"Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham, nem fiam. E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles".

sexta-feira, 21 de abril de 2017

O QUE É COMUNICAÇÃO?

Rivaldo Chinem
Comunicação é como futebol, todo mundo pensa que entende e dá palpite. Nesse campo, quando a confusão se instala, quebram-se as regras, e os atores, ao entrar em cena, dão caneladas, cotoveladas, e o jogo passa a ser um completo vale-tudo.
A comunicação, mais do que um bem social, é também um direito fundamental e humano que nasce na própria sociedade e precisa ser garantido para que diversas vozes sejam ouvidas. Trata-se de um serviço público dirigido à elevação moral e cultural da sociedade.
A palavra comunicação deriva do latim communicare, cujo significado é tornar comum, partilhar, associar, trocar opiniões, conferenciar.
Communicatio tem o sentido de participação, em interação, em troca de mensagem, em emissão ou recebimento de informação nova. Assim, como se vê, implica participação.
Calcula-se que o homem tenha aprendido a falar há cerca de 30 mil a 50 mil anos. Provavelmente, começou imitando o som de tudo o que o cercava. E, hoje, são falados em torno de 5 mil idiomas no mundo – número que já foi maior, chegando a 10 mil.
Para a sabedoria popular, comunicação não é o que você diz, é o que o outro entende.
John Dewey, pedagogo norte-americano, afirmou:
A comunicação é o processo da participação da experiência para que se torne patrimônio comum. Ela modifica a disposição mental das duas partes associadas. A sociedade não só continua a existir pela transmissão, pela comunicação, como também se pode perfeitamente dizer que ela é transmissão e comunicação.
Na Grécia, há 2.500 anos, as notícias eram levadas por mensageiros, que percorriam enormes distâncias. O primeiro noticiário surgiu em Roma, em 59 a.C., e chamava-se Acta Diurna. E as primeiras revistas apareceram na Europa no século XVI.
Os meios de informação desempenham uma função determinante para a politização da opinião pública, e, nas democracias constitucionais, têm capacidade de exercer um controle crítico sobre os órgãos dos três poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário.
Os meios de comunicação social têm um papel importante de transmitir informação e ajudar no processo de criação da cidadania. Isso demanda, necessariamente, liberdade.
O direito à informação e à comunicação vem sendo proclamado como fundamental desde as primeiras declarações de direitos do século XVIII. Está escrito no artigo 11 da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, publicada em 26 de agosto de 1789, na França, que: “A livre comunicação das ideias e das opiniões é um dos mais preciosos direitos do homem”.
Depois, veio a Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada e proclamada pela Resolução n. 217 da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 10 de dezembro de 1948, artigo 19:
Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.
No Brasil, a Constituição Federal de 1988 trata de liberdade de expressão e do acesso à informação no seu artigo 5o. E no artigo 220 afirma:
“A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição”.
Além da área que pretendem cobrir, o jornalista, o publicitário e o relações públicas devem se dedicar ao conhecimento da natureza da comunicação, essa indústria que se avolumou exponencialmente a partir das três últimas décadas. É preciso investigar como se formam o sentido e o significado da comunicação, como o sujeito desenvolve convicções; aprofundar o advento do inconsciente na comunicação; entre outros temas.
Um profissional de comunicação, esteja ele de que lado estiver, não pode ser zen como os filósofos do Oriente. Monges recolhidos transmitem a imagem de que são homens serenos, comedidos, sempre em paz – esse não é o caso de quem trabalha com a comunicação, umbilicalmente ligada à informação, pois a comunicação é muito dinâmica, muda a toda hora e exige pessoas que acompanhem essas mudanças.
O impacto social da atividade do jornalismo decorre da importância de sua função, que é transmitir, de forma clara e objetiva, o que se acabou de ver e ouvir.
Quem faz a opção pelo jornalismo não pode esperar um serviço com horários muito definidos e carga de trabalho bem distribuída, porque o dia a dia da informação se torna uma implacável corrida contra o relógio. É necessário rapidez para flagrar a notícia no local e no momento em que ela acontece e transferi-la de forma inteligível para a tela do computador.
O profissional de imprensa trabalha para uma poderosa indústria, que foi se modernizando no decorrer do tempo, até se transformar em principal formadora da opinião pública. Ele tem como função a apuração, geração, controle e veiculação das informações conforme as necessidades, os interesses e as expectativas tanto da sociedade quanto da empresa para a qual trabalha. Por isso, conhecimento da realidade que o cerca – um profissional da comunicação deve estudar para compreender o seu público e ser mais útil a ele –, domínio no uso da linguagem, curiosidade intelectual, rapidez e observação cuidadosa dos fatos são características imprescindíveis para o jornalista. Principalmente porque não basta apenas informar, ele terá também de comentar e interpretar a notícia quando for necessário.
Houve um tempo em que a difusão de textos, sons e imagens era atividade exclusiva de grandes empresas capazes de arcar com custos altíssimos de impressão, filmagem, gravação e transporte. Essa época ficou para trás.
Nos últimos anos, enquanto os computadores barateavam os processos de produção e edição, os blogs, páginas pessoais e ferramentas de compartilhamento de dados fizeram de qualquer usuário da internet um produtor potencial de conteúdo. Uma verdadeira quebra de monopólio, que forçou as empresas de mídia a repensarem o relacionamento com seus leitores, espectadores, ouvintes, e internautas, hoje marcado por uma aproximação cada vez mais crescente.
Com os papéis de emissor e receptor mais embolados do que nunca, a imprensa deixou de ser fonte única de notícias e análises sobre os fatos e viu parte de seus anunciantes migrar para outros setores.
Para entender melhor a mídia, é preciso compreender que cada veículo elege um público-alvo e uma linha editorial, aspectos que podem ser apreendidos no acompanhamento regular e atento do conteúdo e da estética de cada veículo.
Os editoriais, espaços em que os veículos expressam suas posições acerca de temas atuais, dão pistas mais explícitas sobre a linha de cada um. Então, o desconhecimento desses aspectos pode resultar em erros primários para a fonte, como se expressar em linguagem incompatível com o público-alvo do veículo ou adotar enfoques destoantes da linha editorial.
Uma expressão bastante comum na atualidade, a parceria, traduz um enfoque útil na compreensão do relacionamento da mídia com a fonte e/ou organização. Ambas têm interesse na divulgação, mas de ângulos de visão diversos, que podem se tornar convergentes: a mídia se interessa pela geração de fatos noticiosos capazes de interessar ao seu público, enquanto a organização se interessa em divulgar sua atuação, de forma a posicionar sua imagem diante desse mesmo público.
A imprensa independente, portanto, enquanto posicionada em competição com órgãos do Poder Público, foi definida como o quarto poder.
Thomas Jefferson, presidente dos Estados Unidos entre 1801 e 1808, disse: “Caso eu tivesse que decidir se deveríamos ter um governo sem jornais ou jornais sem governo, não hesitaria um instante em preferir a segunda opção”.
A liberdade de imprensa não é, a rigor, um poder no sentido constitucional, mas, antes de tudo, o fundamento da legitimidade dos poderes delegados. Considerada como direta explicação da liberdade do pensamento e da discussão, a liberdade ou informação é fundamental para um correto exercício dos poderes democráticos e constitui, portanto, um direito que não deve ser atribuído, mas garantido. Trata-se de uma liberdade que não é externa ao Estado democrático nem a ele subordinada, mas histórica e conceitualmente ligada à sua formação, tanto que os atentados contra o Estado democrático são, em muitos casos, atentados contra a liberdade de informação.
Pode-se destacar dois tipos de formas de divulgação de qualquer informação: o mais antigo é a mídia impressa (ou escrita), que engloba jornais, revistas, mensagens afixadas em lugares públicos, folhetos, boletins, mural e outdoor. O mais recente e surpreendentemente instantâneo é a web, a grande rede mundial de computadores. Cada um desses meios representa um segmento da mídia como um todo.
Mídia deriva do inglês medium, que, por sua vez, se origina do plural, em latim, de medium, meio. Em português, em um sentido mais amplo, mí- dia significa qualquer meio de comunicação de massa. Na prática, a palavra mídia já era comumente usada no setor publicitário. Mídia é o setor da agência de publicidade responsável pelas tarefas de veiculação do anúncio. Significa escolher o meio mais adequado para divulgar determinado produto. Para isso, seus profissionais levam em conta fatores como audiência ou tiragem do veículo, o número de vezes em que a mensagem vai ser divulgada, preço combinado, área atingida e duração da campanha.
Formadora de opinião, a mídia intervém no debate público, defende causas e influencia percepções, convicções e hábitos. Ela pode ajudar a construir ou destruir reputações de indivíduos, empresas e instituições. A imprensa auxilia a formar conceitos e a criar atitudes, bem como tem capacidade de mobilizar os cidadãos e as instituições para a defesa de causas e interesses.
A mídia é também uma manifestação espontânea e inconsciente de como as sociedades querem ver a si mesmas. Portanto, tudo depende da maneira como se vê o fato (e o olhar é individual), do tempo e das condições disponíveis para reproduzi-lo ao público – além dos conceitos e contextos culturais, conscientes ou não, que permeiam todo o processo.
Especialistas em comunicação calculam que nas grandes cidades são lançadas aproximadamente 10 mil informações todos os dias. Em outras palavras, somos bombardeados por símbolos, sinais, todo um emaranhado de códigos que entra pelos meios de informação do homem de hoje.

COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL
No mundo corporativo, comunicação é importante para obter excelência e conquistar eficácia maior na tecnologia empresarial. Não é por acaso que a marca de um produto vale muitas vezes mais do que todo o arsenal usado para a sua produção – plantas industriais, móveis e máquinas. No Brasil, temos 350 mil marcas; nos Estados Unidos, o número chega a 1,6 milhão.
Edgar Morin, o grande teórico francês da comunicação, comenta:
O planeta se encontra, hoje, dotado de uma textura de comunicações (aviões, telefone, internet) como nenhuma outra sociedade do passado jamais teve. A nave espacial Terra é movida por quatro motores associados e, ao mesmo tempo, descontrolados: ciência, técnica, indústria e capitalismo. A globalização pode ser vista como a última fase de uma planetarização tecno-econômica. Ao mesmo tempo, ela pode ser vista como a emergência caótica e desigual de um embrião de sociedade-mundo. Uma sociedade dispõe de um território que comporta um sistema de comunicações.
Uma sociedade inclui sempre uma economia, obviamente. E a economia atual é mundial, de fato, mas lhe faltam as restrições de uma sociedade organizada (leis, direito e controle).
Liberdade e economia têm muitos pontos de identificação. Um exemplo: o historiador e sociólogo Paul Thompson, professor e pesquisador da Universidade de Essex, diretor do Arquivo Nacional de Histórias de Vida da Biblioteca Britânica, consultor da BBC de Londres e autor do livro A voz do passado, contou que um de seus estudos foi sobre a comunidade de pescadores britânicos. Ele constatou que nas Ilhas Shetland, ao norte da Inglaterra, os pais nunca batiam nas crianças, o que era muito raro no fim do século passado. E no oeste da Escócia, todos os recursos eram exatamente iguais aos das Ilhas Shetland, mas as famílias eram completamente diferentes: os pais eram muito duros com seus filhos.
No final das contas, percebeu que a cultura, incluindo a cultura familiar, moldava a economia. Isso porque, enquanto no oeste escocês a pesca declinava, nas Ilhas Shetland ia muito bem. As crianças nas ilhas eram criadas com carinho, eram encorajadas a ser independentes muito cedo, tinham iniciativa, tentavam novas formas de pescar, descobriam novos lugares para vender os peixes.
As outras, criadas sob a dominação dos pais, eram ensinadas a seguir ordens e desencorajadas a fazer algo novo. Aos poucos, isso fez a pesca decair. Como se vê, educação e informação muitas vezes se confundem.
Na vida das organizações, informação também é vital: as empresas precisam consumir informações dos consumidores e do mercado para poderem se ajustar.
Ao fabricar um carro, por exemplo, uma indústria precisa saber qual é o gosto do consumidor, sua tendência, as cores da moda, os tons mais atraentes, a mecânica mais adequada a cada país. A altura de um carro no Brasil, por exemplo, deve ser maior do que a altura de um carro na Europa ou nos Estados Unidos, pois as estradas europeias e norte-americanas são perfeitas, enquanto as brasileiras nem merecem comentário, tal o número de buracos a cada metro percorrido. Então, é preciso que o produto se adapte a cada realidade.
A mídia especializada passou a exigir novos comportamentos e atitudes por parte das empresas ao apontar erros, ao estimular boas ações. Houve também a necessidade de se comunicar com os Poderes constituídos.
A comunicação com os Poderes ganhou intensidade porque as grandes decisões nacionais começaram a receber tratamento acurado das instituições políticas. Os lobbies se estruturaram e abriu-se um nicho profissional: o da articulação e assessoria política.
O mercado da comunicação deu oportunidade para os consultores políticos e, assim, surgiu nas assessorias de comunicação o perfil do diretor de relações institucionais, com sua atenção voltada para o Congresso Nacional, o Poder Executivo e o Poder Judiciário. Tudo, no entanto, deve ser feito segundo uma atuação ética.

ÉTICA NA COMUNICAÇÃO
A ética deve estar a serviço da imagem. Multinacionais estão sob pressão de seus conselheiros para ser e parecer empresas guiadas por princípios éticos. Grupos de pressão mobilizam do dia para a noite a opinião pública em torno das questões éticas.
A ética deixou de ser um artigo de luxo e passou a ser necessidade. Deixou de se subordinar ao departamento jurídico e à ação de advogados para se tornar uma questão fundamental e com existência própria na empresa. Ela se tornou uma atividade corporativa voltada para a reputação da companhia.
Levantamento feito por especialistas indica que todas as companhias da lista das 500 maiores da revista Fortune têm códigos de ética. Esses códigos não indicam necessariamente que as empresas sejam corretas. A maioria nunca distinguiu a ética do mero cumprimento da lei, da ação preventiva do departamento jurídico, da auditoria interna, da área de recursos humanos ou, simplesmente, de comunicação empresarial. Mas a ética preocupa todos, a começar dos acionistas, mesmo que haja investidores predadores no mercado.
A impressão que às vezes se tem é a de que toda essa conversa de ética é apenas uma cortiça de fumaça para uma forma mais sutil de hipocrisia empresarial e um investimento na proteção da respeitabilidade dos conselheiros e dirigentes da empresa. Contudo, os milhões de dólares gastos em ética, longe de serem mais uma “sacada” dos marqueteiros para melhorar a reputação das empresas, constituem uma tentativa de criar um clima ou uma cultura de integridade em seus dirigentes e funcionários.
É necessário não só desenvolver os itens concretos da transformação produtiva mas também promover verdadeira mudança cultural, cuja pauta principal é, como se vê, a ética, o comprometimento com a cidadania, a ecologia, a qualidade de vida, o respeito aos direitos individuais e coletivos. Para exemplificar, recentemente o Banco Mundial suspendeu um crédito para um projeto no Nepal para a construção de uma grande barragem por causa dos protestos de grupos de ecologistas.
Finalmente, não se pode esquecer que a rotina das redações, em que se tem cada vez menos tempo para lançar a notícia, consequência da própria dinâmica da comunicação e do mundo digital, também limita aprofundamentos.
Nesse momento, observa-se uma transformação profunda e radical no mundo empresarial e, consequentemente, na comunicação: graças ao desenvolvimento dos meios de comunicação, o planeta, formado por cerca de 200 países e com uma população de 6 bilhões de habitantes, virou uma aldeia global, na qual é possível saber rapidamente o que acontece em qualquer lugar e a qualquer hora – o ataque às torres do World Trade Center em Nova York, por exemplo, foi divulgado para todo o mundo praticamente no mesmo momento em que acontecia.
Surgem a toda hora novas ideias, novas tecnologias que exigem a tomada de novos rumos. E o bom é que tudo isso pode ser aprendido e compartilhado por nós, cidadãos do mundo.
Também em nossa vida pessoal, percebe-se o quanto a comunicação é importante, porque ela ajuda a compreender melhor a visão do outro e a melhorar nossas relações com a família e os amigos. A comunicação enriquece nossos conhecimentos e amplia nossa visão do mundo.
Por sua vez, os comunicadores não são mais repassadores ou recepto- res de informação, mas, sim, gestores de informação em um processo dinâmico, novo e desafiador, que tem no relacionamento com a mídia um de seus pilares mais delicados e evidentes.
Textos de qualidade, agilidade na apuração e encaminhamento e adequação da linguagem a cada editoria e veículo garantem que a informação certa chegue ao público adequado, na hora e na linguagem necessários.
A informação é vista, cada vez mais, como bem público, ou seja, algo a ser compartilhado e discutido com a sociedade. Você concorda com isso?


Rivaldo Chinem é bacharel em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação de Santos. Trabalhou nos jornais
Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo, bem como na revista Veja, na TV Gazeta, e na Rádio Tupi.


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