sábado, 20 de junho de 2015
O Cortiço
Aluísio
de Azevedo
Um homem qualquer, trabalhador e muito economizador adquire
fortuna, amiga-se a uma negra de um cego e sente cada vez mais sede de riqueza.
Arranja confusões com um novo vizinho (Miranda) ao disputar
palmos de terra. Chega a roubar para construir o que tanto almejava: um cortiço com casinhas e tinas para lavadeiras.
Prosperou em seu projeto.
João invejava seu vizinho.
Veio morar na casa de Miranda, Henrique, acadêmico de medicina, a fim de terminar os
estudos. Nessa casa, além de escravos e sua família morava um senhor parasita (Botelho, ex-empregado).
D. Estela (esposa de Miranda) andava se "escovando" com o Henrique, porém acabaram sendo flagrados pelo velho
Botelho.
O cotidiano da vida no cortiço ia de acordo com a rotina e a realidade de seus moradores, onde
lavadeiras eram o tipo mais comum.
Jerônimo (português, alto, 35 a 40 anos), foi conversar com João oferecendo-lhe serviços para a sua pedreira. Com custo, depois de
prosearem bastante, João aceitou a proposta, com a condição dele morar no cortiço e comprar em sua venda. A mudança de Jerônimo e Piedade se sucedeu sob comentários e cochichos das lavadeiras. Após alguns meses eles foram conquistando a
total confiança de todos, por serem sinceros, sérios e respeitáveis. Tinham vida simples e sua filhinha estudava num
internato.
No domingo, todos vestem a melhor roupa e se reúnem para jantar, dançar, festejar, tudo muito à vontade. Depois
de três meses Rita Baiana volta. Nessas reuniões sobressaia o "Choro", muito bem
representado pela Baiana e seu amante Firmo. Toda aquela agilidade na dança deixara Jerônimo admirado ao ponto de perder a noite em claro pensando na mulata.
Pombinha tirava esses dias para escrever cartas.
Henrique entretia-se a olhar Leocádia, que em troca de um coelho satisfez sua
vontade física (transa), quando foram pegos por Bruno (seu
marido), que bateu na mesma e despejou-a de sua casa depois de fazer um baita
escândalo.
Jerônimo mudou seus costumes, brigava com sua e
a cada dia mais se afeiçoava pela mulata Rita. Firmo sentia-se
enciumado.
Florinda engravidou de Domingos (caixeiro da venda de João Romão), o mesmo foi obrigado a casar-se ou
fornecer dotes. Foi aquele rebuliço em todo cortiço, nada mais falavam além disso, Florinda viu-se obrigada a fugir de
casa. Léonie (prostituta alto nível) aparece emperiquitada com sua afilhada
Juju, todos admiravam quanta riqueza, mas nem por isso deixaram sua amizade de
lado. Léonie era muito amiga de Pombinha.
Na casa de Miranda era uma festa só! Ele havia sido agraciado com o título de Barão do Freixal pelo governo português.
João indagava-se, por não ter desfrutado os prazeres da vida,
ficando só a economizar.
Diante de tal injúria, com muito mau humor implicava com tudo
e todos do cortiço. Fez despejar na rua todos os pertences de
Marciana. Acusou-a de vagabunda, acabando ela na cadeia.
A festa do Miranda esquentava e João recebeu convite para ir lá, o que o deixou ainda mais injuriado.
O forró no cortiço começou, porém briga feia se travou entre Jerônimo e Firmo.
Uma barricada impedia a polícia entrar, o incêndio no 12 fez subir grande desespero, era
um corre-corre, polícia, acidentados (Jerônimo levou uma navalhada) e para finalizar
caiu uma baita chuva.
João foi chamado a depor, muitos do cortiço o seguiram até a delegacia, como em mutirão.
Rita incansavelmente cuidava do enfermo Jerônimo dia e noite. No cortiço nada se dizia a respeito dos culpados e vítimas. Piedade não se aguentava chorando muito descontente e desesperada
por seu marido acidentado. Firmo não mais entrava por lá, ameaçado por João Romão de ser entregue a polícia.
Pombinha amanheceu indisposta decorrente da visita feita no
dia anterior à Léonie.
Esta, como era de seu costume, atrancou Pombinha em beijos e
afagos, pois era além de prostituta, lésbica. Isso deixara a menina traumatizada,
que por força e insistência de sua mãe, saiu a dar voltas atrás do cortiço, onde cochilou, sonhou e ao acordar virou mulher. A festa se
fez por D. Isabel, ao saber de tão esperada notícia.
Estava Pombinha a preparar seu enxoval quando Bruno chegou e
lhe pediu que escrevesse uma carta a Leocádia. Ele chorava... Ela, ao ver a reação de submissão dele, desfrutava sua nova sensação de posse do domínio feminino. Imaginava furtivamente a vida
de todos, pois sua escrivania servia de confessionário. Via em seu viver que tudo aquilo
continuaria, pois não haviam homens dignos que merecessem seu
amor e respeito.
Pombinha, mesmo incerta, casa-se com o Costa, foi grande a
comoção no cortiço.
Surgiu um novo cortiço ali perto, o "Cabeça de Gato". A rivalidade com o cortiço de João Romão foi criada. Firmo hospedou-se lá, tendo ainda mais motivos contra Jerônimo.
João, satisfeito com sua segurança sobre os hóspedes, investia agora em seu visual e cultura, com roupas,
danças, leituras e uma amizade com Miranda e o
velho Botelho. Ele e o velho estavam tramando coisa com a filha do Barão. Fez-se um jantar no qual João foi todo emperiquitado.
João naquele momento de auge em sua vida,
via-se numa situação em que necessitava livrar-se da negra,
chegou a pensar em sua morte.
Sem nem mesmo repousar após sua alta do hospital, Jerônimo foi conversar com Zé Carlos e Pataca a respeito do extermínio do Firmo.
O dia corria, João proseava com Zulmira na janela da casa de
Miranda, sentindo-se familiarizado. Jerônimo foi realizar seu plano encontrando-se
com os outros dois no Garnisé (bar em frente ao cemitério).
Pataca entrou no bar, encontrou por acaso com Florinda, que se
ajeitara na vida e dera-lhe notícia que sua mãe parara num hospício. Firmo aparece e Pataca o faz sair até a praia com pretexto de Rita estar lá. Muito chapado seguiu-o. Lá os três treteiros espancaram-lhe e lançaram-lhe ao mar.
Chovia muito e ao ir para casa, Jerônimo desiste e se dirige à casa da Rita. O encontro foi efervescente
por ambas as partes. Tudo estava resolvido, fugiriam no dia seguinte.
Piedade, ao passar das horas, mais desesperada ficava. Ao
amanhecer do dia chorava aos prantos e no cortiço nada mais se ouvia senão comentários sobre o sumiço do Jerônimo.
A morte de Firmo já rolava solta no cortiço.
Rita encontrava-se com Jerônimo. Ele, sonhando começar vida nova, escreve logo ao vendeiro
despedindo-se do emprego, e à mulher constando-lhe do acontecido e prometendo-lhe
somente pagar o colégio da garota.
Piedade e Rita se atracaram no momento em que a mulata saía de mudança, o cortiço todo e mais pessoas que surgiram, entraram
na briga. Foi um tremendo alvoroço, acabara sendo uma disputa nacional
(Portugueses x Brasileiros). Nem a polícia teve coragem de entrar sem reforço. Os Cabeças de Gato também entraram na briga. Travou-se a guerra, a luta
dos capoeiristas rivais aumentava progressivamente quando o incêndio no 88 desatou, ensanguentando o ar.
A causa foi a mesma anterior, por um desejo maquiavélico, a velha considerada bruxa incendiou
sua casa, onde morreu queimada e soterrada, rindo ébria de satisfação. Com todo alvoroço, surgia água de todos os lados e só se pôs fim a situação quando os bombeiros, vistos como heróis, chegaram.
O velho Libório (mendigo hospedado num canto do cortiço) ia fugindo em meio a confusão, mas João o seguiu. Estava o velho com oito garrafas cheias de notas
de vários valores, essas que João roubou e fugiu, deixando-o arder em
brasas.
Morrera naquele incêndio a Bruxa, o Libório e a filhinha da Augusta além de muitos feridos. Para João o incêndio era visto como lucro, pois o cortiço estava no seguro, fazendo ele planos de
expansão baseado no dinheiro do velho mendigo.
Por consequências do incêndio Bruno foi parar no hospital, onde Leocádia foi visita-lo ocorrendo assim a reconciliação de ambos.
As reformas expandiram-se até o armazém e as mudanças no estilo de João também alcançavam um nível social cada vez mais alto. Com amizade fortificada junto
ao Miranda e sua família, pediu a mão de Zulmira em casamento. Bertoleza, arrasada e acabada
daquela vida, esperava dele somente abrigo em sua velhice, nada mais.
Jerônimo abrasileirou-se de vez. Com todos
costumes baianos deleitava-se a viver feliz com a mulata Rita.
Piedade desolada de tristeza habituara-se a beber e começou a receber visitas aos domingos de sua
filhinha (9 anos), que logo cativou todo o cortiço, crismada por todos como "Senhorinha".
Acabados por desgraças da vida, Jerônimo e Piedade não mais guardavam rancor um do outro, ambos
se estimavam e em comum possuíam somente a filha a cuidar. Jerônimo arrependia-se, mas não voltaria atrás. Deu-se a beber também.
O cortiço não parecia mais o mesmo, agora calçado, iluminado e arrumado todo por igual. O
sobrado do vendeiro também não ficara para trás nas reformas. Quem se destacou foi Albino
(lavadeiro homossexual) com a arrumação de sua casa.
A vida transcorria, novos moradores chegavam. Já não se lia sob a luz vermelha na porta do cortiço "Estalagem de São Romão", mas sim "Avenida São Romão". Já não se fazia o "Choradinho" e a
"Cana-verde", a moda agora era o forrobodó em casa, e justo num desses em casa de das
Dores, Piedade enchera a cara e Pataca é que lhe fizera companhia querendo agarrá-la depois de ouvir seus lamentos, mas a
caninha surtiu efeito (vômito) e nada se sucedeu.
João Romão não pregara os olhos a pensar no que fazer
para dar um fim na crioula Bertoleza.
Agostinho (filho da Augusta) sofrera acidente na pedreira,
ficara totalmente estraçalhado.
Foi aquele desespero no cortiço.
Botelho foi falar a João logo cedo. Bertoleza ao ouvir, pôs-se respeito diante da situação e exigiu seus direitos, discutiram o assunto
e nada resolveram. João se irritara e tivera a ideia de mandá-la de volta ao dono propondo esse serviço ao velho Botelho, que aliás recebia dele remuneração por tudo que lhe prestava.
Em volta do desassossego e mal estar de João e Bertoleza o armazém prosperava de vento em poupa aumentando o
nível dos clientes e das mercadorias. Sua
Avenida agora era frequentada por gente de porte mais fino como
alfaiates, operários, artistas, etc.
Florinda ainda de luto por sua mãe Marciana, estava envolvida agora com um despachante.
A Machona (Augusta) quebrara o gênio depois da morte de Agostinho.
Neném arrumara pretendente.
Alexandre fora promovido à sargento.
Pombinha juntara-se à Léonie e atirara-se ao mundo. De tanto
desgosto, D. Isabel (mãe de Pombinha) morrera em uma casa de saúde.
Piedade recebia ajuda da Pombinha para sobreviver, pois
estimava Senhorinha, apesar de saber que o fim da pobre garotinha seria como o
seu. Mesmo assim Piedade foi despejada indo refugiar-se no Cabeça de Gato, que tornara-se claramente um
verdadeiro cortiço fluminense.
Ocorreu um encontro em uma confeitaria na Rua do Ouvidor,
entre a família do Miranda, o Botelho e o João Romão que puseram-se a prosear. Na volta,
seguindo em direção ao Largo São Francisco, João e Botelho optaram em ficar na cidade a
conversar sobre o fim que se daria a crioula. Estava tudo certo, seu dono iria
buscá-la junto à polícia.
Quando isso sucedeu-se, ao ver-se sem saída, impetuosa a fugir, com a mesma faca que
descamava e limpava peixes para o João, Bertoleza rasgou seu ventre fora a fora.
Naquele mesmo instante João Romão recebera um diploma de sócio benemérito da comissão abolicionista.
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