"Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham, nem fiam. E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles".

sábado, 27 de março de 2010

A influência do(a) professor(a)

A leitura de Humano, demasiado humano, obra de Friedrich Nietzsche*, me fez pensar sobre a influência que os professores têm sobre os seus alunos. Nem me refiro à influência direta, escancarada e, em alguns casos, descaradamente doutrinária. Não! Penso na influência insinuante, quase imperceptível até mesmo para o professor, cuja origem está na reverência à autoridade (consentida e legitimada na relação); mas também no receio de confrontá-la e/ou no desejo de ser merecedor do seu olhar (atitude complacente e passiva que trai a si mesmo e oculta a vaidade de querer ser percebido pela autoridade). Ao “espírito cativo”, reforçado pela fala e atitude do mestre, parece mais sensato e inteligente resignar-se. Eis um campo fértil para o cultivo da bajulação e a formação de séquitos submissos à personalidade carismática e a autoritária.

Ainda que não queira influir, a autoridade do professor é tamanha que um comentário sobre este ou aquele autor, esta ou aquela obra, pode excluir do rol de possíveis leituras do educando. O professor tem o poder de influenciar o olhar do aluno, direcionando leituras. É dessa forma que eles instilam o “veneno” contra os autores malditos, expulsos do panteão. Claro, nem sempre isto ocorre e o aluno pode resistir. De qualquer forma, é preciso levar em conta o peso que a opinião do professor tem sobre os seus alunos.

Foi assim que introjetei uma relativa desconfiança em relação a autores como Nietzsche, Baudelaire, Walter Benjamin, etc. Não é por acaso que só agora, anos depois de terminada a graduação**, que me aventuro a ler uma obra do filósofo alemão criticado nas hostes marxistas. Com efeito, graduei-me num curso predominantemente marcado pelo ideário marxiano. Reconheço a contribuição deles para a minha formação, especialmente no que diz respeito às leituras marxianas. Por outro lado, o fato de estar vinculado ao movimento social e de ter sido influenciado pelas idéias marxistas a partir da leitura pelo viés da Teologia da Libertação, deixou-me mais simpático e vulnerável a esta influência. Sempre resisti, porém, a aderir, a professar a fé nos guardiões da ortodoxia. Isto me deixou com o espírito livre para outras influências, outros autores e leituras. Para a minha sorte, havia professores que destoavam do doutrinarismo marxista e que foram a contra-influência. São estas diversas influências, entrecruzadas em nossas vidas, que nos formam, que marcam o nosso pensar e agir.

Devo, porém, reconhecer que a experiência da graduação, no curso de Ciências Sociais da Fundação Santo André (SP), contribuiu para desenvolver uma certa hostilidade, nem sempre reconhecida, a autores criticados pelos meus mestres. É o caso de Friedrich Nietzsche. A propósito, cheguei a adquirir o Por que não somos nietzecheanos, publicado pela Editora Ensaio. Não li e acabei presenteando a um amigo. Talvez tenha sido apenas falta de oportunidade – meus caminhos seguiram outros rumos –, mas não deixa de ser interessante a minha recusa em ler até mesmo a crítica a Nietzsche.

A leitura de Nietzsche me fez relembrar estes e outros eventos da minha trajetória. Mas, sobretudo, fortaleceu em mim a percepção do quanto podemos influir, positiva ou negativamente, sobre a vida dos nossos alunos. Se não esquecermos dos exemplos dos nossos professores, e que também fomos alunos, as chances deles e as nossas são maiores.

Sim, é fundamental ler Marx, mas é prudente não tornar-se leitor de um único autor, de uma única obra – e, à maneira religiosa, tomá-lo como profeta e seus escritos como o livro sagrado. Leitores assim são perigosos e, geralmente, propensos à intolerância. Não suportam os “espíritos livres”!


* NIETZSCHE, F. Humano, demasiado humano: um livro para espíritos livres. São Paulo: Companhia das Letras, 2003 (349p.).

** RENAUT, Alain et all. Porque não somos nietzscheanos. São Paulo: Ensaio, 1994.

Fonte: http://antoniozai.wordpress.com/2010/03/27/a-influencia-doa-professora/

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