A tradução quase instantânea de textos para 52 línguas é apenas o primeiro passo rumo a um comunicador universal em que o idioma deixa de ser barreira e passa a ser o portal do grande encontro das culturas
As diferenças de idioma são um divisor da humanidade. Há dois caminhos para contornar essa barreira. Num deles, busca-se um retorno à linguagem única que, segundo a Bíblia, existia antes da Torre de Babel. Ao longo da história, algumas línguas de fato procuraram desempenhar esse papel. Por exemplo, o latim, na Antiguidade, ou o inglês, nos dias de hoje. Línguas artificiais como o esperanto, criado no século XIX pelo polonês L.L. Zamenhof, também se candidataram a realizar essa tarefa.
O outro caminho é o da tradução universal. Em princípio, seria coisa de ficção científica. O mais insólito modelo de tradutor universal aparece no livro O Guia do Mochileiro das Galáxias, dos anos 70: um peixinho é introduzido no ouvido do protagonista e verte frases alienígenas para o inglês. Na série Jornada nas Estrelas, a tecnologia entra em cena e um dispositivo permite a conversa não somente entre "terráqueos", mas entre habitantes de diferentes planetas. Pois bem: como acontece com frequência, a ficção científica não estava lidando com o impossível, mas apenas antecipando o futuro. A tecnologia já está avançada na criação de um tradutor universal. O sistema mais eficiente opera nos computadores do Google, o gigante da internet. Hoje, ele permite a tradução instantânea de textos escritos em 52 idiomas. Para o leitor, é como colocar-se diante de uma biblioteca infinita e descobrir que todas as publicações estão
Por trás do Google Tradutor está o conhecimento acumulado em inteligência artificial (I.A.), ramo da computação que se dedica ao desenvolvimento de modelos e programas que produzem nas máquinas um comportamento "inteligente". Nascida nos anos
O funcionamento do tradutor do Google remete à Pedra de Roseta, o bloco de granito de
O tradutor do Google está à frente dos rivais. Em pesquisas patrocinadas pelo governo americano, ele supera com frequência ferramentas de outras empresas e universidades. "Ele também é reconhecido como o melhor entre os sistemas comerciais", diz David Yarowsky, professor de ciência da computação da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos. Isso significa sobrepujar os rivais Bing Translator, da Microsoft, e Babel Fish, do Yahoo!. "Hoje, a potência da ferramenta está relacionada ao tamanho de seu banco de dados. E também ao uso de supercomputadores, com sua imensa capacidade de processar informações", explica Helena Caseli, pesquisadora do Laboratório de Linguística Computacional da Universidade Federal de São Carlos. Se são esses os fatores determinantes, é certo que o tradutor vai evoluir. O aumento na capacidade de processar informações dos supercomputadores é garantido pela Lei de Moore – que postula que a capacidade dos chips dobra a cada 24 meses. O banco de dados do Google também cresce continuamente. Ele começou a ser formado em 2006, com textos oficiais da ONU vertidos para seis idiomas. Em seguida, a empresa recorreu a documentos bilíngues de arquivos públicos. Finalmente, mergulhou na internet. Hoje, seus próprios usuários ajudam a ampliar o banco de dados sugerindo traduções alternativas àquelas que lhes são apresentadas. "Há, no entanto, certo limite para essa abordagem", diz Miles Osborne, pesquisador da Universidade de Edimburgo, na Escócia, que trabalhou no projeto do Google. É por isso que vem sendo estudada a inclusão de regras gramaticais no programa: além dos algoritmos, ele usaria essas regras para compor textos mais fluentes. Hoje, as traduções invariavelmente contêm tropeços de gramática. Assim mesmo, quem se detém em uma página estrangeira, esteja ela escrita em mandarim, africânder, vietnamita, japonês ou hindi, já sabe ao menos sobre o que se fala ali. "Há cinco anos, isso era impossível. Daqui a cinco anos, teremos mais fluência", afirma David Yarowsky.
À medida que os tradutores avançarem, seus impactos deverão se espalhar pelas mais variadas áreas. No campo acadêmico, por exemplo, o avanço será dramático. "Em algumas áreas, como ciência e tecnologia, as versões automáticas poderão ser até melhores do que as feitas por humanos, pois, para nós, é muito difícil guardar detalhes de temas específicos", diz Yarowsky. Considere-se que atualmente, nos campos de ciências, tecnologia, finanças e administração, 90% do conteúdo de alta qualidade está em inglês, e a importância dos tradutores automáticos para milhões de estudantes e profissionais ao redor do mundo se torna clara. Yarowsky também aponta frutos na economia: "Será mais fácil vender produtos e serviços ao exterior, com a eliminação de custos com tradução de manuais técnicos, material promocional e e-mails". Atualmente, turistas já se beneficiam da tecnologia na hora de escolher destinos de viagem sem levar em conta a língua local, uma vez que ferramentas como a do Google estão disponíveis
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