"Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham, nem fiam. E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles".

domingo, 14 de junho de 2009

Análise vocabular

Recentemente, enquanto seguia para o trabalho, observei que pessoas inconscientemente transgrediam as normas de trânsito ao atravessarem ruas movimentadíssimas fora das faixas de segurança. O que mais me chamou a atenção, entretanto, foi o comentário que uma motorista disparou contra alguém entre as pessoas que atravessavam na frente de determinado automóvel:

“— Oh, judiação! Mesmo com a coitada da criancinha nos braços, aquela mulata fica correndo risco de vida. Fica atravessando a rua de qualquer jeito.”
Diante do comentário acima proferido pela motorista, nada menos que quatro vocábulos merecem ser analisados. São eles:

1. Judiação - do verbo judiar, de Judas, e, por conseguinte, de judeu, da palavra originada do adjetivo relacionado à cultura judaica. O povo judeu, por longos tempos, tem sofrido forte preconceito [com traços de ódio, inclusive] devido aos desdobramentos decorridos na história do cristianismo, foram vítimas do holocausto. O verbo judiar e os vocábulos cognatos, pela carga negativa que trazem em si, devem ser evitados;

2. Coitada - da palavra coito, cujo conceito proposto pelos teóricos da literatura se refere àquele que sofre por um amor não correspondido, mas que também pode indicar rotulagem pejorativa e de foro íntimo, por denominar o indivíduo que não recebeu o devido reconhecimento paterno;

3. Mulata - de mula, ou ainda, de cor semelhante à da mula, denominação originada na formação do Brasil colonial, em que os indivíduos nascidos da miscigenação de duas raças, negros africanos e “colonizadores” europeus, por não serem devidamente reconhecidos nem nas senzalas e tampouco nas casas grandes, eram conhecidos como mulatos. Na contemporaneidade passou-se a serem denominados como "morenos". Já o vocábulo “moreno” vem de mouro, dos mouros invasores, povo do norte da África, que exerceu forte presença na Península Ibérica na Idade Média.

4. Correndo risco de vida - expressão que denota total desatenção por parte do falante, pois no caso específico, aquele que atravessa a via pública fora da faixa de pedestres, ou cometa algo que coloque a própria vida em risco, está, na verdade, cometendo um ato cuja conseqüência possa lhe acarretar o risco de morte.

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