"Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham, nem fiam. E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles".

domingo, 25 de junho de 2017

O marketing no relacionamento pessoal




A presença do marketing em um relacionamento pessoal: visão machista

Sexta-feira, um garotão de mais ou menos 18 anos começa a confabular sobre as baladas do final de semana. Resolve telefonar para uns amigos e decidem ir a um bar à noite.
A hora está chegando, 20 h. É hora de ele se arrumar: veste uma camisa de MARCA, acessórios e, por fim, algumas gotas de um perfume: MARKETING PESSOAL.
Às 21 h, todos se encontram em um bar da cidade e começam a conversar: BRAINSTORMING.
Maurício (o garotão) percebe que uma menina começa a dar mole para ele. Neste exato momento, ele corre um olhar da cabeça aos pés da menina: AVALIAÇÃO DE PRODUTO. Olha ao redor para analisar outras possíveis garotas que poderiam estar dando mole antes de tomar qualquer decisão: COMPARAÇÃO ENTRE MARCAS.
Após a análise, Maurício tem certeza de que realmente ela, a menina, é a única que está dando mole. Sendo assim, comenta com seus amigos:
– Olha só aquela gata, não tira o olho de mim. Neste exato momento, um dos seus amigos presentes diz:
– É a Ione, ela é super gente boa. Já estudei com ela no colégio: PROPAGANDA.
– E ela está realmente uma gata, veja a sainha, o decote e o batom: EMBALAGEM.
Maurício, com certo receio, pergunta aos amigos como deveria ser sua abordagem perante a gata: POSICIONAMENTO DE COMUNICAÇÃO. Seus amigos recomendaram que fosse devagar, com jeitinho, sem espantar: CONQUISTA DE CLIENTE.
Depois de muito pensar, decide ir até Ione. Já conversando com ela, convida-a para um chope: TÉCNICA DE VENDA.
Durante o primeiro chope, o segundo, o terceiro etc., ele inicia, como qualquer pessoa, perguntas a ela: O que gosta de fazer? O que faz? Estuda? Trabalha? Onde mora? Que tipo de música escuta? PESQUISA DE MERCADO.
Depois de muito bate papo, consegue ficar com ela: MERCHANDISING – DEGUSTAÇÃO NO PONTO DE VENDA.
Lá pelas 3 h da manhã, oferece para levá-la em casa: ENTREGA EM DOMICÍLIO.
Evidentemente, já de posse do telefone dela e endereço: BANCO DE DADOS.
Sábado, pela manhã, Maurício, que não é bobo nem nada, vai até uma floricultura e compra rosas e bombons, solicitando que entreguem em sua residência: PÓS-VENDA e PROMOÇÃO DE VENDAS – BRINDE.
Lá pelas 10 h, telefona para Ione e pergunta o que achou dele, como foi a noite anterior e se gostou das rosas e dos bombons: PESQUISA DE OPINIÃO VIA TELEMARKETING.
Conversa vai, conversa vem, e ela o convida para almoçar em sua casa para conhecer seus pais. Já durante o almoço, o pai pergunta-lhe quais as suas pretensões com Ione: MISSÃO.
Maurício responde que pretende namorar sério e não pensa nada em curto prazo: VISÃO.
Maurício percebe que todos gostaram dele. E estavam fazendo de tudo para deixá-lo à vontade, oferecendo várias coisas e fazendo um verdadeiro baba-ovo do rapaz. Maurício sentia-se muito bem naquele ambiente. Davam-lhe abertura para falar o que queria, apoiavam suas opiniões etc.: ENDOMARKETING.
Já se despedindo, Maurício agradece e promete voltar outras vezes: FIDELIZAÇÃO DE CLIENTE.
Despedindo-se de Ione, pergunta-lhe se quer namorá-lo. Ela diz que sim: MARKETING DE RELACIONAMENTO.
Aproveitando o ensejo, convida-a para sair à noite: NOVOS NEGÓCIOS.
Já na boate, Maurício percebe que outros garotões estão de olho em Ione: ENTRADA DE NOVOS CONCORRENTES NO MERCADO.
Sendo assim, reúne seus amigos e começa a falar sobre o assunto e pergunta-lhes sobre o que achavam da situação. Palpites, opiniões, dicas, conselhos etc. Todos participavam em conjunto para solucionar um problema comum: COMUNICAÇÃO INTEGRADA.
Após a conversa, ainda na boate, Maurício decide mudar de postura em relação a Ione. Achava que estava babando muito ovo para ela. Mudou o seu comportamento, ficou mais distante, mais frio: REPOSICIONAMENTO DE MERCADO.
Não é que deu certo? Pelo menos aparentemente.
Semanas se passaram, e, certo dia, Maurício resolve fazer uma surpresa para Ione, pegando-a na escola sem avisá-la. Chegando lá, vem a surpresa negativa; ela estava grudada em outro garotão, que por coincidência estava naquele dia na boate: INFIDELIDADE DO CONSUMIDOR.
Muito “P” da vida, Maurício telefona para seus amigos e desabafa, reclama, chora etc.: CENTRAL DE ATENDIMENTO AO CLIENTE. Diz aos amigos que ele não é feio, enche-a de presentes, está sempre ao lado dela quando precisa, e que sempre a tratou muito bem: QUALIDADE TOTAL NO MIX DE MARKETING.
Por fim, Maurício decide terminar o relacionamento. Por mais que Ione se desculpasse, ele não voltou atrás: EXIGÊNCIA DO CONSUMIDOR.


TAVARES, Maurício. Comunicação empresarial e planos de comunicação: integrando teoria e prática
3. ed. São Paulo: Atlas, 2010.



quinta-feira, 15 de junho de 2017

Aprender a viver


“Adquiri, ao longo dos anos, a convicção de que para todo indivíduo, inclusive para os que não a veem como uma vocação, é valioso estudar ao menos um pouco de filosofia, nem que seja por dois motivos bem simples.
O primeiro é que, nada podemos compreender do mundo em que vivemos. É uma formação das mais esclarecedoras, mais ainda do que a das ciências históricas. Por quê? Simplesmente porque a quase totalidade de nossos pensamentos, de nossas convicções, e também de nossos valores, se inscreve, sem que o saibamos, nas grandes visões do mundo já elaboradas e estruturadas ao longo da história das ideias. É indispensável compreendê-las para apreender sua lógica, seu alcance e suas implicações... [...]
Além do que ganha em compreensão, conhecimento de si e dos outros por intermédio das grandes obras da tradição, é preciso saber que elas podem simplesmente ajudar a viver melhor mais livremente. [...]
Aprender a viver, aprender e não temer em vão as diferentes faces da morte, ou simplesmente, a superar a banalidade da vida cotidiana, o tédio, o tempo que passa, já era o principal objetivo das escolas da Antiguidade grega. A mensagem delas merece ser ouvida, pois, diferentemente do que acontece na história das ciências, as filosofias do passado ainda nos falam. Eis um ponto importante que por si só merece reflexão.
Quando uma teoria científica se revela falsa, quando é refutada por outra visivelmente mais verdadeira, cai em desuso e não interessa a mais ninguém ― à exceção de alguns eruditos. As grandes respostas filosóficas dadas desde os primórdios à interrogação sobre como se aprende a viver continuam, ao contrário, presentes. Desse ponto de vista seria preferível comparar a história da filosofia com a das artes, e não com a das ciências: assim como as obras de Braque e Kandinsk não são ‘mais belas’ do que as de Vermeer ou Manet, as reflexões de Kant ou Nietzsche sobre o sentido ou não sentido da vida não são superiores ― nem, aliás, inferiores ―às de Epiteto, Epicuro ou Buda. Nelas existem proposições de vida, atitudes em face da existência, que continuam a se dirigir a nós através dos séculos e que nada pode tornar obsoletas. As teorias científicas de Ptolomeu ou de Descartes estão radicalmente ‘ultrapassadas’ e não têm outro interesse senão histórico, ao passo que ainda podemos absorver as sabedorias antigas, assim como podemos gostar de um templo grego ou de uma caligrafia chinesa, mesmo vivendo em pleno século XXI.”


FERRY, Luc. Aprender a viver: filosofia para os novos tempos.

Rio de Janeiro: Objetiva, 2007. P. 15-17.