Esse pão que você jogou no canto
Demorou tanto
Demorou tanto até chegar a você
Por quê?
Porque houve a semente do trigo,
Houve a terra, o plantio amigo,
O zelo, o crescimento,
O embalo do vento,
Células se multiplicando,
Chuva, sol irradiando,
Por fim a colheita.
O suor, os maços,
O carregamento, os passos,
Homens e máquinas juntos, dispersos
Um trigo quase feito em versos...
Ensacamento,
Viagem,
Venda,
Revenda,
Padaria...
E uma incontida alegria,
Milagre! Transformaram em massa.
E no tempo que passa
Não se reconhece o vegetal, o cereal antigo,
E o trigo
Evolui noutra forma,
Se transforma,
Vai pro forno,
Fica quente. Sai. Fica morno.
E de repente desponta no balcão
Com outro nome,
Sagrado nome, que mata a fome:
Pão!
E esse pão que você jogou no canto
Demorou tanto
Pra chegar à sua mão,
E depois de tal andança
É desprezado num segundo
Enquanto adultos e crianças,
— Um terço do mundo, —
Morrem por não tê-lo,
Por não vê-lo.
Esse pão que você jogou no canto
Demorou tanto...
Agora pense no arroz, na alface,
Na batata, no feijão,
Pense se tudo isso não desabrochasse
Prá chegar a sua mão,
E você come sem agradecer
Sem pensar, sem meditar,
Sem querer saber,
Sem oração,
Sem nada!
Pobres racionais que na corrida
Não olham as origens da vida
E não entendem a divina poesia
Do "Pão Nosso De Cada Dia"...
.
.
(Neimar de Barros)
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