domingo, 11 de outubro de 2015
Nobel de literatura 2015
Svetlana
Alexievich vence Nobel de Literatura 2015
Anúncio foi feito na manhã desta quinta (8) em Estocolmo, na Suécia. Escritora
e jornalista bielorrussa é a 14ª mulher a receber o prêmio.
A escritora e jornalista bielorrussa Svetlana
Alexievich, de 67 anos, foi anunciada na manhã desta quinta-feira (8) vencedora
do Nobel de Literatura 2015. Ela é a 14ª mulher a vencer o prêmio. A escolha
foi divulgada em um evento na cidade de Estocolmo, na Suécia. Além do título, a
escritora ganha 8 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 3,75 milhões).
Segundo o comitê da premiação, Alexievich foi
escolhida por sua "obra polifônica, um monumento do sofrimento e da
coragem em nosso tempo". Considerada cronista implacável da União
Soviética, ela é uma das raras autoras de não ficção premiadas com o Nobel.
A cerimônia de entrega acontecerá em Estocolmo, no dia
10 de dezembro, aniversário da morte do fundador do prêmio, Alfred Nobel.
Sem títulos publicados no Brasil mas traduzida
para o inglês e mais de dez idiomas, como espanhol, francês, alemão e chinês,
Svetlana tem como livro mais conhecido "Voices from Chernobyl: The history
of a nuclear disaster" ("Vozes de Chernobil: A história oral de um desastre
nuclear"), publicado em 1997. Ele levou dez anos para ser escrito e reúne
entrevistas com testemunhas da maior catástrofe nuclear da história. A obra
chegou a ser proibida em Belarus.
"Acabo de informá-la", afirmou Sara
Danius, secretária da Academia Sueca, ao canal público SVT. "Ela disse
apenas uma palavra: Fantástico!", completou. "É uma grande escritora,
que encontrou novos caminhos literários", disse Danius.
Vinda de uma família de professores rurais, Svetlana
Alexievich nasceu em 31 de maio de 1948 na cidade de Ivano-Frankivsk, na
Ucrânia, mas cresceu em Belarus. Estudou
jornalismo na Universidade de Minsk entre 1967 e 1972. Após a
graduação, trabalhou num jornal local na província de Brest.
Depois ela voltou para Minsk, onde trabalhou na
"Sel’skaja Gazeta", jornal das fazendas coletivas soviéticas. Lá, ela
reuniu material para seu primeiro livro "War's unwomanly face"
(1985), baseado em entrevistas com centenas de mulheres que participaram da Segunda
Guerra Mundial.
Este trabalho é o primeiro do grande ciclo de
livros de Alexievich, "Voices of Utopia", em que a vida na União
Soviética é retratada a partir da perspectiva do indivíduo. Por causa de sua
crítica ao regime, Alexievich viveu periodicamente no exterior, na Itália,
França, Alemanha e Suécia, entre outros lugares.
Svetlana Alexievich é a 14ª quarta mulher a ganhar
o Nobel de Literatura. Antes dela, a mais recente havia sido a
autora canadense Alice Munrom, escolhida em 2013.
A proposta do livro de estreia de Svetlana –
"War's unwomanly face" (1985), algo como "A guerra não tem uma
face feminina" – era registrar relatos de mulheres que lutaram durante a
Segunda Guerra Mundial.
"Tudo o que sabíamos da guerra foi contado
pelos homens. Por que as mulheres que suportaram este mundo absolutamente
masculino não defenderam sua história, suas palavras e seus sentimentos?",
questionou a escritora certa vez.
Svetlana Alexievich retrata o império soviético de
Chernobil ao Afeganistão em livros que não são encontrados em seu país. A
escritora não perdoa a visão do "homo sovieticus", incapaz de ser
livre.
A obra da escritora é rica em depoimentos ouvidos
com paciência ao longo do tempo. O título "O fim do homem vermelho ou a
era do desencanto", um retrato sem concessões, mas compassivo do
"homo sovieticus", que saiu mais de 20 anos depois da implosão do
império da União Soviética, recebeu em 2013 o prêmio Medicis de ensaio na
França.
"Conheço bem aquele 'homem vermelho': sou eu,
as pessoas que me cercam, meus pais", explicou Svetlana em uma ocasião.
Mais tarde, completou: "Não desapareceu. E o adeus será muito
demorado".
Por este motivo, a escritora diz que tem muito
respeito pelos ucranianos que, com seus protestos, expulsaram do poder o
ex-presidente pró-Rússia Viktor Yanukovich em 2014.
"Hoje o modelo para todos é a Ucrânia. Seu
desejo de romper por completo com o passado é digno de respeito", opinou a
vencedora do Nobel sobre o país devastado pelo conflito entre separatistas
pró-Rússia e as forças ucranianas.
"Penso que o império ainda não desapareceu.
E, pessoalmente, tenho a inquietante impressão de que não desaparecerá sem
derramamento de sangue."
Svetlana Alexievich já foi acusada de "romper a
imagem heroica da mulher soviética". Seu primeiro livro, "War's
unwomanly face", teve de esperar pela Perestroika, a reforma do sistema
aplicada por Mikhail Gorbachev, para ser publicado. Com a obra, alcançou fama
em toda a União Soviética e no exterior.
"Vivemos entre carrascos e vítimas, os
carrascos são difíceis de encontrar. As vítimas são nossa sociedade, e são
muito numerosas", declarou Alexievich em entrevista à agência de AFP.
Outro livro que rendeu polêmica foi "Vozes de
Chernobyl: A história oral de um desastre nuclear" (1997). Belarus –
presidida por Alexander Lukashenko desde 1994, um dos países mais afetados
pelas consequências de Chernobyl, onde o tema continua sendo tabu – proibiu o
livro. Segundo a vencedora do Nobel, sua obra "não agrada" o
presidente.
"Vivemos sob uma ditadura, há opositores na
prisão, a sociedade tem medo e, ao mesmo tempo, é uma vulgar sociedade de
consumo. As pessoas não se interessam pela política. É um período
difícil", resumiu a escritora à AFP em 2013.
Os intelectuais bielorrussos também não parecem
apreciar as opiniões de Svetlana, que reivindica a "cultura russa" da
qual eles desejam distinguir-se e, ao mesmo tempo, passa a maior parte do tempo
na Europa ocidental. Sua obra acaba por provocar uma mescla de atração e
repulsa no país.
O Nobel para Svetlana Alexievich representa uma
exceção porque é bastante incomum a Academia Sueca premiar um autor que
escreva, predominantemente, não ficção. O prêmio é entregue desde 1901.
Antes da bielorrussa, raros exemplos de escritores
do gênero a levar o Nobel foram Theodor Mommsen (1902), Bertrand Russell
(1950), Winston Churchill (1953) e Jean-Paul Sartre (1964). O francês também
escreveu romances, peças de teatro e crítica literária, mas foi reconhecido
sobretudo por sua atuação como filósofo.
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