"Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham, nem fiam. E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles".

sábado, 19 de dezembro de 2009

Escola ao Ar Livre

Num momento em que o caos urbano se instala em toda parte do País, o rural se torna um espaço de refúgio. Mas o discurso desse rural como garantia de qualidade de vida é secular, de acordo com a dissertação do mestre em educação física pela Unicamp André Dalben. Orientado pela professora Carmen Lúcia Soares, Dalben foi em busca da origem do discurso médico que sugere o ambiente ao ar livre como garantia de saúde. A descoberta foi a Escola ao Ar Livre, nascida na Europa no início do século 20 e proposta, na década de 1930, pelo então Departamento de Educação Física da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. A pesquisa foi apresentada por Dalben no Ciclo de Seminários do Laboratório de Estudos Urbanos (Labeurb) da Unicamp.
Dalben constatou que, no início do século 20, a criação da escola ao ar livre estava ligada ao surto de tuberculose. Além da escola, estavam entre as propostas de governo a temporada em colônias de férias e a construção de parques infantis em espaços urbanos. A ideia da colônia passava pelo discurso médico de que o contato com a natureza e os exercícios ajudariam a revigorar o corpo das crianças com problemas de desenvolvimento. As praias e as montanhas eram eleitas como os lugares mais adequados para o desenvolvimento da criança. “Os escolares considerados mais fracos e desnutridos eram enviados para uma temporada de 15 dias em Santos ou em Campos do Jordão”, acrescenta o pesquisador.
Além de proporcionar reforço à saúde das crianças, a experiência nas colônias incluía a cultura de hábitos higiênicos e a oferta de alimentação saudável, supervisionada por um profissional. Os parques infantis, oferecidos a crianças de séries inicias, eram construídos no espaço urbano, mais precisamente no Parque da Água Branca, onde funciona a Secretaria da Agricultura. As aulas eram assistidas em carteiras portáteis e o programa tinha como principal objetivo a prática de exercícios físicos.
A proposta da escola ao ar livre, de acordo com a dissertação, durou até a década de 1950. “Mas com o tempo isso foi se perdendo, até a escola se tornar a que conhecemos hoje”, diz Dalben. Na época em que a escola ao ar livre foi criada não existia o espaço da academia, do exercício feito debaixo de um teto e entre quatro paredes, mas, como acontece nos dias atuais, a realização das atividades em ambiente externo era uma forma da classe médica alertar para os problemas do crescimento da cidade.
Hoje, a área de turismo explora o rural como um lugar para fugir do estresse do caos urbano onde se encontra qualidade de vida. “Os médicos, na época, queriam alertar sobre os problemas da cidade. O que via no discurso médico era uma aversão a ambientes fechados, até mesmo pelo surto de tuberculose”, reforça Dalben. Na época, a escola cercada de cercas-vivas garantiria, na visão dos médicos a purificação do ar e o combate à tuberculose.
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