"Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham, nem fiam. E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles".

sábado, 8 de novembro de 2008

O guardador de rebanhos- poema X

"Olá guardador de rebanhos.
Aí à beira da estrada,
Que te diz o vento que passa?"

"Que é vento e que passa,
E que já passou antes,
E que passará depois.
E a ti o que te diz?"

"Muita coisa mais do que isso,
Fala-me de muitas outras coisas.
De memórias e de saudades
E de coisas que nunca foram."

"Nunca ouviste passar o vento.
O vento só fala do vento.
O que lhe ouviste foi mentira,
E a mentira está em ti."


***
Neste texto, Alberto Caeiro, que era o mestre dos heterônimos e tinha a Natureza como sua mestra, nos mostra a valorização da ordem natural, dos sentidos e sua relação direta com as coisas ("O que nós vemos das cousas são as cousas. Por que veríamos nós uma cousa se houvesse outra?", nos ensina o poeta).

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