domingo, 20 de dezembro de 2015
Campo geral, de Guimarães Rosa
A narrativa de Campo
geral começa quando Miguilim é levado por Tio Terez
para ser crismado. O menino tem 8 anos e nunca saiu do Mutum,
afora pequenas mudanças que fez quando ainda muito pequeno. Desta viagem, a
lembrança mais nítida será de um
comentário ouvido sobre a beleza de Mutum. Profundamente impressionado com esta
referência, Miguilim não vê a
hora de contá-la à mãe, Nhanina, sempre triste de ali
viver.
Ao chegar em casa, vai tão aflito procurar a mãe, que acaba
desgostando a seu pai e recebe castigo: não o acompanha juntamente com os irmãos
na pescaria de domingo. Em contrapartida, aprende a fazer arapuca para
pegar passarinho com o Tio Terez.
A rotina da casa inclui os brinquedos de Miguilim com seus irmãos
por ordem de idade, Drelina, Dito, Chica, Tomezinho. Há também outro irmão, Liovaldo, mais
velho que Miguilim, o único que não
mora com a família. Na cozinha, a mãe e as empregadas, Rosa, Maria Pretinha e Mãitina,
preparam as comidas. Nas cercanias, vivem os diversos cachorros da família.
Havia uma cadela, a Pingo-de-Ouro, a que Miguilim era especialmente apegado,
mas que foi dada pelo pai a tropeiros de pernoite no Mutum.
A descoberta de que Nhanina e Tio Terez tinham um caso causa
grande confusão. O pai bate na mãe, Miguilim tenta interrompê-lo e termina
sendo castigado. Vovó Izidra, sua
tia-avó, é quem toma a iniciativa de expulsar Tio
Terez de casa, xingando-o de Caim. Nesta noite, uma grande tempestade faz Dito
e Miguilim conversarem sobre o medo da morte. Para acalmar a todos, Vovó Izidra puxa uma reza.
No dia seguinte, Seo Deográcias, entendido de remédios, foi com o
filho, Patori, visitá-los. Queria, na verdade, pegar emprestado alguns
mantimentos e cobrar um dinheiro, mas aproveita para aconselhar sobre a saúde
de Miguilim, que a todos parecia frágil.
Aos poucos, Miguilim começa a cismar que vai morrer. Faz uma
promessa a Deus: se ele não morresse nos próximos dias, não morreria mais.
Enquanto isso, se compromete a rezar uma novena. Contudo, os dias passam, ele não
principia a novena e vai ficando cada vez mais ansioso. Começa então a rever vários
momentos e se recorda da habilidade de Dito em se comportar de modo que não
desagrade o Pai, da curiosidade que Patori lhe despertou sobre sexo, do
aconchego que sentia em criança de ficar nos braços de Mãitina. No derradeiro
dia, nem da cama ele quer sair. E até Seo
Aristeu, outro curandeiro da região, vir vê-lo, Miguilim não pode acreditar em
outra coisa que não fosse a morte chegando. Temia estar tísico, mas Seo Aristeu
logo foi explicando no seu jeito alegre de falar que essa doença não dava por
aquela parte dos Gerais.
O pai então toma uma decisão: a partir do próximo dia, Miguilim irá levar-lhe comida na roça onde
trabalhava. O menino fica muito feliz de se sentir útil. Quando foi cumprir a tarefa pela
primeira vez, Tio Terez aparece no caminho e pede ao sobrinho um favor:
entregar um bilhete a Nhanina. O pedaço de papel no bolso põe Miguilim num
grande embate interior: o que seria mais certo fazer? Sem contar o motivo,
consulta todos sobre o que é certo ou errado. Como sempre, é com
Dito que Miguilim vai se orientar, tentando pedir explicações que o irmão,
apesar de menor, parece sempre conhecer.
Depois de uma tarde e de uma noite de dúvidas, Miguilim só resolve em frente ao Tio Terez o que
fazer: diz a verdade e devolve o bilhete. O Tio então se dá conta em que horrível posição colocara
o sobrinho e se desculpa. Ainda atordoado, Miguilim deixa que os macacos roubem
a comida do tabuleiro. O pai se diverte com a história, dando a sensação em
Miguilim de ser amado.
Com a chegada de Luisaltino, novo parceiro de trabalho de Nhô Bero, vem a notícia de que Patori
assassinou um rapaz e está foragido.
Patori acaba morrendo de fome, e Nhô Bero
larga tudo para prestar solidariedade a Seo Deográcias, que se desesperava com
a perda do filho. Mas o que mais agradou a Miguilim foi que Luisaltino traz
consigo um papagaio, o Papaco-o-Paco.
Uma manhã, depois de ter ido espiar uma coruja, Dito pisa num caco
de pote e corta o pé. O tétano toma conta do menino e, em poucos dias, ele
morre. Miguilim se desespera e esse intenso sofrimento parece não passar nunca.
Mãitina tem uma ideia que o ajuda a enfrentar a dor: juntou roupas e brinquedos
de Dito e alguns guardados seus e enterrou tudo no quintal, marcando depois o
lugar com pedrinhas lavadas do rio.
Para tirá-lo dessa tristeza, Nhô Bero
resolve pô-lo para trabalhar: começa a debulhar milho, capinar a horta, buscar
cavalo no pasto. Miguilim não acha ruim trabalhar, mas não vê alegria em nada. Para complicar, dias
depois chegam Tio Osmundo e o irmão Liovaldo.
O Tio não simpatiza com Miguilim e Liovaldo começa a provocá-lo. Até que Liovaldo faz pequenas maldades com
o menino Grivo e Miguilim, indignado, acaba partindo para a briga. Nhô Bero fica tão furioso que dá uma sova de correia no menino.
Miguilim sente tanto ódio do pai
que nem chora: só pensa em
crescer e matá-lo. Nhanina, para abrandar a situação, manda Miguilim se
hospedar na casa do vaqueiro Saluz por três dias. Na volta, Miguilim não pede a
bênção ao pai, que então se vinga, soltando os passarinhos de Miguilim e despedaçando
as gaiolas. Miguilim por sua vez extravasa sua raiva, quebrando os próprios
brinquedos.
Quando o Tio e o irmão vão embora, Miguilim pela primeira vez se
alegra com a possibilidade de um dia ser ele a partir. Com esta ideia na cabeça
começa a se reanimar, a repassar tudo que aprendera com Dito, mas termina por
adoecer, o que desespera Nhô Bero.
Durante a sua convalescença, uma tragédia se precipita: Nhô Bero descobre que Luisaltino o traía
com sua mulher; mata o ajudante e, em seguida, se suicida.
Seo Aristeu tenta animar Miguilim. Nhanina conta sua intenção de
casar com Tio Terez, que a esta altura já está de volta. Miguilim, ainda abatido com
a doença e com todos os acontecimentos, vê chegar
dois homens a cavalo. Um deles logo repara no jeito de Miguilim olhar, com os
olhos apertados. O grupo vai para a casa e Miguilim é examinado
até que o homem, doutor José Lourenço, do Curvelo, chega a um diagnóstico:
vista curta. Tira os próprios óculos
e empresta ao menino, que nem pode acreditar em tudo que se revelou a sua
frente.
O doutor se oferece para levar Miguilim
para a cidade: providenciaria os óculos
e poria Miguilim para estudar. Miguilim aceita o convite e se prepara para ir
embora na manhã seguinte. Mas,
antes de partir, pede de novo os óculos.
Quer levar consigo uma imagem nítida da família e do Mutum, que, agora ele via,
era realmente bonito.
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