sexta-feira, 4 de dezembro de 2015
A ideologia alemã
“A produção de ideias, de representações, da consciência,
está, de início, diretamente entrelaçada com a atividade material e com o
intercâmbio material dos homens, como a linguagem da vida real. O representar,
o pensar, o intercâmbio espiritual dos homens aparecem aqui como emanação
direta de seu comportamento material. O mesmo ocorre com a produção espiritual,
tal como aparece na linguagem da política, das leis, da moral, da religião, da
metafísica etc. de um povo. Os homens são os produtores de suas representações,
de suas ideias etc., mas os homens reais e ativos, tal como se acham
condicionados por um determinado desenvolvimento de suas forças produtivas e
pelo intercâmbio que a ele corresponde até chegar às suas formações mais
amplas. A consciência jamais pode ser outra coisa do que o ser consciente, e o
ser dos homens é o seu processo de vida real. [...]
Totalmente ao contrário do que ocorre na filosofia alemã,
que desce do céu à terra, aqui se ascende da terra ao céu. Ou, em outras
palavras: não se parte daquilo que os homens dizem, imaginam ou representam, e
tampouco dos homens pensados, imaginados e representados para, a partir daí,
chegar aos homens em carne e osso; parte-se dos homens realmente ativos e, a
partir de seu processo de vida real, expõe-se também o desenvolvimento dos
reflexos ideológicos e dos ecos desse processo de vida. [...]
Não é a consciência que determina a vida, mas a vida que
determina a consciência. Na primeira maneira de considerar as coisas, parte-se
da consciência como do próprio indivíduo vivo; na segunda, que é a que corresponde
à vida real, parte-se dos próprios indivíduos reais e vivos, e se considera a
consciência unicamente como sua
consciência. [...]
As ideias da classe dominante são, em cada época, as
ideias dominantes; isto é, a classe que é a força
material dominante da sociedade e, ao
mesmo tempo, sua força espiritual
dominante. A classe que tem à sua disposição os meios de produção material
dispõe, ao mesmo tempo, dos meios de produção espiritual, o que faz com que a
ela sejam submetidas, ao mesmo tempo e em média, as ideias daqueles aos quais
faltam os meios de produção espiritual. [...]
A divisão do trabalho, [...] como uma das forças
principais da história até aqui, expressa-se também no seio da classe dominante
como divisão do trabalho espiritual e material, de tal modo que, no interior
dessa classe, uma parte aparece como os pensadores dessa classe (seus ideólogos
ativos, conceptivos, que fazem da formação de ilusões dessa classe a respeito
de si mesma seu modo principal de subsistência), enquanto que os outros
relacionam-se com essas ideias e ilusões de maneira mais passiva e receptiva,
pois são, na realidade, os membros ativos dessa classe e têm pouco tempo para
produzir ideias e ilusões acerca de si próprios.”
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário