Logo em seguida chegou minha mulher e deu-me na cara. Um beijo, digo. Dei-lhe um abraço. Fazia calor. Daí a pouco minha camisa estava inteiramente molhada. Refiro-me à que estava na corda secando, quando começou a chover. Minha sogra apareceu para apanhar a camisa. Não tive remédio senão esmagá-la com o pé. Estou falando da barata que ia trepando na cadeira.
Malaquias, meu primo, vivia com uma velha de oitenta anos. A velha era sua avó, esclareço. Malaquias tinha dezoito filhos, mas nunca se casou. Isto é, nunca se casou com uma mulher que durasse mais de um ano. Agora, sentado a sua frente, Malaquias fura o coração com uma faca. Depois corta as Pernas e o sangue vermelho do porco enche a bacia.
Nos bons tempos passeávamos juntos. Eu tinha um carro. Malaquias tinha uma namorada. Um dia rolou a ribanceira. Me refiro a Malaquias. Entrou pela pretoria adentro arrebentando a porta e parou resfolegante junto do juiz pálido de susto. Me refiro ao carro. E a Malaquias.
(In Millor Fernandes, Trinta
anos de mim mesmo. São Paulo, Abril
Cultural, 1973.)
Um comentário:
Incrível! Seu texto foi simples mas muito divertido, ri horrores!
Me curvei para frente e dei... estou me referindo a gargalhada!
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