"Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham, nem fiam. E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles".

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Terceirização da educação

Shopping cria grife em escola pública


Montaram-se programas para a formação de professores e cada passo era avaliado por profissionais de fora da escola



FORMADO em administração pela Fundação Getulio Vargas, Carlos Jereissati Filho fez cursos de especialização em gestão, marketing e finanças dentro e fora do Brasil para dirigir a Iguatemi, uma rede de 16 shopping centers espalhados pelo país. Uma de suas mais férteis experiências de gestão, entretanto, está ocorrendo num local improvável. "Essa é uma aula que dificilmente eu teria em qualquer faculdade."
Essa aula de gestão vem ocorrendo a poucos metros do escritório de Carlos em São Paulo, num ambiente que nada tem a ver com o requinte asséptico das grifes de seus shoppings. Era um prédio cheio de goteiras, banheiros quebrados, vazamentos escorrendo pelas paredes, crianças comendo no chão devido à falta de cadeiras, paredes sujas.


Estimulado por amigos empresários ligados ao grupo Parceiros da Educação, ele resolveu, em 2007, fazer uma experiência de gestão na escola pública Luis Arrôbas Martins.

Naquele mesmo ano, recebeu do Fórum Econômico Mundial o título de Jovem Líder Global. Embora tivesse os mais variados problemas, a escola contava com uma grande vantagem: uma diretora (Deise Tannous) aberta à parceria e disposta a trabalhar, como gostam os empresários, com metas. "Até então, ainda não conhecia de verdade os dramas da educação pública."

Foram feitos os reparos mais básicos, como a instalação das lâmpadas e o conserto dos vazamentos, além da compra de cadeiras para nenhuma criança ficar no chão. Mais importante: montaram-se programas para a formação de professores. Cada passo era avaliado por profissionais de fora da escola.


Proporcionalmente, o resultado foi muito mais expressivo do que Carlos Jereissati encontraria em negócios -e, assim, ele está construindo uma grife. Na mais recente divulgação do índice de qualidade de ensino do governo de São Paulo, a escola ficou com a nota 6,12. De acordo com os padrões internacionais, essa nota significa que ela poderia estar num país desenvolvido.


A métrica educacional que Carlos teve de aprender ainda está longe de se disseminar por toda a rede paulista. A nota 6 é o que se espera para 2022. Mas, pelo menos, teve um impacto familiar.

Seus dois irmãos (Érika e Pedro) gostaram da experiência e estão à procura de colégios públicos, abertos a parcerias com empresários.


PS- Coloquei o detalhamento da experiência no www.catracalivre.com.br

gdimen@uol.com.br

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