"Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham, nem fiam. E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles".

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Do que o aluno tem medo?!

O meu amigo Walterego me falava sobre a indisciplina nas escolas. Num tom alarmante e cético, dizia que a violência presente no ambiente escolar faz com que impere o medo. Os professores tornaram-se reféns dos alunos. O noticiário parece confirmar suas palavras.
No entanto, na universidade a indisciplina não chega a ser um grande problema. A reclamação mais comum se refere ao descompromisso dos alunos. Fala-se sobre a apatia em sala de aula, a não leitura dos textos indicados, as notas baixas nas avaliações e o desrespeito à autoridade docente (o entra-e-sai da sala de aula em qualquer momento, o não cumprimento dos horários, etc.).
De qualquer forma, parece-me que os alunos têm muito mais a temer dos seus professores do que estes deles. O que predomina neste ambiente é o poder professoral, um poder que angustia, estressa e silencia. A fonte desse poder é a nota, isto é, a autoridade para aprovar ou reprovar. O mau uso desse poder transforma a vida dos alunos num inferno dantesco.

Nestes casos, invertem-se os objetivos: os esforços para propiciar o aprendizado e a formação dos discentes são substituídos por uma espécie de sadismo professoral. O que dizer, por exemplo, de situações em que o docente se vangloria de ter reprovado quase que toda a turma? Ora, se a maioria dos meus alunos não aprende o conteúdo, o fracasso é meu e não deles. Na verdade, quem deveria ser reprovado é o docente. Mas a organização formal burocrática e o espírito de corpo protegem-no.
E o que pode fazer o aluno em tal situação? Imaginemos uma turma “X”, no primeiro ano de um curso universitário. Eles têm uma disciplina fundamental para sua formação e base para outras que terão que cursar. No entanto, a didática do professor é um fracasso e sua personalidade autoritária não permite contestação. Os alunos percebem, de antemão, que não irão bem na prova. Não sabem o conteúdo e, por medo, não perguntam ao professor. Calouros, desconhecem o “caminho das pedras” para reclamar. Alguns se revoltam, mas como a maioria, temem represálias. Eles entendem que se trata de uma luta entre forças desiguais. Os veteranos, reprovados na disciplina, e não são poucos, aconselham a silenciar; o melhor é “empurrar com a barriga e não comprar briga”, dizem. Se falarem, serão marcados; a obediência, o jogo do faz-de-conta, também não é muito promissor. Diante da reprovação, muitos desistirão do curso. Os que ficam, procuram estratégias adaptativas para superar o problema.
É uma experiência traumática que ilustra bem o poder do professor. Por que os alunos não agem coletivamente? Medo, claro! Mas também o individualismo restrito ao interesse de pegar o diploma. As formas de resistências são individualizadas enquanto estratégias pessoais de sobrevivência. São incapazes de se organizar como coletivo. E as panelinhas que formam também dificultam a ação comum.
Recordo de um exemplo diferente. A turma decidiu enfrentar a professora que, segundo eles, tinha atitudes desrespeitosas e autoritárias. Ela “conquistou” o desprezo da turma. Quando se dirigia à sala para cumprir o horário de aula, a mesma estava literalmente vazia: sem carteiras, cadeiras e alunos. A queda de braço extrapolou o âmbito departamental e terminou com a vitória dos alunos na mais alta instância universitária.
Isso mostra que nem todos professores aprovam as injustiças cometidas em nome do poder professoral. Revela também a necessidade dos alunos se organizarem. E, ainda, a exigência urgente de aprofundar a democratização das instâncias universitárias, para que o poder do professor encontre contrapesos e os alunos possam se fazer ouvir. É fundamental, sobretudo, superar o medo.

Fonte:http://antonio-ozai.blogspot.com

"O poder do professor”, de Wilson Correia, e “A relação professor/a e aluno/a no ensino superior”, de Marisa Valladares, publicados no blog Literatura Política e Sociedade.

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