domingo, 20 de julho de 2014
Estrutura do texto dissertativo — O desenvolvimento
O
desenvolvimento na redação dissertativa
Terminada a
introdução, é preciso preocupar-se com o desenvolvimento do texto, que deve ser
redigido de maneira clara, coerente, concisa e objetiva, mantendo sempre a
mesma linha de raciocínio apresentada na introdução.
É importante, neste
momento, definir os argumentos a serem usados, fundamentar muito bem as ideias
e ter convicção do que se está falando, a fim de receber crédito do leitor e
ter seu ponto de vista respeitado.
Ao se justificar esse
ponto de vista, convém usar argumentos que tenham valor objetivo, ou seja, que
possam ser aceitos por outras pessoas. Por exemplo, ao se afirmar ser
necessária uma atitude enérgica e eficaz no combate ao tráfico e uso de drogas,
muitos leitores concordarão com essa postura; entretanto, se os argumentos
apresentados basearem-se apenas em opiniões pessoais ou mesmo preconceituosas,
estar-se-á fazendo um julgamento sobre o assunto e não o analisando
objetivamente. Dessa forma, perde-se credibilidade e não se convence o leitor.
No momento de se
desenvolver o tema, citações feitas por autoridades, relatos de fatos
divulgados pelos meios de comunicação, estatísticas, exemplos e ilustrações poderão
ser utilizados para fortalecer a argumentação e dar mais veracidade ao texto. É
essa a grande função do desenvolvimento: fundamentar o ponto de vista
apresentado na introdução.
O desenvolvimento pode
ser elaborado de muitas maneiras diferentes, das quais três serão abordadas
aqui:
Desenvolvimento
por enumeração
Este tipo de desenvolvimento é muito comum quando se quer
expor uma série de características, de funções, de processos, de situações referentes
ao tema abordado. Exemplo:
A proximidade
das eleições municipais é uma ótima oportunidade para a discussão sobre as condições
de vida em nossas cidades. Poluição, congestionamentos de trânsito, lixo, multiplicação
de favelas, destruição de rios e lagoas e desmatamento compõem o cotidiano dos
grandes centros urbanos. O número de problemas causados pelo
desenvolvimento é grande, mas isso não significa que o respeito à ecologia e o
progresso não possam andar juntos. O que falta no Brasil é uma vontade política
que possibilite ao país rever o seu processo de desenvolvimento, muito
destrutivo até agora.
(Nina de Almeida Braga. Soluções para as cidades. In revista Veja.
São Paulo, Abril 14/9/1988.)
Desenvolvimento
por comparação
Um outro tipo de
desenvolvimento possível é o de estabelecer comparações com a intenção de
colocar lado a lado ideias, fatos, seres, apontando semelhanças ou contradições
entre eles. Exemplo:
[...]Alguns quarteirões
adiante posso ver, a distância, um grupo de 15 ou mais jovens, todos parecidos,
alguns sentados e outros deitados na grama em uma das saídas do metrô. Esses,
claramente, usam drogas. No Brasil seriam chamados de meninos de rua. Aqui
recebem o nome de “itinerantes”.
Montreal é a
segunda maior cidade do Canadá. Tem mais de 3 milhões de habitantes. Gaba-se de
ser multicultural. A imigração daqui é incentivada. Mas não explica a presença
desses jovens nas ruas. Os motivos da “itinerância” não são econômicos. São outros.
Ao contrário de nossos jovens de rua, os de Montreal não são violentos. A população
se sente incomodada mais pelo aspecto e pela presença que por atos
infracionais.
(Lígia
Costa Leite. In revista Época. São Paulo,
Globo, 20/11/2000.)
Desenvolvimento
por causa e consequência
Em muitos casos, a introdução
do texto dissertativo permite um desenvolvimento que usa uma ou mais relações de
causa e consequência. Exemplo:
Todos sabemos que,
em nosso país, há muito tempo, observa-se um grande número de grupos migratórios,
os quais, provenientes do campo, deslocam-se em direção às cidades, procurando
melhores condições de vida.
Ao examinarmos
algumas das consequências desse êxodo, verificamos que a zona rural apresenta inúmeros
problemas, os quais dificultam a permanência do homem no campo. Podemos mencionar,
por exemplo, a seca, a questão da distribuição da terra e a falta de incentivo
à atividade agrária por parte do governo.
Em consequência disso,
vemos, a todo instante, a chegada desse enorme contingente de trabalhadores
rurais ao meio urbano. As cidades encontram-se despreparadas para absorver
esses migrantes e oferecer-lhes condições de subsistência e de trabalho. Cresce,
portanto, o número de pessoas vivendo à margem dos benefícios oferecidos por
uma metrópole; por falta de opção, dirigem-se para as zonas periféricas e
ocasionam a proliferação de favelas.
Por tudo isso,
só nos resta admitir que a existência do êxodo rural somente agrava os
problemas do campo e da própria cidade. Fazem-se, portanto, necessárias algumas
medidas para tentar fixar o homem na terra. Assim, os cidadãos rurais e urbanos
deste país encontrariam, com certeza, melhores condições de vida.
(Branca Granatic. O problema das correntes migratórias.
São
Paulo, Scipione, 1996.)
Fonte:
AGUIAR,
Jaqueline da Silva. Descomplicando a
redação / Jaqueline da Silva Aguiar, Ednir Melo Barbosa. — São Paulo: FTD,
2003.
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