"Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham, nem fiam. E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles".

terça-feira, 22 de junho de 2010

Texto corrigido de acordo com as novas regras ortográficas


O texto como está:
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Faltavam 20 minutos para a partida de vôo da Ponte Aérea, e Pedro estava sentado numa poltrona da área de espera em Congonhas. Ele abriu o livro na página marcada, começou a ler, mas logo desistiu, pensando:
“Que idéia mais idiota trazer justamente este livro...”
O problema, é claro, não estava no livro, e sim em seu nervosismo. Nessa noite, ele faria sua estréia no Canecão, o primeiro show com músicas de seu primeiro CD – ou seja, o início de uma bela carreira, ou o fim de seus sonhos, se não caisse no agrado da platéia.
Ele acabou admitindo esse fato, concluindo:
“O fato é que já não agüento mais essa espera.”
O auto-falante anunciou o embarque, e logo ele já estava instalado em seu assento ao lado da janela. Na decolagem, como sempre acontecia quando ele viajava de avião, seu pensamento foi bem diferente:
“Por que eles não dão um pára-quedas pra cada passageiro?”
E sua mente também começou a voar, assim que o avião chegou à altura de cruzeiro, deixando São Paulo para trás:
“Será que eu assinei todos os papéis no advogado?... O cara é meio estranho, nem portugues ele sabe falar direito... Eu poderia assina-los na volta, mas foi melhor assim, me livrei de uma encheção... Eu deveria por meu carro a venda, já está com uns barulhos irritantes...”
Sem prestar atenção às instruções das aero-moças, ele continuou ruminando:
“... A Sandra disse que sou paranóico, vejo problemas em tudo... acho que ela tem razão, às vezes eu estou há anos-luz da realidade... Desliguei o gas do fogão e a tomada da geladeira, mas esqueci de desligar o microondas... Sim, além de paranóico, parece que sou neurótico...”
E assim foi o resto do vôo e do dia, até o momento em que seu nome foi anunciado ao público do Canecão...
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Texto corrigido:
(Clique Ctrl + a palavra linkada para conferir as regras do acordo ortográfico)
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Faltavam 20 minutos para a partida de voo da Ponte Aérea, e Pedro estava sentado numa poltrona da área de espera em Congonhas. Ele abriu o livro na página marcada, começou a ler, mas logo desistiu, pensando:
“Que ideia mais idiota trazer justamente este livro...”
O problema, é claro, não estava no livro, e sim em seu nervosismo. Naquela noite, ele faria sua estreia no Canecão, o primeiro show com músicas de seu primeiro CD, ou seja, o início de uma bela carreira, ou o fim de seus sonhos, se não caísse no agrado da plateia.
Ele acabou admitindo esse fato, concluindo:
“O fato é que já não aguento mais essa espera.”
O alto-falante anunciou o embarque, e logo ele já estava instalado em seu assento ao lado da janela. Na decolagem, como sempre acontecia quando ele viajava de avião, seu pensamento foi bem diferente:
“Por que eles não dão um paraquedas para cada passageiro?”
E sua mente também começou a voar, assim que o avião chegou à altura de cruzeiro, deixando São Paulo para trás:
“Será que eu assinei todos os papéis no advogado?... O cara é meio estranho, nem português ele sabe falar direito... Eu poderia assiná-los na volta, mas foi melhor assim, me livrei de uma encheção... Eu deveria por meu carro a venda, já está com uns barulhos irritantes...”
Sem prestar atenção às instruções das aeromoças, ele continuou ruminando:
“... A Sandra disse que sou paranoico, vejo problemas em tudo... Acho que ela tem razão, às vezes eu estou há anos-luz da realidade... Desliguei o gás do fogão e a tomada da geladeira, mas esqueci de desligar o micro-ondas... Sim, além de paranoico, parece que sou neurótico...”
E assim foi o resto do voo e do dia, até o momento em que seu nome foi anunciado ao público do Canecão...
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sábado, 19 de junho de 2010

Festa no arraial

Quadrilha junta francês e português

A dança chegou ao Brasil em 1808, com a corte portuguesa, e teve seus comandos adaptados para as festas juninas daqui.

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Bem-me-quer, malmequer. Você já deixou as flores carecas e ainda não tem nenhuma pista se o seu amor é correspondido? Santo Antônio e São João, os santos da fertilidade e do casamento, podem lhe dar uma força, através das simpatias.

Já tentou, na véspera do dia de São João, de 23 para 24 de junho, escrever em papeizinhos e dobrá-los numa bacia cheia de água? Dizem que o papel que amanhecer aberto vai revelar o nome da noiva ou do noivo.

O ponto alto da festa junina é o casório caipira, seguido de quadrilha. A dança de pares é cheia de nove horas, com muitos comandos em francês. Isso porque, quando a corte portuguesa chegou ao Brasil, em 1808, trouxe a quadrilha, dança originária da França.

Hoje, a quadrilha é uma mistura engraçada de passos originais com passos novos, comandos em francês misturados aos tradicionais “sustos” em português, como “óia a cobra”.

Homens e mulheres entram abraçados em fila, seguindo o comando do marcante e do contramarcante. Fazem o “balance” (“balancer”), depois de se cumprimentarem “vis-a-vis” (“vis-à-vis”, ou seja, “cara a cara”), e “anavan” (“em avant”, “para a frente”). Depois recuam (“anarriê” vem de “em arrière”, que significa “para trás”).

De volta a seus lugares, fazem mais um balance com seus pares seguido de um “tur” (“tour”, que significa “volta”). Ouve-se então “otrefoá!” (“autrefois” significa “mais uma vez”). Daí tem mais balance e viravortê, e o homem passa a mulher para o homem de trás, até que todos encontrem seus pares novamente.

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Santos em festa

As festas juninas estão aí! É fogueira de São João, fogueteiro para São Pedro e simpatias para Santo Antonio. Esses santos são muito importantes para todos os católicos e suas vidas são contadas na Bíblia. Leia, a seguir, algumas histórias sobre eles.

13 de junho – dia de Santo Antônio

Santo Antônio ficou célebre por seu talento para pregar a palavra de Deus. Ele chegava a uma praça, ou a qualquer lugar onde houvesse um grupo de pessoas, e começava a contar a vida de Jesus. Como falava muito bem, e com bastante entusiasmo, logo juntava uma multidão. O primeiro milagre de Santo Antônio é de deixar qualquer um de queixo caído. Aconteceu certa vez, quando ele começou a pregar na beira de um rio. Sabe o que aconteceu? Os peixinhos daquele rio, atraídos pelo jeito empolgante como Santo Antônio falava, nadaram para a beirada e puseram a cabeça para fora, para ouvir melhor. Imagine o susto das pessoas quando viram que até os peixinhos estavam prestando atenção.

24 de Junho – dia de São João

São João é o santo mais festejado do Brasil. Mas isso não significa que ele tenha sido festeiro. Muito pelo contrário. Ele vivia no deserto. Alimentava-se de gafanhotos e mel. Suas roupas eram de pele de camelo. João era primo de Jesus. Eles tinham quase a mesma idade. João foi um grande profeta, pois avisava que Jesus viria. Só que isso causou uma pequena confusão. João era um homem tão bom que muita gente achou que ele era Jesus Cristo! Ele dizia que não, mas sempre tinha uma turma que teimava o contrário. Essa confusão foi esclarecida quando João batizou Jesus no rio Jordão. Nessa hora aconteceu um milagre. Um vozeirão, vindo do céu, disse: “Esse é o meu filho bem-amado”. Foi assim que se resolveu a confusão entre os dois primos.

29 de Junho – dia de São Pedro

São Pedro nasceu com o nome de Simão e era pescador. Certo dia, ele estava lavando as redes, quando Jesus apareceu e pediu uma carona em seu barco. Simão concordou. Depois trocou o seu nome para Pedro quando Jesus disse que ele seria o fundador da igreja. Pedro significa pedra, ou seja: Pedro seria a primeira pedra da igreja. É por isso que São Pedro é considerado o primeiro papa. Depois que Jesus morreu, São Pedro viajou, se revelou um excelente orador e começou a fazer milagres. Dizem que, certa vez, um feiticeiro de Roma chamou São Pedro para um desafio. Aí o feiticeiro começou a levitar! São Pedro não teve dúvida. Fez um exorcismo, tirou o diabo do corpo do feiticeiro, e o fez despencar no chão. Plaft!

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Fonte: Caderno Folhinha. In: Folha de S.Paulo, 28.05.2005


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sexta-feira, 18 de junho de 2010

Morre, aos 87 anos, o escritor José Saramago

Morreu nesta sexta-feira (18) o escritor português e prêmio Nobel de literatura José Saramago, aos 87 anos, em sua casa, na cidade de Tías, Lanzarote, Espanha.

José Saramago havia tido uma noite tranquila e a morte ocorreu por volta das 8h desta sexta-feira, após tomar seu café da manhã ao lado da mulher, a tradutora Pilar del Río. Eles estavam conversando quando o escritor começou a sentir-se mal e logo depois faleceu.

José de Sousa Saramago nasceu na aldeia portuguesa de Azinhaga, província de Ribatejo, no dia 16 de novembro de 1922, embora no registro oficial conste o dia 18. Filho dos camponeses sem terra José de Sousa e Maria da Piedade, mudou-se para Lisboa aos 2 anos, onde viveu grande parte de sua vida.

O escritor deveria ter sido registrado com o mesmo nome do pai, mas o tabelião acrescentou o apelido pelo qual o chefe da família era conhecido na aldeia, Saramago, que também dá nome a uma planta que serve de alimento para os pobres em tempos difíceis.

Saramago concluiu os estudos secundários em uma escola técnica, mas não pode cursar a universidade por dificuldades financeiras. Sua primeira experiência profissional foi como mecânico. Fascinado pela literatura desde jovem, visitava com grande frequência a Biblioteca Municipal Central Palácio Galveias, na capital portuguesa. Foi só aos 19 anos, com dinheiro emprestado de um amigo, que conseguiu comprar pela primeira vez um livro.

Além de mecânico, o escritor português trabalhou como desenhista, funcionário público, editor, tradutor e jornalista. Durante doze anos, foi funcionário de uma editora, onde ocupou os cargos de diretor literário e de produção.

Publicou o seu primeiro romance, Terra do Pecado, em 1947. Em 1955, começou a fazer traduções de autores como Hegel, Tolstói e Baudelaire para aumentar os rendimentos. Seu próximo livro, Clarabóia, foi rejeitado pela editora e permanece inédito até hoje.

O escritor só publicaria um novo livro, Os Poemas Possíveis, (1966), dezenove anos depois do primeiro. Entre 1972 e 1973, foi comentarista político do Diário de Lisboa, coordenando durante alguns meses o suplemento cultural do jornal. Em um espaço de cinco anos, publicou sem grande repercussão mais dois livros de poesia, Provavelmente Alegria (1970) e O Ano de 1993 (1975).

O escritor fez parte da primeira diretoria da Associação Portuguesa de Escritores. Entre abril e novembro de 1975 foi diretor-adjunto do Diário de Notícias, quando os militares portugueses, reagindo ao que consideravam os excessos da Revolução dos Cravos, demitiram diversos funcionários. A partir de 1976, o escritor português passou a viver exclusivamente de seu trabalho literário.

No ano seguinte, o autor voltou a escrever romances, gênero que o tornou mundialmente conhecido. A partir desta época, sua produção literária cresce consideravelmente, mas é em 1980 que Saramago dá uma grande guinada em sua produção literária, com a publicação de Levantado do Chão.

Segundo diversos críticos, a obra marca o início do estilo que o consagrou, destacado por frases e períodos extensos, que as vezes ocupam mais de uma página e são pontuados de maneira anti-convencional. Os diálogos entre os personagens costumam aparecer inseridos nos próprios parágrafos que os antecedem, de forma a extinguir o uso de travessões em seus livros.

Com a censura do governo português à apresentação do livro O Evangelho Segundo Jesus Cristo (1991) para o Prêmio Literário Europeu sob alegação de que a obra ofendia os católicos, o escritor mudou-se para a ilha de Lanzarte, nas Canárias.

Em 1993, Saramago começou a escrever um diário, Cadernos de Lanzarote, em cinco volumes. Dois anos depois, publicou o romance O Ensaio Sobre a Cegueira, que será transformado em filme em 2008, com direção assinada por Fernando Meirelles.

No mesmo ano em que publicou Ensaio Sobre a Cegueira, recebeu o prêmio Camões e em 1998, foi laureado com o prêmio Nobel de literatura, o primeiro dado a um escritor de língua portuguesa.

“Estava no aeroporto prestes a embarcar quando chegou a notícia de que tinha ganho o Prêmio Nobel. Houve um momento de alegria, os meus editores de Madrid, que estavam comigo, abraçaram-me. Depois encaminhei-me na direção da saída e, por mais estranho que pareça, era um corredor muito comprido e deserto. Eu com a minha malinha de mão, com a minha gabardina no braço, passei de repente da alegria enormíssima da notícia que tinha recebido, para a solidão mais completa. Naquele momento a sensação que tive, claro que eu dava por mim numa grande alegria, era uma espécie de serenidade: pronto aconteceu”, afirmou o escritor sobre o prêmio.

Considerado por especialistas um mestre no tratamento da língua portuguesa, em 2003 o escritor português foi considerado pelo crítico norte-americano Harold Bloom como o mais talentoso romancista vivo. Seus livros foram traduzidos para mais de vinte línguas, como sueco, romeno e húngaro.

Comunista ferrenho, Saramago teve sua carreira pontuada por polêmicas causadas por suas opiniões sobre religião, terrorismo e conflitos. Em entrevista ao jornal O Globo, Saramago criticou a posição de Israel no conflito contra os palestinos, afirmando que “os judeus não merecem a simpatia pelo sofrimento por que passaram durante o Holocausto”.

A Anti-Defamation League (ADL), um grupo judaico que defende direitos civis, caracterizou estes comentários como sendo anti-semitas.

O ano de 2004 destaca-se pela publicação de Ensaio Sobre a Lucidez. No ano seguinte, Saramago escreveu As Intermitências da Morte, em que divaga sobre a vida, a morte, o amor e o sentido, ou a falta dele, da nossa existência, fazendo uma crítica a socidedade moderna.

Em 2007, o Nobel de literatura anunciou que pretendia criar uma fundação com o seu nome cujo objetivo é preservar e estudar sua obra literária e espólio e ainda tomar partido em grandes e pequenas causas.

Família
Saramago casou-se pela primeira vez em 1944 com Ilda Reis, com quem teve uma filha, Violante, que nasceu em 1947. O escritor permaneceu casado com Ilda por 26 anos.

Após se divorciar, em 1970, iniciou um relacionamento com a escritora portuguesa Isabel da Nóbrega, que duraria até 1986.

Em 1988, o prêmio Nobel de Literatura casou-se novamente com a jornalista e tradutora espanhola María Del Pilar Del Río Sánchez, com quem permaneceu até a sua morte.

Obras publicadas

Poesia
Os Poemas Possíveis, 1966
Provavelmente Alegria, 1970
O Ano de 1993, 1975

Crônica
Deste Mundo e do Outro, 1971
A Bagagem do Viajante, 1973
As Opiniões que o DL Teve, 1974
Os Apontamentos, 1976
Viagens a Portugal, 1981

Diários
Cadernos de Lanzarote I, 1994
Cadernos de Lanzarote II, 1995
Cadernos de Lanzarote III, 1996
Cadernos de Lanzarote IV
Cadernos de Lanzarote V

Teatro
A Noite, 1979
Que Farei Com Este Livro?, 1980
A Segunda Vida de Francisco de Assis, 1987
In Nomine Dei, 1993
Don Giovanni ou O Dissoluto Absolvido, 2005

Conto
Objeto Quase, 1978
Poética dos Cinco Sentidos – O Ouvido, 1979
O Conto da Ilha Desconhecida, 1997

Romance
Terra do Pecado, 1947
Manual de Pintura e Caligrafia, 1977
Levantado do Chão, 1980
Memorial do Convento, 1982
O Ano da Morte de Ricardo Reis, 1984
A Jangada de Pedra, 1986
História do Cerco de Lisboa, 1989
O Evangelho Segundo Jesus Cristo, 1991
Ensaio sobre a Cegueira, 1995
A Bagagem do Viajante, 1996
Todos os Nomes, 1997
A Caverna, 2000
O Homem Duplicado, 2002
Ensaio Sobre a Lucidez, 2004
As Intermitências da Morte, 2005
As Pequenas Memórias, 2006
A Viagem do Elefante, 2008
Caim, 2009

Prêmios
―Em Portugal
Prêmio da Associação de Críticos Portugueses por A Noite, 1979
Prêmio Cidade de Lisboa por Levantado do Chão, 1980
Prêmio PEN Clube Português por Memorial do Convento, 1982 e O Ano da Morte de Ricardo Reis, 1984
Prêmio Literário Município de Lisboa por Memorial do Convento, 1982
Prêmio da Crítica (Associação Portuguesa de Críticos) por O Ano da Morte de Ricardo Reis
Prêmio Dom Dinis por O Ano da Morte de Ricardo Reis, 1986
Grande Prêmio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores O Evangelho Segundo Jesus Cristo, 1992
Prêmio Consagração SPA (Sociedade Portuguesa de Autores), 1995
Prêmio Camões, 1995
―Na Itália
Prêmio Grinzane-Cavour por O Ano da Morte de Ricardo Reis, 1987
Prêmio Internacional Ennio Flaiano por Levantado do Chão, 1992
―Na Inglaterra
Prêmio do jornal The Independent por O Ano da Morte de Ricardo Reis, 1993

Demais prêmios internacionais
Prêmio Internacional Literário Mondello (Palermo), pelo conjunto da obra, 1992
Prêmio Literário Brancatti (Zafferana/Sicília), pelo conjunto da obra, 1992
Prêmio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores (APE), 1993
Prêmio Consagração SPA (Sociedade Portuguesa de Autores), 1995
Prêmio Nobel da Literatura, 1998
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Notícia publicada no site Vi o Mundo em 18 jun 2010. In http://www.portugues.seed.pr.gov.br

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quinta-feira, 17 de junho de 2010

Uma conversa sobre sexualidade e drogas

Não é tão simples: falar de sexo e drogas é tarefa difícil para muitos educadores. Além disso, além do conhecimento do conteúdo e metodologia – que você vai encontrar acessando os módulos no site indicado abaixo – exige dos professores, uma reflexão sobre os mitos que estão presentes no tema e como abordar este assunto, principalmente, quando inserido numa comunidade violenta, dominada pelo tráfico. Uma realidade em praticamente todo Brasil.

Se você é um educador, ou quer saber mais sobre o assunto, acesse [e cadastre-se para receber gratuitamente módulos mensais com conteúdos sobre o tema] no Programa Ato, da Bayer Schering Pharma:

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http://www.programa-ato.com.br/educadores/index.php

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The death and life of the great american school system

De volta ao começo

Diane Ravitch, antes uma das principais defensoras dos métodos do mundo corporativo na educação, reavalia sua posição e diz que incentivos e sanções não constituem o melhor caminho para as políticas públicas.

Beatriz Rey


Na Flórida, professores protestam contra uma lei que atrela o aumento de salário ao desempenho dos alunos em exames estaduais.

O meio acadêmico norte-americano, em especial aquele voltado às políticas públicas para a educação, acaba de ser sacudido por uma bomba de longo alcance. Em seu novo livro, resultado de pesquisas e de sua atuação na condução de políticas educacionais, Diane Ravitch, professora do Departamento de Educação na Universidade de Nova York, faz uma espécie de demolição crítica dos modelos de accountability e choice (responsabilização e escolha livre) adotados por estados americanos nas duas últimas décadas. Lançado em março, The death and life of the great american school system - How testing and choice are undermining education (A morte e a vida do grande sistema escolar americano - como avaliação e escolha estão minando a educação) foi escrito a partir da experiência educacional de 40 anos da autora e desconstrói práticas como a privatização e o fechamento de escolas, os testes padronizados e as punições por mau desempenho, entre outras.

A crítica ganha mais relevância pelo histórico da pesquisadora: Ravitch foi secretária-adjunta de Educação e conselheira do secretário de Educação Lamar Alexander durante a administração de Bush pai, entre 1991 e 1993. O ex-presidente Bill Clinton indicou-a para o National Assessment Governing Board, entidade responsável pelo controle dos testes federais. Ironicamente, foi uma das grandes defensoras e responsáveis pela disseminação de políticas que envolvem testes padronizados e bonificação por desempenho. Isso até meados de 2006, quando uma avaliação do programa No Child Left Behind (NCLB) a fez mudar de ideia..

Antes de endossar as políticas de eficiência e desempenho, a educadora pregava em seus artigos acadêmicos a construção de um currículo mínimo estadual que integrasse história, geografia, literatura, artes, ciências sociais e humanidades. Em 1985, participou da elaboração de uma proposta de currículo na Califórnia, estado que seria o primeiro a exigir que todos os alunos tivessem três anos de história mundial e três anos de história norte-americana. A investida em história e literatura visava suprir uma perda da memória cultural no país, percebida por ela na mesma época. Quando chamada a trabalhar na administração federal, encontrou pessoas que consideravam o sistema educacional público obsoleto. Por ser controlado pelo governo, estaria imerso em burocracia. As decisões centralizadas estariam impedindo o avanço do desempenho escolar..

A nova proposta era simples: levar as práticas coorporativas para dentro das escolas. Escolas e professores passariam a ser julgados pelo desempenho de seus alunos em testes padronizados. Quando o desempenho fosse satisfatório, professores, diretores e, em alguns casos, a equipe escolar receberiam bônus. Quando não, as escolas seriam fechadas, assim como são fechadas as empresas que não geram lucros. Para substituir as escolas fechadas, o governo investiria em charter schools, instituições que recebem um alvará dos governos estaduais para operar com recursos privados. Em troca de autonomia, as charter se comprometem a alcançar uma série de metas em um determinado período.

O frenesi pela responsabilização se instalou de vez nos EUA com a aprovação da lei No Child Left Behind (NCLB), em 2003. Defendida por George W. Bush e apoiada por republicanos e democratas, a lei instituiu o que Ravitch chama de punitive accountability (responsabilização punitiva). Escolas poderiam ser fechadas.
Estudantes poderiam pedir transferência de escolas ruins. Professores seriam culpados pelo mau desempenho de seus alunos. A rede de escolas seria regulada pela "mão invisível do mercado".

O problema, diz a professora, é que a mão invisível do mercado não agiu como o previsto. No dia 30 de novembro de 2006, Ravitch participou de uma conferência no American Enterprise Institute, em Washington, em que analisou dois aspectos específicos da NCLB: a possibilidade de os alunos pedirem transferência de escolas ruins e a oferta de aulas após o período escolar. Os resultados levaram-na a perceber que a lei era um fracasso. Até aquele momento, menos de 5% dos alunos haviam pedido transferência para uma escola de outro bairro, mesmo com o transporte gratuito e a promessa de uma escola melhor. A lei também criava a possibilidade de empresas privadas oferecerem aulas após o período escolar, mas apenas 7% das crianças elegíveis ao programa participavam das aulas. No Colorado, o percentual era de 10% e no Kentucky, 9%. No país, 80% dos alunos não estavam inscritos nas aulas. Naquele dia, Ravitch chegou a uma conclusão. "Percebi que incentivos e sanções não são as maneiras certas de melhorar a educação. Podem funcionar para empresas, em que o lucro é a prioridade máxima, mas não para as escolas", relata.

Os testes padronizados

Com a aprovação da lei NCLB, muitos pais e educadores protestaram contra a ênfase da nova política nos testes. Mas, segundo a professora, o problema não eram os testes, e sim "a crença de que eles poderiam identificar quais estudantes deveriam ser retidos, quais professores e diretores deveriam ser demitidos ou recompensados e quais escolas seriam fechadas", escreve. Os testes, afinal, não são instrumentos precisos de avaliação. As questões podem ser malformuladas, e as respostas ambíguas - há sempre uma margem de erro. Além disso, o desempenho do estudante pode ser afetado pelo estado emocional e distrações dentro ou fora da sala de aula. Troca-se a ideia de processo pela de resultado.

A fixação nos exames trouxe consequências graves para o sistema educacional norte-americano. Como os resultados das provas definiam o destino de professores e escolas, muitas redes acabaram desenvolvendo
truques para que mais alunos fossem aprovados. Também não era incomum encontrar escolas que deixavam seus estudantes colar durante os exames - casos assim aconteceram em cidades como Houston e Dallas, no Texas. Outra prática adotada por diretores era a exclusão dos alunos com baixo potencial acadêmico em sua instituição. Para isso, exigiam cartas de recomendação de ex-professores e a entrega de redações, que explicassem os motivos pelos quais gostariam de frequentar a escola. Houve casos de diretores que limitaram o número de alunos cuja primeira língua não é o inglês ou que têm necessidades especiais.

Os governos estaduais também tentaram inflar o número de alunos com alto nível de proficiência. Segundo Ravitch, departamentos estaduais de educação silenciosamente alteraram os níveis de proficiência. É o caso da cidade de Chicago, no Illinois. Entre 2004 e 2008, a proporção de alunos de 8ª série que alcançaram proficiência em leitura passou de 55% para 76%. Em matemática, o salto foi de 33% para 70%. Um estudo conduzido pelo Civic Committee of the Commercial Club de Chicago apontou que as melhoras refletem mudanças nos procedimentos dos exames e não na aprendizagem. Isso porque, em 2006, o estado havia contratado uma nova empresa de testes, que alterou as faixas de proficiência.


O problema das variáveis

Ravitch identifica outros problemas crônicos gerados pelo sistema de responsabilização.Um deles é que as redes passaram a investir milhões de dólares em programas que ensinam os alunos a entender os tipos
específicos de perguntas que apareceriam nos testes estaduais. Assim, os alunos dominam a tarefa de fazer exames, mas não dominam as disciplinas em si. "A aquisição de conhecimento e habilidades passa a ser secundária. O que importa é que a escola e o estado sejam capazes de dizer que seus alunos adquiriram proficiência. Esse tipo de conduta ignora os interesses dos estudantes, enquanto promove os interesses dos adultos que levam créditos por melhorias inexistentes", aponta. A professora ainda pergunta: que valor tem um aluno que vai bem no exame de leitura se não consegue replicar o mesmo sucesso em outro tipo de teste ou transferir essa capacidade para um contexto ao qual não está acostumado?

Essa política também tira dos ombros dos próprios estudantes e de suas famílias a responsabilidade pelo desempenho acadêmico dos alunos. As crianças seriam meros receptores passivos, sujeitos à influência dos docentes. Em outras palavras, a única variável responsável pelo bom ou mau desempenho escolar é o desempenho docente. Se os alunos frequentam a escola regularmente, se fazem lição de casa, se prestam atenção nas aulas, não importa. O que importa é o nível de proficiência adquirido nos exames que avaliam apenas inglês e matemática. "Há algo fundamentalmente errado com um sistema que negligencia os diversos fatores que determinam o desempenho acadêmico em prol de um teste anual. Em vez de de levar em conta o próprio esforço do aluno, por exemplo, a responsabilização aposta no que os docentes fazem em sala de aula durante 45 minutos ou uma hora", escreve. Ao final de suas considerações, a professora faz um resgate de seu próprio passado. Lembra de quando era aluna do ensino médio. Sua professora de gramática e literatura, a que mais marcou sua vida acadêmica, foi Ruby Ratliff, uma docente respeitada, que amava sua disciplina e ensinava sobre caráter e responsabilidades pessoais. Se estivesse lecionando nos EUA de hoje, tanto sua grandeza como professora como sua habilidade de inspirar alunos para que mudassem suas vidas passariam em branco. Além de estar fora de moda, não poderiam ser medidos por testes padronizados.

Fonte: http://articles.latimes.com/2010/feb/28/entertainment/la-ca-diane-ravitch28-2010feb28

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Terceirização da educação

Shopping cria grife em escola pública


Montaram-se programas para a formação de professores e cada passo era avaliado por profissionais de fora da escola



FORMADO em administração pela Fundação Getulio Vargas, Carlos Jereissati Filho fez cursos de especialização em gestão, marketing e finanças dentro e fora do Brasil para dirigir a Iguatemi, uma rede de 16 shopping centers espalhados pelo país. Uma de suas mais férteis experiências de gestão, entretanto, está ocorrendo num local improvável. "Essa é uma aula que dificilmente eu teria em qualquer faculdade."
Essa aula de gestão vem ocorrendo a poucos metros do escritório de Carlos em São Paulo, num ambiente que nada tem a ver com o requinte asséptico das grifes de seus shoppings. Era um prédio cheio de goteiras, banheiros quebrados, vazamentos escorrendo pelas paredes, crianças comendo no chão devido à falta de cadeiras, paredes sujas.


Estimulado por amigos empresários ligados ao grupo Parceiros da Educação, ele resolveu, em 2007, fazer uma experiência de gestão na escola pública Luis Arrôbas Martins.

Naquele mesmo ano, recebeu do Fórum Econômico Mundial o título de Jovem Líder Global. Embora tivesse os mais variados problemas, a escola contava com uma grande vantagem: uma diretora (Deise Tannous) aberta à parceria e disposta a trabalhar, como gostam os empresários, com metas. "Até então, ainda não conhecia de verdade os dramas da educação pública."

Foram feitos os reparos mais básicos, como a instalação das lâmpadas e o conserto dos vazamentos, além da compra de cadeiras para nenhuma criança ficar no chão. Mais importante: montaram-se programas para a formação de professores. Cada passo era avaliado por profissionais de fora da escola.


Proporcionalmente, o resultado foi muito mais expressivo do que Carlos Jereissati encontraria em negócios -e, assim, ele está construindo uma grife. Na mais recente divulgação do índice de qualidade de ensino do governo de São Paulo, a escola ficou com a nota 6,12. De acordo com os padrões internacionais, essa nota significa que ela poderia estar num país desenvolvido.


A métrica educacional que Carlos teve de aprender ainda está longe de se disseminar por toda a rede paulista. A nota 6 é o que se espera para 2022. Mas, pelo menos, teve um impacto familiar.

Seus dois irmãos (Érika e Pedro) gostaram da experiência e estão à procura de colégios públicos, abertos a parcerias com empresários.


PS- Coloquei o detalhamento da experiência no www.catracalivre.com.br

gdimen@uol.com.br

domingo, 13 de junho de 2010

Construindo a igualdade de gênero

CONCURSO DE REDAÇÕES, ARTIGOS CIENTÍFICOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS

Inscrições de 1º de junho a 15 de setembro de 2010

Você considera que brancas/os e negras/os têm as mesmas condições de vida?

Você já percebeu que muitas vezes mulheres e homens ocupam lugares diferentes na sociedade?

Você já refletiu sobre o lugar da mulher na sociedade brasileira?

Você já pensou sobre essas questões?

Esses temas são trabalhados na sua escola?

Essas indagações buscam por respostas através de textos, artigos e ações pedagógicas que integram a sexta edição do prêmio “Construindo a Igualdade de Gênero”, lançado no início de junho. A seleção tem o objetivo de ampliar a reflexão sobre as condições de desigualdades ainda existentes entre mulheres e homens brasileiros, apontando para as possibilidades de transformação desta realidade.

Serão premiadas redações de estudantes do ensino médio, projetos e ações pedagógicas de escolas e artigos científicos de estudantes de graduação e graduados, especialistas, mestres e mestrandos e doutores e doutorandos. Todos os trabalhos devem ter a igualdade de gênero como tema central.

O prêmio é mantido pela Secretaria de Políticas para as Mulheres, Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

A iniciativa integra o conjunto de ações do “Programa Mulher e Ciência”, que busca estimular a produção científica e a reflexão crítica a respeito das desigualdades entre mulheres e homens.

O concurso de redações, artigos científicos e projetos pedagógicos sobre a questão de gênero irá receber inscrições até o dia 15 de setembro.

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Para saber mais clique aqui.

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O analfabeto político

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O pior analfabeto
É o analfabeto político,
Ele não ouve, não fala,
Nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe o custo da vida,
O preço do feijão, do peixe, da farinha,
Do aluguel, do sapato e do remédio
Dependem das decisões políticas.
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O analfabeto político
É tão burro que se orgulha
E estufa o peito dizendo
Que odeia a política.
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Não sabe o imbecil que,
da sua ignorância política
Nasce a prostituta, o menor abandonado,
E o pior de todos os bandidos,
Que é o político vigarista,
Pilantra, corrupto e lacaio
Das empresas nacionais e multinacionais.

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Bertolt Brecht foi ensaista, poeta e dramaturgo (1898-1956)

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sexta-feira, 11 de junho de 2010

A antítese na redação dissertativa

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Esquema de uma dissertação com antítese:

1) Tema

2) Tese

3) Prova

4) Antítese:Conclusão (síntese)

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Como incluir a contra-argumentação numa dissertação argumentativa:

A dissertação argumentativa começa com a proposição clara e sucinta da idéia que irá ser comprovada, a TESE. A essa primeira parte do texto dissertativo chamamos de introdução. A segunda parte, chamada desenvolvimento, visa à apresentação dos argumentos que comprovem a tese, ou seja, a PROVA. É costume estruturar a argumentação em ordem crescente de importância, como foi explicado no início desta lição, a fim de prender cada vez mais a atenção do leitor às razões apresentadas. Essas razões baseiam-se em provas demonstráveis através dos fatos-exemplo, dados estatísticos e testemunhos. Na dissertação argumentativa mais formal, o desenvolvimento apresenta uma subdivisão, a ANTÍTESE, na qual se refutam possíveis contra-argumentos que possam contrariar a tese ou as provas. Nessa parte, a ordem de importância inverte-se, colocando-se, em primeiro lugar, a refutação do contra-argumento mais forte e, por último, do mais fraco, com o propósito de se depreciarem as idéias contrárias e ir-se, aos pontos, refutando a tese adversa,ao mesmo tempo em que se afasta o leitor ou ouvinte dos contra-argumentos mais poderosos. Na última parte, a conclusão, enumeraram-se os argumentos e conclui-se, reproduzindo as tese, isto é, faz-se uma SÍNTESE. Além de fazer uma síntese das idéias discutidas, pode-se propor, na conclusão, uma solução para o problema discutido.

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Veja o exemplo abaixo:

Tema: Vestibular, um mal necessário.

Tese: O vestibular privilegia os candidatos pertencentes às classes mais favorecidas economicamente.

Prova: Os candidatos que estudaram em escolas com infra-estrutura deficiente, com as escolas públicas do Brasil, por mais que se esforcem, não têm condições de concorrer com aqueles que frequentaram bons colégios.

Antítese: Mesmo que o acesso à universidade fosse facilitado para candidatos de condição econômica inferior, o problema não seria resolvido, pois a falta de um aprendizado sólido, no primeiro e segundo grau, comprometeria o ritmo do curso superior.

Conclusão (síntese): As diferenças entre as escolas

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quarta-feira, 9 de junho de 2010

BULLYING: A batalha das palavras boas contras as palavras más

“Se soubesse que o mundo se desintegraria amanhã, ainda assim plantaria a minha macieira. O que me assusta não é a violência de poucos, mas a omissão de muitos. Temos aprendido a voar como pássaros, a nadar como peixes, mas não aprendemos a sensível arte de vivermos como irmãos” Martin Luther King.

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A palavra pertence à língua inglesa e tem significado abrangente em português. Embora a tradução mais precisa seja “intimidação”, vale lembrar que o termo tem na sua raiz a palavra bully.

A Associação Brasileira Multiprofissional de proteção à Infância e à Adolescência - ABRAPIA, num de seus documentos define bullying como “todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s), causando dor e angústia, e executadas dentro de uma relação desigual de poder”.

O termo, adotado em vários países, vem definir todo o tipo de comportamento agressivo, intencional e repetido às relações interpessoais.

Ofender, zoar, gozar, humilhar, discriminar, excluir, isolar, ignorar, intimidar, perseguir, assediar, aterrorizar, amedrontar, tiranizar, dominar, bater, chutar, empurrar, ferir, roubar e quebrar pertences são comportamentos típicos do fenômeno bullying.

Os primeiros resultados sobre o diagnóstico do “Bullying” foram informados por Olweus em 1989 já mostrando que 1 em cada 7 estudantes já estava envolvido com situações de bullying.

Exatamente em 1993, Olweus publicou o livro “Bullying at School”. Essa obra deu origem a primeira campanha nacional anti-bullying nas escolas norueguesas. Foram pesquisas abrangentes e profundas, atingindo escolas, pais, professores e alunos, reduzindo em 50% os casos de Bullying nas escolas.

O programa de intervenção proposto por Olweus, desenvolvia regras claras contra o bullying nas escolas. Alcançar um envolvimento por parte dos professores e pais e aumentar a conscientização do problema.

Para Peter Randal, o “bully” conquista algo que quer. Às vezes é a extorsão de algo de valor, como sua propriedade ou seu direito a férias ou mesmo vagas de estacionamentos.

O filósofo Pierre Bourdier, que trabalhou muito com o social, deixa bem claro que essa violência coage a pessoa, criando situação onde o indivíduo sofre muito. Sofre agressões físicas, morais, de raça, gênero etc., sempre inferiorizando o outro. O bullying se enquadra nisso, pois trata-se de uma humilhação constante.

Apesar da frase de efeito que ouvimos desde crianças, “paus e pedras quebram meus ossos, mas palavras não me atingem”, ser vítima de bullying com certeza atinge, e muitas vezes são letais.

As vítimas do bullying e aqueles que testemunham se tornam mais propensos ao abuso do álcool e drogas. Essas são conclusões do estudo publicado na edição de dezembro de 2009 do periódico Psychology Quarterly.

Diz Rivers: “No caso daqueles que apenas testemunhamos atos os níveis de estresse podem ser reflexo da antecipação do fato de que, se um amigo foi vítima, o próximo da lista pode ser ele”.

No Brasil, parece que as pesquisas sobre bullying começaram no Rio Grande do Sul, com a professora Marta Canfield, professora da Universidade Federal de Santa Catarina. Recentemente (2002 e 2003), em São José do Rio Preto- SP, uma pesquisa envolvendo cerca de 2.000 alunos, em oito escolas das redes pública e particular, revelou que 49% dos entrevistados estavam envolvidos com o bullying.

Ainda pouco estudado no Brasil e quase totalmente desconhecido pela comunidade jurídica, o fenômeno bullying começa a ganhar espaço nos estudos desenvolvidos por pedagogos e psicólogos ligados às instituições de ensino, a partir de meados da década de 1990.

O bullying é um problema mundial, sendo encontrado em toda e qualquer escola, não estando restrito a nenhum tipo específico de instituição primária ou secundária, pública ou privada. As escolas que não admitem a ocorrência do fenômeno entre seus alunos ou desconhecem o problema ou se negam a enfrentá-lo.

Ações e comportamentos excessivos de crianças e adolescentes no ambiente escolar, ainda ignorados ou tratados como “normais” por pais e professores, tornaram-se um grande problema do século XXI. Em um primeiro momento, podem parecer comportamentos agressivos que ocorrem nas escolas e que são tradicionalmente admitidos como naturais. Para alguns, atitudes inerentes ao “amadurecimento” de crianças e adolescentes; para outros, ações de profundo desrespeito ao próximo e que carecem de análise.

Ao aprofundarmos nossa reflexão, veremos claramente que o bullying, fenômeno cruel e silencioso, não traz somente consequências negativas para o ambiente escolar. O fenômeno bullying é um problema mais sério do que se pensa.

Para o Promotor de Justiça de Minas Gerais Lélio Braga Calhau, o fenômeno estimula a delinquência, induzindo as outras formas de violência explícita aptas a produzir, em larga escala, “cidadãos estressados, deprimidos e com baixa auto-estima, capacidade de auto-afirmação e de auto-expressão, além de propiciar o desenvolvimento de sintomatologias de estresse, de doenças psicossomáticas, de transtornos mentais e de psicopatologias graves”.

As estatísticas vindas de estudos realizados por pediatras, pedagogos e psicólogos mostram números cada vez mais preocupantes de tal prática em nossas instituições de ensino.

A responsabilidade jurídica diante do comportamento agressivo de estudantes (humilhar, discriminar, ofender, intimidar, perseguir, etc.).

Em decisão inédita proferida pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal, os desembargadores, por unanimidade, condenaram uma instituição de ensino a indenizar moralmente uma criança pelos abalos psicológicos decorrentes de violência escolar praticada por outros alunos, tendo em vista a ofensa ao Princípio Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana.

Não obstante outras decisões envolvendo violência escolar têm-se esta como decisão pioneira, eis que relatou abertamente um fenômeno estudado por médicos e educadores em todo o mundo - o bullying.

Na decisão proferida pelo TJDFT, nos termos do artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor, a responsabilidade civil das escolas por defeito na prestação de serviço é objetiva.

Nesses termos, importante considerar que a entidade de ensino é investida no dever de guarda e preservação da integridade física e psicológica do aluno, com a obrigação de empregar a mais diligente vigilância, objetivando prevenir e evitar qualquer ofensa ou dano decorrente do convívio escolar.

Considerando que o estabelecimento de ensino não atentou para o papel da escola como instrumento de inclusão social, a condenação foi de rigor.

Não existe uma legislação específica tratando do tema, cabendo ao Judiciário aplicar as regras e sanções previstas na Constituição Federal, Estatuto da Criança e do Adolescente, no Código Penal, por exemplo.

Reduzir a prevalência de bullying nas escolas pode ser uma medida de saúde pública altamente efetiva para o século XXI.

Segundo Jane Middelton-Moz e Mary Lee Zawadski, “Para reduzir os incidentes desse tipo em nossos bairros e comunidades, deve haver um aumento significativo no nível de consciência acerca do bullying que está acontecendo ao nosso redor. Se permitirmos que este fenômeno crie raízes e desabroche em nossas escolas, casas, locais de trabalho, bairros e na sociedade em geral, ele acabará por causar ainda mais medo, abandono aprendido, opressão e mágoa”.

Nossa falta de consciência costuma fazer com que sejamos surdos e cegos em relação à dor vivenciada pela juventude e, como resultado disso, nossos jovens muitas vezes se tornam prisioneiros de sua tristeza e depressão. “Os que tentaram suicídio frequentemente nos dizem que não tentaram se matar porque queriam estar mortos, e sim porque não queriam continuar vivendo como estavam vivendo.”

Um menino de 14 anos que havia sido vítima de bullying por algum tempo e cometeu suicídio para escapar à dor, deixou o seguinte bilhete à sua mãe: “Eu poderia pegar uma arma e atirar em todos os meninos, mas não sou uma pessoa má. Também não vou dizer quem são os bullies. Você sabe quem eles são. Eu ria por fora e chorava por dentro. Mãe, depois da minha morte, vá até a escola e fale com os meninos. Diga para que parem com o bullying uns sobre os outros, pois isso machuca, profundamente. Estou tirando minha vida para mostrar o quanto machuca” (Moharib, 2000).

Os bullies têm poder porque lhes damos esse poder por meio de nossa apatia e do nosso silêncio.

Lemos sobre eles em nossos jornais, vemos rostos das vítimas em nossos aparelhos de TV, testemunhamos sua existência em nossas vidas cotidianas e, sim, vivenciamos esses fatos em primeira mão. Minimizar a extensão do problema nos permitiu fingir que não é conosco, ficar em silêncio, e isso faz aumentar nossa crença de que nada podemos fazer a respeito.

Muito cedo, as crianças são classificadas e confinadas em subgrupos ou panelinhas nas escolas e nos bairros, segundo aparência, interesses ou comportamento: “os populares”, “os atletas”, “os cabeças”, “os atletas”, “os esquisitos”, “os estranhos”, “os CDFs,”, “os rejeitados”, “os retardados”, “os ninguéns”, “as bichinhas”.

Em Real Boys Voices, Willian Pollack descreve as técnicas de sobrevivência que os meninos aprendem cedo para cumprir o “código dos rapazes” e essa máscara os meninos reprimem completamente sua vida emocional interior, e, em lugar dela, fazem o tipo valentão, tranquilo, desafiador, imperturbável, extravasando sua dor na forma de risadas. Eles podem se desenvolver fortes e silenciosos ou agredir com punhos e palavras beligerantes (Pollack e Shuster, 2000, p. 33).

Esperamos que “encontrem” uma resposta, quando a resposta está na consciência de que não se trata de “encontrarem” , e, sim, de “encontrarmos”.

Para encontrar uma solução, precisamos acordar, e depois acordar os outros que ainda estão dormindo. Precisamos fortalecer a nós mesmos, os nossos vizinhos e os nossos filhos.

Bullying: minha, sua, nossa responsabilidade!

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Kathia Mattos, advogada, inscrita na OAB sob o nº 4836/ES, atua no Estado do Espírito Santo há mais de 24 anos. Graduada em Direito pela Universidade Federal do Espírito Santo. Pós-graduada em Direito Público pela Faculdade Metodista do Espírito Santo.

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In: http://www.bullying-ciaatoresdemar.blogspot.com/

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