Observe o texto:
Nesta manhã, enquanto seguia para o trabalho, observei que pessoas inconscientemente transgrediam as normas de trânsito ao atravessarem ruas movimentadíssimas fora das faixas de pedestres. O que mais me chamou a atenção, entretanto, foi o comentário que uma motorista disparou contra alguém entre as pessoas que atravessavam na frente de determinado automóvel:
“— Oh, judiação! Mesmo com a coitada da criancinha nos braços, aquela mulata fica correndo risco de vida. Fica atravessando a rua de qualquer jeito.”
Diante do comentário acima proferido pela motorista, nada menos que quatro vocábulos merecem ser analisados. São eles:
1. Judiação - do verbo judiar, de Judas, e, por conseguinte, de judeu, da palavra originada do adjetivo relacionado à cultura judaica. O povo judeu, por longos tempos, tem sofrido forte preconceito [com traços de ódio, inclusive] devido aos desdobramentos decorridos na história do cristianismo, foram vítimas do holocausto. Apesar de alguns estudiosos atentarem para a existência da questão dos homônimos, pois além de Judas Iscariótes, o traidor, temos também o Judas Tadeu, que praticou boas ações em vida e é adorado pelo povo católico, mesmo assim, o verbo judiar e os vocábulos cognatos, pela carga negativa que trazem em si, devem ser evitados;
2. Coitado - da palavra coita, praticada nos textos medievais, cujo conceito proposto pelos teóricos da literatura se refere àquele que sofre por um amor não correspondido, mas que também pode indicar rotulagem pejorativa e de foro íntimo, por denominar o indivíduo que padece porque não recebeu o devido reconhecimento paterno, isto é, aquele que é fruto de um coito [sexualmente falando] não assumido;
3. Mulato - de mula, ou ainda, de cor semelhante à da mula, denominação originada na formação do Brasil colonial, em que os indivíduos nascidos da miscigenação de duas raças, negros africanos e “colonizadores” europeus, por não serem devidamente reconhecidos nem nas senzalas e tampouco nas casas grandes, eram conhecidos como mulatos. Na contemporaneidade passou-se a serem denominados como "morenos", que por sua vez tiveram sua origem nos povos mouros das constantes invasões na Península Ibérica;
4. Correndo risco de vida - expressão que denota total desatenção por parte do falante, pois no caso específico, aquele que atravessa a via pública fora da faixa de pedestres, ou cometa algo que coloque a própria vida em risco, está, na verdade, cometendo um ato cuja consequência possa lhe acarretar o risco de morte. O erro aqui fica amenizado quando se considera a existência da elipse, ou seja, “Correndo risco de [perder a] vida;
.
.
.
.
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário