"Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham, nem fiam. E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles".

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Sentimentos e diminutivos plurais

Alguns estudiosos apregoam que não se deve usar as palavras “saudades” e “ciúme” no plural, entretanto, como é muito comum o uso do plural nestes casos e considerando que a prática do uso da linguagem, assim como um organismo vivo,  constantemente passa por mudanças, podemos inferir que os sentimentos e disposições de espírito têm plural, sim: saudades, ciúmes, alegrias, felicidades, desgostos. Palavras como pêsames, parabéns e felicitações, por exemplo, eram originalmente usadas no singular (Meu Pêsame. Parabém! Receba nossa felicitação.), mas foram sendo substituídas pela forma plural.
Isto não que dizer que o singular não exista e não seja usado. Com efeito, os substantivos que exprimem noções abstratas, vícios e virtudes em geral têm seu emprego no singular: Quanta bondade! Queremos paz e harmonia. Tenho-lhe afeição. Sinto muita saudade. A felicidade é tudo na vida. Sua alegria é contagiante.
Contudo, é usual dizermos “Desejo-lhe felicidades” ou “Que as alegrias da juventude continuem por toda a vida”, assim com a flexão numérica, exatamente pela ideia de plural, de “momentos de alegria” e de “felicidade em muitas dimensões”.

Plural do substantivo diminutivo
A formação do diminutivo se faz por meio de sufixos, entre os quais (z)inho é o que tem mais vitalidade: pão – pãozinho; pá – pazinha; mão – mãezinha; coração – coraçãozinho; pastel – pastelzinho; colher – colherinha ou colherzinha; devagar – devagarzinho ou devagarinho; igual – igualzinho e assim por diante.
O plural dos diminutivos em zinho é formado acrescentando-se zinhos ao plural do substantivo primitivo menos o S:

- pá
- pás
- pa(s)zinhas
= pazinhas

- caracol
- caracóis
- caracoi(s)zinhos
= caracoizinhos

- pão
- pães
- pãe(s)zinhos
= pãezinhos

- coração
- corações
- coraçõe(s)zinhos
= coraçõezinhos

- igual
- iguais
- iguai(s)zinhos
= iguaizinhos

- carretel
- carretéis
- carretei(s)zinhos
= carreteizinhos

- mãe
- mães
- mãe(s)zinhas
= mãezinhas

- colher
- colheres
- colhere(s)zinhas
= colherezinhas

Contudo, com os substantivos terminados em R ou Z pode-se fugir à regra, eliminando-se o e intermediário. É mais comum falar e  escrever assim:
As colherzinhas são de plástico.
O buquê foi feito com botões de rosas e outras florzinhas brancas.
Instalaram uma porção de barzinhos à beira da praia.
Que rapazinhos educados!

Essas palavras também podem ter a formação usual, naturalmente: dorzinhas ou doreszinhas; amorzinhos ou amorezinhos; mulherzinas ou mulherezinhas.

Fonte:
(Adaptado do livro) PIACENTINI, Maria Tereza de Queiroz. Não tropece na língua: lições e curiosidades do português brasileiro. Curitiba: Bonijuris, 2012.


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