O que dizem os especialistas sobre a estratégia do ex-governador para evitar os ‘erros’ linguísticos observados no discurso da campanha de 2002 e alcançar êxito no pleito. Para ler o artigo na íntegra, acesse http://veja.abril.com.br/210410/com-casa-ordem-serra-vai-luta-p-062.shtml
A estratégia de campanha de José Serra à Presidência
Fragmentos
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Na forma, o discurso do ex-governador de São Paulo foi sensivelmente diferente daquele que ele proferiu em 2002, na primeira vez em que se candidatou a presidente. Naquela ocasião, ainda ministro da Saúde, discorreu de forma técnica e preocupou-se, sobretudo, em elencar seus feitos como homem público. Desta vez, preferiu apelar para a emoção: "Venho hoje, aqui, falar do meu amor pelo Brasil; falar da minha vida; falar da minha experiência; falar da minha fé; falar das minhas esperanças no Brasil", disse. Segundo três linguistas consultados por VEJA, ao entrelaçar sua história pessoal à do país, ele se aproxima de seus ouvintes. O uso mais frequente de metáforas e imagens, afirmam os especialistas, ajuda a produzir o mesmo efeito. "Num determinado trecho, ele diz que governos, como as pessoas, têm alma. A personificação é eficaz porque as pessoas compreendem o mundo em grande parte através de referências físicas", explica Lilian Ferrari, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Um estudo americano, publicado em 2001 na Administrative Science Quarterly, analisou discursos de presidentes americanos, de George Washington a Ronald Reagan, e descobriu que o carisma atribuído a um político está diretamente relacionado ao número de palavras de um determinado gênero que ele usa em seus discursos. Aquelas que evocam imagens, sons, gostos e outras sensações, diz o estudo, atingem mais fácil e imediatamente os ouvintes do que as que exprimem conceitos. Assim, "suor" é mais eficaz do que "esforço" e "mão" é mais forte do que "ajuda". Serra parece ter aprendido a lição.
No discurso com o qual se lançou, Serra refutou a narrativa petista de que o Brasil só começou a ser construído em 2003, com a chegada de Lula ao poder. Disse que o momento positivo que o Brasil vive hoje se deve às conquistas obtidas por toda a sociedade desde o fim do regime militar, sobretudo à Constituição de 1988. Criticou a política externa brasileira e a sua inclinação para sustentar regimes autoritários, como os de Cuba e do Irã, e reservou boa parte da fala para condenar a estratégia petista de estimular uma disputa entre pobres e ricos na sociedade. "Não aceito o raciocínio do nós contra eles. Não cabe na vida de uma nação. Somos todos irmãos na pátria. Lutamos pela união dos brasileiros, e não pela sua divisão", disse. O tucano também criticou o modo petista de governar, abrigando apaniguados em todas as engrenagens da máquina pública: "O Brasil pertence aos brasileiros que não dispõem de uma ‘boquinha’, que exigem ética na vida pública porque são decentes, que não contam com um partido ou com alguma maracutaia para subir na vida". Por fim, repisou o slogan que deverá dar o tom da sua campanha, "O Brasil pode mais". Serra está decidido a sublinhar suas diferenças em relação ao PT, mas sabe que não levará vantagem colocando-se como o "candidato da mudança", como fez Lula em 2002 ou Barack Obama, nos Estados Unidos, em 2008. Por isso, pretende insistir no raciocínio segundo o qual o Brasil melhorou muito desde a redemocratização, e ele, José Serra, é o mais preparado para dar continuidade a esse ciclo virtuoso.
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