quinta-feira, 30 de abril de 2009
acesse o TWITTER
Você já conhece o twitter? Trata-se de um poderoso comunicador instantâneo em que o usuário pode enviar mensagens de uma maneira rápida e prática. Apesar de estar estruturado no idioma inglês, é muito fácil de utilizar. Acesse o https://twitter.com/ e experimente essa nova fabulosa ferramenta.
Um fraterno e caloroso abraço!!!
http://twitter.com/JuarezFrmno
Um fraterno e caloroso abraço!!!
http://twitter.com/JuarezFrmno
Como se relacionar com colegas de trabalho
Algumas dicas de relacionamento que podem salvar sua pele e sua carreira no local de trabalho:
1. Seja sempre cordial, mas evite intimidades com os colegas de trabalho e também com o seu chefe. A não ser que vocês sejam amigos, evite comentar assuntos pessoais, como brigas em casa, problemas com dinheiro ou algo do gênero. Manter uma postura profissional evita problemas futuros e deixa você menos suscetível a fofocas no ambiente de trabalho.
2. Saiba diferenciar a hora de trabalhar da hora de conversar. Nada errado em encontrar um colega no corredor ou no café e comentar sobre o ultimo filme que você viu e adorou. Mas não entre na sala dele, no horário de trabalho, para contar em detalhes como foi seu final de semana. Isso atrapalha.
3. Nada mais insuportável do que aquele colega de trabalho que vive reclamando de tudo. Pois bem, não seja você o chato do ambiente. Evite reclamar, falar mal dos colegas, do chefe ou da empresa onde você trabalha.
4. Não seja inconveniente: Nada de se intrometer onde não é chamado, se oferecer para ir almoçar com um grupo sem ser convidado, perguntar ao seu colega quanto ele ganha, contar piadas sem graça no meio de uma reunião, insistir em chamar um colega pelo apelido que ele detesta e outras atitudes típicas de um “mala sem alça”.
5. Fofoca: Mantenha-se o mais longe possível dela. Não faça comentários maldosos sobre seus colegas, subordinados ou superiores. Não comente a vida pessoal dos outros e, se ouvir algo do gênero, morda a língua antes de passar adiante. A fofoca no ambiente de trabalho pode causar danos às pessoas que são alvo dos comentários. E o pior, quase sempre injustamente. Observação importante: Nunca seja um fofoqueiro passivo, pois se este não existisse a fofoca também não existiria, portanto, quando alguém lhe vier dizer algo que não condiz com o bom relacionamento do local de trabalho, invente um motivo para não permitir que tal comentário possa fluir.
1. Seja sempre cordial, mas evite intimidades com os colegas de trabalho e também com o seu chefe. A não ser que vocês sejam amigos, evite comentar assuntos pessoais, como brigas em casa, problemas com dinheiro ou algo do gênero. Manter uma postura profissional evita problemas futuros e deixa você menos suscetível a fofocas no ambiente de trabalho.
2. Saiba diferenciar a hora de trabalhar da hora de conversar. Nada errado em encontrar um colega no corredor ou no café e comentar sobre o ultimo filme que você viu e adorou. Mas não entre na sala dele, no horário de trabalho, para contar em detalhes como foi seu final de semana. Isso atrapalha.
3. Nada mais insuportável do que aquele colega de trabalho que vive reclamando de tudo. Pois bem, não seja você o chato do ambiente. Evite reclamar, falar mal dos colegas, do chefe ou da empresa onde você trabalha.
4. Não seja inconveniente: Nada de se intrometer onde não é chamado, se oferecer para ir almoçar com um grupo sem ser convidado, perguntar ao seu colega quanto ele ganha, contar piadas sem graça no meio de uma reunião, insistir em chamar um colega pelo apelido que ele detesta e outras atitudes típicas de um “mala sem alça”.
5. Fofoca: Mantenha-se o mais longe possível dela. Não faça comentários maldosos sobre seus colegas, subordinados ou superiores. Não comente a vida pessoal dos outros e, se ouvir algo do gênero, morda a língua antes de passar adiante. A fofoca no ambiente de trabalho pode causar danos às pessoas que são alvo dos comentários. E o pior, quase sempre injustamente. Observação importante: Nunca seja um fofoqueiro passivo, pois se este não existisse a fofoca também não existiria, portanto, quando alguém lhe vier dizer algo que não condiz com o bom relacionamento do local de trabalho, invente um motivo para não permitir que tal comentário possa fluir.
quarta-feira, 29 de abril de 2009
O mediador e o labirinto
Autora: Dileta Delmanto
“... ninguém pensou que o livro e labirinto eram um único objeto.”
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(Jorge Luis Borges, O jardim de veredas que se bifurcam)
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“... ninguém pensou que o livro e labirinto eram um único objeto.”
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(Jorge Luis Borges, O jardim de veredas que se bifurcam)
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Em 1941, o escritor argentino Jorge Luis Borges escreveu o famoso conto Biblioteca de Babel (1) em que fala de uma biblioteca infindável, que contém todos os textos já escritos e por escrever. Nela toda informação do mundo está à disposição de todos, mas seu acervo é tão vasto que distinguir algo de valor do que é inútil ou incorreto é praticamente impossível. Por isso, o narrador, um dos bibliotecários, busca incessantemente alguém que, tendo a chave que decifre seus misteriosos volumes, consiga justificar o sentido de sua existência. Dentre as várias interpretações do conto, uma é a que o considera uma grande metáfora em que mundo e literatura se confundem. De um lado, porque ler um texto é atribuir-lhe sentido; de outro, porque a própria realidade pode ser considerada como uma grande biblioteca cheia de textos à espera de quem os decifre.
Em outro de seus contos, Funes, o memorioso,(2) o mesmo autor narra a história de um homem que depois de um acidente adquiriu a capacidade de se lembrar de absolutamente tudo. Nada, nenhum detalhe, escapava de sua incrível memória. “Sabia as formas das nuvens austrais do amanhecer do trinta de abril de mil oitocentos e oitenta e dois e podia compará-las na lembrança aos veios de um livro encadernado em couro que vira somente uma vez....” Porém, por tudo recordar, era incapaz de pensar, de produzir idéias gerais, de compreender, por exemplo, que o cão que vira “às três e catorze era o mesmo que o cão das três e quarto”, tantas eram as particularidades, as diferenças que captava e memorizava. Sua vida se tornou um tormento porque não sabia o que fazer com tantas informações, porque não conseguia aplicá-las ao mundo que o cercava.
Em ambos, Borges lida com a metáfora do conhecimento, incompreensível e inútil se excede nossa capacidade de absorção e de compreensão (3). No primeiro, a biblioteca é inútil porque ninguém consegue decifrar seu conteúdo; no segundo, o personagem, por não conseguir selecionar as informações, é incapaz de entender o mundo. Os dois textos nos permitem refletir a respeito da era da informação em que vivemos, na qual a onipresença da mídia e o excesso de informação oprimem e confundem. “TV, rádio, jornais, internet, fax e celulares se combinam numa tensa alquimia, que torna tudo descontínuo e fragmentado. A incessante mudança de contextos torna a realidade das informações e imagens praticamente inassimilável. Em frações de segundos, a TV passa das cenas de um desastre ecológico de proporções globais para um programa de auditório, em que a tolice e o ridículo disputam a fama instantânea"(4).
A internet, em particular, permite acesso nunca visto a milhões e milhões de documentos on line, potencialmente muito úteis a qualquer indivíduo. Mas, sua infindável memória não escolhe o que retém. Não se filtra nada, não há seleção da qualidade da informação, nem sempre é possível discriminar sua origem, portanto, encontrar informação e garantir sua validade, reconhecer o que é significativo e o que é irrelevante, distinguir o que é verdadeiro do que é falso, não é tarefa fácil.
Nesse quadro, não basta colocar as pessoas em contato com a informação, embora essa seja a primeira condição. É preciso incentivá-las a realizarem descobertas, orientá-las a fazerem escolhas, a efetuarem análises e sínteses, enfim, apresentar diferentes possibilidades para a construção do conhecimento e gerar condições para o estabelecimento de articulação entre informações e conexões múltiplas.
Portanto, nessa moldura ganha relevo o papel do mediador (seja ele professor, um adulto leitor mais experiente, um orientador de leitura, um familiar, um bibliotecário ou um colega mais capaz) para estimular nos mais jovens uma ampla gama de aprendizagem, para provê-los da orientação e do apoio necessários para que se tornem aptos tanto a pesquisar e interagir de forma crítica e autônoma como a conseguir avanços em relação ao gosto.
Na escola, cabe ao professor planejar situações que possam resultar em aprendizagens significativas, propor desafios e contrapontos ao aluno que convive com discursos de todos os tipos e formas, selecionar fontes de pesquisa, apresentar diferentes possibilidades para a construção do conhecimento. É necessário que ele se disponha a auxiliar os alunos a buscar e selecionar informações, organizá-las, elaborá-las, a aplicar e avaliar o conhecimento, contribuindo assim para que identifiquem o que é relevante, reflitam criticamente sobre as informações encontradas e atribuam-lhes significados.
Em outros espaços, em situações de aprendizagens mais espontâneas, o comportamento de leitor mais experiente do mediador poderá ajudar os mais jovens a se interessarem pelo imenso patrimônio cultural acumulado por tantas gerações. Atuando como guia, apoiador, incentivador, poderá aumentar o repertório dos aprendizes; gerar condições e ambiente para o estabelecimento de articulação entre informações; mostrar que ler e escrever, além de promover socialmente e dar acesso à cultura e ao conhecimento, são um modo de relacionar a vida de cada um à realidade na qual se vive. Por meio dele, o jovem poderá ainda descobrir que a escrita é um jogo instigante e a leitura uma fonte inesgotável de prazer e de conhecimento que permite transformar nossa visão do mundo, reavaliar nossos sentimentos e emoções, encontrar respostas para nossos conflitos, conhecer novos mundos sem sair do lugar, viajar no tempo, conhecer culturas e civilizações diferentes das nossas.
No entanto, para atingir tais metas, em um país onde quase 70% dos municípios não têm livrarias (mas 85% têm biblioteca pública) e os provedores de internet chegam cada vez mais rapidamente aos lugares mais afastados, é fundamental o reconhecimento de que estão em jogo diferentes padrões de leitura do mundo e não apenas um. Numa sociedade de comunicação como a em que vivemos, quando um elo é estimulado, toda a cadeia cresce. Explorar a chamada “convergência de mídias”, transformar computadores, programas de TV, músicas, filmes, games, CDs-ROM em objetos de leitura e de estímulo à leitura é essencial tanto para desenvolver capacidades necessárias à compreensão e sobrevivência no século XXI como para levar os jovens à descoberta da importância e do prazer da palavra. Que se pense em quantos começaram a ler depois de assistir ao Sítio do Picapau Amarelo na televisão ou ao Senhor dos Anéis no cinema; quantos tomaram gosto pela escrita graças a uma modalidade nascida na internet: a fanfiction, em que se criam continuações e versões para as aventuras dos personagens preferidos, como Harry Potter...E, talvez, quantos começaram a apreciar grandes escritores como Borges depois de conhecer seus textos na internet...
Retomando nossa epígrafe, é preciso descobrir, como fez o personagem borgiano a respeito do labirinto e do livro, que, dialeticamente, pluralidade de caminhos/ realidade a ser decifrada/ avalanche de informações e conhecimento/ sentido/crescimento são também uma coisa só, são faces de uma mesma e complexa moeda. Mas, como fazê-lo, se “é tão fácil perder-se quando se tem todos os caminhos do mundo a sua disposição” (3)? A ação de mediadores que, com atitudes como as mencionadas anteriormente, ajudam a impedir que o infinito conhecimento disponível em nossa época nos transforme em novos Funes, incapazes de entender a realidade na qual se vive, ou em impotentes “ratos de biblioteca” que se deixam morrer de ignorância nos grandes templos de informações, é uma das possibilidades. A incorporação da internet e dos meios de comunicação à rotina dos que desejam estimular o hábito da leitura e da escrita entre crianças e adolescentes como resposta para aqueles que vêem na rede mundial de computadores e na hegemonia da sociedade visual a morte dos livros e do conhecimento crítico, potencialmente transformador, é outra.
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Em outro de seus contos, Funes, o memorioso,(2) o mesmo autor narra a história de um homem que depois de um acidente adquiriu a capacidade de se lembrar de absolutamente tudo. Nada, nenhum detalhe, escapava de sua incrível memória. “Sabia as formas das nuvens austrais do amanhecer do trinta de abril de mil oitocentos e oitenta e dois e podia compará-las na lembrança aos veios de um livro encadernado em couro que vira somente uma vez....” Porém, por tudo recordar, era incapaz de pensar, de produzir idéias gerais, de compreender, por exemplo, que o cão que vira “às três e catorze era o mesmo que o cão das três e quarto”, tantas eram as particularidades, as diferenças que captava e memorizava. Sua vida se tornou um tormento porque não sabia o que fazer com tantas informações, porque não conseguia aplicá-las ao mundo que o cercava.
Em ambos, Borges lida com a metáfora do conhecimento, incompreensível e inútil se excede nossa capacidade de absorção e de compreensão (3). No primeiro, a biblioteca é inútil porque ninguém consegue decifrar seu conteúdo; no segundo, o personagem, por não conseguir selecionar as informações, é incapaz de entender o mundo. Os dois textos nos permitem refletir a respeito da era da informação em que vivemos, na qual a onipresença da mídia e o excesso de informação oprimem e confundem. “TV, rádio, jornais, internet, fax e celulares se combinam numa tensa alquimia, que torna tudo descontínuo e fragmentado. A incessante mudança de contextos torna a realidade das informações e imagens praticamente inassimilável. Em frações de segundos, a TV passa das cenas de um desastre ecológico de proporções globais para um programa de auditório, em que a tolice e o ridículo disputam a fama instantânea"(4).
A internet, em particular, permite acesso nunca visto a milhões e milhões de documentos on line, potencialmente muito úteis a qualquer indivíduo. Mas, sua infindável memória não escolhe o que retém. Não se filtra nada, não há seleção da qualidade da informação, nem sempre é possível discriminar sua origem, portanto, encontrar informação e garantir sua validade, reconhecer o que é significativo e o que é irrelevante, distinguir o que é verdadeiro do que é falso, não é tarefa fácil.
Nesse quadro, não basta colocar as pessoas em contato com a informação, embora essa seja a primeira condição. É preciso incentivá-las a realizarem descobertas, orientá-las a fazerem escolhas, a efetuarem análises e sínteses, enfim, apresentar diferentes possibilidades para a construção do conhecimento e gerar condições para o estabelecimento de articulação entre informações e conexões múltiplas.
Portanto, nessa moldura ganha relevo o papel do mediador (seja ele professor, um adulto leitor mais experiente, um orientador de leitura, um familiar, um bibliotecário ou um colega mais capaz) para estimular nos mais jovens uma ampla gama de aprendizagem, para provê-los da orientação e do apoio necessários para que se tornem aptos tanto a pesquisar e interagir de forma crítica e autônoma como a conseguir avanços em relação ao gosto.
Na escola, cabe ao professor planejar situações que possam resultar em aprendizagens significativas, propor desafios e contrapontos ao aluno que convive com discursos de todos os tipos e formas, selecionar fontes de pesquisa, apresentar diferentes possibilidades para a construção do conhecimento. É necessário que ele se disponha a auxiliar os alunos a buscar e selecionar informações, organizá-las, elaborá-las, a aplicar e avaliar o conhecimento, contribuindo assim para que identifiquem o que é relevante, reflitam criticamente sobre as informações encontradas e atribuam-lhes significados.
Em outros espaços, em situações de aprendizagens mais espontâneas, o comportamento de leitor mais experiente do mediador poderá ajudar os mais jovens a se interessarem pelo imenso patrimônio cultural acumulado por tantas gerações. Atuando como guia, apoiador, incentivador, poderá aumentar o repertório dos aprendizes; gerar condições e ambiente para o estabelecimento de articulação entre informações; mostrar que ler e escrever, além de promover socialmente e dar acesso à cultura e ao conhecimento, são um modo de relacionar a vida de cada um à realidade na qual se vive. Por meio dele, o jovem poderá ainda descobrir que a escrita é um jogo instigante e a leitura uma fonte inesgotável de prazer e de conhecimento que permite transformar nossa visão do mundo, reavaliar nossos sentimentos e emoções, encontrar respostas para nossos conflitos, conhecer novos mundos sem sair do lugar, viajar no tempo, conhecer culturas e civilizações diferentes das nossas.
No entanto, para atingir tais metas, em um país onde quase 70% dos municípios não têm livrarias (mas 85% têm biblioteca pública) e os provedores de internet chegam cada vez mais rapidamente aos lugares mais afastados, é fundamental o reconhecimento de que estão em jogo diferentes padrões de leitura do mundo e não apenas um. Numa sociedade de comunicação como a em que vivemos, quando um elo é estimulado, toda a cadeia cresce. Explorar a chamada “convergência de mídias”, transformar computadores, programas de TV, músicas, filmes, games, CDs-ROM em objetos de leitura e de estímulo à leitura é essencial tanto para desenvolver capacidades necessárias à compreensão e sobrevivência no século XXI como para levar os jovens à descoberta da importância e do prazer da palavra. Que se pense em quantos começaram a ler depois de assistir ao Sítio do Picapau Amarelo na televisão ou ao Senhor dos Anéis no cinema; quantos tomaram gosto pela escrita graças a uma modalidade nascida na internet: a fanfiction, em que se criam continuações e versões para as aventuras dos personagens preferidos, como Harry Potter...E, talvez, quantos começaram a apreciar grandes escritores como Borges depois de conhecer seus textos na internet...
Retomando nossa epígrafe, é preciso descobrir, como fez o personagem borgiano a respeito do labirinto e do livro, que, dialeticamente, pluralidade de caminhos/ realidade a ser decifrada/ avalanche de informações e conhecimento/ sentido/crescimento são também uma coisa só, são faces de uma mesma e complexa moeda. Mas, como fazê-lo, se “é tão fácil perder-se quando se tem todos os caminhos do mundo a sua disposição” (3)? A ação de mediadores que, com atitudes como as mencionadas anteriormente, ajudam a impedir que o infinito conhecimento disponível em nossa época nos transforme em novos Funes, incapazes de entender a realidade na qual se vive, ou em impotentes “ratos de biblioteca” que se deixam morrer de ignorância nos grandes templos de informações, é uma das possibilidades. A incorporação da internet e dos meios de comunicação à rotina dos que desejam estimular o hábito da leitura e da escrita entre crianças e adolescentes como resposta para aqueles que vêem na rede mundial de computadores e na hegemonia da sociedade visual a morte dos livros e do conhecimento crítico, potencialmente transformador, é outra.
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Notas
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(1) Ficções, Obras Completas, editora Globo, volume 1. O conto está disponível para leitura em Jorge Luis Borges
(2)idem. Disponível para leitura em Funes, o memorioso
(3)Frederick Montero, em O conhecimento e a memória, tece reflexão semelhante utilizando o conto Aleph, também de Borges. Disponível em Filosofia Digital
(4) Tecnologia e suas metáforas, Virgílio Augusto Fernandes Almeida, Diversa, Revista da Universidade de Minas Gerais, nº. 2, 2003, disponível em Tecnologias e Metáforas
(1) Ficções, Obras Completas, editora Globo, volume 1. O conto está disponível para leitura em Jorge Luis Borges
(2)idem. Disponível para leitura em Funes, o memorioso
(3)Frederick Montero, em O conhecimento e a memória, tece reflexão semelhante utilizando o conto Aleph, também de Borges. Disponível em Filosofia Digital
(4) Tecnologia e suas metáforas, Virgílio Augusto Fernandes Almeida, Diversa, Revista da Universidade de Minas Gerais, nº. 2, 2003, disponível em Tecnologias e Metáforas
sábado, 25 de abril de 2009
Chega de prosa
Você diz que não me quer
E fica com esse papo de amigo
Não fique brincando de amor
Brincar com o coração é um perigo.
Fica a proclamar tua liberdade
E ignoras quem profundamente te ama
Mas quando a solidão se torna verdade
Retorna sofregamente à minha cama.
No vai e vem desta relação intrigada
Na indiferença da existência humana
Por que tanta conversa mole?
Deixe de lado o orgulho gelado
Fruto de uma superficialidade insana
Quem ama não brinca... Quem brinca não ama!
(Juarez Firmino)
E fica com esse papo de amigo
Não fique brincando de amor
Brincar com o coração é um perigo.
Fica a proclamar tua liberdade
E ignoras quem profundamente te ama
Mas quando a solidão se torna verdade
Retorna sofregamente à minha cama.
No vai e vem desta relação intrigada
Na indiferença da existência humana
Por que tanta conversa mole?
Deixe de lado o orgulho gelado
Fruto de uma superficialidade insana
Quem ama não brinca... Quem brinca não ama!
(Juarez Firmino)
sexta-feira, 24 de abril de 2009
Letramentos no Ensino Médio
O livro "Letramentos no Ensino Médio" lançado no último dia 25, compartilha experiências e sugestões, trazendo relatos de estudantes e professores da rede púbica. Professores podem adquirir gratuitamente.
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O livro “Letramentos no Ensino Médio” pretende abrir um diálogo com professores sobre as práticas de escrita e leitura dos jovens, dentro e fora da escola. Escrito por Ana Paula Corti, Ana Lúcia Souza e Márcia Mendonça, educadoras que trabalham com jovens em projetos da Ação Educativa, o livro compartilha experiências e sugestões, trazendo falas e relatos de estudantes e professores da rede púbica. O objetivo principal é auxiliar professores e educadores das várias disciplinas do Ensino Médio a apoiar o processo de letramento dos adolescentes. Para Valéria Leão de Campos, professora de história da rede pública estadual, “o livro é um instrumento muito bacana para trabalhar a leitura em sala de aula. Mesmo para outras disciplinas que não a de Língua Portuguesa, ele pode apoiar o trabalho de leitura”.
“No lançamento, os professores indicaram que escutar os jovens e conhecer os diferentes universos em que vivem ainda é um desafio e que o livro contribui nessa tarefa”, afirma Ana Paula, assessora do programa Juventude da Ação Educativa. Ela acrescenta “que as muitas tarefas escolares tem como pressuposto que o aluno já sabe realizar a atividade. Alguns exemplos são os resumos e seminários, que na verdade são procedimentos que devem ser ensinados. Isso é algo que o livro traz – como o professor pode auxiliar os alunos na realização de tarefas escolares que são corriqueiras”. A obra também enfatiza a importância da leitura e da escrita como instrumentos de auto-conhecimento para os jovens.
“Os coordenadores e professores que estavam presentes [no lançamento], apesar de terem tido pouco tempo para ler o livro, demonstraram bastante satisfação com a estrutura e as propostas da obra. Vários coordenadores também se mostraram interessados em levar o livro para suas escolas,” afirmou a professora Valéria.
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O Livro lançado recentemente pela Ação Educativa pode ser adquirido gratuitamente por professores da rede púbica. Basta enviar uma solicitação para
anapaula@acaoeducativa.org
O Livro lançado recentemente pela Ação Educativa pode ser adquirido gratuitamente por professores da rede púbica. Basta enviar uma solicitação para
anapaula@acaoeducativa.org
Os interessados deverão retirar o material na sede Ação Educativa na Rua General Jardim, 660 – V. Buarque. São Paulo – SP ou custear as despesas de postagem.
.Fonte: http://www.acaoeducativa.org.br/portal/
quinta-feira, 23 de abril de 2009
As redondilhas de Chico Buarque
No final de 93, depois de algum tempo sem gravar, Chico Buarque deu um belo presente de Natal aos brasileiros — o disco Paratodos. Na canção de mesmo nome, a letra diz: “O meu pai era paulista/meu avô, pernambucano/o meu bisavô, mineiro/meu tataravô, baiano...” De imediato, chama a atenção a presença alternada do artigo definido antes do pronome possessivo.
Trocando em miúdos, você deve ter notado que Chico Buarque escreveu “o meu pai”, depois “meu avô”, “o meu bisavô” e, por fim, “meu tataravô”. Por que essa alternância? Isso é correto?
Quem já estudou inglês deve lembrar-se de uma armadilha que os professores preparam para os novatos. Pede-se a tradução de uma frase bem simples, como “O meu carro é vermelho”. É normal que o aluno traduza palavra por palavra e monte algo que em inglês não existe: “The my car is red”.
“The” é artigo, e “my” é possessivo. Em inglês, não se usa artigo antes de possessivo. A frase inglesa é “My car is red”.
E em português? A história é outra. Antes de possessivos, o artigo não é proibido, nem obrigatório. É facultativo. Frases como “Gosto de suas músicas” e “Gosto das suas músicas” São absolutamente corretas e equivalentes.
Conclui-se que gramaticalmente Chico Buarque acertou nos quatro versos. Teria acertado também se tivesse empregado o artigo nos quatro versos, ou em nenhum. Na verdade, por uma questão de paralelismo, de simetria, teria sido melhor adotar procedimento uniforme, não houvesse por trás de tudo isso uma razão maior.
Essa razão é explicada na letra da canção, em versos que dizem: “Foi Antônio Brasileiro/quem soprou esta toada/Que cobri de redondilhas/Pra seguir minha jornada”. A palavra-chave é “redondilha”, verso de cinco ou sete sílabas poéticas. Com cinco sílabas poéticas, a redondilha é menor; com sete, é maior.
Vamos contar as sílabas do primeiro verso: “O/meu/pai/e/ra/pau/lis/ta”. Quantas são? Oito, não? Não, são sete, porque só se conta até a última sílaba tônica do verso. Nesse verso, a última sílaba tônica é “lis”.
Vamos contar as sílabas do segundo verso: “Meu/a/vô/per/nam/bu/ca/no”. Oito? Não, sete. A última tônica é “ca”.
Vamos ao terceiro: “O/meu/bi/sa/vô/mi/nei/ro”. Oito? Sete. Conte até “nei”, última sílaba tônica do verso.
Por fim, o quarto verso: “Meu/ta/ta/ra/vô/bai/a/no”. De novo, sete. Conta-se até “a”, sílaba tônica de “baiano”, última palavra do verso. Se Chico Buarque tivesse empregado o artigo no segundo e no quarto versos, ou se tivesse deixado de empregá-lo no primeiro e no terceiro, a métrica teria sofrido alteração, e simplesmente não haveria redondilhas.
Você sabe quem é o Antônio Brasileiro citado na letra? É simplesmente Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, o querido Tom Jobim, mestre dos mestres. É claro que Chico não ousaria usar em vão o nome do mestre. A toada toda é coberta de redondilhas. Evoé, Tom Jobim. Evoé, Chico Buarque.
Pasquale Cipro Neto
Trocando em miúdos, você deve ter notado que Chico Buarque escreveu “o meu pai”, depois “meu avô”, “o meu bisavô” e, por fim, “meu tataravô”. Por que essa alternância? Isso é correto?
Quem já estudou inglês deve lembrar-se de uma armadilha que os professores preparam para os novatos. Pede-se a tradução de uma frase bem simples, como “O meu carro é vermelho”. É normal que o aluno traduza palavra por palavra e monte algo que em inglês não existe: “The my car is red”.
“The” é artigo, e “my” é possessivo. Em inglês, não se usa artigo antes de possessivo. A frase inglesa é “My car is red”.
E em português? A história é outra. Antes de possessivos, o artigo não é proibido, nem obrigatório. É facultativo. Frases como “Gosto de suas músicas” e “Gosto das suas músicas” São absolutamente corretas e equivalentes.
Conclui-se que gramaticalmente Chico Buarque acertou nos quatro versos. Teria acertado também se tivesse empregado o artigo nos quatro versos, ou em nenhum. Na verdade, por uma questão de paralelismo, de simetria, teria sido melhor adotar procedimento uniforme, não houvesse por trás de tudo isso uma razão maior.
Essa razão é explicada na letra da canção, em versos que dizem: “Foi Antônio Brasileiro/quem soprou esta toada/Que cobri de redondilhas/Pra seguir minha jornada”. A palavra-chave é “redondilha”, verso de cinco ou sete sílabas poéticas. Com cinco sílabas poéticas, a redondilha é menor; com sete, é maior.
Vamos contar as sílabas do primeiro verso: “O/meu/pai/e/ra/pau/lis/ta”. Quantas são? Oito, não? Não, são sete, porque só se conta até a última sílaba tônica do verso. Nesse verso, a última sílaba tônica é “lis”.
Vamos contar as sílabas do segundo verso: “Meu/a/vô/per/nam/bu/ca/no”. Oito? Não, sete. A última tônica é “ca”.
Vamos ao terceiro: “O/meu/bi/sa/vô/mi/nei/ro”. Oito? Sete. Conte até “nei”, última sílaba tônica do verso.
Por fim, o quarto verso: “Meu/ta/ta/ra/vô/bai/a/no”. De novo, sete. Conta-se até “a”, sílaba tônica de “baiano”, última palavra do verso. Se Chico Buarque tivesse empregado o artigo no segundo e no quarto versos, ou se tivesse deixado de empregá-lo no primeiro e no terceiro, a métrica teria sofrido alteração, e simplesmente não haveria redondilhas.
Você sabe quem é o Antônio Brasileiro citado na letra? É simplesmente Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, o querido Tom Jobim, mestre dos mestres. É claro que Chico não ousaria usar em vão o nome do mestre. A toada toda é coberta de redondilhas. Evoé, Tom Jobim. Evoé, Chico Buarque.
Pasquale Cipro Neto
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Não está no Aurélio
ABANDONO: Quando a jangada parte e você fica.
ADEUS: O tipo de tchau mais triste que existe.
ADOLESCENTE: Toda criatura que tem fogos de artifício dentro dela.
ARTISTA: Espécie de gente que nunca vai deixar de ser criança.
AUSÊNCIA: Uma falta que fica ali presente.
FOTOGRAFIA: Um pedaço de papel que guarda um pedaço de vida nele.
GELO: Aquilo que a gente sente na espinha quando o amor diz que vai embora.
LEALDADE: Qualidade de cachorro que nem todas as pessoas têm.
LÁGRIMA: Sumo que sai dos olhos quando se espreme um coração.
OUSADIA: Quando o coração diz para a coragem "vá" e a coragem vai mesmo.
e eu acrescento
CORAGEM: Quando você vai, leva um sonoro não, ou pior, sente o descrédito, e mesmo assim não desanima.
ADEUS: O tipo de tchau mais triste que existe.
ADOLESCENTE: Toda criatura que tem fogos de artifício dentro dela.
ARTISTA: Espécie de gente que nunca vai deixar de ser criança.
AUSÊNCIA: Uma falta que fica ali presente.
FOTOGRAFIA: Um pedaço de papel que guarda um pedaço de vida nele.
GELO: Aquilo que a gente sente na espinha quando o amor diz que vai embora.
LEALDADE: Qualidade de cachorro que nem todas as pessoas têm.
LÁGRIMA: Sumo que sai dos olhos quando se espreme um coração.
OUSADIA: Quando o coração diz para a coragem "vá" e a coragem vai mesmo.
e eu acrescento
CORAGEM: Quando você vai, leva um sonoro não, ou pior, sente o descrédito, e mesmo assim não desanima.
terça-feira, 21 de abril de 2009
Laranja
"Porque as pessoas que recebem montes de dinheiro na sua conta bancária, e quase sempre sem o saber, são chamadas de laranjas?"
É muito difícil rastrear a origem de expressões como essa, que parecem surgir trazidas pelo vento. Quase todas as tentativas de explicação terminam caindo em histórias engenhosas e fantásticas, sem a menor base na realidade lingüística. Isso já aconteceu com a tua laranja. Em resposta a um leitor que, como tu, perguntou a razão de chamarmos assim essas pessoas que, sabendo ou não, aparecem como testas-de-ferro em vigarices e maracutaias, um desses "consultórios gramaticais" de jornal veio com a seguinte teoria: na guerra do Vietnã, ficou tristemente famoso o Agente Laranja, herbicida desfolhante utilizado pelos americanos. O tambor de herbicida era laranja, para distingui-lo do tambor de Napalm, cujo efeito incendiário é conhecido por todos. (A esta altura, Maria, deves estar dando tratos à bola para descobrir o que isso teria a ver com os "laranjas" do nosso Brasil dos mensalões e cuecões; espera, que chegaremos lá). Pois conclui a sumidade (cito textualmente): "A nuvem de fumaça. O herbicida produzia uma fumaça amarela. A nuvem vinha na frente dos soldados. Encobria-os. Assim fazem os laranjas da corrupção. Vão na frente. E encobrem o verdadeiro autor de negócios escusos".
Como vês, não passa de uma peça de má ficção. Para começar, jamais se ouviu falar no uso daquele terrível desfolhante como cortina de fumaça, já que ele era extremamente tóxico também para humanos. Além disso, se fosse verdade, o Inglês, com muito mais razão do que o Português, usaria orange como esse sentido de "testa-de-ferro" — só que lá eles chamam de straw-man, que um dicionário jurídico americano define exatamente como definimos o nosso laranja:
"pessoa a quem uma empresa ou um título de propriedade é transferido com o único propósito de esconder o seu verdadeiro dono. Desta forma, o straw-man não tem interesse ou participação real, mas é um mero representante passivo daquele que controla secretamente as atividades."
Como nunca encontrei nada fidedigno sobre a origem dessa expressão brasileira, prefiro atribuí-la, conservadoramente, a um dos significados de "laranja" que tanto o Aurélio quanto o Houaiss registram: "pessoa insignificante, sem importância". Acho que, no início, laranja era usado como usamos o nosso bagrinho. Um cronista de sociedade poderia afirmar, por exemplo, "À festa só compareceram bagrinhos (ou laranjas), sem qualquer expressão social" — gente miúda, sem importância. Daí passou para o jargão policial, com o mesmo sentido de insignificância ("Prendemos três, mas eram todos laranjas"). Não demorou muito, porém (ainda mais no Brasil, em que a corrupção tem mais viço que erva daninha), para se incorporar à figura do laranja uma malícia maior, uma participação mais ativa e consciente do esquema criminoso, uma certa "consciência profissional". O inocente laranja de outrora passou a assumir, com orgulho, a sua atividade, e posso apostar que muita gente por aí anda se apresentando como "Fulano de Tal, laranja — confiável para qualquer tipo de serviço. Dou referências". Deve ser isso; se non è vero...
http://www.sualingua.com.br/01/aviso.htm
É muito difícil rastrear a origem de expressões como essa, que parecem surgir trazidas pelo vento. Quase todas as tentativas de explicação terminam caindo em histórias engenhosas e fantásticas, sem a menor base na realidade lingüística. Isso já aconteceu com a tua laranja. Em resposta a um leitor que, como tu, perguntou a razão de chamarmos assim essas pessoas que, sabendo ou não, aparecem como testas-de-ferro em vigarices e maracutaias, um desses "consultórios gramaticais" de jornal veio com a seguinte teoria: na guerra do Vietnã, ficou tristemente famoso o Agente Laranja, herbicida desfolhante utilizado pelos americanos. O tambor de herbicida era laranja, para distingui-lo do tambor de Napalm, cujo efeito incendiário é conhecido por todos. (A esta altura, Maria, deves estar dando tratos à bola para descobrir o que isso teria a ver com os "laranjas" do nosso Brasil dos mensalões e cuecões; espera, que chegaremos lá). Pois conclui a sumidade (cito textualmente): "A nuvem de fumaça. O herbicida produzia uma fumaça amarela. A nuvem vinha na frente dos soldados. Encobria-os. Assim fazem os laranjas da corrupção. Vão na frente. E encobrem o verdadeiro autor de negócios escusos".
Como vês, não passa de uma peça de má ficção. Para começar, jamais se ouviu falar no uso daquele terrível desfolhante como cortina de fumaça, já que ele era extremamente tóxico também para humanos. Além disso, se fosse verdade, o Inglês, com muito mais razão do que o Português, usaria orange como esse sentido de "testa-de-ferro" — só que lá eles chamam de straw-man, que um dicionário jurídico americano define exatamente como definimos o nosso laranja:
"pessoa a quem uma empresa ou um título de propriedade é transferido com o único propósito de esconder o seu verdadeiro dono. Desta forma, o straw-man não tem interesse ou participação real, mas é um mero representante passivo daquele que controla secretamente as atividades."
Como nunca encontrei nada fidedigno sobre a origem dessa expressão brasileira, prefiro atribuí-la, conservadoramente, a um dos significados de "laranja" que tanto o Aurélio quanto o Houaiss registram: "pessoa insignificante, sem importância". Acho que, no início, laranja era usado como usamos o nosso bagrinho. Um cronista de sociedade poderia afirmar, por exemplo, "À festa só compareceram bagrinhos (ou laranjas), sem qualquer expressão social" — gente miúda, sem importância. Daí passou para o jargão policial, com o mesmo sentido de insignificância ("Prendemos três, mas eram todos laranjas"). Não demorou muito, porém (ainda mais no Brasil, em que a corrupção tem mais viço que erva daninha), para se incorporar à figura do laranja uma malícia maior, uma participação mais ativa e consciente do esquema criminoso, uma certa "consciência profissional". O inocente laranja de outrora passou a assumir, com orgulho, a sua atividade, e posso apostar que muita gente por aí anda se apresentando como "Fulano de Tal, laranja — confiável para qualquer tipo de serviço. Dou referências". Deve ser isso; se non è vero...
http://www.sualingua.com.br/01/aviso.htm
O diabo e o granjeiro
Um pobre lavrador precisava construir a casa de sua pequena granja, mas não conseguia realizar esse sonho, pois o que ganhava mal dava para alimentá-lo, junto com sua mulher. Por mais economia que fizesse, não conseguia juntar o necessário para começar a construção.
Um dia, estando a caminhar pelo seu pedaço de chão, mergulhado em tristes pensamentos, deu com um velho esquisito que lhe disse com voz desagradável:
— Pára de preocupar-te, homem. Eu posso resolver o teu problema antes do primeiro canto do galo, amanhã cedo.
— Como assim? — espantou-se o lavrador.
— Tu precisas construir a casa da granja, certo? Pois eu me encarrego de construir e entregar-te essa obra, antes do canto do galo, em troca de uma pequena promessa tua.
— Que promessa? Não tenho nada para te oferecer em troca de tal serviço.
— Não importa: o que quero que me prometas é um bem que tu tens, mas ainda não sabes. É topar ou largar.
O pobre granjeiro pensou com seus botões “o que é que eu tenho a perder?” e, sem hesitar mais, respondeu ao velho que aceitava o trato e fez a promessa.
— Só que quero ver a casa da granja construída, amanhã, antes do canto do galo — observou ele, ainda meio incrédulo.
E voltou correndo para casa, para comunicar à esposa o bom negócio que acabara de fechar.
A pobre mulher ficou horrorizada:
— Tu és um louco, marido! Acabas de prometer àquele velho, que só pode ser o próprio diabo, o nosso primeiro filho, que vai nascer daqui a alguns meses!
O homem, que não sabia da gravidez, pôs as mãos na cabeça, mas não havia mais nada a fazer: o pacto estava selado.
A mulher, porém, que não estava disposta a aceitá-lo, ficou pensando num jeito de frustrar o plano do diabo.
E naquela noite, sem conseguir dormir, ficou o tempo todo escutando apavorada o barulho que o demônio e seus auxiliares infernais faziam, ao construírem a tal obra, com espantosa rapidez.
Um dia, estando a caminhar pelo seu pedaço de chão, mergulhado em tristes pensamentos, deu com um velho esquisito que lhe disse com voz desagradável:
— Pára de preocupar-te, homem. Eu posso resolver o teu problema antes do primeiro canto do galo, amanhã cedo.
— Como assim? — espantou-se o lavrador.
— Tu precisas construir a casa da granja, certo? Pois eu me encarrego de construir e entregar-te essa obra, antes do canto do galo, em troca de uma pequena promessa tua.
— Que promessa? Não tenho nada para te oferecer em troca de tal serviço.
— Não importa: o que quero que me prometas é um bem que tu tens, mas ainda não sabes. É topar ou largar.
O pobre granjeiro pensou com seus botões “o que é que eu tenho a perder?” e, sem hesitar mais, respondeu ao velho que aceitava o trato e fez a promessa.
— Só que quero ver a casa da granja construída, amanhã, antes do canto do galo — observou ele, ainda meio incrédulo.
E voltou correndo para casa, para comunicar à esposa o bom negócio que acabara de fechar.
A pobre mulher ficou horrorizada:
— Tu és um louco, marido! Acabas de prometer àquele velho, que só pode ser o próprio diabo, o nosso primeiro filho, que vai nascer daqui a alguns meses!
O homem, que não sabia da gravidez, pôs as mãos na cabeça, mas não havia mais nada a fazer: o pacto estava selado.
A mulher, porém, que não estava disposta a aceitá-lo, ficou pensando num jeito de frustrar o plano do diabo.
E naquela noite, sem conseguir dormir, ficou o tempo todo escutando apavorada o barulho que o demônio e seus auxiliares infernais faziam, ao construírem a tal obra, com espantosa rapidez.
A noite ia passando, aproximava-se a madrugada.
Mas, pouco antes de o céu clarear, quando faltavam só umas poucas telhas para a conclusão da obra, a atenta mulher do granjeiro pulou da cama e, rápida e ágil, correu até o galinheiro, onde o galo ainda não despertara.
Tomando fôlego, imitou o canto do galo, com tal perfeição que todos os galos da vizinhança, junto com o seu próprio, lhe responderam com um coro sonoro de cocoricós matinais, momentos antes do romper da aurora.
Como um trato com o diabo tem de ser estritamente observado, tanto pela vítima como por ele mesmo, a obra em final de construção teve de ser parada naquele mesmo instante, por quebra de contrato “antes do primeiro canto do galo”.
E o diabo, espumando de raiva por se ver assim ludibriado e espoliado, se mandou de volta para o inferno, junto com seus acólitos, para nunca mais voltar àquele lugar.
Mas a casa da granja permaneceu construída, para alegria do granjeiro, faltando apenas umas poucas telhas que jamais puderam ser colocadas.
BELINKY, Tatiana.
O diabo e o granjeiro. In: Revista Nova Escola,
São Paulo, n. 84, mar. 1995.
Mas, pouco antes de o céu clarear, quando faltavam só umas poucas telhas para a conclusão da obra, a atenta mulher do granjeiro pulou da cama e, rápida e ágil, correu até o galinheiro, onde o galo ainda não despertara.
Tomando fôlego, imitou o canto do galo, com tal perfeição que todos os galos da vizinhança, junto com o seu próprio, lhe responderam com um coro sonoro de cocoricós matinais, momentos antes do romper da aurora.
Como um trato com o diabo tem de ser estritamente observado, tanto pela vítima como por ele mesmo, a obra em final de construção teve de ser parada naquele mesmo instante, por quebra de contrato “antes do primeiro canto do galo”.
E o diabo, espumando de raiva por se ver assim ludibriado e espoliado, se mandou de volta para o inferno, junto com seus acólitos, para nunca mais voltar àquele lugar.
Mas a casa da granja permaneceu construída, para alegria do granjeiro, faltando apenas umas poucas telhas que jamais puderam ser colocadas.
BELINKY, Tatiana.
O diabo e o granjeiro. In: Revista Nova Escola,
São Paulo, n. 84, mar. 1995.
domingo, 19 de abril de 2009
Resmungos gramaticais
Sofro de manias e uma delas é de chatear-me com certas expressões, que me parecem erradas
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NÃO TENHO, obviamente, a intenção de aborrecer o leitor com minhas manias. Aliás, se dependesse de mim, só escreveria crônicas divertidas em vez de resmungos, graçolas. Mas é que sofro de manias e uma delas é de chatear-me com certas expressões, que vão se tornando comuns e que me parecem erradas. Está bem, está bem, já sei que não existem erros no uso do idioma, pelos menos, essa é a opinião dos lingüistas, e a última coisa que quero é ser considerado por eles um sujeito ultrapassado e ranheta. Mas que posso fazer? Se o cara, referindo-se à semana em que estamos, diz "essa" em vez de "esta", tenho vontade de lhe mostrar a língua.
NÃO TENHO, obviamente, a intenção de aborrecer o leitor com minhas manias. Aliás, se dependesse de mim, só escreveria crônicas divertidas em vez de resmungos, graçolas. Mas é que sofro de manias e uma delas é de chatear-me com certas expressões, que vão se tornando comuns e que me parecem erradas. Está bem, está bem, já sei que não existem erros no uso do idioma, pelos menos, essa é a opinião dos lingüistas, e a última coisa que quero é ser considerado por eles um sujeito ultrapassado e ranheta. Mas que posso fazer? Se o cara, referindo-se à semana em que estamos, diz "essa" em vez de "esta", tenho vontade de lhe mostrar a língua.
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Lembram-se da época em que, a três por dois, usava-se a expressão "a nível de"? Essa é uma expressão espanhola e a pronúncia correta é "nivél", com acento na última sílaba. Não se sabe como nem por que, políticos, jornalistas, deputados, advogados passaram, todos, a usá-la. Começaram dizendo, por exemplo, "a nível de teoria política", depois "a nível de perseguição policial" e chegaram a jóias como "a nível de ração para cachorros". Eu sei que está tudo correto e que eu é que sou um chato de galocha, mas sinto-me aliviado ao ver que a mania passou e já ninguém fala "a nível de". Chego a consolar-me com a suposição de que a língua mesma se encarrega de expurgar esses contrabandos verbais.
Lembram-se da época em que, a três por dois, usava-se a expressão "a nível de"? Essa é uma expressão espanhola e a pronúncia correta é "nivél", com acento na última sílaba. Não se sabe como nem por que, políticos, jornalistas, deputados, advogados passaram, todos, a usá-la. Começaram dizendo, por exemplo, "a nível de teoria política", depois "a nível de perseguição policial" e chegaram a jóias como "a nível de ração para cachorros". Eu sei que está tudo correto e que eu é que sou um chato de galocha, mas sinto-me aliviado ao ver que a mania passou e já ninguém fala "a nível de". Chego a consolar-me com a suposição de que a língua mesma se encarrega de expurgar esses contrabandos verbais.
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Ainda assim, tenho minhas dúvidas, pois a cada momento ouço pessoas instruídas e inteligentes falarem "isso não significa dizer", o que é uma tradução ruim do inglês. Por que não usam a expressão nossa, legítima e simples "isso não quer dizer"? E a mania agora (já de algum tempo) é usar o verbo postergar em vez de adiar. Você diria a alguém: "aquele nosso almoço vai ter que ser postergado?" Se não falaria assim, não escreva assim, essa é uma boa regra. Mas por que me incomodar com isso, já que ser pernóstico não é o pior dos defeitos?
Ainda assim, tenho minhas dúvidas, pois a cada momento ouço pessoas instruídas e inteligentes falarem "isso não significa dizer", o que é uma tradução ruim do inglês. Por que não usam a expressão nossa, legítima e simples "isso não quer dizer"? E a mania agora (já de algum tempo) é usar o verbo postergar em vez de adiar. Você diria a alguém: "aquele nosso almoço vai ter que ser postergado?" Se não falaria assim, não escreva assim, essa é uma boa regra. Mas por que me incomodar com isso, já que ser pernóstico não é o pior dos defeitos?
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Há defeitos piores, claro, e mesmo no terreno do idioma, em que todo tipo de atentado à língua se vê com muita freqüência no nosso dia-a-dia. Como disse, não estou querendo encher a paciência dos leitores, mas já repararam como alguns comentaristas de futebol usam certos verbos? Sabemos que o futebol tem um universo verbal próprio, bastante pitoresco, aliás, contra o qual nada tenho a opor, muito pelo contrário. Acho até divertido quando o pessoal se refere a "essa" bola. Nunca dizem, por exemplo, "ele podia ter chutado a bola" e, sim, ter chutado "essa" bola. O jogador nunca "perdeu a bola" e, sim, "perdeu o domínio". São modos de falar muito pitorescos. O que me incomoda, porém, é quando dizem "Ronaldo machucou". Machucou o que? O pé, o tornozelo? Não, querem dizer que ele "se machucou", mas decretaram o fim do modo reflexivo do verbo machucar. E também do verbo "classificar". Se pretendem dizer que o Corinthians não se classificou para disputar a Taça Libertadores, dizem "o Corinthians não classificou", como se o verbo fosse intransitivo. A origem disso, não sei qual é, se nasce da corriola futebolística paulistana, mas a verdade é que, como falam para milhões de pessoas, terminarão por impor esse uso errado dos verbos ao resto do país. Perde-se alguma coisa? Vai alguém morrer em conseqüência disso? Não... então, só me resta ficar resmungando no meu canto, mesmo porque podem alegar que, no terreno da gramática, a zorra é total. Não se ouve na TV "as milhões de pessoas"? E como explicar por que o advérbio "sobre" passou a ser usado a torto e a direito em frases como "convencer as pessoas sobre a importância da lei" em vez de "da importância da lei" ou "ele discute sobre problemas sociais" em vez de "ele discute problemas sociais"?
Há defeitos piores, claro, e mesmo no terreno do idioma, em que todo tipo de atentado à língua se vê com muita freqüência no nosso dia-a-dia. Como disse, não estou querendo encher a paciência dos leitores, mas já repararam como alguns comentaristas de futebol usam certos verbos? Sabemos que o futebol tem um universo verbal próprio, bastante pitoresco, aliás, contra o qual nada tenho a opor, muito pelo contrário. Acho até divertido quando o pessoal se refere a "essa" bola. Nunca dizem, por exemplo, "ele podia ter chutado a bola" e, sim, ter chutado "essa" bola. O jogador nunca "perdeu a bola" e, sim, "perdeu o domínio". São modos de falar muito pitorescos. O que me incomoda, porém, é quando dizem "Ronaldo machucou". Machucou o que? O pé, o tornozelo? Não, querem dizer que ele "se machucou", mas decretaram o fim do modo reflexivo do verbo machucar. E também do verbo "classificar". Se pretendem dizer que o Corinthians não se classificou para disputar a Taça Libertadores, dizem "o Corinthians não classificou", como se o verbo fosse intransitivo. A origem disso, não sei qual é, se nasce da corriola futebolística paulistana, mas a verdade é que, como falam para milhões de pessoas, terminarão por impor esse uso errado dos verbos ao resto do país. Perde-se alguma coisa? Vai alguém morrer em conseqüência disso? Não... então, só me resta ficar resmungando no meu canto, mesmo porque podem alegar que, no terreno da gramática, a zorra é total. Não se ouve na TV "as milhões de pessoas"? E como explicar por que o advérbio "sobre" passou a ser usado a torto e a direito em frases como "convencer as pessoas sobre a importância da lei" em vez de "da importância da lei" ou "ele discute sobre problemas sociais" em vez de "ele discute problemas sociais"?
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Mas ao folhear um volume de Machado de Assis, deparo-me com a seguinte expressão: "A família Batista foi aposentada em casa de Santos". Como aposentada na casa? Mas logo percebo que ele se refere aos aposentos que constituem uma casa, ou seja, a família Batista passou a ocupar um aposento da casa de Santos e, por isso, ficou "aposentada" ali. Descubro que a acepção atual é que é metafórica e decorrente daquela. E aí minhas convicções de patrulheiro vernacular começam a esvair-se. Continuo a folhear o livro: "o amor da glória", em vez de "o amor à glória", e pior: "a dona não adia da intenção de tomar o que era seu". Não paro de me surpreender: "cabava de nascer", por "acabava", e este uso de "esquecer": "também não me esqueceu o que ele me fez uma tarde".
Mas ao folhear um volume de Machado de Assis, deparo-me com a seguinte expressão: "A família Batista foi aposentada em casa de Santos". Como aposentada na casa? Mas logo percebo que ele se refere aos aposentos que constituem uma casa, ou seja, a família Batista passou a ocupar um aposento da casa de Santos e, por isso, ficou "aposentada" ali. Descubro que a acepção atual é que é metafórica e decorrente daquela. E aí minhas convicções de patrulheiro vernacular começam a esvair-se. Continuo a folhear o livro: "o amor da glória", em vez de "o amor à glória", e pior: "a dona não adia da intenção de tomar o que era seu". Não paro de me surpreender: "cabava de nascer", por "acabava", e este uso de "esquecer": "também não me esqueceu o que ele me fez uma tarde".
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Diante disso, meto a língua no saco, se se pode dizer assim.
FERREIRA GULLAR
Diante disso, meto a língua no saco, se se pode dizer assim.
FERREIRA GULLAR
sábado, 18 de abril de 2009
PROBLEMA DE PONTUAÇÃO
O ricaço, nas últimas, escreve o testamento às pressas, esquecendo a pontuação: “deixo meus bens à minha irmã não ao meu sobrinho jamais será paga a conta do alfaiate nada dou aos pobres”.
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O sobrinho pontuou: “Deixo meus bens à minha irmã? Não. Ao meu sobrinho. Jamais será paga a conta do alfaiate. Nada dou aos pobres”.
O sobrinho pontuou: “Deixo meus bens à minha irmã? Não. Ao meu sobrinho. Jamais será paga a conta do alfaiate. Nada dou aos pobres”.
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A irmã pontuou: “Deixo meus bens à minha irmã. Não ao meu sobrinho. Jamais será paga a conta do alfaiate. Nada dou aos pobres”.
A irmã pontuou: “Deixo meus bens à minha irmã. Não ao meu sobrinho. Jamais será paga a conta do alfaiate. Nada dou aos pobres”.
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O alfaiate: “Deixo meus bens à minha irmã? Não. Ao meu sobrinho? Jamais. Será paga a conta do alfaiate. Nada dou aos pobres”.
O alfaiate: “Deixo meus bens à minha irmã? Não. Ao meu sobrinho? Jamais. Será paga a conta do alfaiate. Nada dou aos pobres”.
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Chega um descamisado: “Deixo meus bens à minha irmã? Não. Ao meu sobrinho? Jamais. Será paga a conta do alfaiate? Nada. Dou aos pobres”.
Chega um descamisado: “Deixo meus bens à minha irmã? Não. Ao meu sobrinho? Jamais. Será paga a conta do alfaiate? Nada. Dou aos pobres”.
sexta-feira, 17 de abril de 2009
Assaltaram a Gramática
Erika de Souza Bueno
Consultora Pedagógica em Língua Portuguesa do Planeta Educação; Graduanda em Letras pela Universidade Metodista de São Paulo.
As aulas de gramática nas salas de aula de nosso Brasil têm tomado outras formas e nós, profissionais ou estudantes, precisamos entendê-las, uma vez que quaisquer mudanças afetarão diretamente a nossa prática e a formação de nossos alunos. Muitas discussões são feitas acerca do ensino da gramática na escola, uma vez que há algum tempo era natural o estudo exaustivo de definições que só faziam sentido dentro do ambiente escolar, no qual os alunos só decoravam o significado de cada qual na única intenção de tirar uma boa nota na prova e passar para o próximo ano letivo.
Com isso, não fica difícil compreender que os conteúdos não eram transferidos para a vida real e, ao que tudo indica, não eram capazes de fazer de um aluno, um cidadão competente para se posicionar diante de questões da vida real, dentro de sua comunidade ou fora dela.
Com isso, não fica difícil compreender que os conteúdos não eram transferidos para a vida real e, ao que tudo indica, não eram capazes de fazer de um aluno, um cidadão competente para se posicionar diante de questões da vida real, dentro de sua comunidade ou fora dela.
Por questões como essas serem erguidas, alguns professores chegaram a imaginar que a gramática estava definitivamente abolida das aulas de língua portuguesa, contudo, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais do MEC, não é bem isso que ocorre:
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“... uma prática pedagógica que vai da metalíngua para a língua por meio de exemplificação, exercícios de reconhecimento e memorização de terminologia. Em função disso [de uma prática pedagógica como esta], discute-se se há ou não necessidade de ensinar gramática. Mas essa é uma falsa questão: a questão verdadeira é o que, para que e como ensiná-la.”
“... uma prática pedagógica que vai da metalíngua para a língua por meio de exemplificação, exercícios de reconhecimento e memorização de terminologia. Em função disso [de uma prática pedagógica como esta], discute-se se há ou não necessidade de ensinar gramática. Mas essa é uma falsa questão: a questão verdadeira é o que, para que e como ensiná-la.”
Segundo estas diretrizes, o novo olhar para o ensino de gramática que salta aos nossos olhos, não exclui o conteúdo gramatical de língua portuguesa, até porque não há gramática sem língua e nem mesmo língua sem gramática.
O novo olhar mostra-nos, entre outras coisas, uma metodologia eficiente que faz o aluno refletir e identificar diversos gêneros discursivos baseados em textos que realmente façam sentidos para eles, levando em consideração que a competência discursiva de um aluno não se dá de forma desarticulada e, para que este aluno seja capaz de usar a língua em diversas situações, incluindo ele estar ante pessoas e situações que têm mais proximidade do mundo letrado, se faz necessário que a abordagem gramatical se livre de terminologias antiquadas e de preconceitos descabidos, considerando o aluno um falante fluente no seu idioma pátrio.
Observe mais este trecho do PCN do MEC:
O novo olhar mostra-nos, entre outras coisas, uma metodologia eficiente que faz o aluno refletir e identificar diversos gêneros discursivos baseados em textos que realmente façam sentidos para eles, levando em consideração que a competência discursiva de um aluno não se dá de forma desarticulada e, para que este aluno seja capaz de usar a língua em diversas situações, incluindo ele estar ante pessoas e situações que têm mais proximidade do mundo letrado, se faz necessário que a abordagem gramatical se livre de terminologias antiquadas e de preconceitos descabidos, considerando o aluno um falante fluente no seu idioma pátrio.
Observe mais este trecho do PCN do MEC:
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“Afinal, a aula deve ser o espaço privilegiado de desenvolvimento de capacidade intelectual e linguística dos alunos, oferecendo-lhes condições de desenvolvimento de sua competência discursiva. Isso significa aprender a manipular textos escritos variados e adequar o registro oral às situações interlocutivas, o que, em certas circunstâncias, implica usar padrões mais próximos da escrita”.
“Afinal, a aula deve ser o espaço privilegiado de desenvolvimento de capacidade intelectual e linguística dos alunos, oferecendo-lhes condições de desenvolvimento de sua competência discursiva. Isso significa aprender a manipular textos escritos variados e adequar o registro oral às situações interlocutivas, o que, em certas circunstâncias, implica usar padrões mais próximos da escrita”.
Sendo assim, o novo olhar para as aulas de gramática nas nossas escolas, não se refere ao abandono da competência escrita, mas a uma nova metodologia de ensino, na qual são considerados os conhecimentos de mundo que o aluno já possui, sendo que toda a abordagem gramatical deve trazer uma linguagem clara sem definições ultrapassadas, livre de preconceitos e mitos. Precisamos nos despir destes, pois defendem, entre outros pontos, a existência de apenas um padrão correto para a fala, estigmatizando pessoas que não se adequam a ele, ao passo que nós, profissionais comprometidos com um ensino não excludente, sabemos que toda a fala está inserida dentro de um contexto e deve ser respeitada nas suas muitas variantes.
A praga do onde
Vamos trocar duas palavras sobre uma verdadeira praga: a palavra onde. Esse termo está assumindo todos os significados possíveis e imagináveis. Vale tudo: da óbvia ideia de lugar a todas as outras que a criatividade das pessoas consegue produzir.
Uma simples consulta a um bom dicionário é suficiente para constatar que onde indica, basicamente, idéia de lugar, lugar físico, lugar em que. Frases como “Onde você comprou a roupa?”, “Onde você nasceu?”, “Falta luz na rua onde moro”, “Conheço a cidade onde você nasceu” são absolutamente corretas e usadas no dia-a-dia com naturalidade.
Os problemas começam quando a bendita palavra onde passa a ser usada como uma espécie de cola-tudo, como nesta frase: “O pacote fiscal reduz o poder de compra da classe média, onde as vendas em dezembro devem diminuir sensivelmente.”
Que tal? Que relação existe entre a redução do poder de compra da classe média e a queda nas vendas? A relação é mais do que evidente: causa e efeito. A redução do poder de compra é causa; a queda nas vendas é conseqüência. Será que a expressão adequada para estabelecer essa relação é onde? Claro que não! As opções são muitas: por isso, conseqüentemente, em conseqüência disso, portanto, logo, razão pela qual, etc.
Por ironia, nenhuma das possibilidades consideradas corretas é a preferida. As pessoas gostam mesmo de usar o danado do onde. Jornalistas, políticos, economistas, esportistas e o público em geral ― certamente influenciado pelo exemplo ― consagram o modismo. Ouvi de um atleta: “Não me alimentei bem ontem, dormi mal esta noite, onde hoje não consegui bom desempenho.”
Na frase do atleta, também se observa a relação causa/efeito. A palavra onde é completamente descabida. Aliás, onde já virou até sinônimo de cujo: “É um veículo moderno, onde o motor tem baixíssima taxa de emissão de poluentes.” Nada disso. O veículo tem motor, o motor é dele, veículo, portanto existe uma relação de posse, que deve ser estabelecida pelo pronome cujo: “É um veículo moderno, cujo motor...”.
Outra coisa esquisita que também já virou moda é “onde que”: “A defesa esteve mal, onde que o adversário se aproveitou para criar muitas situações de perigo.” Nem pensar. Uma das possíveis soluções seria “A defesa esteve mal, e o adversário se aproveitou disso para criar muitas situações de perigo.”
Também se vê onde para estabelecer relação temporal. Até Chico Buarque caiu na esparrela, na memorável Todo sentimento, que tem letra de Chico e música de Cristóvão Bastos: “...tempo da delicadeza, onde não diremos nada...” Tempo é tempo, onde é lugar. Caberia a palavra “quando”, ou a expressão “em que”, talvez pouco adequadas à frase musical.
A diferença entre onde e aonde também deixa muita gente de cabelo em pé. A solução é muito simples. Aonde é a fusão de “a” com “onde”. Esse “a” é preposição e indica basicamente ideia de movimento, destino. Portanto só se deve usar aonde com verbos que indicam essa ideia. E são poucos, como ir, chegar, dirigir-se, levar: “Aonde você quer chegar?”, “Aonde você pretende levá-la?”, “Aonde ela foi?”, “Aonde ele se dirigia naquele momento?.”
Você certamente conhece uma canção interpretada pelo grupo Cidade Negra, cuja letra diz: “Aonde está você? Aonde você mora? Aonde você foi morar?”. No padrão culto, as três frases exigem “onde”, já que estar e morar não indicam movimento. Você não diz estar a algum lugar, nem morar a algum lugar. Se você está em e mora em, o que se usa é onde, e não aonde.
Na fala, é absolutamente impossível controlar a diferença entre onde e aonde. Se você é daqueles que se preocupam com a correção até na língua do dia-a-dia, é bom lembrar que, em termos de língua culta, para cada noventa e nove ocorrências corretas de onde, há uma de aonde.
Mesmo em escritores renomados se vê o emprego de onde e aonde sem critério. Bandeira, num célebre poema pré-concretista, valeu-se do jogo onde/onda/aonde (“Aonde anda a onda?”).
Uma simples consulta a um bom dicionário é suficiente para constatar que onde indica, basicamente, idéia de lugar, lugar físico, lugar em que. Frases como “Onde você comprou a roupa?”, “Onde você nasceu?”, “Falta luz na rua onde moro”, “Conheço a cidade onde você nasceu” são absolutamente corretas e usadas no dia-a-dia com naturalidade.
Os problemas começam quando a bendita palavra onde passa a ser usada como uma espécie de cola-tudo, como nesta frase: “O pacote fiscal reduz o poder de compra da classe média, onde as vendas em dezembro devem diminuir sensivelmente.”
Que tal? Que relação existe entre a redução do poder de compra da classe média e a queda nas vendas? A relação é mais do que evidente: causa e efeito. A redução do poder de compra é causa; a queda nas vendas é conseqüência. Será que a expressão adequada para estabelecer essa relação é onde? Claro que não! As opções são muitas: por isso, conseqüentemente, em conseqüência disso, portanto, logo, razão pela qual, etc.
Por ironia, nenhuma das possibilidades consideradas corretas é a preferida. As pessoas gostam mesmo de usar o danado do onde. Jornalistas, políticos, economistas, esportistas e o público em geral ― certamente influenciado pelo exemplo ― consagram o modismo. Ouvi de um atleta: “Não me alimentei bem ontem, dormi mal esta noite, onde hoje não consegui bom desempenho.”
Na frase do atleta, também se observa a relação causa/efeito. A palavra onde é completamente descabida. Aliás, onde já virou até sinônimo de cujo: “É um veículo moderno, onde o motor tem baixíssima taxa de emissão de poluentes.” Nada disso. O veículo tem motor, o motor é dele, veículo, portanto existe uma relação de posse, que deve ser estabelecida pelo pronome cujo: “É um veículo moderno, cujo motor...”.
Outra coisa esquisita que também já virou moda é “onde que”: “A defesa esteve mal, onde que o adversário se aproveitou para criar muitas situações de perigo.” Nem pensar. Uma das possíveis soluções seria “A defesa esteve mal, e o adversário se aproveitou disso para criar muitas situações de perigo.”
Também se vê onde para estabelecer relação temporal. Até Chico Buarque caiu na esparrela, na memorável Todo sentimento, que tem letra de Chico e música de Cristóvão Bastos: “...tempo da delicadeza, onde não diremos nada...” Tempo é tempo, onde é lugar. Caberia a palavra “quando”, ou a expressão “em que”, talvez pouco adequadas à frase musical.
A diferença entre onde e aonde também deixa muita gente de cabelo em pé. A solução é muito simples. Aonde é a fusão de “a” com “onde”. Esse “a” é preposição e indica basicamente ideia de movimento, destino. Portanto só se deve usar aonde com verbos que indicam essa ideia. E são poucos, como ir, chegar, dirigir-se, levar: “Aonde você quer chegar?”, “Aonde você pretende levá-la?”, “Aonde ela foi?”, “Aonde ele se dirigia naquele momento?.”
Você certamente conhece uma canção interpretada pelo grupo Cidade Negra, cuja letra diz: “Aonde está você? Aonde você mora? Aonde você foi morar?”. No padrão culto, as três frases exigem “onde”, já que estar e morar não indicam movimento. Você não diz estar a algum lugar, nem morar a algum lugar. Se você está em e mora em, o que se usa é onde, e não aonde.
Na fala, é absolutamente impossível controlar a diferença entre onde e aonde. Se você é daqueles que se preocupam com a correção até na língua do dia-a-dia, é bom lembrar que, em termos de língua culta, para cada noventa e nove ocorrências corretas de onde, há uma de aonde.
Mesmo em escritores renomados se vê o emprego de onde e aonde sem critério. Bandeira, num célebre poema pré-concretista, valeu-se do jogo onde/onda/aonde (“Aonde anda a onda?”).
Para a língua padrão, porém, a diferença deve ser respeitada. Se você fizer uma prova, um concurso público, um vestibular, deve seguir as orientações desta coluna. É isso.
.Pasquale Cipro Neto
quinta-feira, 16 de abril de 2009
10 situações gramaticais que apresentam certo grau de dificuldade
1 - A tese "onde"... Onde só pode ser usado para lugar: A casa onde ele mora. / Veja o jardim onde as crianças brincam. Nos demais casos, use em que: A tese em que ele defende essa idéia. / O livro em que... / A faixa em que ele canta... / Na entrevista em que...
.2 - Já "foi comunicado" da decisão. Uma decisão é comunicada, mas ninguém "é comunicado" de alguma coisa. Assim: Já foi informado (cientificado, avisado) da decisão. Outra forma errada: A diretoria "comunicou" os empregados da decisão. Opções corretas: A diretoria comunicou a decisão aos empregados. / A decisão foi comunicada aos empregados.
.3 - Ficou "sobre" a mira do assaltante. Sob é que significa debaixo de: Ficou sob a mira do assaltante. / Escondeu-se sob a cama. Sobre equivale a em cima de ou a respeito de: Estava sobre o telhado. / Falou sobre a inflação. E lembre-se: O animal ou o piano têm cauda e o doce, calda. Da mesma forma, alguém traz alguma coisa e alguém vai para trás.
.4 - "Inflingiu" o regulamento. Infringir é que significa transgredir: Infringiu o regulamento. Infligir (e não "inflingir") significa impor: Infligiu séria punição ao réu.
.5 - A modelo "pousou" o dia todo. Modelo posa (de pose). Quem pousa é ave, avião, viajante, etc. Não confunda também iminente (prestes a acontecer) com eminente (ilustre). Nem tráfico (contrabando) com tráfego (trânsito).
.6 - Espero que "viagem" hoje. Viagem, com g, é o substantivo: Minha viagem. A forma verbal é viajem (de viajar): Espero que viajem hoje. Evite também "comprimentar" alguém: de cumprimento (saudação), só pode resultar cumprimentar. Comprimento é extensão. Igualmente: Comprido (extenso) e cumprido (concretizado).
.7 - O pai "sequer" foi avisado. Sequer deve ser usado com negativa: O pai nem sequer foi avisado. / Não disse sequer o que pretendia. / Partiu sem sequer nos avisar.
.8 - Comprou uma TV "a cores". Veja o correto: Comprou uma TV em cores (não se diz TV "a" preto e branco). Da mesma forma: Transmissão em cores, desenho em cores.
.9 - "Causou-me" estranheza as palavras. Use o certo: Causaram-me estranheza as palavras. Cuidado, pois é comum o erro de concordância quando o verbo está antes do sujeito. Veja outro exemplo: Foram iniciadas esta noite as obras (e não "foi iniciado" esta noite as obras).
.10 - A realidade das pessoas "podem" mudar. Cuidado: palavra próxima ao verbo não deve influir na concordância. Por isso : A realidade das pessoas pode mudar. / A troca de agressões entre os funcionários foi punida (e não "foram punidas").
quarta-feira, 15 de abril de 2009
Negativismos nas cantigas infantis
Veja essas cantigas:
.
"Boi, boi, boi, boi da cara preta,
Pega essa menina que tem medo de careta..."
"Nana neném
que a cuca vem pegar?..."
Atirei o pau no gato-to-to
Mas o gato-to-to não morreu-reu-reu
Dona Chica-Ca-Ca admirou-se-se
Do berrô, do berrô que o gato deu
Miaaau!
Eu sou pobre, pobre, pobre,
De marré, marré, marré.
Eu sou pobre, pobre, pobre,
De marré de si.
Eu sou rica, rica, rica,
De marré, marré, marré.
Eu sou rica, rica, rica,
De marré de si.
Vem cá, Bitu! Vem cá, Bitu!
Vem cá, meu bem, vem cá!
Não vou lá! Não vou lá, Não vou lá!
Tenho medo de apanhar.
Marcha soldado,
cabeça de papel!
Quem não marchar direito,
Vai preso pro quartel.
A canoa virou,
Quem deixou ela virar,
Foi por causa do (fulano/a)
Que não soube remar.
Samba-lelê tá doente,
Tá com a cabeça quebrada.
Samba-lelê precisava
É de umas boas palmadas.
O anel que tu me destes
Era vidro e se quebrou.
O amor que tu me tinhas
Era pouco e se acabou...
O cravo brigou com a rosa
Debaixo de uma sacada;
O cravo saiu ferido
E a rosa despedaçada.
O cravo ficou doente,
A rosa foi visitar;
O cravo teve um desmaio,
A rosa pôs-se a chorar.
Passa, passa, passa três vezes...
O último que ficar
tem mulher e filhos
que não pode sustentar...
.
"Boi, boi, boi, boi da cara preta,
Pega essa menina que tem medo de careta..."
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Como explicar para uma criança inocente que a música é uma ameaça? Algo como "dorme logo, senão o boi vem te comer"! Como explicar que eu estava tentando fazer com que ela dormisse com uma música que incita um bovino a pegar uma menina inocente?
.Como explicar para uma criança inocente que a música é uma ameaça? Algo como "dorme logo, senão o boi vem te comer"! Como explicar que eu estava tentando fazer com que ela dormisse com uma música que incita um bovino a pegar uma menina inocente?
"Nana neném
que a cuca vem pegar?..."
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Depois de uma frustrante busca por uma canção infantil do folclore brasileiro (que fosse positiva), e de uma longa reflexão, descobri toda a origem dos problemas do Brasil. O problema do Brasil é que a sua população em geral tem uma auto-estima muito baixa. Isso faz com que os brasileiros se sintam sempre inferiores e ameaçados, passivos o suficiente para aceitar qualquer tipo de extorsão e exploração, seja interna ou externa.
Nós somos ameaçados e amedrontados desde o berço! Por isso sofremos tanto na vida e ficamos quietos. Exemplificarei minha tese:
.Depois de uma frustrante busca por uma canção infantil do folclore brasileiro (que fosse positiva), e de uma longa reflexão, descobri toda a origem dos problemas do Brasil. O problema do Brasil é que a sua população em geral tem uma auto-estima muito baixa. Isso faz com que os brasileiros se sintam sempre inferiores e ameaçados, passivos o suficiente para aceitar qualquer tipo de extorsão e exploração, seja interna ou externa.
Nós somos ameaçados e amedrontados desde o berço! Por isso sofremos tanto na vida e ficamos quietos. Exemplificarei minha tese:
Atirei o pau no gato-to-to
Mas o gato-to-to não morreu-reu-reu
Dona Chica-Ca-Ca admirou-se-se
Do berrô, do berrô que o gato deu
Miaaau!
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Para começar, esse clássico do cancioneiro infantil é uma demonstração clara de falta de respeito aos animais e crueldade. Por que atirar o pau no gato, uma criatura indefesa? E para acentuar a gravidade, ainda relata o sadismo dessa mulher sob a alcunha de "Dona Chica". Uma vergonha!!!
.Para começar, esse clássico do cancioneiro infantil é uma demonstração clara de falta de respeito aos animais e crueldade. Por que atirar o pau no gato, uma criatura indefesa? E para acentuar a gravidade, ainda relata o sadismo dessa mulher sob a alcunha de "Dona Chica". Uma vergonha!!!
Eu sou pobre, pobre, pobre,
De marré, marré, marré.
Eu sou pobre, pobre, pobre,
De marré de si.
Eu sou rica, rica, rica,
De marré, marré, marré.
Eu sou rica, rica, rica,
De marré de si.
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Colocar a realidade tão vergonhosa da desigualdade social em versos tão doces! É impossível não lembrar do seu amiguinho rico da infância, com um carrinho fabuloso, de controle remoto, e você brincando com seu carrinho de plástico...
.Colocar a realidade tão vergonhosa da desigualdade social em versos tão doces! É impossível não lembrar do seu amiguinho rico da infância, com um carrinho fabuloso, de controle remoto, e você brincando com seu carrinho de plástico...
Vem cá, Bitu! Vem cá, Bitu!
Vem cá, meu bem, vem cá!
Não vou lá! Não vou lá, Não vou lá!
Tenho medo de apanhar.
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Quem foi o sádico que criou essa rima? No mínimo ele espancava o pobre Bitú...
.Quem foi o sádico que criou essa rima? No mínimo ele espancava o pobre Bitú...
Marcha soldado,
cabeça de papel!
Quem não marchar direito,
Vai preso pro quartel.
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De novo, ameaça! Ou obedece ou você se estrepa! Não é à toa que o brasileiro admite tudo de cabeça baixa....
.De novo, ameaça! Ou obedece ou você se estrepa! Não é à toa que o brasileiro admite tudo de cabeça baixa....
A canoa virou,
Quem deixou ela virar,
Foi por causa do (fulano/a)
Que não soube remar.
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Ao invés de incentivar o trabalho de equipe e o apoio mútuo, as crianças brasileiras são ensinadas a dedurar e a condenar um semelhante!
.Ao invés de incentivar o trabalho de equipe e o apoio mútuo, as crianças brasileiras são ensinadas a dedurar e a condenar um semelhante!
Samba-lelê tá doente,
Tá com a cabeça quebrada.
Samba-lelê precisava
É de umas boas palmadas.
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A pessoa, conhecida como Samba-lelê, encontra-se com a saúde debilitada e necessita de cuidados médicos. Mas, ao invés de compaixão e apoio, a música diz que ela precisa de palmadas! Acho que o Samba-lelê deve ser irmão do Bitú... Talvez pela característica do nome Samba-lelê deve ser um trabalhador negro o que demonstra um racismo claro.
.A pessoa, conhecida como Samba-lelê, encontra-se com a saúde debilitada e necessita de cuidados médicos. Mas, ao invés de compaixão e apoio, a música diz que ela precisa de palmadas! Acho que o Samba-lelê deve ser irmão do Bitú... Talvez pela característica do nome Samba-lelê deve ser um trabalhador negro o que demonstra um racismo claro.
O anel que tu me destes
Era vidro e se quebrou.
O amor que tu me tinhas
Era pouco e se acabou...
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Como crescer e acreditar no amor e no casamento depois de ouvir essa passagem anos a fio?
.Como crescer e acreditar no amor e no casamento depois de ouvir essa passagem anos a fio?
O cravo brigou com a rosa
Debaixo de uma sacada;
O cravo saiu ferido
E a rosa despedaçada.
O cravo ficou doente,
A rosa foi visitar;
O cravo teve um desmaio,
A rosa pôs-se a chorar.
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Esta ainda incita a violência conjugal (releia a primeira estrofe).
Ah!!! Não é possível esquecer-se desta:
.Esta ainda incita a violência conjugal (releia a primeira estrofe).
Ah!!! Não é possível esquecer-se desta:
Passa, passa, passa três vezes...
O último que ficar
tem mulher e filhos
que não pode sustentar...
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Ou seja: vá se acostumando ao desemprego e a miséria, resultado das nossas desigualdades sociais!!!
Ou seja: vá se acostumando ao desemprego e a miséria, resultado das nossas desigualdades sociais!!!
DEFEITOS E QUALIDADES
É bastante comum ouvirmos dizer “Fulano de Tal tem muitas qualidades” e também, “Beltrano tem um defeito...”. Mas será que as pessoas realmente têm os tais defeitos e/ou qualidades?
Certamente que não!
Defeitos e qualidades são denominações substantivas que se aplicam a mercadorias, sejam elas máquinas e equipamentos ou quaisquer outras classificações de produtos naturais ou industrializados.
Do ponto de vista semântico, ao substantivo pessoa é errônea a adição de tais expressões. A este, por estar situado num nível mais elevado de conceitualização, se diferencia dos demais substantivos aos quais cabe, sem a preocupação da diminuição pejorativa, mais apropriadamente os termos ‘defeito’ ou ‘qualidade’.
Enquanto condição em que se encontra, é o somatório das características físicas, psicológicas e intelectuais do indivíduo, pode-se dizer que este ou aquele possui ou reúne determinados dons, aptidões ou facilidades para executar esta ou aquela tarefa. Da mesma maneira, é aconselhável que se evite a utilização do termo ‘defeito’ para se referir a ‘pessoas’. No lugar deste, empregue: dificuldades, limitações etc.
Entretanto, vale acrescentar, a terminologia ‘qualificação’ ou ‘qualificado’, é uma exceção e continua sendo abundantemente empregada nos diversos meios ocupacionais para se referir àqueles candidatos habilitados para preencher determinados cargos ou funções profissionais.
Juarez Firmino
Certamente que não!
Defeitos e qualidades são denominações substantivas que se aplicam a mercadorias, sejam elas máquinas e equipamentos ou quaisquer outras classificações de produtos naturais ou industrializados.
Do ponto de vista semântico, ao substantivo pessoa é errônea a adição de tais expressões. A este, por estar situado num nível mais elevado de conceitualização, se diferencia dos demais substantivos aos quais cabe, sem a preocupação da diminuição pejorativa, mais apropriadamente os termos ‘defeito’ ou ‘qualidade’.
Enquanto condição em que se encontra, é o somatório das características físicas, psicológicas e intelectuais do indivíduo, pode-se dizer que este ou aquele possui ou reúne determinados dons, aptidões ou facilidades para executar esta ou aquela tarefa. Da mesma maneira, é aconselhável que se evite a utilização do termo ‘defeito’ para se referir a ‘pessoas’. No lugar deste, empregue: dificuldades, limitações etc.
Entretanto, vale acrescentar, a terminologia ‘qualificação’ ou ‘qualificado’, é uma exceção e continua sendo abundantemente empregada nos diversos meios ocupacionais para se referir àqueles candidatos habilitados para preencher determinados cargos ou funções profissionais.
Juarez Firmino
Titular Efetivo de Cargo de Professor de Língua Portuguesa na Rede Oficial de Ensino do Estado de São Paulo
terça-feira, 14 de abril de 2009
O Anúncio
O dono de um pequeno comércio, amigo do grande poeta Olavo Bilac, abordou-o na rua:
― Sr. Bilac, estou precisando vender o meu sítio, que o senhor tão bem conhece. Poderá redigir o anúncio para o jornal?
Olavo Bilac apanhou o papel e escreveu:
"Vende-se encantadora propriedade, onde cantam os pássaros ao amanhecer no extenso arvoredo, cortada por cristalinas e marejantes águas de um ribeirão. A casa banhada pelo sol nascente oferece a sombra tranqüila das tardes na varanda”.
Meses depois, topa o poeta com o homem e pergunta-lhe se havia vendido o sítio.
No que o homem responde:
Olavo Bilac apanhou o papel e escreveu:
"Vende-se encantadora propriedade, onde cantam os pássaros ao amanhecer no extenso arvoredo, cortada por cristalinas e marejantes águas de um ribeirão. A casa banhada pelo sol nascente oferece a sombra tranqüila das tardes na varanda”.
Meses depois, topa o poeta com o homem e pergunta-lhe se havia vendido o sítio.
No que o homem responde:
― Nem pensei mais nisso! Quando li o anúncio é que percebi a maravilha que tinha.
Às vezes não descobrimos as coisas boas que temos conosco e vamos longeatrás da miragem de falsos tesouros.Valorize o que tens, especialmente aspessoas, os momentos, as lembranças...
Às vezes não descobrimos as coisas boas que temos conosco e vamos longeatrás da miragem de falsos tesouros.Valorize o que tens, especialmente aspessoas, os momentos, as lembranças...
segunda-feira, 13 de abril de 2009
O soldado e o poeta
Um olhar, um sorriso, uma promessa...
.
Tantas coisas lindas que o tempo apagou.
.
Muito se perde
mesmo sob um acompanhamento incessante,
como a dedicação de um soldado
que observa, que protege, que se entrega
se entrega incondicionalmente ao seu bem maior
o amor
e por ele luta e morre.
.
.
Não...
não quero ser apenas mais um soldado!
.
Quero ser um poeta!
Estes sim, estão rodeados pelas belezas das coisas.
Estes não se reportam às casernas,
são livres como pássaros ao vento.
.
.
Pobres soldados, que lutam e nem sempre
conquistam a felicidade.
.
Pobres poetas, que idealizam a felicidade
Para contraporem às lutas de seus corações.
.
.
Juarez Firmino
.
Tantas coisas lindas que o tempo apagou.
.
Muito se perde
mesmo sob um acompanhamento incessante,
como a dedicação de um soldado
que observa, que protege, que se entrega
se entrega incondicionalmente ao seu bem maior
o amor
e por ele luta e morre.
.
.
Não...
não quero ser apenas mais um soldado!
.
Quero ser um poeta!
Estes sim, estão rodeados pelas belezas das coisas.
Estes não se reportam às casernas,
são livres como pássaros ao vento.
.
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Pobres soldados, que lutam e nem sempre
conquistam a felicidade.
.
Pobres poetas, que idealizam a felicidade
Para contraporem às lutas de seus corações.
.
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Juarez Firmino
domingo, 12 de abril de 2009
Para quem gosta de ler
Os editores da Revista Super Interessante, em um gesto incomum, liberaram para leitura e consulta, todo o conteúdo das edições antigas da revista, no período de 1988 a 2007. Uma rica fonte de material de pesquisa para trabalhos escolares e conhecimentos gerais. É só clicar no ano, escolher a capa da revista, e acessar todo o seu conteúdo.
É isso mesmo, com o slogam 20 anos de Super, a revista Superinteressante oferece todo o seu acervo de textos gratuitamente! São mais de 12 mil páginas com as matérias de capa e algumas das seções que construíram a história da revista. Em breve, todos os especiais e o conteúdo integral das edições de 2008 também estarão disponíveis. Só mesmo uma revista tão Super poderia fazer isso!
http://super.abril.com.br/superarquivo/index_superarquivo.shtml
É isso mesmo, com o slogam 20 anos de Super, a revista Superinteressante oferece todo o seu acervo de textos gratuitamente! São mais de 12 mil páginas com as matérias de capa e algumas das seções que construíram a história da revista. Em breve, todos os especiais e o conteúdo integral das edições de 2008 também estarão disponíveis. Só mesmo uma revista tão Super poderia fazer isso!
http://super.abril.com.br/superarquivo/index_superarquivo.shtml
segunda-feira, 6 de abril de 2009
A rosa de Hiroxima
Pensem nas crianças1
Mudas2 telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas3 inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas4
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas5
Mas oh não se esqueçam
Da rosa6 da rosa
Da rosa de Hiroxima7
A rosa hereditária8
A rosa radioativa
Estúpida e inválida9
A rosa com cirrose10
A anti-rosa11 atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.
.
(Vinícius de Moraes)
.
Veja a análise da letra pelo Prof. Juarez Firmino
1. Gradação em “crianças/meninas/mulheres”.
2. Não conseguem se comunicarem, mesmo vivenciando a mesma realidade.
3. Os sofrimentos lhes subtraíram todas as perspectivas de futuro, crianças que não têm sonhos.
4. Mulheres que não têm filhos, tampouco lares. Desviaram-se da condição de mulheres.
5. “...feridas/rosas cálidas” [versos 7 e 8] – Os versos mostram-nos as feridas “internas”, sem cicatrizes aparentes, como rosas que perderam o vigor.
6. [Versos 10 e 11] – Repetição de significações para se referir à flor, que é a mulher, e também a cidade destruída.
7. Aqui o poeta grafa Hiroxima com a letra x ao invés de sh, que seria o apropriado. Mas como o artista é um ser livre para criar, toda criação é permitida.
8. O mal e o medo que se perpetuaram de geração em geração.
9. A radioatividade expressa toda a força do espetáculo macabro da destruição.
10. A “cirrose” indica nos mostra o próprio poeta se autodepreciando.
11. Expressão underground, a bomba (a explosão, as perdas, a indignação).
.
Ouça a música Rosa de Hiroshima (1973)
.
Assista ao vídeo http://br.youtube.com/watch?v=1qFIuLcIGs4&feature=related
.
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Ouça também outras preciosidades da Música Popular Brasileira:
Mudas2 telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas3 inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas4
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas5
Mas oh não se esqueçam
Da rosa6 da rosa
Da rosa de Hiroxima7
A rosa hereditária8
A rosa radioativa
Estúpida e inválida9
A rosa com cirrose10
A anti-rosa11 atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.
.
(Vinícius de Moraes)
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Veja a análise da letra pelo Prof. Juarez Firmino
1. Gradação em “crianças/meninas/mulheres”.
2. Não conseguem se comunicarem, mesmo vivenciando a mesma realidade.
3. Os sofrimentos lhes subtraíram todas as perspectivas de futuro, crianças que não têm sonhos.
4. Mulheres que não têm filhos, tampouco lares. Desviaram-se da condição de mulheres.
5. “...feridas/rosas cálidas” [versos 7 e 8] – Os versos mostram-nos as feridas “internas”, sem cicatrizes aparentes, como rosas que perderam o vigor.
6. [Versos 10 e 11] – Repetição de significações para se referir à flor, que é a mulher, e também a cidade destruída.
7. Aqui o poeta grafa Hiroxima com a letra x ao invés de sh, que seria o apropriado. Mas como o artista é um ser livre para criar, toda criação é permitida.
8. O mal e o medo que se perpetuaram de geração em geração.
9. A radioatividade expressa toda a força do espetáculo macabro da destruição.
10. A “cirrose” indica nos mostra o próprio poeta se autodepreciando.
11. Expressão underground, a bomba (a explosão, as perdas, a indignação).
.
Ouça a música Rosa de Hiroshima (1973)
.
Assista ao vídeo http://br.youtube.com/watch?v=1qFIuLcIGs4&feature=related
.
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Ouça também outras preciosidades da Música Popular Brasileira:
A Banda (1965) A Deusa da Minha Rua (1940) A Flor e o Espinho (1964) A Praça (1967) Águas de Março (1972) Alma Gêmea (1995) Amélia (1941) Amor e Sexo (2003) Anos Dourados (1986) Ave Maria no Morro (1942) Balada do Louco (1982) Bandolins (1979) Beija eu (1991) Bem Querer (1998) Bilhete (1980) Brasil (1988) Brasileirinho (1949) Caça e Caçador (1997) Caçador de mim (1980) Café da Manhã (1978) Cama e Mesa (1984) Caminhando (1968) Caminhemos (1947) Canta Canta minha gente (1974) Cantiga por Luciana (1969) Canto das Três Raças (1974) Carolina (1967) Castigo (1958) Chama da Paixão (1994) Chega de Saudade (1958) Chuvas de Verão (1949) Cio da Terra (1976) Começar de Novo (1978) Começaria Tudo Outra Vez (1976) Como Uma Onda (1983) Coração de Estudante (1983) Dança da Solidão (1972) De volta pro meu aconchego (1985) Detalhes (1970) Devagar... Devagarinho (1995) Disparada (1965) Encontro das águas (1993) Encontros e Despedidas (1985) Epitáfio (2001) Espanhola (1999) Eu Sei (2004) Eu Sei Que Vou Te Amar (1958) Faz parte do meu show (1988) Festa de Arromba (1964) Foi um Rio que passou em minha vida (1970) Gabriela (1975) Garota de Ipanema (1962) Gente Humilde (1969) Gostava Tanto de Você (1973) Grito de Alerta (1979) Judia de Mim (1986) Juízo Final (1976) Lábios de Mel (1955) Lança Perfume (1980) Mal Acostumado (1998) Me dê Motivo (1983) Menino do Rio (1980) Mensagem (1946) Meu Bem Meu Mal (1981) Meu Bem Querer (1980) Naquela Mesa (1970) Negue (1960) Nos bailes da vida (1981) O Bêbado e a Equilibrista (1979) O Canto da Cidade (1992) O Mar Serenou (1975) O que é o que é (1982) O Surdo (1975) O Último romântico (1984) Oceano (1989) País Tropical (1969) Paixão (1981) Papel Machê (1984) Paratodos (1993) Pela Luz dos Olhos Teus (1977) Por mais que eu tente (2005) Quem é Você (1995) Recado (1990) Retalhos de cetim (1973) Roda Viva (1967) Ronda (1953) Samurai (1982) Saudosa Maloca (1955) SE (1992) Se eu quiser falar com DEUS (1980) Sem Fantasia (1967) Só Pra Contrariar (1986) Toada (1979) Travessia (1967) Trem das Onze (1965) Um Dia de Domingo (1985) Vê se me erra (1992) Verde (1985) Viagem (1973) Viajante (1989) Viola Enluarada (1967)
A pequena vendedora de fósforos
Fazia um frio terrível; caía a neve e estava quase escuro; a noite descia: a última noite do ano. Em meio ao frio e à escuridão uma pobre menininha, de pés no chão e cabeça descoberta, caminhava pelas ruas. Quando saiu de casa trazia chinelos; mas de nada adiantavam, eram chinelos tão grandes para seus pequenos pézinhos, eram os antigos chinelos de sua mãe. A menininha os perdera quando escorregara na estrada, onde duas carruagens passaram terrivelmente depressa, sacolejando. Um dos chinelos não mais foi encontrado, e um menino se apoderara do outro e fugira correndo. Depois disso a menininha caminhou de pés nus - já vermelhos e roxos de frio. Dentro de um velho avental carregava alguns fósforos, e um feixinho deles na mão. Ninguém lhe comprara nenhum naquele dia, e ela não ganhara sequer um níquel. Tremendo de frio e fome, lá ia quase de rastos a pobre menina, verdadeira imagem da miséria! Os flocos de neve lhe cobriam os longos cabelos, que lhe caíam sobre o pescoço em lindos cachos; mas agora ela não pensava nisso. Luzes brilhavam em todas as janelas, e enchia o ar um delicioso cheiro de ganso assado, pois era véspera de Ano-Novo. Sim: nisso ela pensava! Numa esquina formada por duas casas, uma das quais avançava mais que a outra, a menininha ficou sentada; levantara os pés, mas sentia um frio ainda maior. Não ousava voltar para casa sem vender sequer um fósforo e, portanto sem levar um único tostão. O pai naturalmente a espancaria e, além disso, em casa fazia frio, pois nada tinham como abrigo, exceto um telhado onde o vento assobiava através das frinchas maiores, tapadas com palha e trapos.
Suas mãozinhas estavam duras de frio. Ah! bem que um fósforo lhe faria bem, se ela pudesse tirar só um do embrulho, riscá-lo na parede e aquecer as mãos à sua luz! Tirou um: trec! O fósforo lançou faíscas, acendeu-se. Era uma cálida chama luminosa; parecia uma vela pequenina quando ela o abrigou na mão em concha... Que luz maravilhosa! Com aquela chama acesa a menininha imaginava que estava sentada diante de um grande fogão polido, com lustrosa base de cobre, assim como a coifa. Como o fogo ardia! Como era confortável! Mas a pequenina chama se apagou, o fogão desapareceu, e ficaram-lhe na mão apenas os restos do fósforo queimado. Riscou um segundo fósforo. Ele ardeu, e quando a sua luz caiu em cheio na parede ela se tornou transparente como um véu de gaze, e a menininha pôde enxergar a sala do outro lado. Na mesa se estendia uma toalha branca como a neve e sobre ela havia um brilhante serviço de jantar. O ganso assado fumegava maravilhosamente, recheado de maçãs e ameixas pretas. Ainda mais maravilhoso era ver o ganso saltar da travessa e sair bamboleando em sua direção, com a faca e o garfo espetados no peito! Então o fósforo se apagou, deixando à sua frente apenas a parede áspera, úmida e fria. Acendeu outro fósforo, e se viu sentada debaixo de uma linda árvore de Natal. Era maior e mais enfeitada do que a árvore que tinha visto pela porta de vidro do rico negociante. Milhares de velas ardiam nos verdes ramos, e cartões coloridos, iguais aos que se vêem nas papelarias, estavam voltados para ela. A menininha espichou a mão para os cartões, mas nisso o fósforo apagou-se. As luzes do Natal subiam mais altas. Ela as via como se fossem estrelas no céu: uma delas caiu, formando um longo rastilho de fogo. "Alguém está morrendo", pensou a menininha, pois sua vovozinha, a única pessoa que amara e que agora estava morta, lhe dissera que quando uma estrela cala, uma alma subia para Deus. Ela riscou outro fósforo na parede; ele se acendeu e, à sua luz, a avozinha da menina apareceu clara e luminosa, muito linda e terna.
- Vovó! - exclamou a criança. Suas mãozinhas estavam duras de frio. Ah! bem que um fósforo lhe faria bem, se ela pudesse tirar só um do embrulho, riscá-lo na parede e aquecer as mãos à sua luz! Tirou um: trec! O fósforo lançou faíscas, acendeu-se. Era uma cálida chama luminosa; parecia uma vela pequenina quando ela o abrigou na mão em concha... Que luz maravilhosa! Com aquela chama acesa a menininha imaginava que estava sentada diante de um grande fogão polido, com lustrosa base de cobre, assim como a coifa. Como o fogo ardia! Como era confortável! Mas a pequenina chama se apagou, o fogão desapareceu, e ficaram-lhe na mão apenas os restos do fósforo queimado. Riscou um segundo fósforo. Ele ardeu, e quando a sua luz caiu em cheio na parede ela se tornou transparente como um véu de gaze, e a menininha pôde enxergar a sala do outro lado. Na mesa se estendia uma toalha branca como a neve e sobre ela havia um brilhante serviço de jantar. O ganso assado fumegava maravilhosamente, recheado de maçãs e ameixas pretas. Ainda mais maravilhoso era ver o ganso saltar da travessa e sair bamboleando em sua direção, com a faca e o garfo espetados no peito! Então o fósforo se apagou, deixando à sua frente apenas a parede áspera, úmida e fria. Acendeu outro fósforo, e se viu sentada debaixo de uma linda árvore de Natal. Era maior e mais enfeitada do que a árvore que tinha visto pela porta de vidro do rico negociante. Milhares de velas ardiam nos verdes ramos, e cartões coloridos, iguais aos que se vêem nas papelarias, estavam voltados para ela. A menininha espichou a mão para os cartões, mas nisso o fósforo apagou-se. As luzes do Natal subiam mais altas. Ela as via como se fossem estrelas no céu: uma delas caiu, formando um longo rastilho de fogo. "Alguém está morrendo", pensou a menininha, pois sua vovozinha, a única pessoa que amara e que agora estava morta, lhe dissera que quando uma estrela cala, uma alma subia para Deus. Ela riscou outro fósforo na parede; ele se acendeu e, à sua luz, a avozinha da menina apareceu clara e luminosa, muito linda e terna.
- Oh! leva-me contigo!
Sei que desaparecerás quando o fósforo se apagar! Dissipar-te-ás, como as cálidas chamas do fogo, a comida fumegante e a grande e maravilhosa árvore de Natal! E rapidamente acendeu todo o feixe de fósforos, pois queria reter diante da vista sua querida vovó. E os fósforos brilhavam com tanto fulgor que iluminavam mais que a luz do dia. Sua avó nunca lhe parecera grande e tão bela. Tornou a menininha nos braços, e ambas voaram em luminosidade e alegria acima da terra, subindo cada vez mais alto para onde não havia frio nem fome nem preocupações - subindo para Deus. Mas na esquina das duas casas, encostada na parede, ficou sentada a pobre menininha de rosadas faces e boca sorridente, que a morte enregelara na derradeira noite do ano velho. O sol do novo ano se levantou sobre um pequeno cadáver. A criança lá ficou, paralisada, um feixe inteiro de fósforos queimados.
- Queria aquecer-se - diziam os passantes. Porém, ninguém imaginava como era belo o que estavam vendo, nem a glória para onde ela se fora com a avó e a felicidade que sentia no dia do Ano-Novo.
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Hans Christian Andersen
domingo, 5 de abril de 2009
A Língua Portuguesa no mundo (curiosidades)
@ A língua mais falada no mundo é o mandarim (China), seguido do indi (Índia), inglês, espanhol, árabe e português.
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@ Existem entre 190 e 220 milhões de falantes nos oito países de língua portuguesa.
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@ A disciplina de língua portuguesa nas escolas foi instituída a partir de 1757.
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@ Até 1911 não havia registro escrito sobre a ortografia.
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@ A disciplina de língua portuguesa nas escolas foi instituída a partir de 1757.
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@ Até 1911 não havia registro escrito sobre a ortografia.
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sábado, 4 de abril de 2009
MOTIVAÇÃO
Aprender é como comer! A criança escolhe algo. Se for gostoso, vai em frente. Se encontrar dificuldades, larga. É uma geração de muita iniciativa e pouca acabativa, que está indo para a escola sem grandes motivações de estudo e que dificilmente se adapta ao sistema pedagógico clássico.
Aprender é como comer!
Uma boa aula é como uma refeição, quanto mais atraentes estiverem os pratos que você, cozinheiro professor, dispuser sobre a mesa, mais os alunos desejarão saboreá-los.
Comer alimenta o corpo de energia, enquanto aprender alimenta a alma de saber.
Os melhores temperos de uma boa aula são: bom humor, movimento, bom conteúdo, de fácil digestão. As aulas estão sendo constantemente provadas pelos alunos.
Outra coisa é que nem todo prato serve para todos os alunos. O professor precisa levar em conta a fragilidade do estômago dos estudantes. O aluno não consegue aprender aquilo que não entende, assim como não consegue engolir pedaços maiores do que sua garganta permite passar.
O conhecimento recém-adquirido só se transforma em sabedoria quando é posto em prática. O verdadeiro saber é aquele que aparece automaticamente, no cotidiano, aumentando a eficiência e o prazer de viver!
Aprender é como comer!
Uma boa aula é como uma refeição, quanto mais atraentes estiverem os pratos que você, cozinheiro professor, dispuser sobre a mesa, mais os alunos desejarão saboreá-los.
Comer alimenta o corpo de energia, enquanto aprender alimenta a alma de saber.
Os melhores temperos de uma boa aula são: bom humor, movimento, bom conteúdo, de fácil digestão. As aulas estão sendo constantemente provadas pelos alunos.
Outra coisa é que nem todo prato serve para todos os alunos. O professor precisa levar em conta a fragilidade do estômago dos estudantes. O aluno não consegue aprender aquilo que não entende, assim como não consegue engolir pedaços maiores do que sua garganta permite passar.
O conhecimento recém-adquirido só se transforma em sabedoria quando é posto em prática. O verdadeiro saber é aquele que aparece automaticamente, no cotidiano, aumentando a eficiência e o prazer de viver!
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Içami Tiba
quinta-feira, 2 de abril de 2009
Crime e Castigo
Uma novela policial que ultrapassa de longe a fronteira de seu gênero. Um estudante de direito sem dinheiro, inquilino de uma agiota, com uma irmã à beira de um casamento por interesse e uma mãe passando necessidades. O fermento para um possível crime está armado e é nesse drama que mergulha o personagem Rodion Raskolnikov. A cada capítulo, uma revelação e um mote para um dos debates mais antigos da humanidade: existe o direito de matar? Publicado em 1866, o livro "Crime e Castigo" foi sucesso imediato na Rússia e acabou alcançando rapidamente o status de um dos clássicos da literatura mundial.
O romance "Crime e Castigo" pode ser usado em sala de aula para discutir os valores universais. É possível a redenção após um crime? O direito de matar das instituições, como o Estado, é transferível para o indivíduo? A desigualdade econômica legitima o uso da força para a busca da justiça social?
Fiódor Dostoiévski
No dia 11 de novembro de 1821, em Moscou, nasceu Fiódor Mikhailovich Dostoiévski, um dos mais célebres escritores da humanidade e considerado um dos pais do existencialismo. Estudou em escola militar e tinha epilepsia, à semelhança do escritor brasileiro Machado de Assis.
Tradutor e desenhista, foi preso por agitação social em 1849 e condenado à morte. Já no patíbulo, prestes a ser enforcado, a sua pena foi comutada por quatro anos em um presídio na Sibéria.
Aclamado em vida pela crítica literária da época, Dostoiévski morreu no dia 9 de fevereiro de 1881 em São Petesburgo.
O romance "Crime e Castigo" pode ser usado em sala de aula para discutir os valores universais. É possível a redenção após um crime? O direito de matar das instituições, como o Estado, é transferível para o indivíduo? A desigualdade econômica legitima o uso da força para a busca da justiça social?
Fiódor Dostoiévski
No dia 11 de novembro de 1821, em Moscou, nasceu Fiódor Mikhailovich Dostoiévski, um dos mais célebres escritores da humanidade e considerado um dos pais do existencialismo. Estudou em escola militar e tinha epilepsia, à semelhança do escritor brasileiro Machado de Assis.
Tradutor e desenhista, foi preso por agitação social em 1849 e condenado à morte. Já no patíbulo, prestes a ser enforcado, a sua pena foi comutada por quatro anos em um presídio na Sibéria.
Aclamado em vida pela crítica literária da época, Dostoiévski morreu no dia 9 de fevereiro de 1881 em São Petesburgo.
O que da vida não se descreve
Eu me recordo daquele dia. O professor de redação me desafiou a descrever o sabor da laranja. Era dia de prova e o desafio valeria como avaliação final. Eu fiquei paralisado por um bom tempo, sem que nada fosse registrado no papel. Tudo o que eu sabia sobre o gosto da laranja não podia ser traduzido para o universo das palavras. Era um sabor sem saber, como se o aprimorado do gosto não pertencesse ao tortuoso discurso da epistemologia e suas definições tão exatas. Diante da página em branco eu visitava minhas lembranças felizes, quando na mais tenra infância eu via meu pai chegar em sua bicicleta Monark, trazendo na garupa um imenso saco de laranjas.
A cena era tão concreta dentro de mim, que eu podia sentir a felicidade em seu odor cítrico e nuanças alaranjadas. A vida feliz, parte miúda de um tempo imenso; alegrias alojadas em gomos caudalosos, abraçados como se fossem grandes amigos, filhos gerados em movimento único de nascer. Tudo era meu; tudo já era sabido, porque já sentido. Mas como transpor esta distância entre o que sei, porque senti, para o que ainda não sei dizer do que já senti? Como falar do sabor da laranja, mas sem com ele ser injusto, tornando-o menor, esmagando-o, reduzindo-o ao bagaço de minha parca literatura?
Não hesitei. Na imensa folha em branco registrei uma única frase. "Sobre o sabor eu não sei dizer. Eu só sei sentir!"
Não hesitei. Na imensa folha em branco registrei uma única frase. "Sobre o sabor eu não sei dizer. Eu só sei sentir!"
Eu nunca mais pude esquecer aquele dia. A experiência foi reveladora. Eu gosto de laranja, mas até hoje ainda me sinto inapto para descrever o seu gosto. O que dele experimento pertence à ordem das coisas inatingíveis. Metafísica dos sabores? Pode ser...
O interessante é que a laranja se desdobra em inúmeras realidades. Vez em quando, eu me pego diante da vida sofrendo a mesma angústia daquele dia. O que posso falar sobre o que sinto? Qual é a palavra que pode alcançar, de maneira eficaz, a natureza metafísica dos meus afetos? O que posso responder ao terapeuta, no momento em que me pede para descrever o que estou sentindo? Há palavras que possam alcançar as raízes de nossas angústias?
Não sei. Prefiro permanecer no silêncio da contemplação. É sacral o que sinto, assim como também está revestido de sacralidade o sabor que experimento. Sabores e saberes são rimas preciosas, mas não são realidades que sobrevivem à superfície.
Querer a profundidade das coisas é um jeito sábio de resolver os conflitos. Muitos sofrimentos nascem e são alimentados a partir de perguntas idiotas.
Quero aprender a perguntar menos. Eu espero ansioso por este dia. Quero descobrir a graça de sorrir diante de tudo o que ainda não sei. Quero que a matriz de minhas alegrias seja o que da vida não se descreve...
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