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Veja o seguinte tema: " a moral e a ciência são contraditórias?". Uma "dissertação-modelo" elaborada por especialistas com o propósito de demonstrar uma das múltiplas formas possíveis de abordagem do tema em questão e para exemplificar um modo pelo qual um eventual vestibulando pudesse abordar o tema.
Atenção: o texto que se segue, em hipótese alguma, é uma forma única de se escrever sobre o assunto; ele é simplesmente um modelo, uma sugestão.
TÍTULO: O REDESPERTAR DOS MONSTROS
Ao longo do pensamento Iluminista*, que caracterizou os Tempos Modernos, o homem ocidental tinha absoluta certeza de que a Razão e a Ciência livrariam a humanidade das doenças, da ignorância e da opressão. Acreditava-se num progresso linear: o mundo de então era mais humano e generoso do que a Idade Média, e o futuro realizaria o paraíso sobre a Terra. Encantado com a Ciência, o homem moderno acreditava que as realidades natural e social eram plenamente racionais e a razão humana poderia apreender a lógica inerente ao Mundo. Não havia mais mistérios, só questões que ainda não compreendíamos, mas compreenderíamos um dia. O conceito antropológico* então reinante pode ser resumido pela máxima de Descartes: "penso, logo existo". Aqui se firmava a noção de que a essência do ser humano é a racionalidade, a grande barreira contra a barbárie.
Trágico engano! O séc. XX, marcado por um rápido e extraordinário desenvolvimento científico, também foi palco dos mais infames crimes contra a humanidade até hoje conhecidos. O desenvolvimento de armas de destruição maciça, as grandes guerras e os campos de extermínio, onde eram realizadas bárbaras "experiências científicas" com inocentes "cobaias" humanas, ocupam, infelizmente, um espaço destacado na história do nosso tempo. Mais grave ainda, todas essas violações dos direitos humanos ocorreram numa escala jamais vista pelo uso de técnicas científicas e administrativas geradas pela Modernidade. O Iluminismo, ingenuamente, acreditou que o progresso científico tivesse apenas uma dimensão: a de beneficiar a humanidade; hoje sabemos que ele é uma "faca de dois gumes", pois permite construir coisas belas e também as destruir de forma apocalíptica.
A atual descrença quantos aos valores da Razão, hoje um conceito em crise, vem provocando um perigoso irracionalismo no mundo ocidental: individualismo radical, perda de valores, crenças e rituais esotéricos e o gosto pela violência, tudo isto ampliado pelos meios de comunicação. Cada vez mais, desconfia-se do Progresso, teme-se o futuro e proliferam saudosos suspiros por um passado idealizado. Ideologias da barbárie, como o nazi-fascismo, que acreditávamos mortas, hoje renascem nas deformadas mentes dos "skinheads" e nas ainda constantes "limpezas étnicas".
O Iluminismo tinha uma visão limitada e restrita da Razão, pois não compreendia os aspectos mágicos e anímicos* do ser humano. Isso não invalida a necessidade de uma visão racional do mundo. O que deve ser buscado é um novo e mais abrangente racionalismo, que não submeta o homem às determinações de uma ciência aética e a uma técnica fria e opressiva. O irracionalismo, do tipo que hoje grassa, é fator da barbárie, pois como bem observou o pintor espanhol Goya, "o sono da Razão desperta os monstros".
GLOSSÁRIO
ILUMINISMO: pensamento de origem européia, entre os sécs. XVI e XIX, caracterizado pela crença radical no método científico, na inteligibilidade do mundo e na capacidade da técnica de transformar a realidade;
ANTROPOLOGIA: disciplina que tem por objeto o estudo das culturas (hábitos, ritos, técnicas, etc.) das diversas comunidades humanas;
ANÍMICO: o que se refere à "alma", aos "processos psíquicos", "espírito";
GRASSAR: espalhar.
Um comentário:
Juarez Firmino, esse professor é nota 10 pela dedicação incondicional à alunos, onde só busca a satisfação das pessoas sem nenhuma vantagem!!!
Parabéns pelo seu empenho professor...
Obrigado...
Wilson Luiz de Ávila Júnior
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