"Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham, nem fiam. E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles".

segunda-feira, 29 de março de 2010

A Gira da Tabatinga

A gira (língua, gíria) da Tabatinga é uma língua afro-brasileira, de origem predominantemente banto. Em extinção, é falada em parte do município brasileiro de Bom Despacho.

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Dona Fiota: A letra e a palavra

Texto de: José Ribamar Bessa Freire

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Dona Fiota. Ela é dona Fiota e pronto. Ninguém a conhece pelo nome de Maria Joaquina da Silva. Mas também quem é que chama Tiradentes de Joaquim José da Silva? Basta uma única conversa para perceber que dona Fiota é uma mulher poderosa, um personagem da história do nosso país. Tive o privilégio de ouvi-la em março de 2006, em Brasília, durante o seminário sobre as línguas faladas no Brasil, organizado pela Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados e pelo IPHAN. Com seu charme e sua inteligência, ela cativou a todos.

Dona Fiota contou, naquele seminário, que seu pai era um baiano que vivia andando pelo mundo, no tempo do final da escravidão, que ele passou pelo centro-oeste de Minas Gerais, que foi passando e viu sua mãe no cativeiro trabalhando, fiando fio de algodão, que acenou para ela e perguntou se não arrumava uma ocupação para ele, que acabou conseguindo um serviço na roça de mandioca, que foi ficando e namorando, ficando e namorando, até que os dois se casaram, tiveram filhos, netos, bisnetos. Os descendentes do andarilho baiano com a ex-escrava se organizaram depois de abolida a escravidão: Quando rebentou a liberdade, minha mãe saiu lá de Engenho do Ribeiro caçando um lugar. Chegou aqui. Tudo era mato. Na subida, havia um barro branquinho. Ai foi minha mãe que deu o nome de Tabatinga. Toda vida foi Tabatinga. Desde o tempo da escravidão. Só agora é que o nome mudou pra Ana Rosa. Quero tirar esse nome de Ana Rosa”.

A história da comunidade Tabatinga - hoje uma área quilombola, situada no bairro Ana Rosa, periferia da cidade de Bom Despacho (MG) - foi contada por Dona Fiota aos participantes do seminário do IPHAN, mas teve de ser traduzida, porque ela falou, não em português, mas numa língua afro-brasileira, de origem banto, chamada Gira da Tabatinga, ainda hoje usada por um grupo de moradores. Foi a primeira vez que o plenário da Câmara Federal ouviu o som de uma língua minoritária de base africana, reconhecendo sua riqueza, sua função histórica e sua legitimidade.

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A fala da senzala.

A Gira da Tabatinga era falada nas antigas senzalas das fazendas do interior de Minas Gerais. Com ela, os escravos podiam se comunicar livremente sem o patrão entender o que diziam. A língua libertava. Dona Fiota conta: “A gente não podia falar o nome do trem. Tem assango? Não, não tem assango. Tem cambelera? Não, cambelera também não. Tem caxô? Nada de caxô. Então, minha mãe falava: ‘Catingueiro caxô. Caxô o quê? No Curimã’. Ela tava avisando que o patrão havia chegado”.

Numa entrevista a Lúcio Emílio, Dona Fiota dá detalhes sobre a formação da Gira da Tabatinga, produto do sincretismo de várias línguas africanas misturadas ao português: “Aprendi essa língua com a minha mãe. Ela falava todo dia para mim até eu aprender. Isso traz toda uma história pra gente, tanto das partes alegres, como das tristes”. Recentemente, os moradores perceberam que aquela língua que os havia libertado, estava ameaçada de extinção, porque não é mais usada por crianças e jovens, diz dona Fiota: - “Aqui no bairro é muito difícil quem fala a língua”.

Foi aí que a comunidade decidiu fortalecer na sala de aula a língua denominada Gira da Tabatinga, aproveitando a lei sancionada em 2003 que torna obrigatório o ensino de História e Culturas afro-brasileiras nas escolas de ensino fundamental e médio. Duas pesquisadoras – Celeuta Batista Alves e Tânia Maria T. Nakamura – acompanharam a luta pela revitalização da língua, que no passado foi um poderoso instrumento de resistência dos escravos e hoje é uma marca da identidade de seus falantes. A comunidade conseguiu a promessa de que a Secretaria Municipal de Educação remuneraria uma professora da Gíria da Tabatinga. A questão era: - quem daria aulas? Os moradores não duvidaram: - Dona Fiota. Afinal, ela era o Aurélio, o Antônio Houaiss daquela língua quilombola. Acontece que após um mês de trabalho, quando foi receber, o funcionário lhe disse:- “Ah, a professora é a senhora? Então, não vou pagar. Como justifico o pagamento a uma professora que é analfabeta?”. Dona Fiota deu uma resposta de bate-pronto, que só os sábios podem dar: - Eu não tenho a letra. Eu tenho a palavra.

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A dona da palavra.

Com isso, derrubou a postura quase racista que discrimina os que vivem no mundo da oralidade. Ensinou que existe saber sem escrita; que na situação em que ela, dona Fiota, se encontra, não precisa da letra, porque usa a palavra para transmitir seus saberes, trocar experiências e desenvolver suas práticas sociais. Foi nessa língua de forte tradição oral que ela criou e educou seus filhos. É nela que hoje pensa, trabalha, narra, canta, reza, ama, sonha, sofre, chora, reclama, ri e se diverte. Dona Fiota deixou claro que não é carente de escrita, como dizem alguns letrados. Ela é independente da escrita.
Cerca de um milhão e meio de brasileiros para quem o português não é a língua materna estão, hoje, na situação de dona Fiota. Falam uma das 210 línguas existentes dentro do território nacional, 190 das quais são línguas indígenas, ágrafas, sem tradição escrita, mas que são depositárias de sofisticados conhecimentos no campo das chamadas etnociências, da técnica e das manifestações artísticas.

- Esses cidadãos não são menos brasileiros que os outros – defende o lingüista Gilvan Muller, que além dos direitos das minorias, chama a atenção para a diversidade cultural e lingüística, tão importante para o país e para a humanidade. Por isso, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), atendendo encaminhamento do então presidente da Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, Carlos Abicalil, organizou o seminário em 2006 para discutir como proteger essas línguas e o rico patrimônio intangível que elas representam.

Desse seminário participaram técnicos, especialistas e falantes de diversas línguas, entre as quais o Guarani, o Nheengatu, a Língua de Sinais (Libras) e até uma variedade do alemão falada no sul do Brasil chamada Hunsrückisch. Na ocasião, foi criado um Grupo de Trabalho Interinstitucional, formado por cinco ministérios, uma ONG e uma entidade internacional, que produziu um relatório sobre como registrar essas línguas e proteger a diversidade lingüística do país.

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Fonte: http://www.bomdespachomg.com.br/tabatinga.php

domingo, 28 de março de 2010

A palavra mais comprida da língua portuguesa

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Você está lembrado daquela turminha famosa do Sítio do Picapau Amarelo, que partiu para um passeio ao País da Gramática? Pois é. Entre outras coisas interessantes, eles se defrontaram com “a palavra mais comprida da língua”. Vamos aos fatos.

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“Era uma curiosidade de museu que ali estava em exibição pública. Um grande letreiro dizia: ‘A palavra mais comprida da língua. Entrada franca’.

Os meninos precipitaram-se para ver o fenômeno e de fato viram num cercado de arame, espichada no chão que nem jibóia, a palavra anticonstitucionalissimamente.

— Irra! — berrou a boneca. — Uma, duas, três, quatro... Vinte e nove letras tem este formidável advérbio!...

— Treze sílabas! Cáspite!... acrescentou Pedrinho.”

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LOBATO, Monteiro. Emília no País da Gramática. 11. ed. São Paulo: Brasiliense. P. 43.

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De fato, a palavra citada na narrativa de Monteiro Lobato é bastante comprida. Mas além desta, andou-se falando por aqui e por ali, sobre a existência de outra palavra imensamente mais extensa que aquela encontrada pela turminha do famoso sítio. É a palavra pneumoutramicroscopicossilicovulcanoconiótico, de quarenta e cinco letras, que dizem ser o estado em que uma pessoa fica quando aspira cinzas vulcânicas, diz-se que é uma doença.

Uma palavra como esta, que pode até constar em um ou outro dicionário de termos técnicos de determinadas áreas das ciências, mas pelo fato de ainda não estar devidamente reconhecida pelos gramáticos e dicionaristas, não pode ser efetivamente aceita no vocabulário usual da língua portuguesa falada e escrita.

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sábado, 27 de março de 2010

LITERATURA PORTUGUESA

Nossa intenção é a de ministrar aulas envolventes e que sejam acessíveis aos alunos de graduação do curso de letras que, como sabemos, vêm de estruturas sócio-culturais diversificadas, além de expor conceitos que pude adquirir em minha formação acadêmica e que acredito sejam úteis na constituição do saber literário. Procuraremos mostrar um panorama geral da literatura lusa, baseados em conceitos de estética e preocupados com a realidade e a recriação desta.

No desenrolar do curso, buscaremos a apropriação do universo português pela consciência de seus escritores e sua infindável beleza das obras que compõem o conjunto literário da nação deste os tempos primórdios até a contemporaneidade.

Ao mostrarmos um Portugal que se firma como a terra da saudade, o país do bom vinho, o jardim da Europa a beira-mar cultivado, a nação do colonizador miscigenante, mostraremos também a pátria de Camões e de Fernando Pessoa, e o grande número de escritores atuantes no hiato deixado por estes dois gênios da literatura ocidental. Outro tópico a ser escolhido como fruto de nossos estudos será a inadjetivável fluidez contida na prosa contemporânea de José Saramago.

Folheando desde as páginas da literatura palaciana, navegaremos pelo Classicismo de Camões, com afinco nos dedicaremos aos movimentos do Romantismo, do Realismo e do Simbolismo. Nas publicações modernistas desfrutaremos da genialidade de Fernando Pessoa e, já detentores de boa formação literária, estaremos preparados para os textos produzidos no último século, com destaque para a época da Revolução dos Cravos e para a literatura socializante de José Saramago.

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Bibliografia básica

AGUIAR E SILVA, Vitor Manuel. Teoria da Literatura. Coimbra: Livraria Almedina, 2005.

AMADO, José Carlos. História de Portugal, 4ª ed. Lisboa: Editorial Verbo, 1986, 2 vols.

MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa. 32ª ed. Cultrix. São Paulo, 2003.

PINHEIRO, Célio. Introdução à literatura portuguesa. São Paulo: Pioneira, 1991.

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A melhor escola pública brasileira

As lições da campeã do Ideb

A melhor escola pública brasileira mostra o que dá certo - e também o que deve ser evitado -- no ensino fundamental

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Santa Fé do Sul, no noroeste paulista, não é grande, conhecida ou rica: tem 28 mil habitantes, um único cinema e uma modesta biblioteca pública. As opções de trabalho restringem-se ao funcionalismo público e a pequenos comércios. A renda média mensal não chega a 1 200 reais. Ainda assim, é ali que está a melhor escola pública de ensino fundamental I do Brasil: a escola Professora Elisabeth Maria Cavaretto de Almeida. Sua nota no Ideb, o principal ranking nacional, é 8,6, numa escala que vai de 0 a dez. A nota é superior a de muitos países desenvolvidos, com média na casa dos 6. E o dobro da média brasileira, hoje nos 4,2. Mas a escola Professora Elisabeth Maria Cavaretto de Almeida não é um caso único: outras quatro escolas dessa cidade estão entre as 10 melhores escolas públicas do Brasil. Resultado? Santa Fé do Sul também está bem colocada no Ideb: tem nota 7,6.

O avanço na nota do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), que contabiliza os pontos obtidos no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e na Prova Brasil, entre outros quesitos, ocorreu entre 2005 e 2007. Em apenas dois anos, Santa Fé saltou de 4,7 para 7,6. Também a escola Elisabeth Maria tinha uma sofrível nota de 2,6 antes de chegar a 8,6. Indício de que os alunos começaram a se desenvolver. Outro sinal de que os alunos estão aprendendo o que é ensinado em sala de aula é que Santa Fé tem baixos índices de repetência e de evasão escolar.

Qual o segredo da escola Professora Elisabeth Maria Cavaretto de Almeida? O segredo de Santa Fé? A repórter Bruna Nicolielo, do movimento Educar para Crescer, passou alguns dias nesta cidade que quase faz fronteira com Mato Grosso do Sul para descobrir. Ela assistiu aula na Elisabeth Maria, entrevistou as secretárias de Educação, o ex-prefeito Itamar Borges, professores, diretores, coordenadores pedagógicos, pais, e todos os envolvidos neste grande salto de qualidade. Nesta reportagem, ela revela os segredos da melhor escola pública de ensino fundamental I do país, segundo o Ideb.

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Para ler, clique nos itens abaixo:

Como a escola Elisabeth Maria Cavaretto de Almeida chegou ao topo?

Como outras escolas de Santa Fé tiveram boas notas no Ideb?

Os indicadores do sucesso de Santa Fé

Por que as escolas de Santa Fé aderiram ao apostilado?

Lição número 1: gestão escolar eficiente

Lição número 2: envolver a família e a comunidade

Lição número 3: capacitação dos docentes

Lição número 4: padronização de conteúdo

Lição número 5: avaliação constante

Lição número 6: mais educação no contraturno

O futuro da Educação de Santa Fé

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Fonte:http://educarparacrescer.abril.com.br/indicadores/licoes-campea-ideb-450231.shtml#

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A influência do(a) professor(a)

A leitura de Humano, demasiado humano, obra de Friedrich Nietzsche*, me fez pensar sobre a influência que os professores têm sobre os seus alunos. Nem me refiro à influência direta, escancarada e, em alguns casos, descaradamente doutrinária. Não! Penso na influência insinuante, quase imperceptível até mesmo para o professor, cuja origem está na reverência à autoridade (consentida e legitimada na relação); mas também no receio de confrontá-la e/ou no desejo de ser merecedor do seu olhar (atitude complacente e passiva que trai a si mesmo e oculta a vaidade de querer ser percebido pela autoridade). Ao “espírito cativo”, reforçado pela fala e atitude do mestre, parece mais sensato e inteligente resignar-se. Eis um campo fértil para o cultivo da bajulação e a formação de séquitos submissos à personalidade carismática e a autoritária.

Ainda que não queira influir, a autoridade do professor é tamanha que um comentário sobre este ou aquele autor, esta ou aquela obra, pode excluir do rol de possíveis leituras do educando. O professor tem o poder de influenciar o olhar do aluno, direcionando leituras. É dessa forma que eles instilam o “veneno” contra os autores malditos, expulsos do panteão. Claro, nem sempre isto ocorre e o aluno pode resistir. De qualquer forma, é preciso levar em conta o peso que a opinião do professor tem sobre os seus alunos.

Foi assim que introjetei uma relativa desconfiança em relação a autores como Nietzsche, Baudelaire, Walter Benjamin, etc. Não é por acaso que só agora, anos depois de terminada a graduação**, que me aventuro a ler uma obra do filósofo alemão criticado nas hostes marxistas. Com efeito, graduei-me num curso predominantemente marcado pelo ideário marxiano. Reconheço a contribuição deles para a minha formação, especialmente no que diz respeito às leituras marxianas. Por outro lado, o fato de estar vinculado ao movimento social e de ter sido influenciado pelas idéias marxistas a partir da leitura pelo viés da Teologia da Libertação, deixou-me mais simpático e vulnerável a esta influência. Sempre resisti, porém, a aderir, a professar a fé nos guardiões da ortodoxia. Isto me deixou com o espírito livre para outras influências, outros autores e leituras. Para a minha sorte, havia professores que destoavam do doutrinarismo marxista e que foram a contra-influência. São estas diversas influências, entrecruzadas em nossas vidas, que nos formam, que marcam o nosso pensar e agir.

Devo, porém, reconhecer que a experiência da graduação, no curso de Ciências Sociais da Fundação Santo André (SP), contribuiu para desenvolver uma certa hostilidade, nem sempre reconhecida, a autores criticados pelos meus mestres. É o caso de Friedrich Nietzsche. A propósito, cheguei a adquirir o Por que não somos nietzecheanos, publicado pela Editora Ensaio. Não li e acabei presenteando a um amigo. Talvez tenha sido apenas falta de oportunidade – meus caminhos seguiram outros rumos –, mas não deixa de ser interessante a minha recusa em ler até mesmo a crítica a Nietzsche.

A leitura de Nietzsche me fez relembrar estes e outros eventos da minha trajetória. Mas, sobretudo, fortaleceu em mim a percepção do quanto podemos influir, positiva ou negativamente, sobre a vida dos nossos alunos. Se não esquecermos dos exemplos dos nossos professores, e que também fomos alunos, as chances deles e as nossas são maiores.

Sim, é fundamental ler Marx, mas é prudente não tornar-se leitor de um único autor, de uma única obra – e, à maneira religiosa, tomá-lo como profeta e seus escritos como o livro sagrado. Leitores assim são perigosos e, geralmente, propensos à intolerância. Não suportam os “espíritos livres”!


* NIETZSCHE, F. Humano, demasiado humano: um livro para espíritos livres. São Paulo: Companhia das Letras, 2003 (349p.).

** RENAUT, Alain et all. Porque não somos nietzscheanos. São Paulo: Ensaio, 1994.

Fonte: http://antoniozai.wordpress.com/2010/03/27/a-influencia-doa-professora/

sexta-feira, 26 de março de 2010

Diploma/Conclusão do Ensino Médio com Enem.

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Atenção interessados em obter a certificação de conclusão de ensino médio através do resultado do Enem 2009. O INEP divulgou que a data limite para dar entrada na solicitação do documento é 31 de Março.
Para fazer a solicitação, basta entrar no site do Inep, entrar com o número de inscrição (ou CPF ) e senha, clicar em ''Solicitar certificação'' e preencher os campos pedidos.

Lembrando que é preciso ter no mínimo 18 anos de idade para solicitar a certificação usando a nota do Enem.

Veja abaixo, a notícia divulgada pelo INEP sobre o assunto, na íntegra.

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Interessados em certificação devem se inscrever até dia 31 de março

Aqueles que fizeram o Enem 2009 com o objetivo de obter certificação de conclusão do Ensino Médio deverão solicitar esse documento até o dia 31 de março. A solicitação será feita pela Internet, na página eletrônica http://sistemasenem2.inep.gov.br/Enem2009/, na qual o participante, com os números de inscrição e senha, deverá preencher o formulário eletrônico. Os interessados em declaração de proficiência em uma ou mais das matérias avaliadas pelo Enem devem preencher o mesmo formulário.

Para ter direito ao certificado de conclusão, o interessado deverá ter 18 anos ou mais na data da realização do Enem além de ter atingido o mínimo de 400 pontos em cada uma das áreas de conhecimento do Enem e o mínimo de 500 pontos na redação. Para a área de linguagens, códigos e suas tecnologias, o interessado deverá obter o mínimo de 400 pontos na prova objetiva e, adicionalmente, o mínimo de 500 pontos na prova de redação.

A emissão dos certificados é de competência das secretarias estaduais e municipais de educação, e cada uma delas definirá os procedimentos que julgar convenientes para a certificação de conclusão do ensino médio com base nas notas do Enem 2009. Os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia também poderão, alternativamente, emitir os certificados de conclusão – desde que façam uma avaliação adicional de língua estrangeira – ou expedir declaração de proficiência de acordo com o desempenho do interessado.

O Inep disponibilizará aos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia e às secretarias estaduais, municipais e distrital de Educação, as notas e os dados cadastrais dos interessados, na endereço eletrônico http://sistemasenem.inep.gov.br/EnemSolicitacao/.

As normas estão dispostas em portaria publicada no DOU.

Assessoria de Imprensa do Inep/MEC

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Fonte: http://www.enemeprouni.com/2010/03/interessados-em-obter-o-diploma-do.html

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quinta-feira, 25 de março de 2010

Projeto pedagógico: World Cup 2010


The 19th FIFA World Cup will take place between June 11th and July 11th , 2010 in South Africa. This will be the first time that a World Cup Soccer tournament has been hosted by an African nation. Thirty-two teams from across the globe make up the field for the 2010 FIFA World Cup finals. Six continents are represented, and all of the six past winners will take part, including the host country.


Disciplinas envolvidas: Inglês, Português, História, Geografia e Arte


Público-alvo: alunos de 1º. ao 9º. ano

Professores responsáveis: (nome dos professores)

Justificativa:

O aluno aprende com mais facilidade tudo o que lhe é significativo. O futebol é um esporte popular e o Brasil tem uma história de sucesso na Copa do Mundo por ser o país com o maior número de títulos. Esse projeto é uma oportunidade de os alunos obterem mais informações sobre esse esporte, ao mesmo tempo que ampliam seus conhecimentos da língua inglesa.


Objetivos:

– Identificar os diversos países participantes pela bandeira.

– Conhecer diferentes aspectos geográficos dos países participantes.

– Reconhecer esse evento esportivo como fonte de divulgação e integração da cultura e dos costumes dos povos.

– Reconhecer as palavras de origem inglesa que usamos nesse esporte.


Conteúdos procedimentais:

– Pesquisar quais são os países participantes da Copa de 2010. (1º ao 9º ano)

– Localizar os países participantes no mapa-múndi. (1º ao 9º ano)

– Elaborar um quadro, para pendurar na classe, com a tabela dos jogos do Brasil para os alunos colocarem os resultados das partidas, dia a dia, ou a critério do professor. Eles devem pôr o nome dos países em inglês e podem ilustrar com as bandeiras. (1º ao 9º ano)

– Pesquisar quais países já sediaram a Copa do Mundo. (1º ao 9º ano)

– Elaborar um cartaz com os mascotes das copas anteriores, destacando o escolhido para esta de 2010. (1º ao 9º ano)

– Pesquisar informações geográficas de cada país: localização, área, capital, número de habitantes, moeda, idioma oficial etc. (2º ao 9º ano)

– Relacionar palavras como futebol, gol, pênalti e outras com as palavras inglesas que deram origem a elas. (3º ao 9º ano)

– Fazer uma pesquisa em grupo sobre futebol: origem, regras (incluindo a planta de um campo de futebol), jogadores de destaque que ficaram na história do esporte. (4º ao 9º ano)

– Elaborar textos com curiosidades dos países participantes. (6º ao 9º ano)


Conteúdos atitudinais:

– Reconhecer e respeitar a diversidade cultural.

– Reconhecer a importância da integração cultural promovida pela globalização.

– Incentivar valores como o respeito e a cooperação.

– Promover a integração dos colegas de sala através de trabalho em grupo.

– Reconhecer as competições esportivas como uma oportunidade de confraternização.


Aspectos a serem avaliados:

– Interesse e participação durante a execução das atividades propostas.

– Apresentação das pesquisas e o trabalho escrito.


Para mais detalhes:






400 palavras em inglês num minuto

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Se você acha que aprender inglês é difícil leia este artigo e descubra como aprender 400 palavras num minuto

O texto abaixo foi extraído de um email que circula na Internet e tem algumas informações interessantes. Confira! Como aprender a escrever 400 palavras em Inglês em apenas um minuto. Se você pensa que estou brincando, experimente ler toda esta matéria e depois me conte. Comece logo a estudar Inglês que, diferentemente do que você pensa, é extremamente fácil de aprender. Bastando apenas a seguir regrinhas elementares.

Mas, antes de tudo, quero explicar que as regras abaixo apresentam uma ou mais exceções, o que demonstra duas coisas: primeiro que tais exceções só servem precisamente para confirmar as regras e, segundo que é bem preferível, errar numa ou noutra ocasião e aprender 400 palavras em inglês num minuto, do que ficar preocupado com a rara exceção… e não aprender nada.

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Regra 1

Para todas as palavras em português que terminem em DADE (como a palavra cidade) retire o DADE e coloque em seu lugar TY e assim CIDADE passou a ser CITY. Vejamos agora um pouco das cento e tantas palavras que você já aprendeu nestes primeiros vinte segundos de leitura deste artigo:

CIDADE = CITY
VELOCIDADE = VELOCITY
SIMPLICIDADE = SIMPLICITY
NATURALIDADE = NATURALITY
CAPACIDADE = CAPACITY

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* Esta regra não funciona para palavras como: verdade, idade, felicidade. Antes de enviar um comentário, lembre-se que, conforme foi citado no início do post, existem milhares de exceções para as regras aqui publicadas.

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Regra 2

Para todas as palavras em português que terminem em “ÇÃO” (como a palavra NA-ÇÃO) tire fora o “ÇÃO” e coloque em seu lugar “TION” e assim a palavra NAÇÃO passou a ser NATION (as respectivas pronúncias não importam no momento, e além disso você estaria sendo muito malcriado querendo exigir demais num curso de inglês grátis pela internet!). Vejamos agora algumas das centenas de palavras em que a imensa maioria delas se aplica a essa Regra:

SIMPLIFICAÇÃO = SIMPLIFICATION
NAÇÃO = NATION
OBSERVAÇÃO = OBSERVATION
NATURALIZAÇÃO = NATURALIZATION
SENSAÇÃO = SENSATION

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* Mais algumas exceções, esta regra não funciona para palavras como: coração, refeição, ação e por aí vai.

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Regra 3

Para os advérbios terminados em “MENTE” (como a palavra NATURALMENTE), tire o “MENTE” e em seu lugar coloque “LLY” (e assim a palavra passou a ser NATURALLY. Quando o radical em português termina em “L”, como na palavra TOTALMENTE, acrescente apenas “LY”). Veja agora abaixo algumas delas:

NATURALMENTE = NATURALLY
GENETICAMENTE = GENETICALLY
ORALMENTE = ORALLY

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* Exceções: demente, futuramente entre outras.

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Regra 4

Para as palavras terminadas em “ÊNCIA” (como no caso de ESSÊNCIA), tire o “ÊNCIA” e em seu lugar coloque “ENCE”. Eis algumas delas abaixo:

ESSÊNCIA = ESSENCE
REVERÊNCIA = REVERENCE
FREQÜÊNCIA = FREQUENCE
ELOQÜÊNCIA = ELOQUENCE

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Regra 5

E para terminar esse artigo, ficando ainda com mais água na boca, aprenda a última e a mais fácil delas (há um monte de outras regrinhas interessantes, mas não disponho aqui de espaço para tudo). Para as palavras terminadas em “AL” (como na palavra GENERAL) não mude nada, escreva exatamente como está em português e ela sai a mesma coisa em inglês. Veja alguns exemplos:

NATURAL = NATURAL
TOTAL = TOTAL
GENERAL = GENERAL
FATAL = FATAL
SENSUAL = SENSUAL

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Conforme você acaba de ver, a menos que seja um leitor preguiçoso e lento, não foi preciso gastar mais de um minuto para aprender 400 palavras em inglês.

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Fonte: http://www.englishexperts.com.br/2006/10/17/400-palavras-em-ingles-num-minuto/

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Revista Literária Santista

Caros internautas, leiam o prospecto de divulgação desta maravilhosa publicação literária. Para maiores informações, entrem em contato com o e-mail andreiahc@yahoo.com.br




terça-feira, 23 de março de 2010

Críticas profissionais sobre o filme Avatar

Vejam a postagem de duas críticas sobre o filme, essa primeira dividida em duas partes é de Jorge Coli, professor do departamento de Artes da UNICAMP, e colunista da Folha de São Paulo. As críticas foram publicadas respectivamente na coluna "Ponto de Fuga" do caderno MAIS da Folha de S. Paulo

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O bom selvagem 1

Jorge Coli

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“Vamos almoçar em Canudos!" e "Vamos jantar em casa!". As duas frases, bem parecidas, são pronunciadas em situações idênticas. A primeira é uma exclamação do coronel Moreira César, registrada por Euclydes da Cunha em "Os Sertões".

César, retratado nesse livro como exemplo da estupidez militar histérica, lançou esse grito antes da batalha contra os jagunços de Canudos em que morreria. A segunda é rosnada pelo coronel Miles Quaritch, não menos estúpido, não menos histérico e não menos militar, antes do ataque contra Pandora, em "Avatar", filme de James Cameron. Quaritch também morre na inesperada derrota.

Moreira César e Miles Quaritch têm outro ponto em comum: são personagens de duas formidáveis criações épicas criações épicas, o livro e o filme.
Cameron decerto não leu Euclydes da Cunha. Mas as duas cenas são mais do que apenas coincidentes.

Fazem parte de lembranças coletivas, em eco. Remetem à resistência daqueles que são mais frágeis só em aparência diante de exércitos muito poderosos.
É uma conjuntura que viaja em idas e vindas, da história para as artes: os EUA tiveram fracassos militares semelhantes, dos quais o Vietnã é exemplar e Apocalypse Now", seu grande épico. As gabolices retumbantes de Moreira César e Miles Quaritch atualizam a versão, primordial e realista, de Leônidas nas Termópilas: "Almocemos como homens que jantarão nos Infernos".
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Cipós

Leônidas e seus espartanos: um punhado de resistentes contra o grande exército persa.

Daí o realismo da frase. César e Quaritch, fortes e fanfarrões, são inconscientes e antipáticos. Ao contrário, os fracos, vítimas potenciais, despertam sempre solidariedade.

As enormes desproporções militares pressupõem quase sempre diferenças de cultura: foi assim em Canudos e no Vietnã, é assim entre os terráqueos e os na'vi de Pandora. Cameron insere em sua história um projeto antropológico, chefiado pela dra. Grace Augustine, uma irresistível Sigourney Weaver.
Há quem destrua, há quem tente compreender.

"Avatar" traz consigo o velho fascínio, que pertence à antropologia, mas é bem anterior a ela: nosso desejo pelo paraíso que está no outro.

Quantos antropólogos, ao estudarem, não procuraram integrar seus próprios objetos? Entre tantos e tantos, o admirável Curt Nimuendaju, abandonando seu sobrenome alemão por um guarani e morrendo entre os tucunas, na Amazônia.
Nimuendaju era fascinado pela busca indígena e mítica do paraíso, ou terra sem males. Seu nome, ao que parece, pode ser traduzido por "aquele que encontrou seu lugar".

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Ferro velho

James Cameron tem fascínio pela fusão entre homem e máquina. Ela o levou aos dois "Exterminador do Futuro" [em 1984 e 1991].

A atração já estava em "Xenogenesis", seu primeiríssimo curta-metragem, que pode ser visto no YouTube. Ali nascia o gigantesco soldado robô (em "Avatar" ironicamente apresentado como um Golias de aço sem cabeça).


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Vasos comunicantes

Cameron também é atraído pelas metamorfoses genéticas, pelos mistérios biológicos: assim, seu "Aliens - O Resgate".

Em "Avatar" defrontam-se o homem racional e militar, cúmplice articulado da máquina, e o alienígena suave, que sabe conectar-se e sintonizar-se com a natureza. Ou, ainda, o capitalista que calcula lucros e o selvagem que intui e fusiona com seu mundo.

Guerra entre o mecânico e o orgânico, entre a insatisfação insaciável e a plenitude bem-aventurada. Um maniqueísmo que conserva sua verdade no fato de que o primeiro termo se esqueceu da possibilidade do segundo.

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O bom selvagem 2

Jorge Coli

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"Avatar", de James Cameron, começa na prosa, com a rotina de uma nave espacial. Os passageiros acordam: nada do suspense que existe na cena semelhante de "Planeta dos Macacos" (dir. de Franklin J. Schaffner, 1968), nem do tom ritual em "2001 - Uma Odisseia no Espaço" (Stanley Kubrick, 1968). Ato corriqueiro do futuro, mais ou menos como hoje afivelar os cintos numa poltrona de avião.

Mas James Cameron é um lírico. Aos poucos seu lirismo toma conta de tudo, lirismo tocante e afetuoso. Os extraterrestres, personagens digitalizados, transmitem suas emoções: nada mais humano e radiante do que o paraplégico, transformado em ser azul de três metros de altura, ao descobrir que pode correr, saltar, libertado da cadeira de rodas, sentindo a terra entre os artelhos.

Esse lirismo tem passado velho e ilustre. Lembremos: "Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.
Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo da grande nação tabajara, o pé grácil e nu, mal roçando alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas".

A metáfora de Alencar não é transposição, é fusão: os cabelos e as penas da graúna, o talhe da palmeira. Graúna e palmeira deixam de ser recursos estilísticos apenas: "estão dentro" de Iracema. De metáfora, transformam-se em metacomunhão.

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Cocar

Isto tudo para inserir "Avatar" na tradição indianista, de Iracema ou Hiawatha, Alencar ou Longfellow, "O Último dos Moicanos" ou "Atala".

Não é preciso esforço: o filme brota dessa tradição como que naturalmente. Atualiza-a, mas mantém a ideia de uma cultura selvagem melhor e muito mais poética do que a civilização ocidental.

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Polos

A história do cinema, de "Rambo" a "King Kong" (o de 1933), atravessa "Avatar". Há também um tom de ópera. Jake Sully, em sua versão azul, amarrado a um tronco, faz pensar em Peri no palco, ao som de Carlos Gomes, diante dos aimorés. As conclamações guerreiras são como o primeiro ato da "Norma" [de Bellini].

Estas associações se impõem porque "Avatar" é uma ópera visual: as imagens, que seduzem e envolvem, extremam os sentimentos do espectador. Possuem a mesma função que a música assume na ópera.

Felizmente as imagens têm esse poder, porque a trilha sonora de "Avatar" é uma sopa tecno-world brega, reforçada por corais de canto pseudo-africanos atravessados por flautinhas neo-"Titanic". O impressionante é que a força musical das imagens exalta a trilha sonora banal. Como na ópera, em modo invertido, quando a música transfigura o libreto rasteiro.

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Wotan

Wagner vibraria diante dos recursos técnicos de "Avatar". É o apogeu do espetáculo como ilusionismo absoluto. Ah, se suas valquírias pudessem cavalgar corcéis alados como se vê ali!

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Pecados

"Avatar" é também um western, no qual o Sétimo de cavalaria não está do lado da civilização. É formado por um batalhão de bicharocos invulneráveis. Trata ainda de colonização, de culturas selvagens arrasadas: não é de hoje que Hollywood endossa a má consciência da história norte-americana. Alguns críticos já assinalaram que a destruição da grande árvore remete às torres gêmeas. Desta vez, porém, é o capitalismo neoliberal e o Exército americano, pactuados, que desencadeiam a destruição.

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domingo, 21 de março de 2010

O Mito da Caverna

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O mito da caverna, também chamada de Alegoria da caverna, é uma passagem de um escrito do filósofo Platão, e encontra-se na obra intitulada A República (livro VII). Trata-se da exemplificação de como podemos nos libertar da condição de escuridão que nos aprisiona através da luz do conhecimento e da verdade.

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Imaginemos uma caverna subterrânea onde, desde a infância, geração após geração, seres humanos estão aprisionados. Suas pernas e seus pescoços estão algemados de tal modo que são forçados a permanecer sempre no mesmo lugar e a olhar apenas para frente, não podendo girar a cabeça nem para trás nem para os lados. A entrada da caverna permite que alguma luz exterior ali penetre, de modo que se possa, na semi-obscuridade, enxergar o que se passa no interior.

A luz que ali entra provém de uma imensa e alta fogueira externa. Entre ela e os prisioneiros - no exterior, portanto - há um caminho ascendente ao longo do qual foi erguida uma mureta, como se fosse a parte fronteira de um palco de marionetes. Ao longo dessa mureta-palco, homens transportam estatuetas de todo tipo, com figuras de seres humanos, animais e todas as coisas.

Por causa da luz da fogueira e da posição ocupada por ela, os prisioneiros enxergam na parede do fundo da caverna as sombras das estatuetas transportadas, mas sem poderem ver as próprias estatuetas, nem os homens que as transportam.

Como jamais viram outra coisa, os prisioneiros imaginam que as sombras vistas são as próprias coisas. Ou seja, não podem saber que são sombras, nem podem saber que são imagens (estatuetas de coisas), nem que há outros seres humanos reais fora da caverna. Também não podem saber que enxergam porque há a fogueira e a luz no exterior e imaginam que toda a luminosidade possível é a que reina na caverna.

Que aconteceria, indaga Platão, se alguém libertasse os prisioneiros? Que faria um prisioneiro libertado? Em primeiro lugar, olharia toda a caverna, veria os outros seres humanos, a mureta, as estatuetas e a fogueira. Embora dolorido pelos anos de imobilidade, começaria a caminhar, dirigindo-se à entrada da caverna e, deparando com o caminho ascendente, nele adentraria.

Num primeiro momento, ficaria completamente cego, pois a fogueira na verdade é a luz do sol, e ele ficaria inteiramente ofuscado por ela. Depois, acostumando-se com a claridade, veria os homens que transportam as estatuetas e, prosseguindo no caminho, enxergaria as próprias coisas, descobrindo que, durante toda sua vida, não vira senão sombras de imagens (as sombras das estatuetas projetadas no fundo da caverna) e que somente agora está contemplando a própria realidade.

Libertado e conhecedor do mundo, o prisioneiro regressaria à caverna, ficaria desnorteado pela escuridão, contaria aos outros, o que viu e tentaria libertá-los.

Que lhe aconteceria nesse retorno? Os demais prisioneiros zombariam dele, não acreditariam em suas palavras e, se não conseguissem silenciá-lo com suas caçoadas, tentariam fazê-lo espancando-o e, se mesmo assim, ele teimasse em afirmar o que viu e os convidasse a sair da caverna, certamente acabariam por matá-lo.

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Extraído do livro “Convite à Filosofia” de Marilena Chauí.

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sábado, 20 de março de 2010

O arco e a lira. (fragmento)

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POESIA E POEMA

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"A poesia é conhecimento, salvação, poder, abandono. Operação capaz de mudar o mundo, a atividade poética é revolucionaria por natureza; exercício espiritual, método de liberação interior. A poesia revela este mundo, cria outro. Pão dos escolhidos; alimento maldito. Isola; une. Convite à viagem; retorno à terra natal. Inspiração, respiração, exercício muscular. Súplica ao vazio, diálogo com a ausência, é alimentada pelo tédio, pela angústia e pelo desespero. Oração, litania, epifania, presença. Exorcismo, conjuro, magia. Sublimação, compensação, condensação do inconsciente. Expressão histórica de raças, nações, classes. Nega à história: em seu seio resolvem-se todos os conflitos objetivos e o homem adquire, afinal, a consciência de ser algo mais passagem. Experiência, sentimento, emoção, intuição, pensamento não dirigido. Filha do acaso; fruto do cálculo. Arte de falar numa forma superior; linguagem primitiva. Obediência às regras; criação de outras. Imitação dos antigos, cópia do real, cópia de uma cópia da Idéia. Loucura, êxtase, logos. Regresso à infância, coito, nostalgia do paraíso, do inferno, do limbo. Jogo, trabalho, atividade ascética. Confissão. Experiência inata. Visão, música, símbolo. Analogia: o poema é um caracol onde ressoa a musica do mundo e métricas e rimas são apenas correspondências, ecos, da harmonia universal. Ensinamento, moral, exemplo, revelação, dança, diálogo, monólogo. Voz do povo, língua dos escolhidos, palavra do solitário. Pura e impura, sagrada e maldita, popular e minoritária, coletiva e pessoal, nua e vestida, falada, pintada, escrita, ostenta todas as faces, embora exista quem afirma que não tem nenhuma: o poema é uma máscara que oculta o vazio, bela prova da supérflua grandeza de toda obra humana!

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PAZ, Octávio. O arco e a lira. (Trad. de Olga Savary).

Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982. p. 15-18

sexta-feira, 19 de março de 2010

A semelhança entre vir, do verbo ver, e vir, do verbo vir.

“Se você vir um deputado...”

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Assim escreveu mestre Caetano, na letra da genial Haiti. Na terna Bem-querer, outro mestre, Chico Buarque, escreveu “Quando meu bem querer me vir, estou certa que há de vir atrás...”.

Pois bem. Todos sabem que há uma grande diferença entre a chamada norma culta da língua e aquilo que se usa no padrão coloquial. Mas há consenso em relação a muitos pontos. Ninguém aceita, por exemplo, nem na linguagem oral, que se diga “Se ela ir”, ou “Se você dizer”, ou ainda “Se alguém fazer”. Com o verbo “ver”, porém, a coisa é diferente. Raríssimos são os brasileiros, letrados ou iletrados, com teto ou sem teto, que sabem conjugar o futuro do subjuntivo desse bendito verbo. Talvez isso se deva a uma boba resistência à semelhança entre vir, do verbo ver, e vir, do verbo vir.

Antes que alguém se sinta mal com o nome do tempo verbal (as pessoas têm incrível aversão à nomenclatura gramatical), vale lembrar, numa explicação quase simplória, que o futuro do subjuntivo é aquele tempo que se usa com “se” ou “quando”, em frases como “Se/Quando você quiser”, ou “Se/Quando ela souber” etc. Vale lembrar também que o subjuntivo é o modo que indica fato hipotético, provável, duvidoso.

Não é difícil entender por que de “ver” surge a forma “vir”. O futuro do subjuntivo obedece a um sistema de conjugação válido para absolutamente todos os verbos da língua portuguesa. E esse sistema é muito simples. De onde vem a forma “for”, do verbo ir (“Se eu for ao cinema”)? Vem da mesma raiz de “foram”, do pretérito perfeito (“Ontem eles foram ao cinema”).

Basta eliminar as duas últimas letras (am), e pronto! Está feita a primeira pessoa do singular do futuro do subjuntivo do verbo ir (foram am = for).

Esse sistema vale para 101% dos verbos da língua portuguesa. Tente com outro. Fazer, por exemplo: “Ontem eles fizeram o trabalho”. Faça a operação: fizeram am = fizer. Então “Quando/Se eu fizer...”.

Vejamos com o verbo dar: “Ontem eles deram a resposta”. Elimine as duas últimas letras de “deram”. (deram am = der): “Se/Quando eu der a resposta...”.

É bom lembrar que a primeira e a terceira do singular do futuro do subjuntivo são sempre iguais (Se/Quando eu for, Se/Quando ele for; Se/Quando eu fizer, Se/Quando ele fizer).

Agora vamos ao bendito verbo ver: “Ontem eles viram o filme”. Muito bem. Se você eliminar as duas últimas letras de “viram”, o que sobra?

Faça você mesmo: viram am = vir. Então, “Se/Quando eu vir o filme...”; “Se/Quando você vir minha prima...”

No Brasil, esse verbo apanha. E o pobre verbo vir também apanha. Na linguagem oral, quase todos os brasileiros dizem “Se você me ver lá”. E, conjugando o verbo vir, muitas pessoas dizem “Se você vir aqui amanhã”, em vez de “Se você vier aqui amanhã”. A combinação correta dos dois verbos, em uma frase como “Se eu vier aqui amanhã e vir você mexendo nas minhas coisas...”, então, chega a ser meta inatingível.

Já em Portugal, qualquer cidadão conjuga o verbo ver no futuro com a maior naturalidade. Ilustra isso uma memorável cena que presenciei no aeroporto de Lisboa, no momento do embarque para São Paulo. Um nosso compatriota insistia em fotografar o avião. Um guarda do aeroporto impediu-o, “por questão de segurança”. Quando o guarda virou as costas, nosso patrício, mais do que depressa, armou a máquina e... foi novamente impedido pelo guarda, mais rápido do que ele e acostumado à esperteza dos brasileiros. Instalou-se o bate-boca. A certa altura, o teimoso disse:

— “Mas eu não vou poder mesmo fotografar o avião?”

— “Só se eu não vir”, disse o guarda.

— “Mas o senhor vem toda hora!”

Sem comentário.

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Pasquale Cipro Neto

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