sábado, 26 de julho de 2014
Da história dos EUA – Intolerância religiosa
Em 11 de dezembro de 1620, desembarcou em New Plymouth (depois
Massachusetts), os primeiros colonos do Mayfloyer,
um velho barco cargueiro alugado por dissidentes calvinistas ingleses – e
alguns holandeses. Liderados por William Bradford e William Brewster, eram
puritanos não conformistas que criticavam a Igreja Anglicana que,
na opinião deles, ainda se mantinha vinculada aos rituais romanos (papado).
Foram para a América do Norte em busca da liberdade religiosa e consideravam-se
como essencialmente cristãos. Como relata Paul Johnson:
“Os homens e mulheres do Mayfloyer eram muito diferentes [dos colonos que
desembarcaram na Virgínia]. Eles não chegaram à América com o propósito
primordial de enriquecerem, e nem sequer com a intenção de ganhar a vida, ainda
que aceitassem ambas as possibilidades como benções de Deus, mas sim para criar
o reino Dele sobre a terra. Eram os zelotes, os idealistas, ou talvez
devêssemos afirmar que os mais extremistas entre eles eram fanáticos,
intransigentes e excessivos em suas pretensões de superioridade moral. Também
eram imensamente enérgicos, tenazes e valentes”. *
O impulso que os moviam era de cunho religioso. Perseguidos,
defendiam a liberdade religiosa. Mas, qual liberdade? Eis outro paradoxo da
história dos EUA: a defesa desta não é incompatível com a intolerância
religiosa e a perseguição aos que, entre eles, não professassem dos mesmos
princípios. Intérpretes da palavra divina se consideravam no direito de definir
o bom e o justo. Se na metrópole eram os “perseguidos”, não vacilavam em
perseguir os considerados hereges e desagregadores em solo norte-americano.
Leiamos o relato do historiador:
“Em Massachusetts era costume advertir às pessoas identificadas
como agitadoras religiosas que deviam ir embora. Se insistiam em ficar, ou
regressavam, eram submetidos a julgamento. Em julho de 1641 por exemplo, o
doutor John Clarke e Obediah Holmes, ambos de Rhodes Island, foram presos em
Lynn pelo comissário por terem organizado uma reunião religiosa não autorizada
em uma casa, na qual condenaram a prática do batismo dos bebês. Clarke foi
encarcerado; Holmes foi açoitado publicamente. Em 27 de outubro de 1659, três
quakers, William Robinson, Marmaduke Stevenson e Mary Dyer, que haviam sido
expulsos várias vezes da colônia – a última vez, com a ameaça de que em caso de
reincidir seria aplicado a pena de morte – foram presos sob a acusação de
“nocivos e desagregadores” e condenados à forca em Boston. A condenação foi cumprida
no caso dos homens. A execução da mulher, que tinha os olhos vendados e a corda
em torno do pescoço, foi suspensa devido à intervenção de seu filho, que
garantiu que abandonaria a colônia de imediato. O certo é que tempos depois ela
voltou e finalmente, em 1 de junho de 1660, foi executada. Outras mulheres
foram penduradas por bruxaria; a primeira foi Margaret Jones, condenada em
Plymouth em 13 de maio de 1648 por “praticar medicina” com “toque maligno”. Se
aplicaram penas severas aos transgressores da moral de todo o tipo. Até 1632, o
adultério era penalizado com a morte. Em 1639, outra vez em Plymouth, uma
mulher adúltera foi açoitada, depois arrastada pelas ruas com as letras AD
costuradas na manga do vestido, e advertida de que se removesse aquele sinal as
letras seriam gravadas em seu rosto. Dois anos depois, um homem e uma mulher
condenados por adultério foram chicoteados, desta vez “em um poste”, e se
ordenou “costurar em lugar bem visível de suas roupas” as letras AD”.**
Assim era a moral entre aqueles que se consideravam guardiões dos
bons costumes. Este relato me faz lembrar o filme “O apedrejamento de Soraya
M.”.
* JOHNSON,
Paul. Estados Unidos. La historia.
Buenos Aires: Javier Vergara Editor, 2004, p.51. A tradução das citações é
minha.
** Idem,
p.69.
Posted
in: EUA
Posted on
09/06/2010 by Antonio Ozaí da Silva
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