segunda-feira, 23 de junho de 2014
Exercícios de ortografia e flexão verbal
.
História de passarinho
Um ano depois os moradores do bairro ainda se lembravam do homem de
cabelo ruivo que (1) ___________ e
sumiu de casa.
Ele era um santo, disse a mulher (2)
___________ os braços. E as pessoas em redor não (3) ___________ nada nem era preciso, perguntar o que se todos já
sabiam que era um bom homem que de repente abandonou casa, emprego no cartório,
o filho único, tudo. E se mandou Deus sabe para onde.
Só pode ter enlouquecido, sussurrou a mulher, e as pessoas tinham que se
aproximar inclinando a cabeça para ouvir melhor. Mas de uma coisa estou certa,
tudo começou com aquele passarinho, começou com o passarinho. Que o homem ruivo
não sabia se era um canário ou um pintassilgo. Ô! Pai, (4) _________ o filho, que raio de passarinho é esse que você foi
arrumar?!
O homem ruivo (5) __________ o
dedo entre as grades da gaiola e ficava acariciando a cabeça do passarinho que
por essa época era um filhote todo arrepiado, escassa a plumagem amarelo-pálido
com algumas peninhas de um cinza-claro.
Não sei, filho, deve ter caído de algum ninho, (6) ________ ele na rua, não sei que passarinho é esse.
O menino (7) __________ chicle.
Você não sabe nada mesmo, Pai, nem marca de carro, nem marca de cigarro, nem
marca de passarinho, você não sabe nada.
Em verdade, o homem ruivo sabia bem poucas coisas. Mas de uma coisa ele (8) ___________ certo, é que naquele
instante gostaria de estar em qualquer parte do mundo, mas em qualquer parte
mesmo, menos ali. Mais tarde, quando o passarinho (9) ________, o homem ruivo ficou sabendo também o quanto ambos se
pareciam, o passarinho e ele.
Ai! O canto desse passarinho, (10)
__________ a mulher, Você quer mesmo me atormentar, Velho. O menino esticava os
beiços tentando fazer rodinhas com a fumaça do cigarro que subia para o teto:
Bicho mais chato, Pai. Solta ele.
Antes de sair para o trabalho o homem ruivo (11) __________ ficar algum tempo olhando o passarinho que desatava
a cantar, as asas trêmulas ligeiramente abertas, ora pousando num pé, ora
noutro e cantando como se não (12)
_________ parar nunca mais. O homem então enfiava a ponta do dedo entre as
grades, era despedida e o passarinho, emudecido, vinha meio encolhido
oferecer-lhe a cabeça para carícia. Enquanto o homem se afastava, o passarinho
se atirava meio às cegas contra as grades, fugir, fugir! Algumas vezes, o homem
assistiu a essas tentativas que (13)
__________ o passarinho tão cansado, o peito palpitante, o bico ferido. Eu sei,
você quer ir embora, você quer ir embora, mas não pode ir, lá fora é diferente
e agora é tarde demais.
A mulher (14) __________ então
a falar e falava uns cinquenta minutos sobre as coisas todas que (15) ______ ter e que o homem ruivo não
lhe dera, não esquecer aquela viagem para Pocinhos do Rio Verde e o Trem
Prateado descendo pela noite até o mar. Esse mar que se não (16) _______ o Pai (que Deus o tenha!)
ela jamais teria conhecido porque em negra hora casara com um homem que não
prestava para nada, Não sei mesmo onde estava com a cabeça quando me casei com
você, Velho.
Ele continuava com o livro aberto no peito, (17) ________ muito de ler. Quando a mulher baixava o tom de voz,
ainda furiosa (mas sem saber mais a razão de tanta fúria), o homem ruivo
fechava o livro e ia conversar com o passarinho que se punha tão manso que se
abrisse a portinhola poderia colhê-lo na palma da mão. Decorridos os cinquenta
minutos das queixas, e como ele não respondia mesmo, ela se calava exausta.
Puxava-o pela manga, afetuosa: Vai, Velho, o café está esfriando, nunca pensei
que nesta idade eu fosse trabalhar tanto assim. O homem ia tomar o café. Numa
dessas vezes, (18) ________ de
fechar a portinhola e quando voltou com o pano preto para cobrir a gaiola (era
noite) a gaiola estava vazia. Ele então (19)
________ no degrau de pedra da escada e ali ficou pela madrugada, fixo na
escuridão. Quando amanheceu, o gato da vizinha desceu o muro, aproximou-se da
escada onde estava o homem ruivo e ficou ali estirado, a se espreguiçar
sonolento de tão feliz. Por entre o pelo negro do gato desprendeu-se uma
pequenina pena amarelo-acinzentada que o vento delicadamente fez voar. O homem
inclinou-se para colher a pena entre o polegar e o indicador. Mas não disse
nada, nem mesmo quando o menino que presenciara a cena desatou a rir,
Passarinho mais besta! Fugiu e acabou aí, na boca do gato.
Calmamente, sem a menor pressa o homem ruivo guardou a pena no bolso do
casaco e levantou-se com uma expressão tão estranha que o menino parou de rir
para ficar olhando. Repetiria depois à Mãe, Mas ele até que parecia contente,
Mãe, juro que o Pai parecia contente, juro! A mulher então interrompeu o filho
num sussurro, Ele ficou louco.
Quando formou-se a roda de vizinhos, o menino voltou a contar isso tudo
mas não achou importante contar aquela coisa que descobriu de repente: o Pai
era um homem alto, nunca (20) _______
reparado antes como ele era alto. Não contou também que estranhou o andar do
Pai, firme e reto, mas por que ele andava agora desse jeito? E repetiu o que
todos já sabiam, que quando o Pai saiu, deixou o portão aberto e não olhou para
trás.
TELLES, Lygia Fagundes. In: Invenção
e memória. Rio de Janeiro: Rocco, 2000.
Exercícios
Assinale
a alternativa que preencha corretamente cada lacuna:
(1)
enlouquecera enlouqueceu enlouquecia
(2)
levantando levantou levantara
(3)
perguntou perguntava perguntaram
(4)
cassoava caçoava casouava
(5)
introduzia introduzira introduz
(6)
pegava peguei pegarei
(7)
mascava mascaria mascando
(8)
estive esteve estava
(9)
crescia cresceu esteve crescido
(10)
queixara-se queixava-se queixavasse
(11)
costumou costumava costumara
(12)
pode-se pudesse pude-se
(13)
deixava deixa deixavam
(14)
punha-se punhasse ponhasse
(15)
quis quiz quer
(16)
fo-se
foce fosse
(17)
gostou
gostávamos gostava
(18)
esqueceu esquecia esquece
(19)
sentousse sentosse sentou-se
(20)
teve tinha tinha
.
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