domingo, 9 de agosto de 2015
Casa de Pensão
Aluísio Azevedo
Amâncio de Vasconcelos, um jovem maranhense, vem para o
Rio de Janeiro, com o propósito de realizar o curso de Medicina. De início
hospeda-se em casa de um conhecido da família, Luís
Campos, que vivia com sua mulher Dona Maria Hortência e uma cunhada, Dona
Cadotinha. Entretanto, Amâncio encontrara-se! com um amigo e co-provinciano,
Paiva Rocha, e passa a viver uma vida desvairada e boêmia.
As extravagâncias de chegar altas horas da noite, faltar às
aulas, embebedar-se, não lhe eram permitidas em casa de Campos. Por outro
lado, o jovem estudante começara a despertar um certo interesse no coração de
Hortência. Levado por esses motivos, resolve ele mudar-se
para a pensão de João Coqueiro, que lhe fora
apresentado por Paiva Rocha. Acaba envolvido por Amélia,
irmã de João Coqueiro, que finge ignorar o romance e explora-a,
exigindo dinheiro do rapaz (Amâncio). Enredado no ambiente asfixiante e corrupto da
pensão de João Coqueiro e de Mme. Brizard,
sua mulher, envolvido em uma série de tramas, Amâncio resolve viajar para São Luís,
para rever a mãe, agora viúva. João
Coqueiro suspeita da viagem, e consegue que a polícia prenda Amâncio
sob acusação de defloramento, da qual o estudante é absolvido,
em rumoroso julgamento.
Inconformado com a absolvição, João
Coqueiro assassina Amâncio com um tiro.
Observações
Importantes:
Casa de Pensão é uma espécie de narrativa intermediária
entre o romance de personagem (O Mulato) e o romance de espaço (O
Cortiço). Como em O Mulato, todas as ações
ainda estão vinculadas à trajetória
do herói, nesse caso, Amâncio de Vasconcelos. Mas, como
em O Cortiço, a conquista, ordenação e manutenção de
um espaço é que impulsiona, motiva e ordena a ação.
Espaço e lutam, lado a lado, para evitar a degradação.
O romance foi inspirado em um caso verídico,
a Questão Capistrano, crime que sensibilizou o Rio de personagem
Janeiro em 1876/77, envolvendo dois estudantes, em situação muito
próxima à da narração de Aluísio
Azevedo.
As teses naturalistas, especialmente o Determinismo, alicerçam a
construção das personagens e das tramas.
No texto que transcrevemos a seguir, Aluísio
Azevedo, ao descrever a formação de Amâncio Vasconcelos, mostra os
fatores que determinaram o seu comportamento e o seu destino: a educação
severa do pai e do mestre-escola, a superproteção da mãe, a sífilis
contraída da ama-de-leite, que são as
geratrizes de uma personalidade reprimida e hipócrita:
"... esses pequenos episódios de infância, tão insignificantes na aparência, decretaram a diluição que devia tomar o caráter de Amâncio. Desde logo habituou-se a fazer uma falsa ideia de seus
semelhantes; julgou os homens por seu pai, seu professor e seus condiscípulos. - E abominou-os. Principiou
a aborrecê-los secretamente, por uma fatalidade do ressentimento,
principiou a desconfiar de todos, a prevenir-se contra tudo, a disfarçar, a fingir que era o que
exigiam brutalmente que ele fosse."
Inseguro, necessitado de proteção materna, Amâncio
procura na pensão carioca o substitutivo da família,
incapaz de perceber as ciladas que lhe são armadas pela proprietária,
Mme. Brizard e pela sensual Amélia. O dinheiro é a mola dessa sociedade corrupta
e hipócrita. Observe o cinismo dos pensamentos de João
Coqueiro, refletindo sobre o comportamento que sua irmã, Amélia,
deveria simular, para envolver Amâncio:
"Amélia, desde que se convertesse numa necessidade para a vida de
Amâncio, este, com certeza, seria o
mais interessado em fazer dela sua esposa; por conseguinte, agora o que
convinha era que a rapariga também ajudasse de sua parte, empregando todo o jeito e boa vontade
de que pudesse dispor.- devia mostrar-se cordata, simples nos seus gostos, bem
arranjadinha, amiga do asseio, honesta, digna, enfim, de um marido!"
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