"Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham, nem fiam. E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles".

domingo, 13 de dezembro de 2015

Os melhores contos de Rubem Braga

O gênero
A crônica é fruto do jornal, onde aparece entre notícias efêmeras. Trata-se de um gênero literário que se caracteriza por estar perto do dia-a-dia, seja nos temas, ligados à vida cotidiana, seja na linguagem despojada e coloquial do jornalismo. Mais do que isso, surge inesperadamente como um instante de pausa para o leitor fatigado com a frieza da objetividade jornalística. De extensão limitada, essa pausa se caracteriza exatamente por ir contra as tendências fundamentais do meio em que aparece, o jornal diário. Se a notícia deve ser sempre objetiva e impessoal, a crônica é subjetiva e pessoal. Se a linguagem jornalística deve ser precisa e enxuta, a crônica é impressionista e lírica. Se o jornalista deve ser metódico e claro, o cronista costuma escrever pelo método da conversa fiada, do assunto-puxa-assunto, estabelecendo uma atmosfera de intimidade com o leitor.

A obra
Os melhores contos de Rubem Braga (1985) na verdade são 39 crônicas, selecionadas pelo professor Davi Arrigucci Jr., que podem ser divididas em:

1. Passado interiorano ou em Cachoeiro do Itapemirim – reunindo as crônicas em que o narrador aborda, de forma lírica e nostálgica, a vida na cidade pequena do interior, entre caçadas de passarinho, encontro com moradores da cidade grande, peladas na rua, pescarias, cachorros amigos, e a vegetação abundante do meio quase rural:
  Tuim criado no dedo
  A moça rica
  Negócio de menino
  Caçada de paca
  Praga de menino
  Lembrança de Zig
  O sino de ouro
  O cajueiro
  História de pescaria

2. Luta contra a repressão durante a ditadura getulista (1936 - 1945) – textos em que o velho Braga rememora as aventuras vividas na fuga à repressão durante o Estado Novo, sempre mesclando à luta política aspectos sentimentais e existenciais:
  Diário de um subversivo
  Era uma noite de luar
  Os perseguidos

3. Observação das injustiças sociais – crônicas centradas no conflito entre os que nada têm e os mais privilegiados. Observe-se a semelhança de Conto de Natal com Vidas Secas, de Graciliano Ramos, e principalmente com o Auto de Natal Pernambucano que é Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto:
              ―  O jovem casal
              ―  Noite de chuva
              ―  Conto de Natal

4. Casos da cidade grande ou do exterior – textos relatando episódios passados na cidade grande, alguns de maneira bastante realista e outros, como Marinheiro na rua, com toque surrealista ou, como O homem da estação, com claras influências do expressionismo de Franz Kafka:
  Coração de mãe
  Marinheiro na rua
  O homem da estação
  A navegação de casa
  O espanhol que morreu
  O rei secreto de França
  Um braço de mulher
  Os amantes
  O afogado
  As luvas

5. Conversas corriqueiras – diálogos travados pelo narrador ou por personagens outras em que predomina a observação das sutilezas psicológicas:
  Falamos de carambolas
  Aula de inglês
  A partilha
  Força de vontade
  Visita de uma senhora
  Do Carmo

6. Instantes de epifania pura – embora a epifania apareça de forma nuclear em muitos dos textos agrupados em outras categorias, nestes aparece de forma desnuda, pura, sendo a essência dos textos, que descreves instantes únicos de alumbramento, de iluminação:
  Madrugada
  O mato
  Visão

7. O narrador "voyeur" – crônicas em que o narrador observa, atraído como um "voyeur", as ações de mulheres/meninas:
  Viúva na praia
  A mulher que ia navegar
  A primeira mulher do Nunes
  Encontro
  As meninas

.
.
.

Nenhum comentário: