sábado, 23 de janeiro de 2016
A hora e a vez de Augusto Matraga
Guimarães
Rosa
Guimarães
Rosa (1908-1967) converteu o sertão
em linguagem, transferindo-o para o oco do coração
do homem. Viver tornou-se, então, muito
perigoso. Mas há de
se a arriscar, como o fez Riobaldo, seu personagem mais conhecido, ao
empreender a temível
travessia do sertão da alma,
o desafio do homem diante das forças
do bem e do mal. Poeta? Prosador? Guimarães
Rosa confunde os limites literários assim
como os limites entre pensar e sentir. Dessa forma é que experimentamos o destino de seus personagens, como parte
de nossos destinos, mas também
refletimos sobre essas vidas para delas extrair as melhores lições. A Hora e vez de Augusto Matraga, narrativa que integrava o primeiro volume de contos do
autor Sagarana (1967), é uma
boa porta de entrada no universo encantado da fiçcão rosiana. Augusto Esteves, Nhô Augusto,
Augusto Matraga (os três nomes se
referem a um só personagem) são os passos da travessia de um homem ao encontro de seu
destino - buscado e construído na dor,
mas também na alegria, no encontro com o sagrado e no desfrute do
mundano - sua hora e sua vez. Nhô Augusto
era dono de gado e de gente. Mas, numa virada da vida, 'descendo ladeira
abaixo' perdeu tudo, incluindo a mulher que fugiu com outro, levando-lhe a
filha junto. A partir desse ponto a narrativa poderia decorrer da cobrança de uma dívida de
honra, como aconselhou o empregado Quim: "...eu podia ter arresistido, mas era negócio de honra, com sangue só para o dono." No entanto, Nhô Augusto renuncia à vingança, mas não à honra, e se regozija ao fim, radiante, ao se deparar com a
hora e vez de ser Matraga, o homem que escolheu ser. Homem capaz de agir com
coragem, justiça, fraternidade e compaixão.
ROSA, Guimarães. A Hora e Vez de Augusto Matraga. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996.
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