quarta-feira, 20 de novembro de 2013
LATINISMOS: sui generis, pari passu, e.g., apud suso
Às
vezes ouvimos pessoas falando coisas como: “tal
situação foi sugênere”. Pois bem,
essa é uma expressão latina cuja grafia correta é sui generis e quer dizer “de seu próprio gênero”, ou seja, significa
que algo (fato, situação, caso) é único no gênero, é original, peculiar,
singular, excepcional, sem semelhança com outro. Diz-se então: “tal situação
foi sui generis”, “nunca vi disso: o
caso é sui generis”.
Existe também uma outra expressão latina
bastante instigante, pari passu,
cuja expressão equivalente em português é “a par e passo”. A locução adverbial pari passu quer dizer “em passo igual”,
que algo é levado no mesmo passo, no mesmo andar ou ritmo. Frase do escritor
José de Alencar: “Renasce a mãe no filho, volve à puerícia, para
simultaneamente com ele, a par e a passo, de novo percorrer a mocidade e a existência”.
Um bom exemplo atual é este encontrado num texto sobre História da
Educação: Os programas das escolas primárias acompanham a par e passo as transformações da Escola Normal.
Quanto
à expressão e.g. encontrada em livros
e textos, trata-se das letras iniciais da abreviatura da expressão latina “exempli
grata” e significa por exemplo. Também
se usa, para o mesmo caso, v. g., de
“verbi gratia”, que pode igualmente ser abreviado em português: p. ex.
A
palavra latina apud, ou sua
abreviatura ap., quando se faz uma
citação de segunda mão, isto é, a citação de uma citação. Em outras palavras,
ela se refere à transcrição ou à paráfrase de uma frase ou de um trecho de que
só se tomou conhecimento na obra de outro autor. Isso dá a entender que a
pessoa que transcreve a citação não leu o original, o que se justifica apenas
no caso de ser uma obra de difícil acesso. No corpo da tese ou dissertação se
faz, por exemplo, a seguinte indicação:
Ao
tratar desse tema, em 1945 já afirmava Einaudi, apud Bobbio (1992, p. 215), que
“os homens livres não devem renegar suas próprias razões de vida, renegar a
própria liberdade de que se professam defensores”.
E
nas referências bibliográficas só vai constar o autor do livro consultado/lido:
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos
(edição ampliada). Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
Para
os acadêmicos de Direito, pode causar estranhamento a palavra suso. Imaginemos uma sentença mais ou
menos assim: ...nos autos suso
mencionados. “Nos autos susomencionados” vale por “nos autos acima citados/
retromencionados/ supracitados/ susoditos ou sobreditos. O termo suso não é facilmente encontrável por
ser considerado “desusado, antigo”. Juntando o que dizem os cinco dicionários
(dos 19 consultados) em que se registra o elemento de composição suso, temos que se trata de preposição
e advérbio, do latim susum ou sursum, com o significado de “acima,
anteriormente, antes, atrás”. Observar que a grafia é sem espaço e sem hífen.
FONTE.
Adaptado de:
PIACENTINI, Maria Tereza de
Queiroz. Não tropece na língua: lições e
curiosidades do português brasileiro. Curitiba: Bonijuris, 2012.
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