"Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham, nem fiam. E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles".

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

A escola sem paredes

O outro eu da escola

Quando entro,
a escola, pronta
as aulas, prontas
as atividades, prontas
os programas, prontos
a avaliação, pronta

Percebo, então
que um outro está ali
não eu!

Ao ingressar nessa escola
ao entrar nessa sala
ao aterrissar nesse currículo
descubro-me apenas isto:
um estranho, um hóspede
em qualquer hotel.

Nessa escola, a matrícula
não é a minha radiografia
é a ficha de hóspede
do hotel em que ingressei
como se fosse uma escola.

Por isso, quem está ali
não sou eu
não sou eu inteiro, integral

Quem está ali
é o outro, o que entrou
nas estatísticas da escola
mas não em suas aulas.

A escola não me recebeu
deixou entrar um outro
estranho, desconhecido
parecido comigo
mas bem distante de mim.

Eu o entrevejo
nos registros da escola
nas atividades da escola
mas não o vejo em meus registros
nem o encontro em minha vida.

Que bom seria se a escola
não me impusesse uma segunda natureza
me assistisse para eu mesmo me recriar.

Que bom seria se a escola
deixasse o outro lado
e me abraçasse, eu mesmo
em minha identidade inelegível.

CARNEIRO M. A.  A escola sem paredes. São Paulo: Escrituras Editoras, 2002.


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