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Certa ocasião, um jornalista cobria uma manifestação próxima à favela do Canindé quando sua atenção foi atraída por uma cena: uma mulher da favela repreendia os moradores adultos que se divertiam nos brinquedos de um playground construído para as crianças do local, para que eles deixassem os brinquedos para as crianças. "Deixa estar. Vou colocar vocês no meu livro!", ela os ameaçou. Com o faro de um bom jornalista, aproximou-se, quando os marmanjos já tinham ido embora, e lhe perguntou que livro. A mulher que disse se chamar Carolina Maria de Jesus acabou por lhe mostrar os textos, escritos com tocos de lápis em cadernos que ela encontrava no lixo, em seu ofício diário de catadora de papel. Um diário, que ela mantinha desde algum tempo, registrando o cotidiano da favela com agudeza e poesia. Desde então, depois de publicado em nada menos que 14 idiomas, o livro se mantém vivo e mantém viva a memória dessa escritora, não na cabeça da gente simples como ela: mas na cabeça do mundo acadêmico de estudos de literatura latino-americana em vários países, especialmente nos Estados Unidos.
Trecho descritivo de uma noite, pela autora: "Hoje a noite está tépida. O céu já estava polvilhado de estrelas. Eu que sou exótica, quero recortar um pedaço do céu para fazer um vestido..."
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