domingo, 31 de maio de 2009
Você entrará em greve?
Em assembleia realizada na última sexta-feira, os professores da Rede Oficial de Ensino do Estado de São Paulo optaram por cruzar os braços reivindicando garantias de trabalho e melhores condições no exercício do magistério.
É imperativo que haja uma intensa mobilização para que esta decisão seja interpretada com clareza por todas as partes realmente envolvidas nos processos educacionais em nosso estado. Conversem com os amigos, enviem e-mails, publiquem em seus blogs, participem dos debates defendendo opiniões que possam enriquecer essa discussão.
.
Veja abaixo o meu posicionamento em relação a essa nova paralisação.
.
Em hipótese alguma entrarei em greve. Diante de tantos problemas que a educação enfrenta, mais uma vez os professores da Rede Pública Paulista anunciam entrar em greve acreditando ser essa ação a solução para nossos problemas, ou que chame a atenção para nossas inúmeras causas?
Acredito que, ao contrário, isso coloca a opinião pública acirradamente em oposição ao professor e suas reivindicações. Nessa guerra não lutarei, luto na sala de aula, no corpo a corpo da rotina escolar, luto me qualificando melhor, evoluindo profissionalmente na sala de aula.
.ONDE FICARÃO NOSSAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES ENQUANTO ESTIVERMOS EM GREVE ?
sexta-feira, 29 de maio de 2009
Sugestão de leitura
DESONRA
J.M. Coetzee
São Paulo: Companhia das Letras, 2000
J.M. Coetzee
São Paulo: Companhia das Letras, 2000
Aos 52 anos, divorciado duas vezes, o professor David Lurie é um homem solitário, conformado, erudito e irônico. Não se incomoda com o desinteresse dos alunos por suas aulas de poesia. Cogita escrever uma ópera sobre Lord Byron, mas sempre adia o projeto. Acredita ter “resolvido muito bem o problema de sexo”: nas tardes de quinta-feira, visita uma prostituta com idade para ser sua filha, paga o devido e tem direito ao oásis de uma hora e meia num cotidiano de aridez existencial.
Sua vida, racionalizada de maneira burocrática, soçobra quando a prostituta o dispensa e, mesmo sabendo que é um erro, Lurie tem um caso com uma de suas jovens alunas, acusado de abuso, e desprezando os códigos do ambiente universitário, Lurie cai em desgraça. Torna-se um réprobo e se refugia na fazenda de sua filha, a única pessoa com a qual tem um vínculo afetivo. Toma então contato com a realidade da África do Sul pós-apartheid, país onde é “um risco possuir coisas: um carro, um par de sapatos, um maço de cigarros”.
É uma realidade brutal, feita de vingança, banditismo, submissão. Brutalidade contra a qual a cultura ocidental é inútil: “Ele fala italiano, fala francês, mas italiano e francês de nada lhe valem na África negra”, diz o narrador quando três negros tentam queimar Lurie vivo.
J.M. Coetzee constrói em Desonra personagens de carne e osso e, por meio deles, tece relações entre classes, entre homens e mulheres, entre pais e filhos, negros e brancos, entre seres humanos e animais, entre uma longa história de exploração e um presente de ressentimento explosivo.
Escrito com fluidez exemplar, o romance enfrenta problemas intratáveis da atualidade de um país subdesenvolvido. Situado na terra de ninguém onde se misturam civilização e barbárie – região bem conhecida do leitor brasileiro – Desonra é uma resposta artística profunda à ferocidade avassaladora da realidade.
.
Orientações do Dr. Içami Tiba
1. A educação não pode ser delegada à escola. Aluno é transitório. Filho é para sempre.
2. O quarto não é lugar para fazer criança cumprir castigo. Não se pode castigar alguém com internet, som, tv, etc.
3. Educar significa punir as condutas derivadas de um comportamento errôneo. Queimou índio pataxó, a pena (condenação judicial) deve ser passar o dia todo em hospital de queimados.
4. Confrontar o que o filho conta com a verdade real. Se falar que professor o xingou, tem que ir até a escola e ouvir o outro lado, além das testemunhas.
5. Informação é diferente de conhecimento. O ato de conhecer vem após o ato de ser informado de alguma coisa. Não são todos que conhecem. Conhecer camisinha e não usar significa que não se tem o conhecimento da prevenção que a camisinha proporciona.
6. A autoridade deve ser compartilhada entre os pais. Ambos devem mandar. Não podem sucumbir aos desejos da criança. Criança não quer comer? A mãe não pode alimentá-la. A criança deve aguardar até a próxima refeição que a família fará. A criança não pode alterar as regras da casa. A mãe NÃO PODE interferir nas regras ditadas pelo pai (e nas punições também) e vice-versa. Se o pai disse que não ganhará doce, a mãe não pode interferir. Tem que respeitar sob pena de criar um delinquente. Em casa que tem comida, criança não morre de fome . Se ela quiser comer, saberá a hora. E é o adulto tem que dizer QUAL É A HORA de se comer e o que comer.
7. A criança deve ser capaz de explicar aos pais a matéria que estudou e na qual será testada. Não pode simplesmente repetir, decorado. Tem que entender.
8. Temos que produzir o máximo que podemos, pois na vida não podemos aceitar a média exigida pelo colégio. Não podemos dar 70% de nós, ou seja, não podemos tirar 7,0.
9. As drogas e a gravidez indesejada estão em alta porque os adolescentes estão em busca de prazer. E o prazer é inconsequente, pois aquela informação, de que droga faz mal, não está gerando conhecimento.
10. A gravidez é um sucesso biológico, e um fracasso sob o ponto de vista sexual.
.
2. O quarto não é lugar para fazer criança cumprir castigo. Não se pode castigar alguém com internet, som, tv, etc.
3. Educar significa punir as condutas derivadas de um comportamento errôneo. Queimou índio pataxó, a pena (condenação judicial) deve ser passar o dia todo em hospital de queimados.
4. Confrontar o que o filho conta com a verdade real. Se falar que professor o xingou, tem que ir até a escola e ouvir o outro lado, além das testemunhas.
5. Informação é diferente de conhecimento. O ato de conhecer vem após o ato de ser informado de alguma coisa. Não são todos que conhecem. Conhecer camisinha e não usar significa que não se tem o conhecimento da prevenção que a camisinha proporciona.
6. A autoridade deve ser compartilhada entre os pais. Ambos devem mandar. Não podem sucumbir aos desejos da criança. Criança não quer comer? A mãe não pode alimentá-la. A criança deve aguardar até a próxima refeição que a família fará. A criança não pode alterar as regras da casa. A mãe NÃO PODE interferir nas regras ditadas pelo pai (e nas punições também) e vice-versa. Se o pai disse que não ganhará doce, a mãe não pode interferir. Tem que respeitar sob pena de criar um delinquente. Em casa que tem comida, criança não morre de fome . Se ela quiser comer, saberá a hora. E é o adulto tem que dizer QUAL É A HORA de se comer e o que comer.
7. A criança deve ser capaz de explicar aos pais a matéria que estudou e na qual será testada. Não pode simplesmente repetir, decorado. Tem que entender.
8. Temos que produzir o máximo que podemos, pois na vida não podemos aceitar a média exigida pelo colégio. Não podemos dar 70% de nós, ou seja, não podemos tirar 7,0.
9. As drogas e a gravidez indesejada estão em alta porque os adolescentes estão em busca de prazer. E o prazer é inconsequente, pois aquela informação, de que droga faz mal, não está gerando conhecimento.
10. A gravidez é um sucesso biológico, e um fracasso sob o ponto de vista sexual.
.
11. Maconha não produz efeito só quando é utilizada. Quem está são, mas é dependente, agride a mãe para poder sair de casa, para da droga fazer uso. A mãe deve, então, virar as costas e não aceitar as agressões. Não pode ficar discutindo e tentando dissuadi-lo da ideia. Tem que dizer que não conversará com ele e pronto. Deve 'abandoná-lo'.
12. A mãe é incompetente para 'abandonar' o filho. Se soubesse fazê-lo, o filho a respeitaria. Como sabe que a mãe está sempre ali, não a respeita.
13. Homem não gosta quando a mulher vem perguntar: 'E aí, como foi o seu dia?'. O dia, para o homem, já foi, e ele só falará se tiver alguma coisa relevante. Não quer relembrar todos os fatos do dia.
.
12. A mãe é incompetente para 'abandonar' o filho. Se soubesse fazê-lo, o filho a respeitaria. Como sabe que a mãe está sempre ali, não a respeita.
13. Homem não gosta quando a mulher vem perguntar: 'E aí, como foi o seu dia?'. O dia, para o homem, já foi, e ele só falará se tiver alguma coisa relevante. Não quer relembrar todos os fatos do dia.
.
14. Se o pai ficar nervoso porque o filho aprontou alguma coisa, não deve alterar a voz. Deve dizer que está nervoso e, por isso, não quer discussão até ficar calmo. A calmaria, deve o pai dizer, virá em 2, 3, 4 dias. Enquanto isso, o videogame, as saídas, a balada, ficarão suspensas, até ele se acalmar e aplicar o devido castigo.
15. Se o filho não aprendeu ganhando, tem que aprender perdendo.
.
15. Se o filho não aprendeu ganhando, tem que aprender perdendo.
.
16. Não pode prometer presente pelo sucesso que é sua obrigação. Tirar nota boa é obrigação. Não xingar avós é obrigação. Ser polido é obrigação. Passar no vestibular é obrigação. Se ganhar o carro após o vestibular, ele o perderá se desistir ou for mal na faculdade.
17. Quem educa filho é pai e mãe. Avós não podem interferir na educação do neto, de maneira alguma. Jamais. Não é cabível palpite. Nunca.
.
17. Quem educa filho é pai e mãe. Avós não podem interferir na educação do neto, de maneira alguma. Jamais. Não é cabível palpite. Nunca.
.
18. Mães, muitas são loucas. Devem ser tratadas. (palavras dele).
.
.
19. Se a mãe engolir sapos do filho, a sociedade terá que engolir os dele.
.
.
20. Videogames são um perigo. Os pais têm que explicar como é a realidade. Na vida real, não existem 'vidas', e sim uma única vida. Não dá para morrer e reencarnar. Não dá para apostar tudo, apertar o botão e zerar a dívida.
21. Professor tem que ser líder. Inspirar liderança. Não pode apenas bater cartão.
.
21. Professor tem que ser líder. Inspirar liderança. Não pode apenas bater cartão.
.
22. Pai não pode explorar o filho por uma inabilidade que o próprio pai tenha. 'Filho, digite tudo isso aqui pra mim porque não sei ligar o computador'. O filho tem que ensiná-lo para aprender a ser líder. Se o filho ensina o líder (pai), então ele também será um líder. Pai tem que saber usar o Skype, pois no mundo em que a ligação é gratuita pelo Skype, é inconcebível o pai pagar para falar com o filho que mora longe.
23. O erro mais frequente na educação do filho é colocá-lo no topo da casa. Não há hierarquia. O filho não pode ser a razão de viver de um casal. O filho é um dos elementos. O casal tem que deixá-lo, no máximo, no mesmo nível que eles. A sociedade pagará o preço quando alguém é educado achando-se o centro do universo.
24. Filhos drogados são aqueles que sempre estiveram no topo da família.
.
23. O erro mais frequente na educação do filho é colocá-lo no topo da casa. Não há hierarquia. O filho não pode ser a razão de viver de um casal. O filho é um dos elementos. O casal tem que deixá-lo, no máximo, no mesmo nível que eles. A sociedade pagará o preço quando alguém é educado achando-se o centro do universo.
24. Filhos drogados são aqueles que sempre estiveram no topo da família.
.
25. Cair na conversa do filho é criar um marginal. Filho não pode dar palpite em coisa de adulto. Se ele quiser opinar sobre qual deve ser a geladeira, terá que saber qual é o consumo (KWh) da que ele indicar. Se quiser dizer como deve ser a nova casa, tem que dizer quanto que isso (seus supostos luxos) incrementará o gasto final.
.
26. Dinheiro 'a rodo' para o filho é prejudicial. Tem que controlar e ensinar a gastar.
26. Dinheiro 'a rodo' para o filho é prejudicial. Tem que controlar e ensinar a gastar.
quarta-feira, 27 de maio de 2009
O ENSINO NÃO É MAIS O MESMO!
Aqueles que se tornam professores devem se prevenir quanto a algumas desilusões, se têm em mente a imagem clássica do “professor correto”, já ultrapassada, mas que sobrevive em seu imaginário.
Gostar dos jovens é bom, mas nem todos são fáceis de amar, se isso significa serem obedientes, educados, limpos, corretamente vestidos, disciplinados, respeitadores dos adultos. A escola recebe de agora em diante todas as crianças e as respeita como elas são. Ensinar é trabalhar com um amplo leque de sensibilidades, de culturas, de relações com o mundo.
Gostar muito de trabalhar com jovens é bom, mas é inútil acreditar que se pode ensinar fugindo sempre do contato com os adultos. Os pais esperam interlocutores confiáveis. O educador deve também dialogar com outros profissionais, colegas, trabalhadores sociais, psicólogos, psiquiatras.
Gostar de ser o “grande professor solitário” é bom, mas hoje é preciso cooperar, trabalhar em equipe, participar do projeto da escola. Não se pode mais fechar em um face-a-face com os alunos: é preciso sair das quatro paredes da sala, engajar-se em inovações, atividades sindicais e grupos de trabalho.
Gostar dos saberes e ter vontade de partilhá-los é bom, mas isso não basta quando se é confrontado com alunos que não vêem por si mesmos o sentido da escola, ou não estão dispostos em aceitar o trabalho necessário para aprender. Querer satisfazer ao apetite de saber dos jovens é somente um aspecto da profissão; é preciso também, e primeiramente, encarregar-se daqueles cuja vontade de aprender é fraca e frágil.
Gostar de transmitir conhecimento é bom, mas essa formula é somente um atalho para dizer “construir” conhecimentos. Então devem-se criar situações de aprendizagem muito mais do que “dar aulas”.
Gostar de tomar a palavra diante dos alunos é bom, mas em doses homeopáticas. Ensinar é, sobretudo, pôr-se em trabalho, propondo e regulando tarefas portadoras de aprendizagem. É assumir o trabalho de diretor, muito mais que o de ator, é comover-se nos bastidores, fazendo um trabalho muitas vezes invisível.
Gostar de se dirigir à classe toda é bom, mas esse procedimento tem virtudes pedagógicas limitadas: os alunos são diferentes e o mestre tem o dever de propor atividades variadas, adaptadas às necessidades e ao nível de cada um.
Gostar de se organizar ao seu modo é bom, mas para a profissão de educador consiste cada vez menos em estar presente na escola quando os alunos nela estão também. Tempos de projetos em grupo, encontro com os pais, e formação contínua fazem parte do trabalho.
Gostar de agir com bom senso é bom, intuição e humanidade é bom, mas ensinar atualmente exige, mais que tudo, habilidades específicas, saberes e competência que não derivam do senso comum, mas de uma formação didática e pedagógica árdua.
Gostar da vida tranqüila é bom, mas a vida dos educadores não é mais tranqüila, se ela já o foi algum dia. Cada reforma de estrutura, cada novo programa modifica rotinas, nada é definitivamente adquirido, sem falar nas mudanças das tecnologias e dos modos de vida das famílias.
Gostar de boas férias é bom, mas ensinar não consiste em ir para a sala de aula de mãos abanando. Cada atividade exige uma boa preparação. Ensinar é, assim, uma profissão fatigante, física e emocionalmente, na qual o estresse nos ameaça.
Gostar de estar do lado do conhecimento e da virtude é bom, mas ensinar é também manejar a sedução, a repressão, a recompensa e a sanção; é avaliar, fazer justiça, deter segredos. Logo é viver dilemas éticos.
Gostar de ser o portador da verdade é bom, mas hoje em dia a mídia e a internet disputam com a escola o monopólio dos saberes. Não se pode, então, ensinar vivendo fora do mundo, ignorando a atualidade política, científica, tecnológica.
Gostar muito de instruir é bom, mas é preciso aceitar a resistência de alguns alunos, sua “alergia” ao saber, o fracasso de toda uma estratégia, característico do que Freud chamava de “profissão impossível”, no sentido de que a ação pedagógica jamais estará certa de atingir seus fins.
Gostar dos jovens é bom, mas nem todos são fáceis de amar, se isso significa serem obedientes, educados, limpos, corretamente vestidos, disciplinados, respeitadores dos adultos. A escola recebe de agora em diante todas as crianças e as respeita como elas são. Ensinar é trabalhar com um amplo leque de sensibilidades, de culturas, de relações com o mundo.
Gostar muito de trabalhar com jovens é bom, mas é inútil acreditar que se pode ensinar fugindo sempre do contato com os adultos. Os pais esperam interlocutores confiáveis. O educador deve também dialogar com outros profissionais, colegas, trabalhadores sociais, psicólogos, psiquiatras.
Gostar de ser o “grande professor solitário” é bom, mas hoje é preciso cooperar, trabalhar em equipe, participar do projeto da escola. Não se pode mais fechar em um face-a-face com os alunos: é preciso sair das quatro paredes da sala, engajar-se em inovações, atividades sindicais e grupos de trabalho.
Gostar dos saberes e ter vontade de partilhá-los é bom, mas isso não basta quando se é confrontado com alunos que não vêem por si mesmos o sentido da escola, ou não estão dispostos em aceitar o trabalho necessário para aprender. Querer satisfazer ao apetite de saber dos jovens é somente um aspecto da profissão; é preciso também, e primeiramente, encarregar-se daqueles cuja vontade de aprender é fraca e frágil.
Gostar de transmitir conhecimento é bom, mas essa formula é somente um atalho para dizer “construir” conhecimentos. Então devem-se criar situações de aprendizagem muito mais do que “dar aulas”.
Gostar de tomar a palavra diante dos alunos é bom, mas em doses homeopáticas. Ensinar é, sobretudo, pôr-se em trabalho, propondo e regulando tarefas portadoras de aprendizagem. É assumir o trabalho de diretor, muito mais que o de ator, é comover-se nos bastidores, fazendo um trabalho muitas vezes invisível.
Gostar de se dirigir à classe toda é bom, mas esse procedimento tem virtudes pedagógicas limitadas: os alunos são diferentes e o mestre tem o dever de propor atividades variadas, adaptadas às necessidades e ao nível de cada um.
Gostar de se organizar ao seu modo é bom, mas para a profissão de educador consiste cada vez menos em estar presente na escola quando os alunos nela estão também. Tempos de projetos em grupo, encontro com os pais, e formação contínua fazem parte do trabalho.
Gostar de agir com bom senso é bom, intuição e humanidade é bom, mas ensinar atualmente exige, mais que tudo, habilidades específicas, saberes e competência que não derivam do senso comum, mas de uma formação didática e pedagógica árdua.
Gostar da vida tranqüila é bom, mas a vida dos educadores não é mais tranqüila, se ela já o foi algum dia. Cada reforma de estrutura, cada novo programa modifica rotinas, nada é definitivamente adquirido, sem falar nas mudanças das tecnologias e dos modos de vida das famílias.
Gostar de boas férias é bom, mas ensinar não consiste em ir para a sala de aula de mãos abanando. Cada atividade exige uma boa preparação. Ensinar é, assim, uma profissão fatigante, física e emocionalmente, na qual o estresse nos ameaça.
Gostar de estar do lado do conhecimento e da virtude é bom, mas ensinar é também manejar a sedução, a repressão, a recompensa e a sanção; é avaliar, fazer justiça, deter segredos. Logo é viver dilemas éticos.
Gostar de ser o portador da verdade é bom, mas hoje em dia a mídia e a internet disputam com a escola o monopólio dos saberes. Não se pode, então, ensinar vivendo fora do mundo, ignorando a atualidade política, científica, tecnológica.
Gostar muito de instruir é bom, mas é preciso aceitar a resistência de alguns alunos, sua “alergia” ao saber, o fracasso de toda uma estratégia, característico do que Freud chamava de “profissão impossível”, no sentido de que a ação pedagógica jamais estará certa de atingir seus fins.
.
Philippe Perrenoud
terça-feira, 26 de maio de 2009
Não está no Aurélio
ABANDONO: Quando a jangada parte e você fica.
ADEUS: O tipo de tchau mais triste que existe.
ADOLESCENTE: Toda criatura que tem fogos de artifício dentro dela.
ARTISTA: Espécie de gente que nunca vai deixar de ser criança.
AUSÊNCIA: Uma falta que fica ali presente.
FOTOGRAFIA: Um pedaço de papel que guarda um pedaço de vida nele.
GELO: Aquilo que a gente sente na espinha quando o amor diz que vai embora.
LEALDADE: Qualidade de cachorro que nem todas as pessoas têm.
LÁGRIMA: Sumo que sai dos olhos quando se espreme um coração.
OUSADIA: Quando o coração diz para a coragem "vá" e a coragem vai mesmo.
HORIZONTE - linha que serve para evitar que o céu e o mar se misturem.
HOMEM - Bípede que tem a sorte, ou azar, de se apaixonar perdidamente.
JUVENTUDE - Os primeiros capítulos da pessoa.
LER - ter o poder de viver outras vidas sem precisar nem sair da cama.
VAGALUME - bichinho cuja alminha acende ou cuja luzinha tem alma.
.
e eu acrescento
CORAGEM: Quando você vai, leva um sonoro não, ou pior, sente o descrédito, e mesmo assim não desanima.
ADEUS: O tipo de tchau mais triste que existe.
ADOLESCENTE: Toda criatura que tem fogos de artifício dentro dela.
ARTISTA: Espécie de gente que nunca vai deixar de ser criança.
AUSÊNCIA: Uma falta que fica ali presente.
FOTOGRAFIA: Um pedaço de papel que guarda um pedaço de vida nele.
GELO: Aquilo que a gente sente na espinha quando o amor diz que vai embora.
LEALDADE: Qualidade de cachorro que nem todas as pessoas têm.
LÁGRIMA: Sumo que sai dos olhos quando se espreme um coração.
OUSADIA: Quando o coração diz para a coragem "vá" e a coragem vai mesmo.
HORIZONTE - linha que serve para evitar que o céu e o mar se misturem.
HOMEM - Bípede que tem a sorte, ou azar, de se apaixonar perdidamente.
JUVENTUDE - Os primeiros capítulos da pessoa.
LER - ter o poder de viver outras vidas sem precisar nem sair da cama.
VAGALUME - bichinho cuja alminha acende ou cuja luzinha tem alma.
.
e eu acrescento
CORAGEM: Quando você vai, leva um sonoro não, ou pior, sente o descrédito, e mesmo assim não desanima.
segunda-feira, 25 de maio de 2009
O menininho
"Era uma vez um menininho que contrastava com a escola bastante grande. Uma manhã a professora disse que os alunos iriam fazer um desenho.
- Que bom! - Ele gostava de fazer desenhos. Ele pegou sua caixa de lápis de cor e começou a desenhar. Mas a professora disse para esperar, que ainda não era hora de começar. E ela esperou até que todos estivessem prontos.
- Agora, disse a professora, nós iremos desenhar flores.
- Que bom! - pensou o menininho. Ele gostava de desenhar flores e começou a desenhar flores com lápis rosa, azul e laranja. Mas a professora disse que ia mostrar como fazer. E a flor era vermelha com caule verde.
- Assim, disse a professora, agora vocês podem começar.
O menininho olhou para a flor da professora, então olhou para a sua flor. Gostou mais da sua flor, mas não podia dizer isso. Ele virou o papel e desenhou uma flor igual à da professora. Num outro dia, quando o menininho estava em aula ao ar livre, a professora disse que os alunos iriam fazer alguma coisa com o barro. - Que bom! - pensou. Ele gostava de trabalhar com barro.
Ele pensou que podia fazer com ele todos os tipos de coisas: elefantes, camundongos, carros e caminhões. Começou a juntar e amassar a sua bola de barro. Mas a professora disse para esperar. E ela esperou até que todos estivessem prontos.
- Agora, disse a professora, nós iremos fazer um prato.
- Que bom! - pensou o menininho. Ele gostava de fazer pratos de todas as formas e tamanhos.
A professora disse que era para esperar, que iria mostrar como fazer.
E ela mostrou a todos como fazer um prato fundo.
- Assim, disse a professora, agora vocês podem começar.
O menininho olhou para o prato da professora, olhou para o próprio prato e gostou mais do seu, mas ele não podia dizer isso. Amassou seu barro numa grande bola novamente e fez um prato fundo igualzinho ao da professora.
E muito cedo o menininho aprendeu a esperar e a olhar e a fazer as coisas exatamente como a professora. E muito cedo ele não fazia mais coisas por si próprio.
Então, aconteceu que o menininho e a sua família se mudaram para outra cidade, e o menininho tinha que ir para outra escola. Esta escola era ainda maior que a primeira. E no primeiro dia, a professora disse que os alunos fariam um desenho:
- Que bom! - pensou o menininho, e esperou que a professora dissesse o que fazer. Ela não disse. Apenas andava pela sala. Quando veio até o menininho disse:
- Você não quer desenhar?
- Sim, mas o que vamos desenhar?
- Eu não sei, até que você o faça.
- Como eu posso fazê-lo?
- Da maneira que você gostar.
- E de que cor?
- Se todo mundo fizer o mesmo desenho e usar as mesmas cores, como eu posso saber qual o desenho de cada um?
- Eu não sei. - disse o menininho.
E começou a desenhar uma flor vermelha com caule verde.
.
Helen E. Buckley
domingo, 24 de maio de 2009
Verbos vir e ver
“Se você vir um deputado...”
Assim escreveu mestre Caetano, na letra da genial Haiti. Na terna Bem-querer, outro mestre, Chico Buarque, escreveu “Quando meu bem querer me vir, estou certa que há de vir atrás...”.
Pois bem. Todos sabem que há uma grande diferença entre a chamada norma culta da língua e aquilo que se usa no padrão coloquial. Mas há consenso em relação a muitos pontos. Ninguém aceita, por exemplo, nem na linguagem oral, que se diga “Se ela ir”, ou “Se você dizer”, ou ainda “Se alguém fazer”. Com o verbo “ver”, porém, a coisa é diferente. Raríssimos são os brasileiros, letrados ou iletrados, com teto ou sem teto, que sabem conjugar o futuro do subjuntivo desse bendito verbo. Talvez isso se deva a uma boba resistência à semelhança entre vir, do verbo ver, e vir, do verbo vir.
Antes que alguém se sinta mal com o nome do tempo verbal (as pessoas têm incrível aversão à nomenclatura gramatical), vale lembrar, numa explicação quase simplória, que o futuro do subjuntivo é aquele tempo que se usa com “se” ou “quando”, em frases como “Se/Quando você quiser”, ou “Se/Quando ela souber” etc. Vale lembrar também que o subjuntivo é o modo que indica fato hipotético, provável, duvidoso.
Não é difícil entender por que de “ver” surge a forma “vir”. O futuro do subjuntivo obedece a um sistema de conjugação válido para absolutamente todos os verbos da língua portuguesa. E esse sistema é muito simples. De onde vem a forma “for”, do verbo ir (“Se eu for ao cinema”)? Vem da mesma raiz de “foram”, do pretérito perfeito (“Ontem eles foram ao cinema”).
Basta eliminar as duas últimas letras (am), e pronto! Está feita a primeira pessoa do singular do futuro do subjuntivo do verbo ir (foram − am = for).
Esse sistema vale para 101% dos verbos da língua portuguesa. Tente com outro. Fazer, por exemplo: “Ontem eles fizeram o trabalho”. Faça a operação: fizeram − am = fizer. Então “Quando/Se eu fizer...”.
Vejamos com o verbo dar: “Ontem eles deram a resposta”. Elimine as duas últimas letras de “deram”. (deram − am = der): “Se/Quando eu der a resposta...”.
É bom lembrar que a primeira e a terceira do singular do futuro do subjuntivo são sempre iguais (Se/Quando eu for, Se/Quando ele for; Se/Quando eu fizer, Se/Quando ele fizer).
Agora vamos ao bendito verbo ver: “Ontem eles viram o filme”. Muito bem. Se você eliminar as duas últimas letras de “viram”, o que sobra?
Faça você mesmo: viram − am = vir. Então, “Se/Quando eu vir o filme...”; “Se/Quando você vir minha prima...”
No Brasil, esse verbo apanha. E o pobre verbo vir também apanha. Na linguagem oral, quase todos os brasileiros dizem “Se você me ver lá”. E, conjugando o verbo vir, muitas pessoas dizem “Se você vir aqui amanhã”, em vez de “Se você vier aqui amanhã”. A combinação correta dos dois verbos, em uma frase como “Se eu vier aqui amanhã e vir você mexendo nas minhas coisas...”, então, chega a ser meta inatingível.
Já em Portugal, qualquer cidadão conjuga o verbo ver no futuro com a maior naturalidade. Ilustra isso uma memorável cena que presenciei no aeroporto de Lisboa, no momento do embarque para São Paulo. Um nosso compatriota insistia em fotografar o avião. Um guarda do aeroporto impediu-o, “por questão de segurança”. Quando o guarda virou as costas, nosso patrício, mais do que depressa, armou a máquina e... foi novamente impedido pelo guarda, mais rápido do que ele e acostumado à esperteza dos brasileiros. Instalou-se o bate-boca. A certa altura, o teimoso disse:
— “Mas eu não vou poder mesmo fotografar o avião?”
— “Só se eu não vir”, disse o guarda.
— “Mas o senhor vem toda hora!”
Sem comentário.
Pasquale Cipro Neto
Assim escreveu mestre Caetano, na letra da genial Haiti. Na terna Bem-querer, outro mestre, Chico Buarque, escreveu “Quando meu bem querer me vir, estou certa que há de vir atrás...”.
Pois bem. Todos sabem que há uma grande diferença entre a chamada norma culta da língua e aquilo que se usa no padrão coloquial. Mas há consenso em relação a muitos pontos. Ninguém aceita, por exemplo, nem na linguagem oral, que se diga “Se ela ir”, ou “Se você dizer”, ou ainda “Se alguém fazer”. Com o verbo “ver”, porém, a coisa é diferente. Raríssimos são os brasileiros, letrados ou iletrados, com teto ou sem teto, que sabem conjugar o futuro do subjuntivo desse bendito verbo. Talvez isso se deva a uma boba resistência à semelhança entre vir, do verbo ver, e vir, do verbo vir.
Antes que alguém se sinta mal com o nome do tempo verbal (as pessoas têm incrível aversão à nomenclatura gramatical), vale lembrar, numa explicação quase simplória, que o futuro do subjuntivo é aquele tempo que se usa com “se” ou “quando”, em frases como “Se/Quando você quiser”, ou “Se/Quando ela souber” etc. Vale lembrar também que o subjuntivo é o modo que indica fato hipotético, provável, duvidoso.
Não é difícil entender por que de “ver” surge a forma “vir”. O futuro do subjuntivo obedece a um sistema de conjugação válido para absolutamente todos os verbos da língua portuguesa. E esse sistema é muito simples. De onde vem a forma “for”, do verbo ir (“Se eu for ao cinema”)? Vem da mesma raiz de “foram”, do pretérito perfeito (“Ontem eles foram ao cinema”).
Basta eliminar as duas últimas letras (am), e pronto! Está feita a primeira pessoa do singular do futuro do subjuntivo do verbo ir (foram − am = for).
Esse sistema vale para 101% dos verbos da língua portuguesa. Tente com outro. Fazer, por exemplo: “Ontem eles fizeram o trabalho”. Faça a operação: fizeram − am = fizer. Então “Quando/Se eu fizer...”.
Vejamos com o verbo dar: “Ontem eles deram a resposta”. Elimine as duas últimas letras de “deram”. (deram − am = der): “Se/Quando eu der a resposta...”.
É bom lembrar que a primeira e a terceira do singular do futuro do subjuntivo são sempre iguais (Se/Quando eu for, Se/Quando ele for; Se/Quando eu fizer, Se/Quando ele fizer).
Agora vamos ao bendito verbo ver: “Ontem eles viram o filme”. Muito bem. Se você eliminar as duas últimas letras de “viram”, o que sobra?
Faça você mesmo: viram − am = vir. Então, “Se/Quando eu vir o filme...”; “Se/Quando você vir minha prima...”
No Brasil, esse verbo apanha. E o pobre verbo vir também apanha. Na linguagem oral, quase todos os brasileiros dizem “Se você me ver lá”. E, conjugando o verbo vir, muitas pessoas dizem “Se você vir aqui amanhã”, em vez de “Se você vier aqui amanhã”. A combinação correta dos dois verbos, em uma frase como “Se eu vier aqui amanhã e vir você mexendo nas minhas coisas...”, então, chega a ser meta inatingível.
Já em Portugal, qualquer cidadão conjuga o verbo ver no futuro com a maior naturalidade. Ilustra isso uma memorável cena que presenciei no aeroporto de Lisboa, no momento do embarque para São Paulo. Um nosso compatriota insistia em fotografar o avião. Um guarda do aeroporto impediu-o, “por questão de segurança”. Quando o guarda virou as costas, nosso patrício, mais do que depressa, armou a máquina e... foi novamente impedido pelo guarda, mais rápido do que ele e acostumado à esperteza dos brasileiros. Instalou-se o bate-boca. A certa altura, o teimoso disse:
— “Mas eu não vou poder mesmo fotografar o avião?”
— “Só se eu não vir”, disse o guarda.
— “Mas o senhor vem toda hora!”
Sem comentário.
Pasquale Cipro Neto
sábado, 23 de maio de 2009
ESPETACULAR
Vejam que interessante o interior desta Igreja.
Zoom: aproxima = (+), afasta = (-) e Close = ( --> setas)
Girando pelo interior da igreja = (seta circular)
Muito criativo e bem feito. Acho que ninguém pode deixar de ver esta maravilha.
http://www.photojpl.com/flash/08mallet.html
Clique no endereço acima (http....) e quando abrir a imagem, observe as teclas em baixo e clique. Você verá o efeito das imagens.
Zoom: aproxima = (+), afasta = (-) e Close = ( --> setas)
Girando pelo interior da igreja = (seta circular)
Muito criativo e bem feito. Acho que ninguém pode deixar de ver esta maravilha.
http://www.photojpl.com/flash/08mallet.html
Clique no endereço acima (http....) e quando abrir a imagem, observe as teclas em baixo e clique. Você verá o efeito das imagens.
O último discurso
Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu oficio. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar --- se possível --- judeus, o gentio... negros... brancos.
Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo --- não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra que é boa e rica, pode prover todas as nossas necessidades.
O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.
A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais. A própria natureza dessas coisas é um apelo eloqüente à bondade do homem... um apelo a fraternidade universal... à união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhões de pessoas pelo mundo afora... milhões de desempregados, homens, mulheres, criancinhas... vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que podem me ouvir eu digo: “Não desespereis!” a desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia... da amargura dos homens que temem o progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem homens a liberdade nunca perecerá.
Soldados! Não vos entregueis a esses brutais... que vos desprezam... que vos escravizam... que arregimentam as nossas vidas... que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como um gado humano e que vos utilizam como carne para canhão! Não sois máquinas! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em nossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar... os que não se fazem amar e os inumanos!
Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas é escrito que o Reino de Deus está dentro dos homens --- não de um só homem ou um grupo de homens, mas dos homens todos! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder --- o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela... de faze-la uma aventura maravilhosa.
Portanto --- em nome da democracia --- usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.
É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão!
Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e a prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos!
Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontres, levanta os olhos! Vês, Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo das trevas para a luz! Vamos entrando num mundo novo --- um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergue os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!
( O grande ditador)
Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo --- não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra que é boa e rica, pode prover todas as nossas necessidades.
O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.
A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais. A própria natureza dessas coisas é um apelo eloqüente à bondade do homem... um apelo a fraternidade universal... à união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhões de pessoas pelo mundo afora... milhões de desempregados, homens, mulheres, criancinhas... vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que podem me ouvir eu digo: “Não desespereis!” a desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia... da amargura dos homens que temem o progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem homens a liberdade nunca perecerá.
Soldados! Não vos entregueis a esses brutais... que vos desprezam... que vos escravizam... que arregimentam as nossas vidas... que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como um gado humano e que vos utilizam como carne para canhão! Não sois máquinas! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em nossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar... os que não se fazem amar e os inumanos!
Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas é escrito que o Reino de Deus está dentro dos homens --- não de um só homem ou um grupo de homens, mas dos homens todos! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder --- o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela... de faze-la uma aventura maravilhosa.
Portanto --- em nome da democracia --- usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.
É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão!
Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e a prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos!
Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontres, levanta os olhos! Vês, Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo das trevas para a luz! Vamos entrando num mundo novo --- um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergue os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!
( O grande ditador)
.............................................Charles Chaplin
“Não sois máquinas! Homens é que sois!”
“Não sois máquinas! Homens é que sois!”
quarta-feira, 20 de maio de 2009
Brincando com a aranha!!!
VOCÊ ACABARÁ ACREDITANDO QUE ELA ESTÁ VIVA.
http://www.onemotion.com/flash/spider/
Clique e arraste a aranha com seu mouse, por uma perna de cada vez ou pelo corpo..... Também puxe uma das pernas e arraste pela tela... e me diga se ela não está viva!!! Em qualquer lugar no mapa clique a tecla de espaço enquanto passeia o mouse pelo mapa, isto fará com que insetos vão aparecendo e a aranha venha comê-los... quem inventou isto é fora de série mesmo....
http://www.onemotion.com/flash/spider/
terça-feira, 19 de maio de 2009
Quadrilha junina
Todos os convidados entram em cena, como se já estivesse começado a quadrilha, ao chegarem perto do padre, separam-se, ficando homens de um lado e mulheres de outro. Começa a tocar uma música de casamento, entra a noiva acompanhada por seu pai. A noiva não encontra o noivo a esperando no altar, começa a fazer o maior escândalo e depois desmaia.
Pai Cadê u safadu daqueli homi?
Filho 1 Nóis vamu lá buscá u disavergonhadu pai.
Filho 2 Intãu ele vai vim rapidim rapidim.
Pai Cadê u safadu daqueli homi?
Filho 1 Nóis vamu lá buscá u disavergonhadu pai.
Filho 2 Intãu ele vai vim rapidim rapidim.
.
Saem e voltam arrastando o noivo, que vem gritando: “Eu não quero me casar, eu não vou me casar”. (Chegam perto do pai da noiva).
Saem e voltam arrastando o noivo, que vem gritando: “Eu não quero me casar, eu não vou me casar”. (Chegam perto do pai da noiva).
.
Noivo Eu não vou me casar com a sua filha.
Filho 1 Mais é claru qui ocê vai, ocê embuxô minha irmã i agora tu vai tê qui casá cum ela sim senho. O tú tá pensanu qui vai dexá ela prenha e sai correnu.
Noivo Olha, eu não vou me casar com a sua filha
Pai Vai sim (aponta uma arma)
Noivo Bom, já que o Senhor está pedindo com educação, então eu caso sim.
Filho 2 Pódi cumeça u casóriu seu padri.
Padre Bom, boa noite. Estamos aqui reunidos em nome do Papa, do Bispo e do Pai da noiva. Meu filho (para o noivo), porque você engravidou essa mulher, sabendo que depois teria de se casar com ela? Aliás, por falar nisso, como é que você foi engravidar uma coisa tão feia dessas.
Noivo Ah, seu padre, eu estava bêbado.
Filho 1 Mais neim bêbidu qué sabê disso. Óia, ela só teim dois denti.
Filho 2 Um tá podri e o otro é postiçu...
Filho 1 Ela teim uma perna tóirta...
Filho 2 I a otra é aleijada...
Filho 1 Ela é caoia dum zói...
Filho 2 I du otru não enxerga nada...
Padre Vamos parar com essa conversa fiada e continuar com o casamento.
Noivo Eu não vou me casar com a sua filha.
Filho 1 Mais é claru qui ocê vai, ocê embuxô minha irmã i agora tu vai tê qui casá cum ela sim senho. O tú tá pensanu qui vai dexá ela prenha e sai correnu.
Noivo Olha, eu não vou me casar com a sua filha
Pai Vai sim (aponta uma arma)
Noivo Bom, já que o Senhor está pedindo com educação, então eu caso sim.
Filho 2 Pódi cumeça u casóriu seu padri.
Padre Bom, boa noite. Estamos aqui reunidos em nome do Papa, do Bispo e do Pai da noiva. Meu filho (para o noivo), porque você engravidou essa mulher, sabendo que depois teria de se casar com ela? Aliás, por falar nisso, como é que você foi engravidar uma coisa tão feia dessas.
Noivo Ah, seu padre, eu estava bêbado.
Filho 1 Mais neim bêbidu qué sabê disso. Óia, ela só teim dois denti.
Filho 2 Um tá podri e o otro é postiçu...
Filho 1 Ela teim uma perna tóirta...
Filho 2 I a otra é aleijada...
Filho 1 Ela é caoia dum zói...
Filho 2 I du otru não enxerga nada...
Padre Vamos parar com essa conversa fiada e continuar com o casamento.
_____________ aceita se casar com_______________
Noiva Sim.
Padre Senhor______________ aceita casar-se com ________________
Noiva Sim.
Padre Senhor______________ aceita casar-se com ________________
Noivo Eu não (se levanta, e o pai da noiva aponta a arma novamente). Mas eu caso.
Padre Continuando, se tiver alguém que seja contra esse casamento, que diga agora ou cale-se para sempre.
Mulher Eu!!! Seu padri, essi disavergonhadu aí teim dois fius cumigu. Beim qui minha mãezinha dissi! Qui homi da cidadi num préista. I aléim du mais, eli tá noivu da minha cunhada e namoranu cum a vizinha dela. I teim mais ainda, seu padri, é eli qui faiz aquelis programa di horáriu políticus...
Todos (Fazem cara de espanto) Oh!!!
Padre Tem algo mais a ser dito?
Mulher Teim sim...
Pai Cala essa boca mardita muié (atira no pé dela). Podi continuá seu padri.
Padre Obrigado (para o noivo) meu filho. Porque você está tremendo?
Noivo É que eu estou com frio.
Padre Mas você está suando.
Noivo É que eu estou com calor, seu padre.
Padre Mas, espera aí, meu filho, Como você pode estar com frio e calor ao mesmo tempo?
Noivo É que minha mãe é do Cabo Frio, e o meu pai é da Pousada do Rio Quente.
Padre Bah! Eu considero vocês marido e mulher até que o divórcio os separem.
Solteirona 1 (Quando a noiva joga o buquê para trás) Até qui enfim, até qui enfim! Eu vô mi casar! Eu não vô ficar prá titia.
Solteirona 2 Não sinhora! Fui eu que cunsegui pega u buquê primeru. Aleim dissu, eu já fiz treis prumessa prá Santu Antoinhu.
Solteirona 1 Mais ocê ainda é novinha, i eu já tô encaiada, sou eu queim percisa arrumá casamentu primeru.
Solteirona 2 Sua estrambeiada, ladrona di buquês, sua... sua... (Continua a discussão).
Voz Vamu cuntinuá cum a quadria, minha genti!...
(Continua a quadrilha)
Cumprimentus >>>>> Caminhu da roça >>>>> Viva São João, São Pedro e Sto Antonio >>>>>
Olha a formiga >>>>> Olha a cobra >>>>> Olha a carteira --- é mentira >>>>> A grande roda >>>>> As muié no meio >>>>> Coroação >>>>> Agora os homi no mei >>>>> Entrelaçamento >>>>> Tur >>>>> Caixinha de fósforo >>>>> Valsinha >>>>> Túnel do amor >>>>> Caracol >>>>> Valsa dos noivos.
.
Na valsa dos noivos, o noivo foge.
.
Noiva U noivu fugiu!
Pai Vamu atrais do seim vergonha. (Todos vão ajudar a procurar o noivo. Alguns instantes depois, a noiva grita).
Noiva Pódi dexá pai (pega qualquer pessoa que esteja assistindo), Eu já arranjei outru noivo.
.
Todos saem e a dança termina animadamente.
Padre Continuando, se tiver alguém que seja contra esse casamento, que diga agora ou cale-se para sempre.
Mulher Eu!!! Seu padri, essi disavergonhadu aí teim dois fius cumigu. Beim qui minha mãezinha dissi! Qui homi da cidadi num préista. I aléim du mais, eli tá noivu da minha cunhada e namoranu cum a vizinha dela. I teim mais ainda, seu padri, é eli qui faiz aquelis programa di horáriu políticus...
Todos (Fazem cara de espanto) Oh!!!
Padre Tem algo mais a ser dito?
Mulher Teim sim...
Pai Cala essa boca mardita muié (atira no pé dela). Podi continuá seu padri.
Padre Obrigado (para o noivo) meu filho. Porque você está tremendo?
Noivo É que eu estou com frio.
Padre Mas você está suando.
Noivo É que eu estou com calor, seu padre.
Padre Mas, espera aí, meu filho, Como você pode estar com frio e calor ao mesmo tempo?
Noivo É que minha mãe é do Cabo Frio, e o meu pai é da Pousada do Rio Quente.
Padre Bah! Eu considero vocês marido e mulher até que o divórcio os separem.
Solteirona 1 (Quando a noiva joga o buquê para trás) Até qui enfim, até qui enfim! Eu vô mi casar! Eu não vô ficar prá titia.
Solteirona 2 Não sinhora! Fui eu que cunsegui pega u buquê primeru. Aleim dissu, eu já fiz treis prumessa prá Santu Antoinhu.
Solteirona 1 Mais ocê ainda é novinha, i eu já tô encaiada, sou eu queim percisa arrumá casamentu primeru.
Solteirona 2 Sua estrambeiada, ladrona di buquês, sua... sua... (Continua a discussão).
Voz Vamu cuntinuá cum a quadria, minha genti!...
(Continua a quadrilha)
Cumprimentus >>>>> Caminhu da roça >>>>> Viva São João, São Pedro e Sto Antonio >>>>>
Olha a formiga >>>>> Olha a cobra >>>>> Olha a carteira --- é mentira >>>>> A grande roda >>>>> As muié no meio >>>>> Coroação >>>>> Agora os homi no mei >>>>> Entrelaçamento >>>>> Tur >>>>> Caixinha de fósforo >>>>> Valsinha >>>>> Túnel do amor >>>>> Caracol >>>>> Valsa dos noivos.
.
Na valsa dos noivos, o noivo foge.
.
Noiva U noivu fugiu!
Pai Vamu atrais do seim vergonha. (Todos vão ajudar a procurar o noivo. Alguns instantes depois, a noiva grita).
Noiva Pódi dexá pai (pega qualquer pessoa que esteja assistindo), Eu já arranjei outru noivo.
.
Todos saem e a dança termina animadamente.
Por que o Twitter merece atenção
O serviço de troca de mensagens curtas toma o mundo de assalto - e começa a incomodar os gigantes Google e Facebook
.Até bem pouco tempo atrás, boa parte dos que ouviam falar do Twitter fazia cara de ponto de interrogação. Apesar de existir há três anos e contar com algumas centenas de milhares de usuários apaixonados mundo afora, o serviço de troca de mensagens durante muito tempo se manteve restrito aos aficionados de tecnologia e aos que trabalham na área digital. O apelo de compartilhar ideias em até 140 caracteres, em resposta à pergunta "O que você está fazendo agora?", de fato foi fácil de compreender, o que levou mais de um blogueiro a comparar a experiência ao sexo: você pode ler o que quiser a respeito, olhar fotos ou assistir a vídeos, mas só saberá do que se trata quando começar a fazer. Pois desde o começo deste ano muita gente decidiu experimentar o Twitter. Muita gente mesmo. A comScore, empresa de medição de audiência na internet, calcula que 9,8 milhões de pessoas olharam páginas do Twitter na web em fevereiro. Em março, o número quase dobrou, chegando a 19,1 milhões - e a conta não inclui as pessoas que acessam o serviço pelo celular ou por programas específicos para "tuitar", como aponta um novo verbo que deve entrar para o vocabulário deste século. Como convém a uma inovação vinda do Vale do Silício, o Twitter começou pequeno, ganhou tração entre alguns usuários ferrenhos e ainda não dá lucro - ou, para ser mais preciso, nem sequer tem uma fonte de receitas. Mas o dinheiro, por enquanto, é apenas um detalhe. Com sua simplicidade frustrante, o Twitter já é considerado uma ameaça potencial para o Google e o Facebook - e uma oportunidade enorme de marketing para todas as outras empresas do planeta.
.Leia mais em http://www.atitudeemtudo.com.br/exibenoticia.php?noticia_id=15
segunda-feira, 18 de maio de 2009
ESCUTATÓRIA
Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória.Todo mundo quer aprender a falar... Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil.
Diz Alberto Caeiro que... Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma. Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas. Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia.
Parafraseio o Alberto Caeiro: Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma. Daí a dificuldade: A gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor... Sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração... E precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor.
Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade. No fundo, somos os mais bonitos... Pensamentos que ele julgava essenciais são-me estranhos. É preciso tempo para entender o que o outro falou. Se eu falar logo a seguir... São duas as possibilidades...
Primeira: Fiquei em silêncio só por delicadeza. Na verdade, não ouvi o que você falou. Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar quando você terminasse sua (tola) fala. Falo como se você não tivesse falado.
Segunda: Ouvi o que você falou. Mas, isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo. É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou. Em ambos os casos, estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada.
O longo silêncio quer dizer: Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou. E, assim vai a reunião. Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia.
Eu comecei a ouvir. Fernando Pessoa conhecia a experiência... E, se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras... No lugar onde não há palavras. A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa. No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia... Que de tão linda nos faz chorar.
A beleza é aquela que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros: A beleza mora lá também. Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto.
.Rubem Alves
domingo, 17 de maio de 2009
Desiderata
Do latim desideratum; aquilo que se deseja, aspiração
.
.
.
.
Vá placidamente por entre o barulho e a pressa e lembre-se da paz que pode haver no silêncio. Tanto quanto possível, sem capitular, esteja de bem com todas as pessoas. Fale a sua verdade calma e claramente; e escute os outros, mesmo os estúpidos e ignorantes; também eles têm a sua história. Evite as pessoas barulhentas e agressivas. Elas são o tormento para o espírito. Se você se comparar a outros, poderá se tornar vaidoso e amargo; porque sempre haverá pessoas superiores e inferiores a você. Desfrute suas conquistas assim como seus planos. Mantenha-se interessado em sua própria carreira, mesmo que humilde; é o que realmente se possui na sorte incerta dos tempos. Exercite a cautela nos negócios; porque o mundo é cheio de artifícios. Mas não deixe que isso o torne cego à virtude que existe; muitas pessoas lutam por altos ideais; e por toda parte a vida é cheia de heroísmo. Seja você mesmo. Principalmente não finja afeição, nem seja cínico sobre o amor; porque em face de toda aridez e desencantamento, ele é perene como a grama. Aceite gentilmente o conselho dos anos, renunciando com benevolência as coisas da juventude. Cultive a força do espírito para proteger-se num infortúnio inesperado. Mas não se desgaste com temores imaginários. Muitos medos nascem da fadiga e da solidão. Acima de uma benéfica disciplina, seja bondoso consigo mesmo. Você é filho do Universo, não menos que as árvores e as estrelas. Você tem o direito de estar aqui. E, quer seja claro ou não para você, sem dúvida o Universo se desenrola como deveria. Portanto, esteja em paz com Deus, qualquer que seja a sua forma de concebê-lo, e, seja qual for a sua lida e suas aspirações, na barulhenta confusão da vida, mantenha-se em paz com a sua alma. Com todos os enganos, penas e sonhos desfeitos, este ainda é um mundo maravilhoso. Esteja atento.
.
.
.
Texto de autoria desconhecida, encontrado há mais de 2 séculos nas ruínas de uma igreja em Baltimore, USA.
Socorro ao professor
Debate pedagógico passa ao largo da questão disciplinar, um equívoco grave diante da violência crescente nas escolas A EDUCAÇÃO básica no Brasil ainda é precária, em particular nas redes oficiais de ensino. Mediocridade e letargia se patenteiam a cada resultado da pletora de exames e índices surgidos na última década. Bem encaminhada a meta da universalização do acesso e superada a controvérsia sobre avaliações de desempenho, resta roer o caroço duro do próprio aprendizado.
A batalha terá de ser vencida com uma estratégia de requalificar professores e remunerá-los melhor. Essa classe desprestigiada já se vê, contudo, acossada por outra conflagração: a indisciplina, quando não a agressão praticada por uma parcela dos alunos.
O aumento da violência juvenil é um problema das sociedades contemporâneas que não afeta apenas a escola. Agrava-se conforme pais de todos os estratos se omitem e transferem a responsabilidade primeira pela socialização de crianças e jovens ao educador.
O tumulto de quinta-feira entre policiais militares e estudantes numa escola estadual da capital paulista constitui apenas mais um episódio a lamentar, não exceção. Após erupção semelhante em novembro, o governo estadual prometera um plano antiviolência, que até hoje não veio a público. Levantamento do sindicato de diretores Udemo indicou que 86% das 683 escolas que responderam a questionário (de um total de 5.300) tinham vivido casos de violência.
Combater a escalada implica afrontar a mescla de democratismo e leniência que tomou de assalto o aparelho educacional brasileiro. Tornou-se pedagogicamente incorreto lançar mão de medidas disciplinares. O diálogo por certo representa o melhor caminho, mas não quando se trata de ameaça ou desrespeito ao professor.
Em nome de incentivar a afirmação da individualidade do aluno, tolera-se todo tipo de abuso. Não é só de guias curriculares que necessita o docente, mas de orientação prática e eficaz sobre como proceder em casos disciplinares, dos simples aos graves. Todo projeto pedagógico tem de implementar medidas para assegurar a tranquilidade e a concentração sem as quais não há aprendizado possível.
É injusto deixar só com os professores mais essa responsabilidade. Eles em geral figuram entre as vítimas dessa deterioração no convívio. Para reconquistar o prestígio em erosão, não é só de salários, carreiras e bônus que precisam, mas da intervenção decidida das autoridades educacionais na questão da disciplina.
Cabe a elas rever gradação, condições e limites das punições aplicáveis, criar procedimentos para situações excepcionais e também serviços especializados de assistência ao professor ameaçado. Sem esse mínimo de garantias, cada vez menos talentos estarão dispostos a seguir a carreira de professor, decisiva para reduzir a iniquidade social no país.
.
Fonte: Folha de S. Paulo, domingo, 17 de maio de 2009
sexta-feira, 15 de maio de 2009
Angústia
Nas noites não dormidas
Impera a angústia
Rápido passou a infância
E a adolescência ainda dói fundo
No copo de absinto
Completamente vazio
Largado sobre a mesa
Mal iluminada
Pelo lume da negra noite
Tamanha forma toma o desespero
Nem mesmo o maior dos mestres
Consegue expressar a dolorosa ausência
Em sua serena poesia
A perda veio como um duro golpe
O primeiro amor que em ruínas desmorona
Num mundo que aos poucos morre
Entre outros que certamente virão
Há vários mundos
Todos mortos
(Juarez Firmino)
Impera a angústia
Rápido passou a infância
E a adolescência ainda dói fundo
No copo de absinto
Completamente vazio
Largado sobre a mesa
Mal iluminada
Pelo lume da negra noite
Tamanha forma toma o desespero
Nem mesmo o maior dos mestres
Consegue expressar a dolorosa ausência
Em sua serena poesia
A perda veio como um duro golpe
O primeiro amor que em ruínas desmorona
Num mundo que aos poucos morre
Entre outros que certamente virão
Há vários mundos
Todos mortos
(Juarez Firmino)
Love is in the Web
Eu saía da adolescência quando a internet começou a ser realidade tangível para a classe média. Para um jovem de 15, 16 anos, o vício pela rede teria de vir, inevitavelmente. Sites sobre mensagens subliminares e assassinos seriais, de pornografia e de conteúdo bizarro e sangrento, em geral, já faziam a alegria de muito marmanjo. Alegria que, àquela época, era sem movimento. Ver um vídeo era quase impossível, só havia fotos. Por sinal, era massa quando a gente ouvia uma música depois que ela levava horas para ser carregada. Horas. Mas nem só de sangue, bizarrices e pornografia viviam os adolescentes e todos os que descobriram a internet. Os bate-papos eram a grande coqueluche.
Os chats são responsáveis pela adesão das pessoas à internet, independentemente da faixa etária. Naquela internet pré-Google, aquela do Altavista, do Audiogalaxy, do mIRC e outros troços do gênero, os "serviços on-line" eram uma ficção. A utilidade era conversar, treinar datilog... quer dizer, digitar e ― por que não? ― se informar também. Lembro até hoje: na extinta Data Control (lembra?), depois da aula de Editoração Eletrônica (Windows, Office, PageMaker 5 e Corel Draw 6) o tal tempo disponível à frente do computador para dúvidas era todo gasto em "oi tc d onde ― qts anos ― o q procura". Uns dois ou três na turma faziam o instrutor trabalhar. Raramente fui um deles.
O bate-papo ainda hoje é a internet em toda sua amplitude. Talvez minha visão seja muito, digamos, peculiar, mas a maioria das coisas que inventam por aí tem como objetivo, ou como base, o conversar. Civilizando um pouco o termo, o diálogo. Ou, se preferir, adicionemos sofisticação barata: troca de informações e experiências. Acho até que chegamos a um ponto muito interessante, o plurimonólogo em rede aberta.
Mas o diálogo virtual existe, fortíssimo, intrínseco à nossa vida. É, na prática, como é o STF na teoria, inafastável. Acabei de discutir preços de imóveis com uma amiga via GTalk, minha antiga astróloga lia meu mapa astral via MSN, John Neschling foi demitido por e-mail. É isso aí, comunicação instantânea mesmo. O responsável por isso, colega, é ele, sempre ele, o amor.
Fonte: http://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna.asp?codigo=2786
Fonte: http://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna.asp?codigo=2786
quarta-feira, 13 de maio de 2009
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
Considerando que, enquanto cada animal é, por sua natureza, logo e sempre, unilateralmente si mesmo (a pulga é logo e sempre pulga, o pássaro, pássaro, e o cachorro, cachorro, seja qual for o destino que sua breve vida lhe reserva), somente o homem quebrou os vínculos de unilateralidade natural e inventou sua possibilidade de tornar-se outro e melhor, e até onilateral; considerando, outrossim, que esta possibilidade, dada apenas pela vida em sociedade, foi até agora negada pela própria sociedade à maioria, ou melhor, negada a todos em menor ou maior grau, o imperativo categórico da educação do homem pode ser assim enunciado: Apesar de o homem lhe parecer, por natureza e de fato, unilateral, eduque-o com todo empenho em qualquer parte do mundo para que se torne onilateral.
segunda-feira, 11 de maio de 2009
Exercício de escrita e oralidade
A atividade consiste em que os alunos tenham preenchidos as lacunas após ouvirem 3 vezes o cd com a música [veja links p/ a letra e o vídeo no final deste post], alguns necessitarão de 4 ou 5 vezes, acima desta média fica demonstrado o grau de dificuldade... Além da percepção oral, é possível também avaliar a ortografia e gramática. Ex.: As sonoridades e diferenças na grafia de massas e maçãs, de manhas e manhãs; o uso dos porquês; a limitação vocabular observadas em palavras como 'boiadeiro', 'simplesmente', 'pulsar' etc. A atividade também pode ser realizada com outras músicas da mpb, desde que tenham letras coerentes com a aprendizagem dos interessados.
-----------------------------Tocando em Frente
Composição: Almir Sater e Renato Teixeira
Ando _______ porque já tive pressa
Levo esse sorriso _______ já chorei _______
Hoje me ______ mais forte, mais feliz quem sabe
Só levo a ________ de que muito pouco eu sei
Eu nada sei
Conhecer as _______ e as _______,
O sabor das _______ e das _______,
É preciso amor pra poder pulsar,
É _______ paz pra poder seguir,
É preciso a chuva para ______
Penso que cumprir a vida seja ______________
__________ a _______ e ir tocando em frente
Como um velho __________ levando a boiada
Eu vou ________ os dias pela longa _______ eu vou
Estrada eu sou
Conhecer as ________ e as manhãs,
O ______ das massas e das _______,
É _______ amor pra poder pulsar,
É preciso paz pra poder _______,
É preciso a _______ para florir
Todo mundo ama um dia ______ _______ chora,
Um dia a gente _______, e no outro vai ________
Cada um de nós ________ a sua _________
Cada ser em si _________ o _____ de ser _______
E ser feliz
_________ as manhas e as ________
O sabor das ________ e das maçãs
É preciso amor pra poder _______,
É preciso _____ pra poder seguir,
É ________ a chuva para ________
______ devagar ________ já tive ________
Levo esse _________ porque já chorei demais
Cada um de ____ compõe a sua ________,
Cada ser em si _________ o dom de ser capaz
E ser feliz
Confira a letra da música na íntegra e o vídeo clicando nas URLs abaixo:
http://letras.terra.com.br/letras.php?dns=almir-sater&id_musica=44082
http://br.youtube.com/watch?v=2jZeu9cmKOc
sábado, 9 de maio de 2009
Dia das Mães
Às Mães
- às Mães que apesar das canseiras, dores e trabalhos, sorriem e riem, felizes, com os filhos amados ao peito, ao colo ou em seu redor; e às que choram, doridas e inconsoláveis, a sua perda física, ou os vêem “perder-se” nos perigos inúmeros da sociedade violenta e desumana em que vivemos;
- às Mães ainda meninas, e às menos jovens, que contra ventos e marés, ultrapassando dificuldades de toda a ordem, têm a valentia de assumir uma gravidez - talvez inoportuna e indesejada – por saberem que a Vida é sempre um Bem Maior e um Dom que não se discute e, muito menos, quando se trata de um filho seu, pequeno ser frágil e indefeso que lhe foi confiado;
- às Mães que souberam sacrificar uma talvez brilhante carreira profissional, para darem prioridade à maternidade e à educação dos seus filhos e às que, quantas vezes precisamente por amor aos filhos, souberam ser firmes e educadoras, dizendo um “não” oportuno e salvador a muitos dos caprichos dos seus filhos adolescentes;
- às Mães precocemente envelhecidas, gastas e doentes, tantas vezes esquecidas de si mesmas e que hoje se sentem mais tristes e magoadas, talvez por não terem um filho que se lembre delas, de as abraçar e beijar...;
- às Mães solitárias, paradas no tempo, não visitadas, não desejadas, e hoje abandonadas num qualquer quarto, num qualquer lar, na cidade ou no campo, e que talvez não tenham hoje, nem uma pessoa amiga que lhes leia ao menos uma carta dum filho...;
- também às Mães que não tendo dado à luz fisicamente, são Mães pelo coração e pelo espírito, pela generosidade e abnegação, para tantos que por mil razões não tiveram outra Mãe...e finalmente, também às Mães queridíssimas que já partiram deste mundo e que por certo repousam já num céu merecido e conquistado a pulso e sacrifício...
A todas as Mães, a todas sem excepção, um Abraço e um Beijo cheios de simpatia e de ternura! E Parabéns, mesmo que ninguém mais vos felicite! E Obrigado, mesmo que ninguém mais vos agradeça!
- às Mães que apesar das canseiras, dores e trabalhos, sorriem e riem, felizes, com os filhos amados ao peito, ao colo ou em seu redor; e às que choram, doridas e inconsoláveis, a sua perda física, ou os vêem “perder-se” nos perigos inúmeros da sociedade violenta e desumana em que vivemos;
- às Mães ainda meninas, e às menos jovens, que contra ventos e marés, ultrapassando dificuldades de toda a ordem, têm a valentia de assumir uma gravidez - talvez inoportuna e indesejada – por saberem que a Vida é sempre um Bem Maior e um Dom que não se discute e, muito menos, quando se trata de um filho seu, pequeno ser frágil e indefeso que lhe foi confiado;
- às Mães que souberam sacrificar uma talvez brilhante carreira profissional, para darem prioridade à maternidade e à educação dos seus filhos e às que, quantas vezes precisamente por amor aos filhos, souberam ser firmes e educadoras, dizendo um “não” oportuno e salvador a muitos dos caprichos dos seus filhos adolescentes;
- às Mães precocemente envelhecidas, gastas e doentes, tantas vezes esquecidas de si mesmas e que hoje se sentem mais tristes e magoadas, talvez por não terem um filho que se lembre delas, de as abraçar e beijar...;
- às Mães solitárias, paradas no tempo, não visitadas, não desejadas, e hoje abandonadas num qualquer quarto, num qualquer lar, na cidade ou no campo, e que talvez não tenham hoje, nem uma pessoa amiga que lhes leia ao menos uma carta dum filho...;
- também às Mães que não tendo dado à luz fisicamente, são Mães pelo coração e pelo espírito, pela generosidade e abnegação, para tantos que por mil razões não tiveram outra Mãe...e finalmente, também às Mães queridíssimas que já partiram deste mundo e que por certo repousam já num céu merecido e conquistado a pulso e sacrifício...
A todas as Mães, a todas sem excepção, um Abraço e um Beijo cheios de simpatia e de ternura! E Parabéns, mesmo que ninguém mais vos felicite! E Obrigado, mesmo que ninguém mais vos agradeça!
Filme erótico anticoncepcional
Debates gravados sobre educação podem ser usados como vídeos eróticos anticoncepcionais. Casais que assistiram a esse tipo de vídeo antes do "rala e rola" tiveram 100% de resultados contraceptivos: 47,89% dos casais dormiram profundamente após a exposição a esse tipo de material, e em 52,11% dos casos o cara não conseguiu colaboração biológica própria para seguir adiante.
sexta-feira, 8 de maio de 2009
Do que o aluno tem medo?!
O meu amigo Walterego me falava sobre a indisciplina nas escolas. Num tom alarmante e cético, dizia que a violência presente no ambiente escolar faz com que impere o medo. Os professores tornaram-se reféns dos alunos. O noticiário parece confirmar suas palavras.
No entanto, na universidade a indisciplina não chega a ser um grande problema. A reclamação mais comum se refere ao descompromisso dos alunos. Fala-se sobre a apatia em sala de aula, a não leitura dos textos indicados, as notas baixas nas avaliações e o desrespeito à autoridade docente (o entra-e-sai da sala de aula em qualquer momento, o não cumprimento dos horários, etc.).
De qualquer forma, parece-me que os alunos têm muito mais a temer dos seus professores do que estes deles. O que predomina neste ambiente é o poder professoral, um poder que angustia, estressa e silencia. A fonte desse poder é a nota, isto é, a autoridade para aprovar ou reprovar. O mau uso desse poder transforma a vida dos alunos num inferno dantesco.
Nestes casos, invertem-se os objetivos: os esforços para propiciar o aprendizado e a formação dos discentes são substituídos por uma espécie de sadismo professoral. O que dizer, por exemplo, de situações em que o docente se vangloria de ter reprovado quase que toda a turma? Ora, se a maioria dos meus alunos não aprende o conteúdo, o fracasso é meu e não deles. Na verdade, quem deveria ser reprovado é o docente. Mas a organização formal burocrática e o espírito de corpo protegem-no.
E o que pode fazer o aluno em tal situação? Imaginemos uma turma “X”, no primeiro ano de um curso universitário. Eles têm uma disciplina fundamental para sua formação e base para outras que terão que cursar. No entanto, a didática do professor é um fracasso e sua personalidade autoritária não permite contestação. Os alunos percebem, de antemão, que não irão bem na prova. Não sabem o conteúdo e, por medo, não perguntam ao professor. Calouros, desconhecem o “caminho das pedras” para reclamar. Alguns se revoltam, mas como a maioria, temem represálias. Eles entendem que se trata de uma luta entre forças desiguais. Os veteranos, reprovados na disciplina, e não são poucos, aconselham a silenciar; o melhor é “empurrar com a barriga e não comprar briga”, dizem. Se falarem, serão marcados; a obediência, o jogo do faz-de-conta, também não é muito promissor. Diante da reprovação, muitos desistirão do curso. Os que ficam, procuram estratégias adaptativas para superar o problema.
É uma experiência traumática que ilustra bem o poder do professor. Por que os alunos não agem coletivamente? Medo, claro! Mas também o individualismo restrito ao interesse de pegar o diploma. As formas de resistências são individualizadas enquanto estratégias pessoais de sobrevivência. São incapazes de se organizar como coletivo. E as panelinhas que formam também dificultam a ação comum.
Recordo de um exemplo diferente. A turma decidiu enfrentar a professora que, segundo eles, tinha atitudes desrespeitosas e autoritárias. Ela “conquistou” o desprezo da turma. Quando se dirigia à sala para cumprir o horário de aula, a mesma estava literalmente vazia: sem carteiras, cadeiras e alunos. A queda de braço extrapolou o âmbito departamental e terminou com a vitória dos alunos na mais alta instância universitária.
Isso mostra que nem todos professores aprovam as injustiças cometidas em nome do poder professoral. Revela também a necessidade dos alunos se organizarem. E, ainda, a exigência urgente de aprofundar a democratização das instâncias universitárias, para que o poder do professor encontre contrapesos e os alunos possam se fazer ouvir. É fundamental, sobretudo, superar o medo.
No entanto, na universidade a indisciplina não chega a ser um grande problema. A reclamação mais comum se refere ao descompromisso dos alunos. Fala-se sobre a apatia em sala de aula, a não leitura dos textos indicados, as notas baixas nas avaliações e o desrespeito à autoridade docente (o entra-e-sai da sala de aula em qualquer momento, o não cumprimento dos horários, etc.).
De qualquer forma, parece-me que os alunos têm muito mais a temer dos seus professores do que estes deles. O que predomina neste ambiente é o poder professoral, um poder que angustia, estressa e silencia. A fonte desse poder é a nota, isto é, a autoridade para aprovar ou reprovar. O mau uso desse poder transforma a vida dos alunos num inferno dantesco.
Nestes casos, invertem-se os objetivos: os esforços para propiciar o aprendizado e a formação dos discentes são substituídos por uma espécie de sadismo professoral. O que dizer, por exemplo, de situações em que o docente se vangloria de ter reprovado quase que toda a turma? Ora, se a maioria dos meus alunos não aprende o conteúdo, o fracasso é meu e não deles. Na verdade, quem deveria ser reprovado é o docente. Mas a organização formal burocrática e o espírito de corpo protegem-no.
E o que pode fazer o aluno em tal situação? Imaginemos uma turma “X”, no primeiro ano de um curso universitário. Eles têm uma disciplina fundamental para sua formação e base para outras que terão que cursar. No entanto, a didática do professor é um fracasso e sua personalidade autoritária não permite contestação. Os alunos percebem, de antemão, que não irão bem na prova. Não sabem o conteúdo e, por medo, não perguntam ao professor. Calouros, desconhecem o “caminho das pedras” para reclamar. Alguns se revoltam, mas como a maioria, temem represálias. Eles entendem que se trata de uma luta entre forças desiguais. Os veteranos, reprovados na disciplina, e não são poucos, aconselham a silenciar; o melhor é “empurrar com a barriga e não comprar briga”, dizem. Se falarem, serão marcados; a obediência, o jogo do faz-de-conta, também não é muito promissor. Diante da reprovação, muitos desistirão do curso. Os que ficam, procuram estratégias adaptativas para superar o problema.
É uma experiência traumática que ilustra bem o poder do professor. Por que os alunos não agem coletivamente? Medo, claro! Mas também o individualismo restrito ao interesse de pegar o diploma. As formas de resistências são individualizadas enquanto estratégias pessoais de sobrevivência. São incapazes de se organizar como coletivo. E as panelinhas que formam também dificultam a ação comum.
Recordo de um exemplo diferente. A turma decidiu enfrentar a professora que, segundo eles, tinha atitudes desrespeitosas e autoritárias. Ela “conquistou” o desprezo da turma. Quando se dirigia à sala para cumprir o horário de aula, a mesma estava literalmente vazia: sem carteiras, cadeiras e alunos. A queda de braço extrapolou o âmbito departamental e terminou com a vitória dos alunos na mais alta instância universitária.
Isso mostra que nem todos professores aprovam as injustiças cometidas em nome do poder professoral. Revela também a necessidade dos alunos se organizarem. E, ainda, a exigência urgente de aprofundar a democratização das instâncias universitárias, para que o poder do professor encontre contrapesos e os alunos possam se fazer ouvir. É fundamental, sobretudo, superar o medo.
Fonte:http://antonio-ozai.blogspot.com
"O poder do professor”, de Wilson Correia, e “A relação professor/a e aluno/a no ensino superior”, de Marisa Valladares, publicados no blog Literatura Política e Sociedade.
quinta-feira, 7 de maio de 2009
Se divertindo com o dicionário de inglês
• A hot day - arrote
• All face - alface
• All me roon - almerão
• Are you sick - Você tem C.I.C.?
• As pas goes - aspargos
• Beer in gel - beringela
• Better hab - beterraba
• Big Ben - Benzão
• Born to loose - Nascido em Toulose
• Car need the boy(mail kilo) - carne de boi (meio kilo)
• Corn Flakes - Cornos frescos
• Cow view floor - couve flor
• Feel Good - Bom frio
• Fourteen - Pessoa baixa e forte
• Free Shop - Chope de graça
• Go Home - Vai a Roma
• Halloween - Quando a ligação não está boa
• Happy New Year - Feliz Ouvido Novo
• I go tomorrow - O gato morreu
• I´m alone - Estou na lona
• I´m Hungry - Sou húngaro
• I´m sad - estou com sede
• It´s Ten O´Clock - Tu tens relógio
• It´s too late - É muito leite
• Key jow (parm zoon) - queijo parmesão
• Know How - Saber latir
• Layout - Fora da lei
• Lee moon - limão
• Mac car on - macarrão
• May go - pessoa dócil, afável.
• Merry Christmas - Maria Cristina
• My one easy - maionese
• One Ice-cream - Um crime cometido com frieza
• Paul me to - palmito
• Pay she - peixe
• Pier men tom - pimentão
• Puts grill low! Is key see, too much.- puts grilo esqueci os tomates.
• She must to go - Ela mastigou
• She´s cute - ela escuta
• She´s wonderful - Queijo maravilhoso
• So Free - Sofri, padeci
• Spa get - spaguete
• Stock car - estocar
• Telling The Truth - talão da T.R.U.
• The boy is behind the door - O boi está berrando de dor
• Three go - trigo
• To be champion - Ser bi-campeão
• To sir with love - Tossir com amor
• Welcome - Bom apetite
• With noise - conosco
• All face - alface
• All me roon - almerão
• Are you sick - Você tem C.I.C.?
• As pas goes - aspargos
• Beer in gel - beringela
• Better hab - beterraba
• Big Ben - Benzão
• Born to loose - Nascido em Toulose
• Car need the boy(mail kilo) - carne de boi (meio kilo)
• Corn Flakes - Cornos frescos
• Cow view floor - couve flor
• Feel Good - Bom frio
• Fourteen - Pessoa baixa e forte
• Free Shop - Chope de graça
• Go Home - Vai a Roma
• Halloween - Quando a ligação não está boa
• Happy New Year - Feliz Ouvido Novo
• I go tomorrow - O gato morreu
• I´m alone - Estou na lona
• I´m Hungry - Sou húngaro
• I´m sad - estou com sede
• It´s Ten O´Clock - Tu tens relógio
• It´s too late - É muito leite
• Key jow (parm zoon) - queijo parmesão
• Know How - Saber latir
• Layout - Fora da lei
• Lee moon - limão
• Mac car on - macarrão
• May go - pessoa dócil, afável.
• Merry Christmas - Maria Cristina
• My one easy - maionese
• One Ice-cream - Um crime cometido com frieza
• Paul me to - palmito
• Pay she - peixe
• Pier men tom - pimentão
• Puts grill low! Is key see, too much.- puts grilo esqueci os tomates.
• She must to go - Ela mastigou
• She´s cute - ela escuta
• She´s wonderful - Queijo maravilhoso
• So Free - Sofri, padeci
• Spa get - spaguete
• Stock car - estocar
• Telling The Truth - talão da T.R.U.
• The boy is behind the door - O boi está berrando de dor
• Three go - trigo
• To be champion - Ser bi-campeão
• To sir with love - Tossir com amor
• Welcome - Bom apetite
• With noise - conosco
terça-feira, 5 de maio de 2009
Cântico negro
"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
.
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
.
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
.
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
.
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
.
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
.
.
José Régio, pseudônimo literário de José Maria dos Reis Pereira, nasceu em Vila do Conde em 1901. Licenciado em Letras em Coimbra, ensinou durante mais de 30 anos no Liceu de Portalegre. Foi um dos fundadores da revista "Presença", e o seu principal animador. Romancista, dramaturgo, ensaísta e crítico, foi, no entanto, como poeta. que primeiramente se impôs e a mais larga audiência depois atingiu. Com o livro de estréia — "Poemas de Deus e do Diabo" (1925) — apresentou quase todo o elenco dos temas que viria a desenvolver nas obras posteriores: os conflitos entre Deus e o Homem, o espírito e a carne, o indivíduo e a sociedade, a consciência da frustração de todo o amor humano, o orgulhoso recurso à solidão, a problemática da sinceridade e do logro perante os outros e perante a si mesmos.
José Régio, pseudônimo literário de José Maria dos Reis Pereira, nasceu em Vila do Conde em 1901. Licenciado em Letras em Coimbra, ensinou durante mais de 30 anos no Liceu de Portalegre. Foi um dos fundadores da revista "Presença", e o seu principal animador. Romancista, dramaturgo, ensaísta e crítico, foi, no entanto, como poeta. que primeiramente se impôs e a mais larga audiência depois atingiu. Com o livro de estréia — "Poemas de Deus e do Diabo" (1925) — apresentou quase todo o elenco dos temas que viria a desenvolver nas obras posteriores: os conflitos entre Deus e o Homem, o espírito e a carne, o indivíduo e a sociedade, a consciência da frustração de todo o amor humano, o orgulhoso recurso à solidão, a problemática da sinceridade e do logro perante os outros e perante a si mesmos.
domingo, 3 de maio de 2009
Intertextualizando Guimaraens e Pessoa
Ismália
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava perto do mar...
E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...
Mar Português
"Ó mar salgado, quanto do teu sal
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Nesta análise do poema Ismália, de 5 estrofes com 4 versos cada, com rimas alternadas, uma leitura possível sugere que a personagem-título enlouquece e se suicida, enquanto que a estruturação nos remete para um aspecto gráfico-formal, observamos que nas primeiras 4 estrofes, sempre nos versos 3 e 4 , um verbo que se repete: viu/viu; queria/queria; estava/estava; queria/queria. A repetição serve para reforçar idéias contrastantes, já que em cada um desses versos está presente um substantivo, um verbo, um complemento que exprime oposição: céu/mar; subir/descer; perto/longe; subiu/desceu. Destes, a oposição céu/mar é constante nas 5 estrofes.
Na primeira estrofe, o poema narra o enlouquecimento de Ismália que, à janela da torre, viu a lua a espelhar-se no mar ("Viu uma lua no céu, Viu outra lua no mar"). Na segunda estrofe, a loucura ("sonho") leva-a a debruçar-se mais para fora da janela ("Banhou-se toda em luar") e ter desejos conflitantes - a lua do céu e a lua do mar, como se estivesse entre duas escolhas. Na 3ª estrofe, já delirando ("no desvario seu") ela começa a cantar; na 4ª, é sugerido que Ismália estendeu os braços para 'voar' ("... como um anjo pendeu/ As asas..."); na 5ª e última estrofe, a imagem torna-se ambígua: as "asas" dadas por Deus são seus braços, ou se referem à alma que voou para o céu?
A "loucura" de Ismália é também comparada a um sonho: "No sonho em que se perdeu". A 'loucura' é assim vista de forma poética, não agressiva, e nem necessariamente negativa: aproximando "loucura" e "sonho", o poeta pode estar sugerindo que a loucura é um estado fora do ordinário, do comum da vida, como é o estado do sonho. Sonhamos dormindo, ou mesmo acordados, quando imaginamos alguma coisa ou situação.
Considerando que estas análises apenas sugerem possibilidades entre tantas leituras que se façam deste primoroso poema, a questão da intertextualidade entre este e outros textos também pode ser amplamente explorada, e então se tem início ao fantástico e infindável horizonte que se abre no universo literário e que nos permite imaginar, por exemplo, a inadjetivável aproximação da grandiosidade da criação de Alphonsus de Guimaraens com a fascinante obra do genial Fernando Pessoa.
O mar, com que Guimaraens encerra cada estrofe de seu poema, pode ser comparado com o mar dos versos de “Mar Português, com que Fernando Pessoa engrandeceu os feitos dos navegadores portugueses no grande Poema épico “Mensagem” que narra toda a trajetória de Portugal, que antes só tinha acontecido nos textos camonianos.
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava perto do mar...
E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...
(Alphonsus de Guimarães)
Mar Português
"Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu"
(Fernando Pessoa)
Nesta análise do poema Ismália, de 5 estrofes com 4 versos cada, com rimas alternadas, uma leitura possível sugere que a personagem-título enlouquece e se suicida, enquanto que a estruturação nos remete para um aspecto gráfico-formal, observamos que nas primeiras 4 estrofes, sempre nos versos 3 e 4 , um verbo que se repete: viu/viu; queria/queria; estava/estava; queria/queria. A repetição serve para reforçar idéias contrastantes, já que em cada um desses versos está presente um substantivo, um verbo, um complemento que exprime oposição: céu/mar; subir/descer; perto/longe; subiu/desceu. Destes, a oposição céu/mar é constante nas 5 estrofes.
Na primeira estrofe, o poema narra o enlouquecimento de Ismália que, à janela da torre, viu a lua a espelhar-se no mar ("Viu uma lua no céu, Viu outra lua no mar"). Na segunda estrofe, a loucura ("sonho") leva-a a debruçar-se mais para fora da janela ("Banhou-se toda em luar") e ter desejos conflitantes - a lua do céu e a lua do mar, como se estivesse entre duas escolhas. Na 3ª estrofe, já delirando ("no desvario seu") ela começa a cantar; na 4ª, é sugerido que Ismália estendeu os braços para 'voar' ("... como um anjo pendeu/ As asas..."); na 5ª e última estrofe, a imagem torna-se ambígua: as "asas" dadas por Deus são seus braços, ou se referem à alma que voou para o céu?
A "loucura" de Ismália é também comparada a um sonho: "No sonho em que se perdeu". A 'loucura' é assim vista de forma poética, não agressiva, e nem necessariamente negativa: aproximando "loucura" e "sonho", o poeta pode estar sugerindo que a loucura é um estado fora do ordinário, do comum da vida, como é o estado do sonho. Sonhamos dormindo, ou mesmo acordados, quando imaginamos alguma coisa ou situação.
Considerando que estas análises apenas sugerem possibilidades entre tantas leituras que se façam deste primoroso poema, a questão da intertextualidade entre este e outros textos também pode ser amplamente explorada, e então se tem início ao fantástico e infindável horizonte que se abre no universo literário e que nos permite imaginar, por exemplo, a inadjetivável aproximação da grandiosidade da criação de Alphonsus de Guimaraens com a fascinante obra do genial Fernando Pessoa.
O mar, com que Guimaraens encerra cada estrofe de seu poema, pode ser comparado com o mar dos versos de “Mar Português, com que Fernando Pessoa engrandeceu os feitos dos navegadores portugueses no grande Poema épico “Mensagem” que narra toda a trajetória de Portugal, que antes só tinha acontecido nos textos camonianos.
É o mar, agente supremo de toda a essência portuguesa, que em Guimaraens representa o reflexo do céu e a dimensão de profundidade e distanciamento próprios daqueles cuja insanidade volteia, em Fernando Pessoa representa o medo e o desafio que os lusitanos precisaram superar para solidificar os alicerces da nação.
Uma leitura do texto pessoano sugere que o mar poderia ter sido doce e que ficou salgado com as lágrimas do povo português. Talvez fosse para imortalizar o lado doloroso e trágico dos heróis portugueses que o poeta escreveu “quem quer passar além do Bojador, tem que passar além da dor”. Se com Guimaraens o mar alcança a sublimação da busca pela liberdade semelhante à ascensão aos céus, em Pessoa é a valorização dos sentimentos de um povo, é a cor, o sabor. Se com um representa o delírio que antecede a morte, com o outro é a imortalidade.
Análises: Prof. Juarez Firmino
sexta-feira, 1 de maio de 2009
Erro tipográfico em Machado de Assis
Sei que é irritante quando pegam um erro de digitação para condenar um autor ou uma editora. Pois está para ser inventado avanço tecnológico e revisor vigilante que evite o erro involuntário e acidental. Mas até um erro tipográfico é constrangedor quando dificulta o entendimento.
Euclides da Cunha (1866-1909) virou noites em 1902 para reparar 80 vacilos de impressão e de revisão nos 2 mil exemplares de Os Sertões (no total, 160 mil correções a canivete e tinta nanquim). Nada se compara, no entanto, ao deslize da livraria Garnier naquele mesmo ano, com a 2a edição de Poesias Completas, de Machado de Assis (1839-1908).
As obras da editora eram impressas na França. Na página VI do prefácio, o tipógrafo teve a infelicidade cósmica de trocar a letra e por um a do verbo “cegar” do trecho “a tal extremo lhe cegara o juízo...” Assim, no mais-que-perfeito do indicativo, o resultado foi uma cegada. Com a inicial, é claro.
Assinar:
Postagens (Atom)