sábado, 19 de dezembro de 2015
O Mulato
Aluísio Azevedo
1. O Autor
Aluísio
Tancredo Gonçalves de Azevedo (1857/1913). É considerado
o inaugurador do naturalismo em nossa literatura, destacam-se, em sua obra, os
romances O mulato (1881), Casa de pensão (1884) e
O cortiço (1890). A
presença marcante
das ideias científicas, sociológicas e
antropológicas da época a
respeito da determinação incoercível do
meio, da herança genética e do
momento histórico no comportamento humano, tomando o homem o resultado
de sua constituição psicofisiológica e das
pressões sociais,
caracteriza as obras naturalistas do Autor. Revelando influências do
naturalismo europeu, particularmente do escritor português Eça de Queirós, Aluísio Azevedo
assume uma posição crítica de denúncia à corrupção moral e à hipocrisia
da burguesia e do clero, chamando a atenção para problemas
sociais, numa atitude polêmica, bem ao molde do espírito
combativo da época.
Aluísio Azevedo
foi um dos principais autores da Literatura Brasileira de seu tempo. Caricaturista
de inegável talento
militou nas principais folhas políticas do
Rio, atividade que lhe ensinou a arte da linha grossa que deforma o corpo e o
gesto e compõe a técnica do tipo,
própria da
concepção
naturalista de criação da personagem e do ambiente em que se desenrola
a trama. Aliada a esta técnica de composição está a descrição minuciosa
do ambiente e das ações, buscando integrar monoliticamente o personagem
e o meio social em que se movimenta.
2. Síntese
"O Mulato" é considerado
pela crítica em
geral como o primeiro romance naturalista no Brasil, embora não seja uma
autobiografia, nele está presente muito da vida do escritor, sua interpretação da existência e o
enfoque da experiência vivida em sua terra natal. Certos elementos
que aparecerão nas obras do romancista já se fazem
notar neste primeiro livro, como a forte tendência para o
caricatural e o grotesco, forçando e deformando os traços que compõem as
características físicas e psicológicas dos
personagens. O romance é feito com boa técnica. O
enredo dá a sensação de esquemático, de
dureza na montagem, em que os elementos constitutivos são pensados
rigorosamente a fim de que nada viesse prejudicar a unidade do romance. "O
Mulato", como narrativa naturalista que é, contém uma tese
que pode ser, formulada da seguinte forma: numa cidade provinciana como São Luís, há preconceitos
raciais, um clero corrompido, uma casta privilegiada, comerciantes gananciosos
e empregados corruptos, passando o romance a ser uma denúncia deste
estado social degradado. Um empregado de origem portuguesa, João Dias
primeiro caixeiro de seu patrão, procura por todos os meios casar-se com a filha
deste, Ana Rosa, pois desta forma obteria uma posição social
melhor e tornar-se-ia rico. A harmonia dos planos é quebrada por
um elemento de fora, o Dr. Raimundo, de origem duvidosa, filho de uma negra,
mulato pela cor e aspectos do cabelo. Com reservas é aceito pela
sociedade, mas quando pretende o amor de Ana Rosa, a sociedade o reprime. O vilão é o cônego Diogo
que manobra com as armas da intriga, da chantagem e da manipulação para
conseguir que o rival amoroso de Raimundo, João Dias, o
assassinasse à traição,
libertando a cidade de sua presença indesejada.
O romancista comporta-se diligentemente
para todos os pontos da obra estejam dentro do esquema preestabelecido. As
personagens traçadas artificialmente vivem como fantoches, sem
vida e sem autonomia. O romance, por suas características
documentais, naturalista que é, exige a presença de um tempo
definido e certo, o que faz o tempo ser cronológico e o espaço físico é a própria área geográfica em que
se movimentam as personagens.
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