"Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham, nem fiam. E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles".

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Auto da barca do inferno

de Gil Vicente

O primeiro a embarcar é um Fidalgo, que chega acompanhado de um Pajem, que leva a cauda da roupa do Fidalgo e também uma cadeira, para seu encosto.
O Diabo mal viu o Fidalgo e já lhe falou para entrar em sua barca, pois ele iria levar mais almas e mostrar que era bom navegante. Antes disso, o companheiro do Diabo, começou a preparar a barca para que as almas dos que viessem pudessem entrar.
Quando tudo estava pronto, o Fidalgo dirigiu a palavra ao Diabo, perguntando para onde aquela barca iria. O Diabo respondeu que iria para o Inferno, então o Fidalgo resolveu ser sarcástico e falou que as roupas do Diabo pareciam de uma mulher e que sua barca era horrível. O Diabo não gostou da provocação e disse que aquela barca com certeza era ideal para ele, devido a sua impertinência. O Fidalgo espantado, diz ao Diabo que tem quem reze por ele, mas acaba recebendo a notícia de que seu pai também havia embarcado rumo ao Inferno.
O Fidalgo tenta achar outra barca, que não siga ao Inferno, então resolve dirigir-se a barca do céu. Ele resolve perguntar ao Anjo, aonde sua barca iria e se ele poderia embarcar nela, mas é impedido de entrar, devido a sua tirania, pois o Anjo disse que aquela barca era muito pequena para ele, não teria espaço para o seu mau caráter.
O Diabo começa a fazer propaganda de sua barca, dizendo que ela era a ideal, a melhor. Assim, O Fidalgo desconsolado, resolve embarcar na barca para o Inferno. Mas antes, o Fidalgo queria tornar a ver sua amada, pois ele disse que ela se mataria por ele, mas o Diabo falou que a mulher na qual ele tanto ama, estava apenas enganando- o, que tudo que ela lhe escrevia era mentira. E assim, o Diabo insistia cada vez mais para que o Fidalgo esquecesse sua mulher e que embarcasse logo, pois ainda viria mais gente.
O Diabo manda o Pajem, que estava junto com o Fidalgo, ir embora, pois ainda não era sua hora. Logo a seguir, veio um agiota que questionou ao Diabo, para onde ele iria conduzir aquela barca. O Diabo querendo conduzi-lo a sua barca, perguntou por que ele tinha demorado tanto, e o Agiota afirmou que havia sido devido ao dinheiro que ele queria ganhar, mas que foi por causa dele que ele havia morrido e que não sobrou nem um pouco para pagar ao barqueiro.
O Agiota não quis entrar na barca do Diabo, então resolveu dirigir-se à barca do céu. Chegando até a barca divina, ele pergunta ao Anjo se ele poderia embarcar, mas o Anjo afirmou que por ele, o Agiota não entraria em sua barca, por ter roubado muito e por ser ganancioso. Então, negada a sua entrada na barca divina, o Agiota acaba entrando na barca do Inferno.
Mais uma alma se aproximou, desta vez era um Parvo, um homem tolo que perguntou se aquela barca era a barca dos tolos. O Diabo afirmou que era a barca dos tolos e que ele deveria entrar, mas o Parvo ficou reclamando que morreu na hora errada e o Diabo perguntou do que ele havia morrido, e o Parvo sendo muito sutil respondeu que havia sido de caganeira.
O Parvo ao saber aonde aquela barca iria, começou a insultar o Diabo e foi tentar embarcar na barca divina. O Anjo falou que se ele quisesse, poderia entrar, pois ele não havia feito nada de mal em sua vida, mas disse para esperar para ver se tinha mais alguém que merecia entrar na barca divina.
Vem um sapateiro com seu avental, carregando algumas fôrmas e chegando ao batel do inferno, chama o Diabo. Ele fica espantado com a maneira na qual o sapateiro vem carregado, cheio de pecados e de suas fôrmas.
O sapateiro tenta enrolar o Diabo, dizendo que ali ele não entraria, pois ele sempre se confessava, mas o Diabo joga toda a verdade na sua cara e o manda entrar logo em sua barca. O sapateiro tenta lhe dizer todas as feitorias que havia feito, na tentativa de conseguir entrar no batel do céu, mas o Anjo lhe diz que a "carga" que ele trazia não entraria em sua barca e que o batel do Inferno era perfeito para ele. Vendo que não conseguiu o que queria, o sapateiro se dirige à barca do Inferno e ordena que ela saia logo.
Chegou um Frade, junto de uma moça, carregando em uma mão um pequeno escudo e uma espada, na outra mão, um capacete debaixo do capuz. Começou a cantarolar uma música e a dançar.
Ele falou ao Diabo que era da corte, mas o próprio perguntou-lhe como ele sabia dançar o Tordião, já que era da corte. O Diabo perguntou se a moça que ele trazia era dele e se no convento não censuravam tal tipo de coisa. O Frade por sua vez diz que todo no convento são tão pecadores como ele e aproveitou para perguntar para onde aquela barca iria. Ao saber para onde iria, ficou inconformado e tenta entender porque ele teria que ir ao Inferno e não ao céu, já que era um frade. O Diabo lhe responde que foi devido ao seu comportamento durante a vida, por ter tido várias mulheres e por ter sido muito aventureiro. Assim, o Frade desafia o Diabo, mas este não faz nada e apenas observa o que o Frade faz.
O Frade resolve puxar a moça para irem ao batel do Céu, mas lá se encontram com o Parvo, que pergunta se ele havia roubado aquela espada que ele carregava. O Frade completamente arrasado, finalmente se convence que seu destino é o inferno, pois até mesmo o Parvo zombou de sua vida e de seus pecados. Dirigiu-se a barca do Inferno, resolve embarcar junto com a moça que o acompanhava.
Assim que o Frade embarcou, veio a alcoviteira Brísida Vaz, chamando o Diabo, para saber em qual barca ela haveria de entrar. O companheiro do Diabo lhe disse que ela não entraria na barca sem Joana de Valdês.
Ela foi relatando o que estava trazendo para a barca e afirmava que iria para o Paraíso, mas o Diabo dizia que sua barca era o seu lugar, que ela teria que ficar ali.
Brísida vai implorar de joelhos ao Anjo, que esse a deixe entrar em sua barca, pois ela não queria arder no fogo do inferno, dizendo que tinha o mesmo mérito de um apóstolo para entrar em sua barca. O Anjo, já sem paciência, mandou-lhe que fosse embora e que não lhe importunasse mais.
Triste por não poder ir para o Paraíso, Brísida vai caminhando em direção ao batel do Inferno e resolve entrar, já que era o único lugar para onde ela poderia ir.
Logo após o embarque de Brísida Vaz, veio um Judeu, carregando um bode, na qual fazia parte dos rituais de sacrifício da religião hebraica. Chegando ao batel dos danados, chama o marinheiro, que por acaso era o Diabo; perguntando a quem pertencia aquela barca. O Diabo questiona se o bode também iria junto com o Judeu, esse por sua vez afirma que sim, mas o Diabo o impede, pois ele não levava para o Inferno, os caprinos.
O Judeu resolve pagar alguns tostões ao Diabo, para que ele permita a entrada do bode; disse que por meio do Semifará ele seria pago. Vendo que não consegue, ele xinga o Diabo e roga-lhe várias pragas, apenas por não fazer a sua vontade.
O Parvo, para zombar o Judeu, perguntou se ele havia roubado aquela cabra, e aproveitou para xingá-lo. Afirmou também que ele havia mijado na igreja de São Gião e que teria comido a carne da panela do Nosso Senhor. Vendo que o Judeu era uma péssima pessoa, o Diabo ordenou-lhe logo que entrasse em sua barca, para não perderem tanto tempo com uma discussão tola.
Depois que o Judeu embarcou, veio um Corregedor, carregado de feitos, que quando chegou ao batel do Inferno, com sua vara na mão, chamou o barqueiro. O barqueiro ao vê-lo, fica feliz, pois esta seria mais uma alma que ele conduziria para o fogo ardente do Inferno. O Corregedor era um amante da boa mesa e sua carga era qualificada como "gentil", pois se tratava de processos relativos a crimes, que era um conteúdo muito agradável para o Diabo. Ele era ideal para entrar na barca do Inferno, pois durante sua vida, ele era um juiz corrupto e que aceitava Perdizes como suborno.
O Diabo começa a falar em latim com o Corregedor, pois era usado pela Justiça e pela Igreja, além de ser a língua internacional da cultura. Ele ordena ao seu companheiro que este apronte logo a barca e que se prepare para remar rumo ao Inferno.
Os dois começam a discutir em latim, pois o Corregedor, por ser achar superior ao Diabo, pensa que só porque era um juiz prestigiado, não teria que entrar em sua barca. O Diabo vai perguntando sobre todas as suas falcatruas, até citando sua mulher no meio, que aceitava suborno dos judeus, mas o Corregedor garantiu que com isso ele não estava envolvido, que estes eram os lucros de sua mulher, e não dele.
Enquanto o Corregedor estava nesta conversa com o Arrais do Inferno, chegou um Procurador, carregando vários livros. Resolve falar com o Corregedor, espantado por encontra-lo aí, questiona para onde ele iria, mas o Diabo responde pelo Corregedor e diz que iria para o Inferno, mas que também era bom ele ir entrando logo, para retirar a água que estava entrando na barca.
O Corregedor e o Procurador não quiseram entrar na barca, pois eles tinham fé em Deus e também porque havia outra barca em melhores condições, que os conduziria para um lugar mais ameno. Quando chegam ao batel divino, o Anjo e o Parvo zombam de suas ações, que eles não tinham o direito de entrar ali, pois tudo que eles haviam feito de ruim, estava sendo pago agora, com a ida de suas almas para o Inferno. Desistindo de ir para o paraíso, os dois ao entrarem no batel dos condenados, encontram Brísida Vaz. Ela por sua vez, se sentiu aliviada por estar ali, pois enquanto estava viva foi muito castigada pela Justiça.
Veio um homem que morreu enforcado e ao chegar ao batel dos mal-aventurados, começou a conversar com o Diabo. Ele tentou explicar porque ele não iria no batel do Inferno, que ele havia sido perdoado por Deus ao morrer enforcado, mas isso não passou de uma mentira, pois ele teria que morrer e arder no fogo do Inferno devido aos seus erros. Desistindo de tentar fugir de seu futuro, ele acaba obedecendo às ordens do Diabo para ajudar a empurrar a barca e a remar, pois o horário de partida estava próximo.
Depois disso, vieram quatro Cavaleiros cantando, na qual cada um trazia a Cruz de Cristo, pelo Senhor e também para demonstrar a sua fé, pois eles haviam lutado em uma Cruzada contra os Mulçumanos, no norte da África. Absolvidos da culpa e pena, por privilégio dos que morreram em guerra, foram cantarolando felizes indo em direção ao batel do Céu.
Ao passarem na frente do batel do Inferno, cantando, segurando suas espadas e escudos, o Diabo não resiste e os pergunta por que eles não pararam para questionar para onde sua barca iria. Convidando-os para entrar, o Diabo recebe uma resposta não muito agradável de um dos Cavaleiros, pois esse disse que quem morresse por Jesus Cristo, não entraria em tal barca.

Tornaram a prosseguir, cantarolando, em direção à barca da Glória, que quando eles chegaram nela, o Anjo os recebeu muito bem e disse que estava à espera deles por muito tempo. Sendo assim, os quatro Cavaleiros embarcaram e tomaram rumo em direção ao Paraíso, já que morreram por Deus e porque eram livres de qualquer pecado.



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domingo, 27 de dezembro de 2015

Período composto

O período composto é sempre constituído de duas ou mais orações. O período pode ser composto por coordenação, por subordinação ou por coordenação e subordinação.

1. Composto por coordenação é o período no qual as orações que se sucedem apresentam uma relação de independência entre si, isto é, são gramaticalmente independentes. Nesse tipo de período, cada uma das orações é sintaticamente independente, visto que uma não exerce qualquer função sintática em relação à outra ou às outras orações. Exemplo:

Vou ao cinema com você, mas preciso voltar cedo para casa.
Temos, acima, um período de duas orações:
1ª = Vou ao cinema com você,
2ª = mas preciso voltar cedo para casa.

2. Composto por subordinação é o período em que existe uma dependência sintática entre duas ou mais orações. Nesse tipo de período, haverá sempre uma oração principal e uma ou mais orações dependentes. As orações dependentes são subordinadas e classificadas de acordo com a função sintática que exercem em relação à oração principal. Exemplo:
Espero que o ônibus não se atrase, para que possamos almoçar antes da reunião.
Temos, aqui, um período de três orações:
1ª = Espero (oração principal)
2ª = que o ônibus não se atrase, (oração subordinada)
3ª = para que possamos almoçar antes da reunião. (oração subordinada)

OBSERVAÇÃO
Oração principal é aquela que pede uma oração dependente (subordinada). É importante salientar que a oração principal nem sempre vem antes da oração subordinada. Exemplo:

Porque estava chovendo, apanhei um táxi.
       ↓                                     ↓
oração subordinada          oração principal

3. Composto por coordenação e subordinação simultaneamente é o período em que ocorre a combinação dos dois processos apresentados anteriormente, isto é, em que o período (misto) se compõe de orações independentes (coordenadas) e orações dependentes (subordinadas). Exemplo:
Embora esteja cansado, vou ao cinema com você, mas preciso voltar cedo para casa.
No período acima, temos três orações:
1ª = Embora esteja cansado, (subordinada)
2ª = vou ao cinema com você, (principal)
3ª = mas preciso voltar cedo para casa (coordenada).

COORDENAÇÃO
As orações coordenadas podem ser sindéticas (quando são introduzidas por uma conjunção coordenativa) ou assindéticas (quando aparecem justapostas, isto é, colocadas uma ao lado da outra, sem o uso de conjunção). Exemplos:

Ele se aproximou lentamente e sorriu, mas não disse nada.
                                                     (orações sindéticas)

Ele se aproximou lentamente, sorriu, não disse nada.
                                                      (orações assindéticas)

As orações coordenadas sindéticas se classificam de acordo com as conjunções coordenativas que as iniciam.
1. Aditivas (expressam adição, sequência de informações)
Clarice chegou de mansinho e me deu um beijo.
O homem ferido não se mexia nem falava.

2. Adversativas (estabelecem ideia de contraste, oposição)
Ele foi claro e objetivo, mas não convenceu.
Havia muita coisa por fazer, todavia ninguém queria nada com o trabalho.

3. Alternativas (indicam alternância, exclusão)
Fique quieto ou vá embora.
Gente é tudo igual, quer seja rico ou pobre.

4. Conclusivas (expressam conclusão ou consequência)
Ele nos enganou, logo não merece confiança.
Carolina me ajudou muito, portanto devo recompensá-la.

5. Explicativas (exprimem uma explicação ou justificativa em relação à ideia contida na primeira oração)
Os prisioneiros fugiram, pois a cela está vazia.
Não devemos censurá-la, porque ela estava cumprindo o seu dever.

SUBORDINAÇÃO
O período composto por subordinação, como já mencionamos, é formado por uma oração principal e uma ou mais orações subordinadas. As orações subordinadas dependem da principal e funcionam sempre como termos essenciais, integrantes ou acessórios dela.
As orações subordinadas podem desempenhar a função de substantivo, adjetivo ou advérbio, daí a classificação em orações substantivas, adjetivas ou adverbiais.

As orações subordinadas substantivas são, geralmente, introduzidas pelas conjunções integrantes que ou se. Essas orações completam o sentido da oração principal e têm o valor e as funções próprias do substantivo, isto é, sujeito, objeto direto, objeto indireto, predicativo, complemento nominal e aposto.

1. Subjetivas (exercem a função de sujeito da oração principal)
Parece-me que algo estranho aconteceu.
É óbvio que devemos estudar.
Cumpre que completemos a tarefa.

2. Objetivas diretas (exercem a função de objeto direto da oração principal)
Espero que ela nos ajude.
Bernardo perguntou quanto custa a televisão usada.
Não sabemos como eles se feriram.

OBSERVAÇÃO
As orações substantivas objetivas diretas podem, também, ser introduzidas por pronomes indefinidos (que, quem, qual, quanto) ou por advérbios (como, onde, porque, quando, quanto), sempre nas interrogações indiretas.

3. Objetivas indiretas (exercem a função de objeto indireto da oração principal)
Os operários insistiram para que a greve continuasse.
Lembrei-me de que todas as folgas tinham sido canceladas.
Necessitamos de que ele nos proteja.

OBSERVAÇÃO
As orações substantivas objetivas indiretas são regidas de preposição. Às vezes, ocorre a omissão da preposição. Exemplos:
Lembrei-me de que todas as folgas tinham sido canceladas.
Lembrei-me que todas as folgas tinham sido canceladas.

4. Predicativas (exercem a função de predicativo da oração principal)
A verdade é que Maria nada fez pelos pais.
Meu desejo era que ele fosse médico.
João foi a pessoa que mais protestou.

5. Completivas nominais (exercem a função de complemento de um nome - substantivo ou adjetivo - da oração principal)
Alice tem certeza de que Paulo a pedirá em casamento.
Pedro estava convencido de que um dia lhe reconheceriam o valor.
Sou sempre muito grato a quem me ajuda.

6. Apositivas (exercem a função de aposto de um termo da oração principal)
Só quero uma coisa: que você nos deixe em paz.
A notícia estarreceu a todos: iriam invadir o prédio.
Somente lhe pedimos isto: pague todas as suas dívidas.

OBSERVAÇÃO
Dentre as orações substantivas, há aquela que exerce a função de agente da passiva. A Nomenclatura Gramatical Brasileira, no entanto, não reconhece esse tipo de estrutura linguística. Exemplos:
O prefeito foi vaiado por quantos estavam na comemoração.
A tela será restaurada por quem a pintou.


As orações subordinadas adjetivas são assim chamadas por apresentarem valor de um adjetivo. São normalmente introduzidas por um pronome relativo (que, quem, o qual, a qual, os quais, as quais, onde, cujo etc.) e exercem a função de adjunto adnominal de um antecedente, que pode ser um substantivo ou um pronome.
Classificam-se as subordinadas adjetivas em restritivas e explicativas.

1. Restritivas
As orações subordinadas adjetivas restritivas restringem ou limitam a significação de um termo antecedente - substantivo ou pronome. Diante disso, são indispensáveis ao sentido da frase e, na linguagem escrita, não se separam da oração principal por vírgula. Exemplos:

Mauro é um homem que tem o poder da persuasão.
                     ↓
                    antecedente

A avareza é uma doença cujo sintoma é um sórdido apego ao dinheiro.
                            ↓
                          antecedente

Gosto muito da casa onde moro.
                        ↓
                    antecedente

Não sabemos o que vamos fazer agora.
                    ↓
               antecedente


2. Explicativas
As orações subordinadas adjetivas explicativas acrescentam uma informação nova a respeito do antecedente, que pode ser eliminada, visto que não é essencial para o sentido da frase. Na linguagem escrita, é sempre isolada da oração principal por vírgula. Exemplos:

O Balão Azul, que é um filme iraniano, ganhou vários prêmios no festival de Berlim.
Carlos, que é o garoto mais velho do nosso grupo, pretende fazer Engenharia de Alimentos.

As orações subordinadas adverbiais têm a função sintática de adjunto adverbial e são introduzidas pelas conjunções subordinativas, excluindo-se as integrantes. Classificam-se conforme a conjunção (ou locução conjuntiva) que as introduz. Portanto, podem ser:

1. causais
O bebê chorava porque sentia algum desconforto.
Use um agasalho pesado, que está frio lá fora.
Uma vez que você não o denuncia, nós o denunciaremos.

2. comparativas
A dignidade vale bem mais do que o dinheiro.
Luciano corre como uma lebre.
Não quero que você se comporte que nem um bicho-do-mato.

NOTA
Normalmente ocorre a omissão do verbo na oração adverbial comparativa quando este coincide com a forma verbal da oração principal.

3. concessivas
Por mais que estudasse, ela não obtinha boas notas.
Nós o ajudaremos, embora ele não mereça qualquer ajuda.
Mesmo que eu quisesse, não conseguiria esquecê-la.

4. condicionais
Irei ao cinema, desde que termine o trabalho de literatura.
Caso ela me peça, farei tudo com prazer.
Se não tivesse chovido, teríamos ido à praia.

5. conformativas
Instalaremos o equipamento conforme indica o manual.
Escreveu o relatório como o delegado determinou.
Faremos tudo segundo nos ordenou o rei.

6. consecutivas
Marina envelheceu tanto que quase não a reconheci.
Daniel anda tão estressado que mal para em pé.
Estava tão quente que dormíamos à beira da piscina.

7. finais
Fiz-lhe um sinal que se sentasse.
Abrimos as janelas para que o local pudesse ser arejado.
Retirei-me a fim de que ela se sentisse à vontade.

8. proporcionais
À proporção que nos distanciamos do Sul, mais calor vamos sentindo.
Quanto mais conheço aquela mulher, mais a evito.
À medida que a chuva aumenta, as pessoas são alertadas sobre a possibilidade de desmoronamento.

9. temporais
Eu compro chocolate para as crianças, sempre que passo pela Kopenhagen.
Quando visito Lili, costumo levar-lhe flores.
Mal ouviu o tropel dos cavalos, saiu correndo para o jardim.

OBSERVAÇÃO
Dentre as orações adverbiais há, também, as orações locativas e as modais. As locativas correspondem a um adjunto adverbial de lugar e são iniciadas por onde ou aonde (=onde), sem antecedente. Exemplos:

Não pode haver organização onde prevaleça a indisciplina.
Aonde fores, irei contigo.

As modais exprimem o modo pelo qual se dá o fato expresso na oração principal. São iniciadas por sem que. Exemplos:

O garoto entrou no avião sem que ninguém o visse.
O homem do circo comia fogo sem que se queimasse.

A Nomenclatura Gramatical Brasileira não prevê esses dois tipos de oração, incluindo-as entre as comparativas, conformativas e consecutivas.

Oração reduzida é aquela que tem o seu verbo numa das formas nominais: infinitivo, gerúndio ou particípio. Exemplos:

Marcelo abrirá a porta para João sair.  (oração subordinada reduzida de infinitivo)
As crianças viram dois homens arrombando o carro. (oração subordinada reduzida de gerúndio)                                                   
Concluído o trabalho, avaliaremos todas as atividades. (oração subordinada reduzida de particípio)

NOTA
As orações reduzidas apresentadas acima podem ser desenvolvidas. Assim, teremos:

Marcelo abrirá a porta para que João saia.
As crianças viram dois homens que arrombavam o carro.
Assim que concluirmos o trabalho, avaliaremos todas as atividades.

Orações reduzidas de infinitivo
Substantivas

1.  Subjetivas
É necessário chegar bem cedo.
Foi fácil encontrá-lo.

2. Objetivas diretas
Esperamos chegar lá antes das cinco.
Os clientes dizem ter a nova lista de preços.

3. Objetivas indiretas
Jairo pensa em mudar de emprego.
Nada nos impede de vender a fazenda.

4. Completivas nominais
Estou motivado a viajar com Cecília.
Ela diminuiu o passo com medo de cair.

5. Predicativas
O seu intento era prejudicar a todos nós.
O mais prudente seria voltarem para a cabana.

6. Apositivas
Só me falta algo: ter mais dinheiro.
Ele tem dois grandes defeitos: mentir e beber em excesso.

Adjetivas

Amália é uma criatura de se entregar facilmente.
Paulo não é pessoa de se intimidar com ameaças.

Adverbiais

1. Causais
Júlio não compareceu por se sentir constrangido.
Levarei os dois, visto serem de boa qualidade.

2. Concessivas
Marina fez a prova, apesar de se sentir insegura.
Mesmo sem querer, ela nos ofendeu.

3. Condicionais
Nunca entre no depósito sem pedir autorização.
Não se ausente sem antes avisar o seu chefe.

4. Consecutivas
O filme foi tão violento, a ponto de causar arrepios.
O motorista devia estar muito distraído para não enxergar as crianças.

5. Finais
Devo economizar dinheiro a fim de viajar.
Para enfrentar sua dura realidade, ele bebe meia garrafa de cachaça por dia.

6. Temporais
Chorou muito antes de partir.
Depois de testemunhar, saiu pela porta dos fundos.

Orações reduzidas de gerúndio
Adjetivas

Vimos uma garota loira correndo.
O policial encontrou o garoto tremendo de frio.

Adverbiais

1. Causais
Estando com febre alta, fui até a enfermaria.
Pressentindo que seria exonerado, solicitou demissão.

2. Concessivas
Mesmo sendo tão inteligente, não foi aprovado no vestibular.
Sendo gordo, não conseguiu passar pelo buraco.

3. Condicionais
Analisando melhor, a pesquisa está bem fundamentada.
Permanecendo deitado, você nada conseguirá.

OBSERVAÇÃO
Dentre as orações subordinadas reduzidas de gerúndio há, também, as adverbiais modais, que não constam na Nomenclatura Gramatical Brasileira. Exemplos:

Os orientais comem pegando os alimentos com os pauzinhos.
O carro partiu cantando os pneus.

Orações reduzidas de particípio
Adjetivas

As formigas caminhavam sobre a torta colocada à mesa.
As sedas e brocados trazidos da China ficaram com a bela princesa.

NOTA
É importante saber que os particípios nem sempre constituem orações reduzidas. Muitas vezes, são meros adjetivos que desempenham a função de adjuntos adnominais. Exemplos:

As roupas usadas são bem mais baratas.
O frango assado está delicioso.

Adverbiais

1. Temporais
Terminada a reunião, fomos ao escritório central.
Aberto o portão, os torcedores entraram rapidamente.

2. Causais
Surpreendido pela polícia, o ladrão começou a atirar para todos os lados.
Desatinado, pretendia destruir a casa.

3. Concessivas
Mesmo acuado, o animalzinho não se intimidava.
Cercados pelos inimigos sanguinários, os pequenos guerreiros continuavam combatendo.

4. Condicionais
Apresentado o ultimato, espero a rendição incontinenti do inimigo.
Aceita a mediação das Nações Unidas, o conflito deve chegar ao fim.

Subordinação

As orações intercaladas são meros elementos complementares ao período que funcionam como esclarecimento ou observação.
Em geral, raramente vêm introduzidas por conjunção e, na linguagem escrita, são isoladas por vírgula, travessão ou parênteses:

Carolina, perdoe-me a maldade, é completamente burrinha.
Rogério, que eu saiba, nunca estudou na Inglaterra.

Nos meus anos de faculdade - há muito tempo - costumávamos jogar vôlei todos os sábados.

Ela não entendeu - nunca entenderá - as razões que levaram o marido ao suicídio.
A política (diga-se de passagem) é a arte do conchavo.
Fernando (permita-me um comentário) foi sempre um grande transgressor das normas sociais.

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