Só trata dos doentes quando apanha muito.

[Neste momento a filha do rei começa a andar, mas cai de novo.]

Rei (Aflito)Então, pau nele, depressa!

Pedro ― Mas, rei, não sei nada de medicina.

Rei ― Não sabe, não? Ah!... (Para o mensageiro) Bata nele... vamos...

Pedro ― Ui... ui... ui...

[Ele faz gestos, contorções, de tal maneira que a filha do rei começa a rir.]

Filha do rei ― Ai, meu Deus! De tanto rir, a espinha saiu de minha garganta.

Pedro ― Senhor rei, vossa filha já está boa. Agora deixai-me voltar para casa.

Rei (Solene) ― Ainda não. Ainda Não. Você merece uma boa recompensa.

Pedro (À parte)Será que eles vão começar a me bater de novo? (Alto) Não senhor rei. Muito obrigado. Estou muito contente de ter prestado um serviço à princesa. Agora... quero... voltar!

Rei (Enérgico) ― Ainda não. Mensageiro, dê a este grande médico uma bolsa cheia de ouro e o acompanhe até sua casa.

Mensageiro ― Sim, senhor.

Pedro ― Muito obrigado... muito obrigado. Mas prefiro que o mensageiro não me acompanhe. Prefiro ir sozinho. (À parte) Como dói a gente apanhar! Prometo nunca mais bater na Maria!

[Maria aparece, abraça Pedro e saem os dois, muito contentes.]

Fim

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