sábado, 19 de agosto de 2017
O existencialismo em Jean-Paul Sartre
A liberdade
Dostoievski escreveu: “Se
Deus não existisse, tudo seria permitido”.
Aí se situa o ponto de
partida do existencialismo.
Com efeito, tudo é
permitido se Deus não existe; fica o homem, por conseguinte, abandonado, já que
não encontra em si, nem fora de si, uma possibilidade a que se apegue. Antes de
mais nada, não há desculpas para ele.
Se, com efeito, a
existência precede a essência, não será nunca possível referir uma explicação a
uma natureza humana dada e imutável; por outras palavras, não há determinismo,
o homem é livre, o homem é liberdade.
Se, por outro lado,
Deus não existe, não encontramos diante de nós valores ou imposições que nos
legitimem o comportamento. Assim, não temos nem atrás de nós nem diante de nós,
no domínio luminoso dos valores, justificações ou desculpas. Estamos sós e sem
desculpas.
É o que traduzirei
dizendo que o homem está condenado a ser livre. Condenado porque não se criou a
si próprio; e, no entanto, livre porque, uma vez lançado ao mundo, é
responsável por tudo quanto fizer.
O existencialista não
crê na força da paixão. Não pensará nunca que uma bela paixão é uma torrente devastadora
que conduz fatalmente o homem a certos atos e que, por conseguinte, tal paixão
é uma desculpa.
Pensa, sim, que o homem
é responsável por essa sua paixão.
O existencialista não
pensará também que o homem pode encontrar auxílio num sinal dado sobre a Terra,
e que o há de orientar; porque pensa que o homem decifra ele mesmo esse sinal
como lhe aprouver.
Pensa, portanto, que o
homem, sem qualquer apoio e sem qualquer auxílio, está condenado a inventar o homem.
Sartre, O existencialismo
é um humanismo
*
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