quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
A gente passa, os livros ficam
É difícil entender o que leva alguém a doar uma vida aos livros, mas se pararmos para pensar em alguma razão suficiente para motivar a procura por livros durante uma vida inteira, talvez a socialização deste acervo seja mesmo a única resposta. Falo de uma vida de livros, e não de uma vida de literatura, pois José Mindlin precisava da materialidade literária. A experiência da leitura é irreprodutível fora do objeto livro. Alguém que, como ele mesmo dizia, quisesse “espalhar o vírus da leitura”, precisava deter esses pequenos universos condensados.
No ano passado, a morte do bibliófilo José Mindlin suscitou um grande interesse por sua vida e pelo belo processo de formação de seu acervo. Foram oito décadas dedicadas à garimpagem de livros raros pelo mundo todo. Muitas de suas aventuras nestas viagens e outras histórias estão registradas no “Uma vida entre livros - reencontro com o tempo” (Edusp). O livro, de 1996, foi uma sugestão de seu amigo Antonio Candido, ele julgava que a vida do “devorador de textos” (como diz o professor no prefácio, mais que um colecionador, Mindlin era alguém que devorava textos) era tão interessante que valia um memorial bem divertido e leve de ler, tão acessível para o leitor quanto os livros da biblioteca de Mindlin viriam a ser no futuro. Podemos dizer, seguramente, que o projeto deu certo. Comecei o livro para escrever esta pequena resenha e não consegui parar mais, a impressão que temos é a de que estamos sentados em uma das várias cadeiras confortáveis de sua biblioteca tomando um chá com Mindlin e escutando de olhos fechados suas histórias. É de uma simplicidade literária muito atraente e saborosa, como os livros que ele gostava de ler. Logo no começo, Mindlin fala que a motivação de sua leitura sempre foi o prazer, e que, salvo algumas raras exceções, nunca gostou de livro difícil. Este não foi o único livro de sua autoria. Em 2008 a Editora Ática publicou “Reinações de José Mindlin - por ele mesmo”, um livro infanto-juvenil que traz uma outra série de lembranças de sua infância bastante relacionadas com momentos históricos importantes, sempre com a intenção de criar no leitor a paixão pela leitura que o conduziu durante toda sua vida.
Passado quase um ano de sua morte, os pesquisadores, professores e alunos esperam ansiosamente pela inauguração da Biblioteca Brasiliana, um prédio localizado no coração da USP que abrigará mais de 17 mil títulos (40 mil volumes), dentre eles 10 mil obras raras e cerca de 2 mil raríssimas. O acervo também será disponibilizado digitalmente, por meio de um moderno sistema de organização de documentação científica, para que sejam acessíveis pela internet.
Para maiores informações e consulta aos títulos que já estão disponíveis, vale a pena acessar o site da Biblioteca Brasiliana: www.brasiliana.usp.br .
Bianca Borgianni
http://escrevendo.cenpec.org.br
Publicado em: 21/01/2011
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