sábado, 23 de janeiro de 2016
A Escrava Isaura
Bernardo Guimarães
"O coração é livre; ninguém pode
escravizá-lo, nem o próprio dono."
Em uma magnífica fazenda, no município de Campos de Goitacazes/RJ, morava Isaura, uma linda escrava
de cor de marfim. Isaura era filha de uma bonita escrava que por não se sujeitar aos sórdidos desejos do senhor comendador Almeida (dono da casa) sofreu
as mais terríveis privações. Esta escrava teve um caso com o feitor Miguel, que
era um bom homem e não aceitou
castigá-la como mandou o seu senhor, sendo Isaura fruto desse
relacionamento. Isaura foi educada pela mulher do comendador, e era dotada de
natural bondade e candura do coração além de saber
ler, escrever, italiano, francês e piano. A
mulher do comendador tinha desejo de libertar Isaura, porém não o fazia
para conservá-la perto e assim ter companhia.
O Sr Almeida se aposenta, retirando-se para a corte e entrega a
fazenda a seu filho Leôncio. Este
era digno herdeiro de todos os maus instintos e devassidão do comendador. Casou-se por especulação. Nutre por Isaura o mais cego e violento amor. Ele
chega à fazenda com sua mulher - Malvina - e seu cunhado -
Henrique. Malvina era mulher dócil e
tratava Isaura muito bem. Henrique era um filho rico, estudante de medicina, e
também ficou tocado pela beleza de Isaura. Morre a mãe de Leôncio sem
deixar testamento que libertasse Isaura.
Henrique rapidamente percebe as intenções de Leôncio para
com Isaura. Temendo que ele traia sua irmã, adverte-o que não tolerará tal ato. Henrique se oferece como amante para Isaura e
daria em troca sua liberdade. O jardineiro da fazenda, um ser disforme e objetável, também se oferece
como amante. Isaura não dá atenção
a essas propostas, e diz nunca casar sem amor. Leôncio é avistado
por Henrique e Malvina quando fazia semelhante proposta à Isaura. Malvina sentencia: ou ela (Isaura) ou eu. No
mesmo momento da calorosa discussão, aparece o pai de Isaura com o dinheiro suficiente, uma enorme
quantia de 10 contos de réis, para
comprar a liberdade dela conforme havia prometido o comendador Almeida. Leôncio não aceita o
dinheiro e dá desculpas vazias.
Morre o pai de Leôncio e ele
finge imensa tristeza por dias, o que o alija temporariamente de brigar com a
mulher. Passado certo tempo, Malvina continua a pressão para que se liberta-se Isaura. Com as desculpas e adiamentos de Leôncio, ela decide voltar à casa do seu pai. A sua saída era caminho livre para os intentos indecentes de Leôncio. Como Isaura continuava a resistir, Leôncio ameaça com torturas.
Miguel, sabendo do acontecido, decide fugir com Isaura para o Norte.
Chegando em Recife, a linda Veneza Americana, Isaura muda seu nome
para Elvira e Miguel para Anselmo passando a morarem numa chácara no bairro de Santo Antônio. Álvaro era um
moço rico, filho de uma distinta e opulente família, liberal, republicano e abolicionista extremado. Ele
avista Isaura ao passear perto da sua chácara e a conhece, passando a visitá-la constantemente. Álvaro se utiliza de todos os meios para convencer Isaura a ir a um
baile com ele. Isaura não queria ir
para não enganar a sociedade e iludir o seu amante. Ela por
diversas vezes tentou contar a Álvaro que se
tratava de uma escrava fugida, mas não tinha coragem. Ela só aceita ir diante do argumento de que tanta reclusão estaria despertando a atenção da polícia. Isaura
sente um mau presságio desse
baile.
No baile, Isaura se destaca no meio de todas as mulheres devido a
sua beleza e por tocar muito bem piano. Contudo, é reconhecida por Martinho - um estudante de sórdida ganância e espírito de cobiça - que havia guardado um anúncio de escravo fugido. Ele provoca um escândalo durante o baile e Isaura confessa diante de toda a
sociedade se tratar de uma escrava. Álvaro, não obstante,
defende-a e devido a sua influência a toma
por fiador, sem deixar que ela caísse nas mãos imundas
de Martinho. Este, sem conseguir levá-la, escreve para Leôncio informando que havia achado sua escrava.
Graças a valiosa
intervenção de Álvaro,
Miguel e Isaura continuam na sua chácara em Santo Antônio na
espera das ações que ele havia prometido tomar.
Isaura conta que fugiu para escapar do amor de um senhor libidinoso e cruel.
Enquanto Álvaro se encontrava na chácara, Leôncio aparece
para sua surpresa e exige levar Isaura. Leôncio encontrava-se munido de um mandado de prisão contra Miguel e guardas para levar sua escrava. A aparição é seguida
de forte discussão e Álvaro avança contra Leôncio. A
briga é cessada com a aparição de Isaura que se entrega ao seu senhor.
Isaura volta a fazenda onde fica na mais completa reclusão. Leôncio se
reconciliara com Malvina, pois iria precisar do seu dinheiro. Miguel é ludibriado na cadeia e convencido a tentar persuadir
Isaura a se casar com Belchior, o jardineiro da fazenda, em troca da liberdade
sua e da filha.
Isaura aceita o sacrifício, pois estava sem forças e sem esperança. Leôncio já havia
tomado todas as providências para o
casamento, quando é informado
que alguns cavalheiros chegaram. Pensando se tratar do vigário e do tabelião, mando-os entrar. É tomado de surpresa ao avistar Álvaro. Este tinha ido ao Rio de Janeiro e descobre com alguns
comerciantes que Leôncio estava
falido. Compra os seus créditos e fica
dono de toda a dívida de Leôncio.
Álvaro afirma a Leôncio que
nada mais o pertence, que toda a sua fazenda incluindo os escravos passavam a
ser dele com a execução
dos débitos. Isaura abraça Álvaro. Leôncio jura que nunca irá implorar a sua generosidade para abrandar a dívida. Ele ausenta-se da sala e se suicida.
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