"Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham, nem fiam. E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles".

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Questão de Língua Portuguesa

Aí vai um desafio para quem quiser testar seus conhecimentos de língua Portuguesa. Trata-se de um teste realizado em um curso na American Airlines.

Na frase abaixo deverá ser colocado 2 pontos finais e 2 vírgulas
para que a frase faça sentido.


MARIA TOMA BANHO PORQUE SUA MÃE DISSE ELA PEGUE A TOALHA

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RESPOSTA:

Maria toma banho porque sua. Mãe, disse ela, pegue a toalha.

A 'pegadinha' está no fato do uso do verbo suar, confundindo com o pronome possessivo (sua).

QUANDO SE TEM DOUTORADO...

O dissacarídeo de fórmula C12H22O11, obtido através da fervura e da evaporação de H2O do líquido resultante da prensagem do caule da gramínea Saccharus officinarum Linneu, 1758, isento de qualquer outro tipo de processamento suplementar que elimine suas impurezas, quando apresentado sob a forma geométrica de sólidos de reduzidas dimensões e arestas retilíneas, configurando pirâmides truncadas de base oblonga e pequena altura, uma vez submetido a um toque no órgão do paladar de quem se disponha a um teste organoléptico impressiona favoravelmente as papilas gustativas, sugerindo impressão sensorial equivalente provocada pelo mesmo dissacarídeo em estado bruto, que ocorre no líquido nutritivo da alta viscosidade, produzindo nos órgãos especiais existentes na Apis mellifera, Linneu, 1758. No entanto, é possível comprovar experimentalmente que esse dissacarídeo, no estado físico-químico descrito e apresentado sob aquela forma geométrica, apresenta considerável resistência a modificar apreciavelmente suas dimensões quando submetido a tensões mecânicas de compressão ao longo do seu eixo em conseqüência da pequena capacidade de deformação que lhe é peculiar.
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QUANDO SE TEM MESTRADO...
A sacarose extraída da cana de açúcar, que ainda não tenha passado pelo processo de purificação e refino, apresentando-se sob a forma de pequenos sólidos tronco-piramidais de base retangular, impressiona agradavelmente o paladar, lembrando a sensação provocada pela mesma sacarose produzida pelas abelhas em um peculiar líquido espesso e nutritivo. Entretanto, não altera suas dimensões lineares ou suas proporções quando submetida a uma tensão axial em conseqüência da aplicação de compressões equivalentes e opostas.
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QUANDO SE TEM GRADUAÇÃO...
O açúcar, quando ainda não submetido à refinação e, apresentando-se em blocos sólidos de pequenas dimensões e forma tronco-piramidal, tem sabor deleitável da secreção alimentar das abelhas; todavia não muda suas proporções quando sujeito à compressão.
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QUANDO SE TEM ENSINO MÉDIO...
Açúcar não refinado, sob a forma de pequenos blocos, tem o sabor agradável do mel, porém não muda de forma quando pressionado.
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QUANDO SE TEM ENSINO FUNDAMENTAL...
Açúcar mascavo em tijolinhos tem o sabor adocicado, mas não é macio ou flexível.
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QUANDO NÃO SE TEM ESTUDO...
Rapadura é doce, mas não é mole, não!

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A puta

Quero conhecer a puta.
A puta da cidade. A única.
A fornecedora.
Na Rua de Baixo
onde é proibido passar.

Onde o ar é vidro ardendo
e labaredas torram a língua
de quem disser: Eu quero
a puta
quero a puta quero a puta.

Ela arreganha dentes largos
de longe. Na mata do cabelo
se abre toda, chupante
boca de mina amanteigada
quente. A puta quente.

É preciso crescer
esta noite a noite inteira sem parar
de crescer e querer
a puta que não sabe
o gosto do desejo do menino
o gosto menino
que nem o menino
sabe, e quer saber, querendo a puta.

Carlos Drummond de Andrade

domingo, 18 de outubro de 2009

NARRAÇÃO, DESCRIÇÃO E DISSERTAÇÃO

São modalidades redacionais que indicam a percepção, respectivamente, das mudanças de situações (ação verbal), do relato de propriedades e aspectos simultâneos dos elementos, e dos pontos de vista daquele que escreve o texto.

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Narração é um tipo de narrativa que apresenta um conjunto de transformação de situações referentes a personagens determinadas (mesmo que sejam coletivas), ou a coisas particulares, num tempo preciso (o subsistema do pretérito) e num espaço bem configurado. Neste tipo de texto, há sempre uma progressão temporal entre os acontecimentos relatados e por trabalhar predominantemente com termos concretos, diz-se que a narração é um texto figurativo.

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Descrição é o tipo de texto em que se expõem características de seres concretos (pessoas, objetos, situações etc.) consideradas fora da relação de anterioridade e de posterioridade. Trata-se de uma modalidade redacional em que o texto também é figurativo, mas aqui temos a inexistência de progressão temporal, isto é, o relato de propriedades e aspectos simultâneos dos elementos descritos que se apresentam numa única situação, não havendo, portanto, relação de anterioridade e posterioridade entre seus enunciados. Os tempos verbais básicos utilizados são o presente ou o pretérito imperfeito (às vezes ambos).

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A dissertação, diferentemente dos textos narrativos e descritivos que produzem uma representação do mundo, é o tipo de texto que analisa, interpreta, explica e avalia os dados da realidade. Ao contrário do texto narrativo e do descritivo, ele é temático, visto que trata de análises e interpretações genéricas válidas para muitos casos concretos e particulares, operando predominantemente com termos abstratos. Também mostra mudanças de situação, mas neste tipo de texto o tempo é o presente no seu valor atemporal e a intenção é observar a ordenação que obedece às relações lógicas (analogia, pertinência, causalidade, coexistência, correspondência, implicação etc.). O discurso dissertativo típico é o da ciência, o da filosofia, o dos editoriais dos jornais etc.

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Prof. Juarez Firmino

Qual é a função da educação?

Qual é a função da educação? Socializar o conhecimento acumulado pela humanidade? Preparar as novas gerações para a inserção no mundo? Adaptar as crianças e jovens ao mundo gerado pelas gerações que os antecederam? Contribuir para o processo de humanização? Preparar os jovens para o mercado de trabalho? Formar cidadãos críticos e conscientes?
As respostas são afirmativas. O que demonstra o quanto o processo educativo é complexo, abrangente e historicamente determinado. Isto significa que a ênfase em um ou outro aspecto do educar é determinado socialmente. Nas diferentes épocas da história, as sociedades impõem seus valores às novas gerações e, assim, geram determinadas expectativas sobre a educação. Através desta, as sociedades transmitem conhecimentos e normas de conduta padrões às crianças e jovens. O sucesso destes depende da assimilação e internalização do padrão considerado normal. Quanto mais adaptado, maior as possibilidade de que o indivíduo seja plenamente integrado.
Por muito tempo, o espaço familiar, o grupo, a comunidade, etc., foram suficientes para proporcionar o processo de socialização. Contudo, a complexidade e a extensa diversificação das funções nas sociedades modernas debilitaram sua capacidade em promover a integração social das novas gerações. A socialização das novas gerações no mundo do trabalho e na sociedade em geral passou a exigir a intervenção de instituições específicas. Paulatinamente, recaiu sobre a escola a função socializadora, ainda que a família e outras esferas da vida em sociedade também contribuam nesta direção. Não obstante, a escola passou a ser caracterizada pela função peculiar de promover o processo de socialização.
A escola enquanto instância específica para socializar as novas gerações tem uma característica essencialmente conservadora. Sua função é garantir a reprodução social e cultural dos valores e conhecimentos necessários à manutenção do status quo, à conservação da sociedade de acordo com a expectativa predominante. Esta função também é assumida por outras instituições e grupos da vida social: família, meios de comunicação, religião, mundo do trabalho, etc.
Como nota Gómez: “A escola por seus conteúdos, por suas formas e por seus sistemas de organização, introduz nos alunos/as, paulatina, mas progressivamente, as idéias, os conhecimentos, as concepções, as disposições e os modos de conduta que a sociedade adulta requer. Dessa forma, contribui decisivamente para a interiorização das idéias, valores e normas da comunidade, de maneira que mediante este processo de socialização prolongado a sociedade industrial possa substituir os mecanismos de controle externo da conduta por disposições mais ou menos aceitas de autocontrole”.*
Porém, a sociedade é repleta de contradições e também a escola, enquanto expressão desta. Além disto, a sociedade não é estática, ela se transforma pela ação dos homens e mulheres que fazem a história. O desenvolvimento social produz mudanças que exigem a reconfiguração das expectativas e exigem novas atitudes. A escola vê-se, então, diante do desafio de se adequar às novas exigências.
A função reprodutora da educação é tencionada pela tendência em “modificar os caracteres desta formação que se mostram especialmente desfavoráveis para alguns dos indivíduos e grupos que compõem o complexo e conflitante tecido social”.** Ou seja, a lógica conservadora da instituição que educa é desafiada constantemente por outra lógica, a da mudança. Educa-se, portanto, para conservar a ordem social, mas também para transformá-la. Ainda que prevaleça a educação conservadora.

__________
* SACRISTÁN, J. Gimeno; GÓMEZ, A. I. Pérez. Compreender e transformar o ensino. 4ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2007, p. 14,
** Idem.



Antonio Ozaí da Silva

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Contos de ensinamento

Os contos populares da tradição oral são narrativas ancestrais que vêm resistindo à passagem do tempo. No Brasil, convivem contos de tradição dos diferentes povos indígenas e africanos, de povos orientais e os de tradição européia (estes mais divulgados pela mídia impressa, cinematográfica e virtual). São estudiosos do conto da tradição oral brasileira Câmara Cascudo e Silvio Romero, entre outros. De gêneros variados, possuem certas características que os aproximam e outras que os distanciam, permitindo diferentes classificações. A organização mais comum é a que reúne os contos populares da tradição oral em uma só categoria, “contos de fadas”, ignorando que esses últimos receberam essa designação por terem fadas em seus enredos. Mas, ao serem analisados por estudiosos, os contos populares, em geral, foram classificados de formas mais complexas. Um dos agrupamentos mais importantes é o de Aarne-Thompson; outros, dos formalistas russos, entre eles Wladimir Propp.

As classificações dos contos da tradição oral, porém, embora valiosas para ampliar a compreensão de sua natureza e importância, costumam apresentar certa rigidez própria das tipologias e não podem ser consideradas verdades absolutas, uma vez que alguns temas, por exemplo – como o da menina e o lobo, “escapam” das classificações por terem sido contados de diferentes jeitos, ou seja, em diferentes gêneros. Mas olhá-los por meio dessas análises produzidas com cuidado e intenção investigadora, ainda que marcada por uma fixidez excessiva, permite que se perceba a riqueza da cultura oral. É inegável que os numerosos estudos e classificações contribuem para isso.

Hoje vamos abrir espaço para os chamados “contos de ensinamento”, importante grupo de contos da tradição oral de todas as regiões da Terra. Como contos da tradição oral, têm em comum com os maravilhosos e os de fadas a antiguidade, comprovada pelas inúmeras pesquisas de estudiosos no assunto, a falta de autor determinado, a transmissão boca a boca através das gerações. O que os particulariza é a intenção: sua finalidade principal não é divertir, é ensinar.

Atualmente, esses contos (como todos da tradição oral) são, muitas vezes, classificados como pertencentes à literatura infantil. Se os analisarmos com mais cuidado, veremos que eles, em sua origem, eram destinados a ouvintes de todas as idades. Isso fica fácil de entender quando lembramos que, antes do século XIX, não havia essa divisão rígida que temos hoje em “mundo das crianças” e “mundo dos adultos”, com os diferentes artigos de consumo (os materiais e os culturais) divididos entre públicos bem definidos. Até essa época, em sociedades ocidentais ou orientais, as crianças das classes populares não eram apartadas dos adultos em situações de trabalho, diversão ou convívio familiar. É claro que os mais velhos passavam ensinamentos tradicionais para os mais jovens, como tendemos a fazer ainda hoje, mesmo que de modos diversos, mas a distância entre gerações não era tão espacialmente determinada; o convívio entre velhos, adultos e crianças era próximo, os nascimentos e as mortes não eram tratados de forma “higienizada” como o são atualmente: nascimentos e mortes não são coisas “da casa” são coisas do espaço hospitalar e subordinados ao cuidado médico. Os acontecimentos da vida eram partilhados no convívio próximo e cotidiano.

Nesse ambiente onde a maioria não tinha acesso à escolarização, a eletricidade chegava a poucos lugares e ainda não tinha diminuído os mistérios da noite, e a internet – nosso grande oráculo - não era sequer imaginada, a conversa era o meio mais usual para o acesso aos conhecimentos acumulados. As reuniões nas famílias ou em grupos sociais maiores, sempre eram animadas por contadores que guardavam na memória as narrativas mais significativas para a transmissão da história e das tradições de seu povo, entre eles os contos de ensinamento. Eram ocasiões de grande envolvimento dos ouvintes, era nelas que se aprendia sobre a vida. E os contos eram o instrumento, nesse momento eles ganhavam uma vida que não podemos reviver pelas versões escritas. Como diz o historiador Robert Darton, um estudioso do assunto, não há como recuperar os dispositivos gestuais e de entonação usados na época por meio das frias páginas escritas.

Embora não possamos recriá-los como eram, não deixam de ser, ainda hoje, encantadores e poderosos, mesmo para os ouvintes adultos. Há contos de ensinamento originários do mundo todo. São muito conhecidos aqueles que valorizam o esforço e a esperteza dos fracos contra os fortes e poderosos (como Pequeno polegar, João e Maria, O pequeno Alfaiate, João e o pé de feijão, Aladin e a Lâmpada maravilhosa, etc.) e os que alertavam contra os perigos do mundo (como Chapeuzinho Vermelho, Barba Azul etc.).

Como todos os demais contos da tradição oral, as versões que conhecemos hoje resultam da passagem por diferentes países e são influenciadas por suas versões escritas. Por conta de serem atualmente, tratadas como literatura infantil, e porque vivemos a divisão da sociedade em adultos (que tudo podem ver e saber) e crianças (cuja mente não pode ser contaminada pelas maldades do mundo), as versões mais recentes são abrandadas, mais românticas, em relação às primeiras que foram escritas e que, provavelmente, são mais próximas da tradição oral. As primeiras versões escritas continuam influenciando, é claro, as atuais. São elas a de Perrault, no século XVII, na França, a dos irmãos Grimm, no século XIX na Alemanha e as de Andersen, também no século XIX, na Dinamarca. Além das escritas, no século XX houve versões gravadas em discos e fitas e versões cinematográficas.

Heloisa Amaral
http://escrevendo.cenpec.org.br/

Analisando a letra da música

A rosa de Hiroxima

Pensem nas crianças1
Mudas
2 telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas
3 inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
4
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
5
Mas oh não se esqueçam
Da rosa
6 da rosa
Da rosa de Hiroxima
7
A rosa hereditária
8
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
9
A rosa com cirrose
10
A anti-rosa
11 atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.

(Vinícius de Moraes)


Veja a análise da letra pelo Prof. Juarez Firmino
1. Gradação em “crianças/meninas/mulheres”.
2. Não conseguem se comunicar, mesmo vivenciando a mesma realidade.
3. Os sofrimentos lhes subtraíram todas as perspectivas de futuro, crianças que não têm sonhos.
4. Mulheres que não têm filhos, tampouco lares. Desviaram-se da condição de mulheres.
5. “... feridas/rosas cálidas” [versos 7 e 8] – Os versos mostram-nos as feridas “internas”, sem cicatrizes aparentes, como rosas que perderam o vigor.
6. [Versos 10 e 11] – Repetição de significações para se referir à flor, que é a mulher, e também a cidade destruída.
7. Aqui o poeta grafa Hiroxima com a letra x ao invés de sh, que seria o apropriado. Mas como o artista é um ser livre para criar, toda criação é permitida.
8. O mal e o medo que se perpetuaram de geração em geração.
9. A radioatividade expressa toda a força do espetáculo macabro da destruição.
10. A “cirrose” indica nos mostra o próprio poeta se autodepreciando.
11. Expressão underground, a bomba (a explosão, as perdas, a indignação).


Ouça a música
Rosa de Hiroshima (1973)

Assista ao vídeo
http://br.youtube.com/watch?v=1qFIuLcIGs4&feature=related


Ouça também outras preciosidades da Música Popular Brasileira
A Banda
(1965) A Deusa da Minha Rua (1940) A Flor e o Espinho (1964) A Praça (1967) Águas de Março (1972) Alma Gêmea (1995) Amélia (1941) Amor e Sexo (2003) Anos Dourados (1986) Ave Maria no Morro (1942) Balada do Louco (1982) Bandolins (1979) Beija eu (1991) Bem Querer (1998) Bilhete (1980) Brasil (1988) Brasileirinho (1949) Caça e Caçador (1997) Caçador de mim (1980) Café da Manhã (1978) Cama e Mesa (1984) Caminhando (1968) Caminhemos (1947) Canta Canta minha gente (1974) Cantiga por Luciana (1969) Canto das Três Raças (1974) Carolina (1967) Castigo (1958) Chama da Paixão (1994) Chega de Saudade (1958) Chuvas de Verão (1949) Cio da Terra (1976) Começar de Novo (1978) Começaria Tudo Outra Vez (1976) Como Uma Onda (1983) Coração de Estudante (1983) Dança da Solidão (1972) De volta pro meu aconchego (1985) Detalhes (1970) Devagar... Devagarinho (1995) Disparada (1965) Encontro das águas (1993) Encontros e Despedidas (1985) Epitáfio (2001) Espanhola (1999) Eu Sei (2004) Eu Sei Que Vou Te Amar (1958) Faz parte do meu show (1988) Festa de Arromba (1964) Foi um Rio que passou em minha vida (1970) Gabriela (1975) Garota de Ipanema (1962) Gente Humilde (1969) Gostava Tanto de Você (1973) Grito de Alerta (1979) Judia de Mim (1986) Juí­zo Final (1976) Lábios de Mel (1955) Lança Perfume (1980) Mal Acostumado (1998) Me dê Motivo (1983) Menino do Rio (1980) Mensagem (1946) Meu Bem Meu Mal (1981) Meu Bem Querer (1980) Naquela Mesa (1970) Negue (1960) Nos bailes da vida (1981) O Bêbado e a Equilibrista (1979) O Canto da Cidade (1992) O Mar Serenou (1975) O que é o que é (1982) O Surdo (1975) O Último romântico (1984) Oceano (1989) País Tropical (1969) Paixão (1981) Papel Machê (1984) Paratodos (1993) Pela Luz dos Olhos Teus (1977) Por mais que eu tente (2005) Quem é Você (1995) Recado (1990) Retalhos de cetim (1973) Roda Viva (1967) Ronda (1953) Samurai (1982) Saudosa Maloca (1955) SE (1992) Se eu quiser falar com DEUS (1980) Sem Fantasia (1967) Só Pra Contrariar (1986) Toada (1979) Travessia (1967) Trem das Onze (1965) Um Dia de Domingo (1985) Vê se me erra (1992) Verde (1985) Viagem (1973) Viajante (1989) Viola Enluarada (1967)

domingo, 4 de outubro de 2009

Tipos e gêneros textuais

Muito se tem falado sobre a diferença entre "tipos textuais" e "gêneros textuais". Alguns teóricos denominam dissertação, narração e descrição como "modos de organização textual", diferenciando-os das nomenclaturas específicas que são consideradas "gêneros textuais".
A fim de simplificar o entendimento de diversos estudos em torno desse assunto, segue postagem abaixo, pautando-se no estudo de Luiz Antônio Marcushi.


Tipos textuais
Designam uma seqüência definida pela natureza lingüística de sua composição. São observados aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas. Exemplos:
Narração;
Descrição;
Argumentação;
Injunção;
Exposição.
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Gêneros textuais
São os textos materializados encontrados em nosso cotidiano. Esses apresentam características sócio-comunicativas definidas por seu estilo, função, composição, conteúdo e canal.
Exemplos:
Carta pessoal, comercial, bilhete;
Diário pessoal, agenda, anotações;
Romance;
Resenha;
Blog;
E-mail;
Bate-papo (Chat);
Orkut;
Vídeo-conferência;
Second Life (Realidade virtual);
Fórum;
Aula expositiva, virtual;
Reunião de condomínio, debate;
Entrevista;
Lista de compras;
Piada;
Sermão;
Cardápio;
Horóscopo;
Instruções de uso;
Inquérito policial;
Telefonema etc.
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BIBLIOGRAFIA INDICADA
DIONÍSIO, Angela Paiva, MACHADO; Anna Rachel; BEZERRA, Maria Auxiliadora (Orgs.). Gêneros textuais & ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.
MARCUSHI, Luiz Antônio; XAVIER, Antônio Carlos (orgs.). Hipertexto e gêneros digitais. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.

sábado, 3 de outubro de 2009

Assalto

Na feira, a gorda senhora protestou a altos brados contra o preço do chuchu:

— Isto é um assalto!

Houve um rebuliço. Os que estavam perto fugiram. Alguém, correndo, foi chamar o guarda. Um minuto depois, a rua inteira, atravancada, mas provida de um admirável serviço de comunicação espontânea, sabia que se estava perpetrando um assalto ao banco. Mas que banco? Havia banco naquela rua? Evidente que sim, pois do contrário como poderia ser assaltado?

— Um assalto! Um assalto! — a senhora continuava a exclamar, e quem não tinha escutado, escutou, multiplicando a notícia. Aquela voz subindo do mar de barracas e legumes era como a própria sirena policial, documentando, por seu uivo, a ocorrência grave, que fatalmente se estaria consumando ali, na claridade do dia, sem que ninguém pudesse evitá-la.

Moleques de carrinho corriam em todas as direções, atropelando-se uns aos outros. Queriam salvar as mercadorias que transportavam. Não era o instinto de propriedade que os impelia. Sentiam-se responsáveis pelo transporte. E no atropelo da fuga, pacotes rasgavam-se, melancias rolavam, tomates esborrachavam-se no asfalto. Se a fruta cai no chão, já não é de ninguém; é de qualquer um, inclusive do transportador. Em ocasiões de assalto, quem é que vai reclamar uma penca de bananas meio amassadas?

— Olha o assalto! Tem um assalto ali adiante!

O ônibus na rua transversal parou para assuntar. Passageiros ergueram-se, puseram o nariz para fora. Não se via nada. O motorista desceu, desceu o trocador, um passageiro advertiu:

— No que você vai a fim do assalto, eles assaltam sua caixa.

Ele nem escutou. Então os passageiros também acharam de bom alvitre abandonar o veículo, na ânsia de saber, que vem movendo o homem, desde a idade da pedra até a idade do módulo lunar.

Outros ônibus pararam, a rua entupiu.

— Melhor. Todas as ruas estão bloqueadas. Assim eles não podem dar no pé.

— É uma mulher que chefia o bando!

— Já sei. A tal dondoca loira.

— A loura assalta em São Paulo. Aqui é morena.

— Uma gorda. Está de metralhadora. Eu vi.

— Minha Nossa Senhora, o mundo está virado!

— Vai ver que está caçando é marido.

— Não brinca numa hora dessas. Olha aí sangue escorrendo!

— Sangue nada, é tomate.

Na confusão, circularam notícias diversas. O assalto fora a uma joalheria, as vitrinas tinham sido esmigalhadas a bala. E havia jóias pelo chão, braceletes, relógios. O que os bandidos não levaram, na pressa, era agora objeto de saque popular. Morreram no mínimo duas pessoas, e três estavam gravemente feridas.

Barracas derrubadas assinalavam o ímpeto da convulsão coletiva. Era preciso abrir caminho a todo custo. No rumo do assalto, para ver, e no rumo contrário, para escapar. Os grupos divergentes chocavam-se, e às vezes trocavam de direção; quem fugia dava marcha à ré, quem queria espiar era arrastado pela massa oposta. Os edifícios de apartamentos tinham fechado suas portas, logo que o primeiro foi invadido por pessoas que pretendiam, ao mesmo tempo, salvar o pêlo e contemplar lá de cima. Janelas e balcões apinhados de moradores, que gritavam:

— Pega! Pega! Correu pra lá!

— Olha ela ali!

— Eles entraram na Kombi ali adiante!

— É um mascarado! Não, são dois mascarados!

Ouviu-se nitidamente o pipocar de uma metralhadora, a pequena distância. Foi um deitar-no-chão geral, e como não havia espaço uns caíam por cima de outros. Cessou o ruído, Voltou. Que assalto era esse, dilatado no tempo, repetido, confuso?

— Olha o diabo daquele escurinho tocando matraca! E a gente com dor-de-barriga, pensando que era metralhadora!

Caíram em cima do garoto, que sorveteu na multidão. A senhora gorda apareceu, muito vermelha, protestando sempre:

— É um assalto! Chuchu por aquele preço é um verdadeiro assalto!



Carlos Drummond de Andrade