"Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham, nem fiam. E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles".

sábado, 26 de maio de 2012

A construção do argumento no texto dissertativo

     A argumentação, por sua importância, constitui-se como a coluna vertebral do texto dissertativo e deve tomar como ponto de partida os princípios da lógica, isto é, partir de uma premissa para chegar a uma conclusão. Argumentar significa, portanto, a realização de um esforço para que o leitor ou ouvinte aceite a opinião defendida pelo autor, trata-se de um processo para se chegar a conclusões.
     Na organização do pensamento lógico, um argumento é legitimo quando a conclusão decorre ou e consequência de sua(s) premissa(s), sendo que este pode ser entendido como um sistema de proposições declarativas, sendo que uma é chamada de conclusão e as demais, premissas, conforme se pode verificar no seguinte silogismo:

Todos os homens são mortais;
Todos os gregos são homens;
logo, todos os gregos são mortais.

     O pensamento lógico se organiza quando usamos proposições lógicas, i.é, proposições que podem ser comprovadas do ponto de vista lógico.
     Assim, a argumentação constitui um recurso da linguagem e faz parte do texto dissertativo de grande importância para a formulação da opinião e para a construção de um novo ponto de vista.
     Considerando que a argumentação é uma ação linguística realizada para fazer o leitor (ou ouvinte) mudar a sua opinião sobre um determinado assunto, é importante considerarmos que um argumento consistente é aquele que apresenta a evidência de provas. Entende-se aqui como evidência o critério da verdade – é a certeza a que se chega pelo raciocínio ou pela apresentação dos fatos.
     *Principais tipos de evidência:
     Fatos – no sentido amplo, constituem o elemento mais importante da argumentação. Assim, os fatos evidentes ou notórios são os que mais provam. Ex.: Milhões de contribuintes recorrem a hospitais particulares para operações ou tratamentos de urgência, porque o INSS não tem condições de atendê-los (...).
     Exemplos – são fatos típicos ou representativos de determinadas situações. O exemplo é usado para garantir a veracidade do argumento, por isso deve ser escolhido um fato concreto que possa exemplificar nitidamente a ideia defendida. Ex.: Filas intermináveis nos hospitais públicos, revelando a ineficácia desse atendimento (...).
     Ilustrações – existem dois tipos: a hipotética (quando tratamos de uma invenção, uma hipótese ou algo que possa ocorrer em determinada circunstância); e a real (que descreve em detalhes um fato verdadeiro), sendo esta mais eficaz e mais persuasiva que a hipotética, a ilustração real vale como uma prova. Ex.: Um quadro comparativo ilustrando o aumento da população em determinada região paulistana, enquanto que a quantidade de leitos hospitalares se manteve estático, de forma a não mais atender às necessidades da demanda local.
     Dados estatísticos – também são fatos, porém mais específicos. Têm grande valor de convicção, constituindo quase sempre prova ou evidência incontestável. Ex.: Uma tabela mostrando estatisticamente os atendimentos nas redes particular e pública de saúde.
     Testemunhos – o depoimento de uma testemunha é (ou pode ser) o fato trazido à discussão por terceiros. Se autorizado e fidedigno, seu valor é prova irrefutável. Entretanto, sua eficácia é também muito relativa, pois o mesmo fato presenciado por várias pessoas pode assumir versões e proporções diversas. Ressalte-se que o testemunho deve partir de pessoas de conduta ilibada para que o argumento possua consistência garantida. Pelo fato de que o depoimento deve dar sustentação ao argumento, espera-se que o depoente tenha visão e competência assegurada sobre o assunto para que este seja, de fato, reconhecido pela sociedade.
     Quanto ao argumentador, se faz imperativo que este seja uma pessoa que conheça bem o assunto, sob o risco de se apresentar erros de argumentação (raciocínios apoiados em dados falsos) que mais confundem do que elucidam na interpretabilidade do texto. Tais erros são denominados falácias e devem ser evitados.


Fonte: Adaptado da obra BARASNEVICIUS, Ana Nilce Rodrigues. Língua Portuguesa III. 1. ed. Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2008.




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domingo, 20 de maio de 2012

Vícios de Linguagem

CACOFONIA (ou cacófato), do grego kako=ruim + fonia=som, constitui-se um dos vícios de linguagem, é o nome que se dá a sons desagradáveis ao ouvido formados muitas vezes pela combinação do final de uma palavra com o início da seguinte, que ao ser pronunciadas podem dar um sentido ridículo, pejorativo, obsceno ou até mesmo engraçado.

Ex.:
Fui à casa do meu avô que dá os fundos para o bar.
Nenhum segurança havia dado.
Governo confisca gado de fazendas.
Usei um pilão de socar alho.
Olha essa fada.
A empresa é dirigida pela dona Maria.
Emagreci graças ao cooper feito diariamente.
Já que tinha resolvido.
Não pense nunca nisso.
Por cada um...
Vi ela andando.
Desculpa então.
Eu não queria amá-la, mas amei-a.
Nesse calor, até elefante na bunda sua.
Vamos de carro, João vai na frente e Paula atrás.
Você corre também ou só caminha?
Quem tem posto aí atrás?
Tem culpa ele?
Ele tem fé demais.
Aqui não tem pão, mas lá tinha.
Nunca gaste dinheiro com bobagens.
Estas ideias, como as concebo, são irrealizáveis.
Ovo e uva boa!
Ele beijou a boca dela.
Deixe ir-me já, pois estou atrasado.
Quadrilha explode banco e usa escudos humanos.

àNão são cacofonia:
Eu amo ela demais!
Eu vi ela.
você veja.

Na literatura
Exemplos vários podem ser coletados na Literatura de cacófatos que, entretanto, podem ser justificáveis Em Camões, no soneto "Alma Minha...", a própria expressão-título é criticada por formar o cacófaton "maminha". O historiador José Marques da Cruz, porém, justifica a expressão como:
"própria do século XVI, em que vários clássicos empregaram frases assim: amigo meu, amiga minha. alma minha (...) É que toda gente estudava o latim puro, onde se diz amicus meus (e não meus amicus), anima mea (e não mea anima), mostrando sempre os escritores da época, nos seus escritos, a profunda influência da sintaxe latina."

AMBIGUIDADE. É a possibilidade de uma mensagem ter dois sentidos, de má ordenação de seus termos e falta de clareza, o que traz dificuldade de compreensão por parte do receptor. A ambiguidade é um caso especial de polissemia, a possibilidade de uma palavra apresentar vários sentidos em um contexto.

Ex:
A cachorra da sua irmã comeu?
A mãe pediu para o filho dirigir seu carro.
Como vai a cachorra da sua mãe?
A mãe encontrou o filho em seu quarto.
Este líder dirigiu bem sua nação.
Eu comprei sapatos para homens pretos.
O rapaz comeu maçã e sua prima também.
Nós vimos o incêndio do prédio.
Onde está a vaca da sua avó?
Onde está a piranha da sua mãe?
Este líder dirigiu bem sua nação?
Antes ele andava de Lotação, hoje não anda mais.

OBSCURIDADE. Obscuridade significa “falta de clareza”. Vários motivos podem determinar a obscuridade de um texto: períodos muito longos, uso de linguagem muito requintada, uso incorreto da pontuação, inversão inadequada dos termos da oração. Exemplo:
Encontrar a mesma ideia vertida em expressões antigas mais claras, expressiva e elegantemente tem-me acontecido inúmeras vezes na minha prática longa, aturada e contínua do escrever depois de considerar necessária e insuprível uma locução nova por muito tempo.”

Você entendeu o que está escrito? O texto está incompreensível. O parágrafo é longo: algumas palavras são inadequadas (ideias vertidas?), rebuscadas e a inversão de expressões evidencia a obscuridade. O trecho fica mais compreensível assim:
Depois de analisar e considerar insubstituível uma locução nova, tem-me acontecido encontrar a mesma ideia, com mais clareza e elegância, em uma outra expressão mais antiga.”

― Chegamos quando ainda era cedo e pusemos o que tinha sido encomendado no lugar que o administrador havia indicado que era para colocar.
― Espero que você envie, tendo a máxima urgência, o currículo que foi solicitado por aqueles que organizam o concurso que vai selecionar recepcionistas.
― Os atletas que acabaram vencendo as Olimpíadas receberam taças que foram confeccionadas especialmente para dar de prêmio naquela situação.
***
― Chegamos cedo e pusemos a encomenda onde o administrador indicou.
― Espero que você envie com urgência o currículo solicitado pelos organizadores do concurso para recepcionistas.
― Os atletas vencedores das Olimpíadas receberam taças especiais como prêmio.

ECO. Consiste na repetição do mesmo som em palavras muito próximas umas das outras. O eco vem a ser a própria rima que ocorre quando há na frase terminações iguais ou semelhantes, provocando dissonância.

Ex:
A decisão da eleição não causou comoção na população.     
O aluno repetente mente alegremente.
"Falar em desenvolvimento é pensar em alimento, saúde e educação."
"O aluno repetente mente alegremente."
O presidente tinha dor de dente constantemente.

PROLIXIDADE. Consiste na utilização de palavras, além do necessário, para expressar uma ideia. Ser prolixo é ficar “enrolando”, “enchendo linguiça”, não ir direto ao assunto.

Ex.:
A árvore, oca por dentro, era muito elevada, tinha vinte metros de altura total, do chão ao topo: estava, por esta razão, prestes a cair, daí a instantes, para baixo.

BARBARISMO, ou estrangeirismo é o uso de palavra, expressão ou construção estrangeira no lugar de equivalente vernácula.
* De acordo com a língua de origem, os estrangeirismos recebem diferentes nomes: galicismo ou francesismo, quando provenientes do francês (Pais de Gália, antigo nome da França); anglicismo, quando do inglês; castelhanismo, quando vindos do espanhol;
Ex:
Mais penso, mais fico inteligente (galicismo; o mais adequado seria "quanto mais penso, (tanto) mais fico inteligente");
Comeu um roast-beef (anglicismo; o mais adequado seria "comeu um rosbife");
Eles têm serviço de delivery. (anglicismo; o mais adequado seria "Eles têm serviço de entrega").
Premiê apresenta prioridades da Presidência lusa da UE (galicismo, o mais adequado seria Primeiro-ministro)
Nesta receita gastronômica usaremos Blueberries e Grapefruits. (anglicismo, o mais adequado seria Mirtilo e Toranja)
Convocamos para a Reunião do Conselho de DA's (plural da sigla de Diretório Acadêmico). (anglicismo, e mesmo nesta língua não se usa apóstrofo 's' para pluralizar; o mais adequado seria DD.AA. ou DAs.)

PLEBEÍSMO. O plebeísmo normalmente utiliza palavras de baixo calão, gírias e termos considerados informais.
Ex:
"Ele era um tremendo mané!"
"Tô ferrado!"
"Tá ligado nas quebradas, meu chapa?"
"Esse bagulho é 'radicaaaal'!!! Tá ligado mano?"
'Vô piálá'mais tarde ' !!! Se ligou maluco ?
Por questões de etiqueta, convém evitar o uso de plebeísmos em contextos sociais que requeiram maior formalismo no tratamento comunicativo.

PLEONASMO VICIOSO. O pleonasmo é uma figura de linguagem. Quando consiste numa redundância inútil e desnecessária de significado em uma sentença, é considerado um vício de linguagem.

Ex:
Grande maioria.
Ele vai ser o protagonista principal da peça.
Meninos, entrempara dentro!
Estou subindo para cima.
Tenho certeza absoluta.

àNão é pleonasmo:
"As palavras são de baixo calão". Palavras podem ser de baixo ou de alto calão.
"Não deixe de comparecer pessoalmente." É possível comparecer a algum lugar na forma de procurador.
O pleonasmo nem sempre é um vício de linguagem, mesmo para os exemplos supra citados, a depender do contexto. Em certos contextos, ele é um recurso que pode ser útil para se fornecer ênfase a determinado aspecto da mensagem.

SOLECISMO. É uma inadequação na estrutura sintática da frase com relação à gramática normativa do idioma. Há três tipos de solecismo:

De concordância:
Fazem três anos que não vou ao médico.
Aluga-se salas nesse edifício.

De regência:
Ontem eu assisti um filme de época.

De colocação:
Me empresta um lápis, por favor.
Me parece que ela ficou contente.
Eu não respondi-lhe nada do que perguntou.
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COLISÃO. A repetição de uma mesma, ou semelhante consoante em várias palavras é denominada aliteração. Aliterações são preciosos recursos estilísticos quando usados com a intenção de se atingir efeito literário ou para atrair a atenção do receptor. Entretanto, quando seus usos não são intencionais ou quando causam um efeito estilístico ruim ao receptor da mensagem, a aliteração torna-se um vício de linguagem e recebe nesse contexto o nome de colisão. Exemplos:
Eram comunidades camponesas com cultivos coletivos.
O papa Paulo VI pediu a paz.

Uma colisão pode ser remediada com a reestruturação sintática da frase que a contém ou com a substituição de alguns termos ou expressões por outras similares ou sinônimas.