"Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham, nem fiam. E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles".

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Negativismos nas cantigas infantis

Veja essas cantigas:

"Boi, boi, boi,
boi da cara preta,
Pega essa menina
que tem medo de careta..."

Como explicar para uma criança inocente que a música é uma ameaça? Algo como "dorme logo, senão o boi vem te comer"! Como explicar que eu estava tentando fazer com que ela dormisse com uma música que incita um bovino a pegar uma menina inocente?
"Nana neném
que a cuca vem pegar?..."
Depois de uma frustrante busca por uma canção infantil do folclore brasileiro (que fosse positiva), e de uma longa reflexão, descobri toda a origem dos problemas do Brasil. O problema do Brasil é que a sua população em geral tem uma auto-estima muito baixa. Isso faz com que os brasileiros se sintam sempre inferiores e ameaçados, passivos o suficiente para aceitar qualquer tipo de extorsão e exploração, seja interna ou externa.
Nós somos ameaçados e amedrontados desde o berço! Por isso sofremos tanto na vida e ficamos quietos. Exemplificarei minha tese:
Atirei o pau no gato-to-to
Mas o gato-to-to não morreu-reu-reu
Dona Chica-Ca-Ca admirou-se-se
Do berrô, do berrô que o gato deu
Miaaau!
Para começar, esse clássico do cancioneiro infantil é uma demonstração clara de falta de respeito aos animais e crueldade.Por que atirar o pau no gato, uma criatura indefesa? E para acentuar a gravidade, ainda relata o sadismo dessa mulher sob a alcunha de "Dona Chica". Uma vergonha!!!
Eu sou pobre, pobre, pobre,
De marré, marré, marré.
Eu sou pobre, pobre, pobre,
De marré de si.
Eu sou rica, rica, rica,
De marré, marré, marré.
Eu sou rica, rica, rica,
De marré de si.
Colocar a realidade tão vergonhosa da desigualdade social em versos tão doces! É impossível não lembrar do seu amiguinho rico da infância, com um carrinho fabuloso, de controle remoto, e você brincando com seu carrinho de plástico...
Vem cá, Bitu! Vem cá, Bitu!
Vem cá, meu bem, vem cá!
Não vou lá! Não vou lá, Não vou lá!
Tenho medo de apanhar.
Quem foi o sádico que criou essa rima? No mínimo ele espancava o pobre Bitú...
Marcha soldado,
cabeça de papel!
Quem não marchar direito,
Vai preso pro quartel.
De novo, ameaça! Ou obedece ou você se estrepa! Não é à toa que o brasileiro admite tudo de cabeça baixa....
A canoa virou,
Quem deixou ela virar,
Foi por causa do (fulano/a)
Que não soube remar.
Ao invés de incentivar o trabalho de equipe e o apoio mútuo, as crianças brasileiras são ensinadas a dedurar e a condenar um semelhante!
Samba-lelê tá doente,
Tá com a cabeça quebrada.
Samba-lelê precisava
É de umas boas palmadas.
A pessoa, conhecida como Samba-lelê, encontra-se com a saúde debilitada e necessita de cuidados médicos. Mas, ao invés de compaixão e apoio, a música diz que ela precisa de palmadas! Acho que o Samba-lelê deve ser irmão do Bitú... Talvez pela característica do nome Samba-lelê deve ser um trabalhador negro o que demonstra um racismo claro.
O anel que tu me destes
Era vidro e se quebrou.
O amor que tu me tinhas
Era pouco e se acabou...
Como crescer e acreditar no amor e no casamento depois de ouvir essa passagem anos a fio?
O cravo brigou com a rosa
Debaixo de uma sacada;
O cravo saiu ferido
E a rosa despedaçada.
O cravo ficou doente,
A rosa foi visitar;
O cravo teve um desmaio,
A rosa pôs-se a chorar.
Esta ainda incita a violência conjugal (releia a primeira estrofe).
Ah!!! Não é possível esquecer-se desta:
Passa, passa, passa três vezes...
O último que ficar
tem mulher e filhos
que não pode sustentar...
Ou seja: vá se acostumando ao desemprego e a miséria, resultado das nossas desigualdades sociais!!!

2 comentários:

Kelly Christi disse...

Pois é, Juarez, a alienação social começa, interferindo na informação cultural e social das pessoas, na infância... nas pequenas coisas... quem iria pensar nessas cantigas , não? rs
Gostaria que vc. visitasse meu blog(www.pensandoeblogando.zip.net)... aliás... parabéns por este viu?

Um beijo, Kelly Cris( irmã da drica)

Dra. Adriana Nepomucena disse...

É, meu querido, não havia notado a procedencia das palavras utlizadas em tais cantigas... aparentemente inofensivas. Contudo, de fato, influenciam de forma inconsciente a formação do ser humano.
Otima observação.
Forte abraço e bjs.

Dri.