"Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham, nem fiam. E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles".

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Descoberta da Literatura

    No dia-a-dia do engenho,
    toda a semana, durante,
    cochichavam-me em segredo:
    saiu um novo romance.
    E da feira do domingo
    me traziam conspirantes
    para que os lesse e explicasse
    um romance de barbante.
    Sentados na roda morta
    de um carro de boi, sem jante,
    ouviam o folheto guenzo ,
    a seu leitor semelhante,
    com as peripécias de espanto
    preditas pelos feirantes.
    Embora as coisas contadas
    e todo o mirabolante,
    em nada ou pouco variassem
    nos crimes, no amor, nos lances,
    e soassem como sabidas
    de outros folhetos migrantes,
    a tensão era tão densa,
    subia tão alarmante,
    que o leitor que lia aquilo
    como puro alto-falante,
    e, sem querer, imantara
    todos ali, circunstantes,
    receava que confundissem
    o de perto com o distante,
    o ali com o espaço mágico,
    seu franzino com o gigante,
    e que o acabassem tomando
    pelo autor imaginante
    ou tivesse que afrontar
    as brabezas do brigante.
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    (E acabaria, não fossem
    contar tudo à Casa-grande:
    na moita morta do engenho,
    um filho-engenho, perante
    cassacos do eito e de tudo,
    se estava dando ao desplante
    de ler letra analfabeta
    de curumba, no caçanje
    próprio dos cegos de feira,
    muitas vezes meliantes. )
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    MELO NETO, João Cabral de. Descoberta da literatura.

    In: ______. A escola das facas. Rio de Janeiro:

    Alfaguara, 2008. p. 83-84. © by herdeiros de João Cabral de Melo Neto

    quarta-feira, 28 de julho de 2010

    USP, Unesp e Unicamp oferecem pós-graduação a distância para professores

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    Um convênio formado entre a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, USP, Unesp e Unicamp vai oferecer cursos de pós-graduação a distância para professores e diretores da rede pública estadual de ensino. São 16 cursos de especialização, num total de 20.090 vagas.

    As inscrições podem ser feitas até o dia 10 de agosto pelo site www.rededosaber.sp.gov.br. Todas as orientações para as pré-inscrições aos cursos estão disponíveis em "Inscrições", no documento "Regras de inscrição". Os cursos de especialização têm duração de um ano e contam com encontros presenciais.

    A USP terá especializações em ensino de ciências, biologia, sociologia, além de três cursos da área de gestão. A Unesp oferece especialização em ensino de língua inglesa, filosofia, arte, química e geografia e a Unicamp em ensino de língua portuguesa, matemática, física, história e educação física.

    Mais informações podem ser obtidas no manual de inscrição ou no Fale Conosco da Rede São Paulo de Formação de Docente (REDEFOR).

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    Redação Terra

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    terça-feira, 27 de julho de 2010

    Celebração da paz

    A crônica em questão foi escrita por um aluno do ensino ensino fundamental da rede pública estadual, na zona leste da capital paulista, e em breve estará concorrendo ao prêmio em disputa por ocasião da Olímpiada de Língua Portuguesa, ano de 2010.

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    Estavam todos muito cabreiros e um converseiro destoava no ambiente fraterno que até então ocorria no lugar. E não havia justificativa para desavenças no baile, pois a festa era justamente para comemorar um ano sem violência, um ano inteirinho sem rixa alguma. Alguns, é claro, sempre acabam abusando dos gorós e ficam treitados por pouca coisa, mas o fato é que já se passavam mais de 365 dias sem que houvesse fatalidades, todos de bem com a vida e com as cabeças tranquilas. Então, por que tudo aquilo de uma hora para outra. Por que aquele zunzunzum todo?

    Acontece que a molecada havia passado a semana toda na correria para organizar o evento, um baile da hora, no pátio do lava-rápido, ali mesmo na comunidade. Entretanto, agora estavam o Barnei, o Bebezão, o Faísca e o Arroba, todos zuados e de cabeça quente, quase em pé de guerra pra cima de um carinha que pintou na área, e o pior de tudo, já colando na roda e pitando no narguile do Bebezão. “Quem ele pensa que é pra ir chegando e ficando de boa, na maior moral?” ― questionavam alguns que se aglomeravam em torno do Faísca.

    Betinha, a mina do Barnei, ainda tentava passar o pano enquanto dizia que o Rick, esse é o nome do moleque desconhecido que estava marcando, quase ao ponto de ser expulso na porrada pelos festeiros.

    Dizem, pelos cantos por aí, que no ano passado um nóia vacilão estava furtando as coisas por aí e acolá... botijão de gás, bicicleta, roupa no varal e tudo o que encontrasse dando mole... acabou no micro-ondas, isto é, acabou nas mãos dos irmãos que deram um corretivo no desinfeliz e depois o colocaram desacordado dentro do fusca e atearam fogo no carro. Foi horrível, mas é assim que as coisas funcionam por aqui, e sempre funciona, porque as leis são ditadas pelo comando.

    O Rick ― sujeitinho também cheio de mala ― não estava nem aí para o reboliço todo. Querendo mais que o mundo acabasse em barranco, só para morrer encostado, sacou o celular e conferiu as horas, comentando que já estava quase na hora de ir vazando. Foi quando alguém comentou sobre a caranga jeitosa dele, um Pegeout 207 conversível muito maneiro. No que Rick disse:

    ― Conheci este carro quando estive na França. Fui participar de um concurso de grafitagem e por pouco não ganhei em primeiro lugar. Com a grana do segundo prêmio comprei o carro e agora é só alegria.

    Foi aí que o Barnei colou na fita e baixou o faixo... A molecada da área é vidrada num grafite. Então o Rick sacou de um compressorzinho na mochila e fez uma homenagem pra comunidade no muro da bagaça.

    E a notícia espalhou na hora. As minas pagaram o maior pau pro carinha de fora, e os manos ficaram de boa... Ficou tudo na maior responsa. Grafite na comunidade é manifestação de paz e tudo de bom. Assim a paz deve continuar por um bom tempo.

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    quinta-feira, 22 de julho de 2010

    Avalie seu nível gramatical

    Assinale a opção que completa corretamente as lacunas das frases abaixo:
    1) É preciso levantar ____ moral dos jogadores.
    2) Sentiu-se mal, por isso saiu ____ lotação.
    3) Comprou __________ gramas de mortadela.
    (a) o, do, duzentos; (b) a, da, duzentas; (c) o, do, duzentas; (d) a, da, duzentos; (e) a, do, duzentas.
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    Que opção completa corretamente a frase “Quando _________ os técnicos contratados, _________ que a direção das empresas __________ as providências necessárias”?
    (a) chegarem / espera-se / tomem; (b) chegar / espera-se / tomem; (c) chegar / esperam-se / tome;
    (d) chegarem / espera-se / tome; (e) chegarem / esperam-se / tome.
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    Que opção completa corretamente a frase “Quando adoeceu ____ questão de alguns anos, ainda não se _________ outros métodos de tratamento”?
    (a) a / conhecia; (b) à / conhecia; (c) à / conheciam; (d) há / conhecia; (e) há / conheciam.
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    Assinale a opção que completa corretamente as lacunas das frases abaixo:
    1) Ele foi dar ___ telefonema.
    2) Ele quer saber se aboliram ___ trema.
    3) Ela deu ____ tapas na criança.
    (a) uma, a, umas; (b) um, o, uns; (c) um, a, uns; (d) uma, o, umas; (e) um, a, umas.
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    Assinale a opção que completa corretamente as lacunas das frases:
    1) Aquela mulher sempre foi _______ maior ídolo;
    2) Estava em coma _______________;
    3) Ela era ____ membro da academia.
    (a) o seu / alcoólico / um; (b) a sua / alcoólica / uma; (c) o seu / alcoólica / uma; (d) a sua / alcoólico / um; (e) o seu / alcoólica / um.
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    Que opção completa corretamente a frase “Brandura e grosseria alternam-se em seu comportamento; já não o suporto, pois _________ é o traço dominante; ___________, o esporádico”?
    (a) aquela / esta; (b) essa / aquele; (c) aquele / esse; (d) esta / aquela; (e) esta / essa.
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    Assinale a opção que completa corretamente as lacunas das frases abaixo:
    1) “Eram muitas ___________ e ____________.”
    2) “Eça de Queiroz é o autor de ____________.”
    3) “No século XIX eram __________ e agora __________.”
    (a) Marias e Joões / Os Maias / os Andradas e os Silvas; (b) Maria e João / Os Maia / os Andrada e os Silva; (c) Marias e Joãos / Os Maias / os Andrada e os Silva; (d) Marias e Joões / Os Maia / os Andradas e os Silva; (e) Marias e Joãos/ Os Maias / os Andrada e os Silvas.
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    Assinale a opção que completa corretamente as lacunas das frases abaixo:
    1) Xuxa, que tem dois _____, resolveu pôr os pingos nos ___.
    2) Na turma, houve dois ____ e vários ____.
    (a) xis, i, nove, dez; (b) xises, is, noves, dezes; (c) xx, ii, nove, dezes; (d) xis, is, noves, dez; (e) xises, ii, noves, dez.
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    Que opção completa corretamente a frase “O tempo não é suficiente para ______ digitar o relatório. Pedirei ao chefe que divida a tarefa entre _____ e você”?
    (a) eu / mim; (b) mim / eu; (c) eu / eu; (d) mim / mim; (e) nós / nós.
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    Que opção completa corretamente a frase “Estava escuro, _________ demorei a encontrar o caminho __________ deveria regressar”?
    (a) por isso / por que; (b) por isso / porque; (c) por isso / por quê; (d) porisso / porque; (e) porisso / por que.
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    RESPOSTAS:
    a - d - e - b - a - d - a - d - a - a

    Para comentar sobre o porquê dos resultados, escreva para juarezfirmino@professor.sp.gov.br

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    segunda-feira, 19 de julho de 2010

    13 frases em inglês sobre férias

    Olá Pessoal! Para quem gosta de aprender inglês, as férias podem ser um prato cheio. Com mais tempo disponível, podemos revisar tópicos, por atividades em prática e tudo mais.

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    Confiram nossas treze frases de férias:

    1. Planos para as férias: Vacation plans
    Ex: What are your vacation plans? (Quais são seus planos para as férias?)

    2. Praia, campo: Beach, countryside
    Ex: Do you prefer the countryside or the beach? (Você prefere o campo ou a praia?)

    3. Tirar férias: Take a vacation
    Ex: We’re going to take a three-week vacation. (Vamos tirar férias de três semanas.)

    4. Fazer as malas: Pack your suitcases
    Ex: There’s still time for you to pack your suitcases.
    (Ainda dá tempo para você fazer as malas.)

    5. Acampamento de férias: Vacation camp
    Ex: It’s like going to a vacation camp for him. (É como ir a um acampamento de férias para ele.)

    6. Viajar de carro, avião, etc: Travel by car, airplane, etc
    Ex: I prefer to travel by car rather than by airplane.
    (Eu prefiro viajar de carro do que de avião.)

    7. Pacote turístico: Package tour
    Ex: They bought a package tour to Australia. (Eles compraram um pacote turístico para a Austrália.)

    8. Hospedagem: Accommodation
    Ex: It includes free accommodation and meals. (Isto inclui hospedagem gratuita e refeições.)

    9. Guia turístico: Tour guide, tourist guide
    Ex: A tourist guide will help you when you need. (Um guia turístico vai te ajudar quando precisar.)

    10. Atrações turísticas: Sights, tourist attraction
    Ex: I’ll show you one of the sights of our city.
    (Vou lhe mostrar uma das atrações turísticas da nossa cidade.)
    Ex: It is one of Rio’s major tourist attractions. (Esta é uma das maiores atrações turísticas do Rio.)

    11. Roteiro de viagem: Itinerary
    Ex: We suggest you follow your itinerary.
    (Sugerimos que você siga seu roteiro de viagem.)

    12. A negócio ou a passeio: Business or pleasure?
    Ex: And then he said: “Business or pleasure?”. (E então ele disse: “A negócio ou a passeio?)

    13. Aproveitar as férias: Take advantage (usar), enjoy (apreciar)
    Ex: He took advantage of his vacation to learn English.
    (Ele aproveitou as férias para aprender inglês.)
    Ex: Enjoy your vacation with your family. (Aproveite suas férias com sua família.)

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    Fonte: www.englishexperts.com.br

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    quarta-feira, 7 de julho de 2010

    Ortografia e arqueologia?

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    Recebi recentemente uma carta interessante de um leitor, da qual transcrevo parte, como motivo deste artigo.

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    “Professor Ernani. Seu manifesto pela simplificação ortográfica atende em cheio minhas próprias aspirações, entretanto ouvi recentemente um argumento contra essa simplificação, que a comparava à devastação de um sítio arqueológico para a construção de um centro comercial. Baseava-se na opinião de que a língua é uma espécie de grande depósito arqueológico de momentos passados da cultura de um povo e que seus detalhes e especificidades são testemunhos vivos de sua história.

    Partindo dessa analogia, é bom lembrar que tanto o arqueológico como o comercial são fatores importantes e não excludentes socialmente. Talvez a comparação mais apropriada seja a construção de um centro comercial por cima ou ao lado de um sítio arqueológico, preservado integralmente e servido de uma passagem aberta e sinalizada para permitir-lhe acesso, visitação e estudo, isso porque a mudança na escrita de uma palavra não impede a pesquisa de sua origem e história. Eis alguns exemplos:

    É do século XV a seguinte redação “Começo este liuro nom como author e achador das cousas em elle contheudas…”, que hoje, reescrevendo-se cada palavra, resulta em “Começo este livro, não como autor e achador das coisas nele contidas”. Note-se que livro se escrevia com U, autor com TH, coisas com U, elle com L duplo e, decorridos 600 anos, é possível entender o texto e o considerarmos como um “depósito arqueológico”, estudando a cultura da língua a partir da observação de seus “detalhes e especificidades”, conforme a crítica que chegou ao Roberto e ele gentilmente nos passou. O estudioso que for pesquisar a etimologia da palavra autor, encontrará três momentos distintos (author > auctor > autor) e poderá debruçar-se sobre as circunstâncias e a filosofia geradora dessas modificações.

    Do século XIX, a frase “O poder dos reys hespanhoes eh muito mais immovel que as instituiçoens da monarchia” é hoje grafada assim “O poder dos reis espanhóis é muito mais imóvel que as instituições da monarquia”, maneira de escrever em que se percebem razoáveis diferenças: reis se escrevia com Y; espanhóis, com H inicial e E final; é tinha H e não acento agudo; imóveis apresentava M duplo; instituições recebia N após o E em vez de til sobre o O; e monarquia se registrava com CH. O fato de se haver modificado a grafia não impede o estudo da origem, da história, das transformações culturais da língua portuguesa, ao contrário, torna-se uma passagem pela qual se pode realizar esse estudo. Se a grafia da palavra monarquia evoluir para monarkia, não se perde o fio da gramática ou linguística histórica (monarchia > monarquia > monarkia), ao contrário, cria-se outro testemunho para o pesquisador.

    Cabe aqui lembrar que, apenas no século passado, de 1911 a 1990, a grafia do Português sofreu nove mudanças e nem por isso se apagaram os traços do passado, por um motivo muito simples: a grafia constitui apenas uma convenção temporária para representar as palavras da língua e cada reforma ortográfica é prova de um estágio cultural, que pode ser considerado do ponto de vista sociolinguístico, psicolinguístico etc. É possível pensar em todas as reformas feitas até hoje como testemunhos enriquecedores da história da nossa língua, o que invalida plenamente o argumento contrário.

    Para além de todos esses aspectos, o mais importante da reforma que propomos sedia-se no fato de que será a primeira reforma ortográfica a abolir, a falta de pesquisa, a superficialidade, a improvisação, a ilogicidade, o ditatorialismo e muitos outros fatores negativos que se encontram incrustados, embutidos em todas as experiências ortográficas que tivemos até hoje, responsáveis pelo analfabetismo crônico de todos os lusófonos, no sentido próprio da palavra analfabeto, o de “quem não sabe usar as letras”, pois todos sofremos da necessidade de consultar dicionário para escrever esta ou aquela palavra.

    A ortografia que queremos e estamos conquistando para o nosso atualíssimo século XXI deve ser baseada em pesquisa séria e profunda e deve adequar-se à lógica racional e universal, instrumento necessário às atuais técnicas do ensino-aprendizagem, visando a nos libertar da escravidão ao dicionário na hora de escrever e revelando para os pesquisadores do futuro o quanto o nosso século evoluiu e se distanciou de todos os anteriores em termos também ortográficos, sendo o primeiro a expurgar a grafia anacrônica e medieval até hoje a nós imposta e que dificulta a inserção de todo nosso povo no mundo alfabetizado. Conheça mais no www.acordarmelhor.com.br

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    Ernani Pimentel

    Professor, pesquisador, gramático, conferencista, presidente da Vestcon.

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    segunda-feira, 5 de julho de 2010

    Casa da Rosas


    Conheça a Casa das Rosas por dentro

    A Casa das Rosas – O Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura é uma mansão na Avenida Paulista que abre suas portas para um passeio de descobertas arquitetônicas e históricas. Grupos de 10 a 45 pessoas podem agendar passeios de uma hora de duração, com horários disponíveis entre terça e sexta-feira, das 10h às 18h. As inscrições devem ser feitas pelos telefones (11) 3285-6986 ou (11) 3287-8917. Para grupos menores (a partir de três participantes) e pessoas que estiverem passeando pela Casa das Rosas, há passeios de trinta minutos em horários fixos: de terça a sexta, às 11h, 13h, 16h e 18h e aos sábados, às 12h e às 16h.

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    A história da mansão

    A Casa das Rosas foi projetada pelo arquiteto Ramos de Azevedo no final da década de 20 para ser a residência de sua filha, Lucia.

    Seu estilo arquitetônico é eclético. A entrada é de mármore carrara, os vidros e cristais são belgas e as ferragens, inglesas. Um enorme vitral colorido, assinado por Carlos Sorgenicht, decora o hall de entrada. O jardim, inspirado no Palácio de Versalhes, abriga o famoso roseiral, origem do nome da casa e uma de suas atrações. Ramos de Azevedo não chegou a ver o projeto concluído, pois faleceu em 1928. A construção de trinta cômodos só ficou pronta sete anos mais tarde, sendo assinada por Felisberto Ranzini. Durante 51 anos, residiram ali Lucia Ramos de Azevedo e seu marido, Ernesto Dias de Castro. Mais tarde, Ernesto Dias de Castro Filho e sua esposa ocuparam a casa.
    Atualmente a mansão é administrada pela Secretaria de Estado da Cultura em conjunto com a Poiesis - Organização Social de Cultura e abriga o acervo de cerca de 20 mil volumes da biblioteca do poeta, tradutor e ensaísta Haroldo de Campos (1929-2003). É também a única livraria especializada em poesia do Brasil, que disponibiliza cerca de 400 títulos.

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    Casa das Rosas

    Av. Paulista, 37, Bela Vista - próximo à Estação Brigadeiro do Metrô Aberta de terça a domingo, das 10h às 22h. Estacionamento conveniado: Al. Santos, 74

    www.poiesis.org.br/casadasrosas

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    sábado, 3 de julho de 2010

    V O C Ê

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    A Unicamp (Universidade de Campinas) é reconhecida no país por muitos de seus méritos. E, a bem da verdade, a Unicamp começa bem já no vestibular. Muitas das questões ― é pena que não sejam todas ― são interessantes, inteligentes, de ótimo nível.

    O vestibular dessa importante escola começou em 1987. Nesse ano, justamente a primeira questão da prova de português pedia ao aluno que indicasse as marcas típicas da oralidade, ou seja, da língua falada, presentes no discurso de um engenheiro eletrônico. Tratava-se de uma entrevista concedida por ele a um jornal. Disse o engenheiro: “Os grandes problemas, você deve ter um desenvolvimento tecnológico local”.

    A questão pedia que o aluno reescrevesse a frase, adequando-a “à língua escrita culta”. De imediato, chama a atenção a falta de conexão. A expressão “os grandes problemas” parece atirada, jogada, perdida. Falta verbo, falta algo que una essa expressão ao resto da frase. Talvez algo como “Para resolver os grandes problemas, você...”. Epa! Você? Quem é você? Até prova em contrário, você é a pessoa com quem estou conversando.

    Você é meu interlocutor. E esse “você” da resposta do engenheiro parece muito pouco para a dimensão ― nacional ― do pensamento. “Para resolver os grandes problemas, é preciso desenvolvimento tecnológico local”. Ou: “A solução dos grandes problemas exige desenvolvimento tecnológico local”. Ou ainda: “Para a solução dos grandes problemas, exige-se desenvolvimento tecnológico local”. Percebeu? O “você” do engenheiro não era a pessoa com quem ele conversava. E é aí que quero chegar. É cada vez mais freqüente, na linguagem oral, o uso da palavra “você” com valor genérico.

    Dia desses, ouvi famoso jogador de futebol dizer que “quando você bate na bola com o lado de fora do pé...”. Ouvi também uma mulher dizer a um repórter ― repito: um repórter, homem, do sexo masculino ― que “quando você está grávida...”. O repórter fez cara de espanto, com os olhos arregalados, como que a perguntar: “Eu? Grávida?”.

    Numa corrida do Grande Prêmio de Fórmula 1, o locutor Galvão Bueno, enquanto explicava o regulamento, dizia que “quando você deixa o carro morrer na largada, deve ir para o fim da fila”. Como houve duas ameaças de largada, Galvão disse pelo menos duas vezes que “quando você...”. O problema é que Galvão não estava conversando com os pilotos, e sim com o telespectador, que não deixa carro morrer na largada, por uma razão muito simples: não participa de corridas.

    Pelo menos na linguagem formal, culta, é bastante desejável a eliminação desse cacoete. É cansativo, pobre e enfadonho o uso da palavra “você” como indicador de algo genérico, coletivo. No caso da corrida, bastaria dizer que “quando se deixa o carro morrer na largada, deve-se ir para o fim da fila”. ― Também se poderia dizer que “quando o piloto deixa o carro morrer na largada, deve ir para o fim da fila”.

    O saudoso governador de São Paulo, Mário Covas, é outro que abusava do bendito você que não é você. Vi-o em várias entrevistas ― antes e depois das campanhas ―, repetindo à exaustão que “quando você investe bem o dinheiro do povo”, “quando você aplica no social”, “quando você faz o que realmente é necessário para o povo”, “quando você...”. Vamos quebrar a monotonia: “Quando se investe bem o dinheiro do povo” (ou “Quando o governo/os governantes investe/investem bem o dinheiro do povo”); “Quando se aplica no social” (ou “Quando o governo/os governantes aplica/aplicam no social”); “Quando se faz o que realmente é necessário para o povo” (ou “Quando o governo/os governantes faz/fazem o que realmente é necessário para o povo”).

    Uma ex-aluna esteve na Austrália, para estudar. Lá ficou alguns meses. Viciada em você, traduzia essa história de “você” ao pé da letra. A todo instante, dizia “When you...” (“Quando você”, em inglês). Diz ela que as pessoas se assustavam. Punham a mão no peito e diziam ― em inglês, é claro: ― Eu, não!”. No começo, minha ex-aluna não entendia o porquê da reação. Não demorou muito para perceber.

    Talvez haja uma explicação sociolinguística ou psicolinguística para o sumiço dos indicadores genéricos da nossa linguagem oral. Será que não é, mais uma vez, porque o brasileiro tem pavor do que é coletivo, genérico, ou seja, tudo no Brasil precisa ser individual, personalizado? Quem sabe. Os antropólogos também podem meter a colher. Aceitam-se sugestões. E lá vai uma, mais do que urgente: pelo menos em situações formais ― sobretudo na escrita ―, pare com esse cacoete de usar você que não é você.

    Até a próxima. Um forte abraço.

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    Pasquale Cipro Neto

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    Produção textual: coesão e coerência

    A coesão colabora com a coerência, porque os conectivos ajudam a dar o sentido à união de duas ou mais ideias: alternância, conclusão, oposição, concessão, adição, explicação, causa, consequência, temporalidade, finalidade, comparação, conformidade, condição.

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    As ideias numa dissertação precisam se completar, a geral se apoia na particular, a particular sustenta a geral.

    Na narração, se uma personagem for negra no começo, será assim até o fim, só Michel Jackson trocou de cor. A menos que a mudança da coloração seja significativa.

    Veja um exemplo de incoerência na dissertação: “O verdadeiro amigo não comenta sobre o próprio sucesso quando o outro está deprimido. Para distraí-lo, conta-lhe sobre seu prestígio profissional, conquistas amorosas e capacidade de sair-se bem das situações. Isso, com certeza, vai melhorar o estado de espírito do infeliz”.

    Exemplo de incoerência em narração: “O quarto espelha as características de seu dono: um esportista, que adorava a vida ao ar livre e não tinha o menor gosto pelas atividades intelectuais. Por toda a parte, havia sinais disso: raquetes de tênis, prancha de surf, equipamento de alpinismo, skate, um tabuleiro de xadrez com as peças arrumadas sobre uma mesinha, as obras completas de Shakespeare”.

    DICAS IMPORTANTES

    • Leia atentamente o que está sendo solicitado. Atualmente, as propostas se aproximam da realidade dos candidatos, constituindo-se roteiros confiáveis para a organização de ideias;

    • Crie mentalmente um interlocutor. Procure convencer um ouvinte específico do seu ponto de vista;

    • Planeje o texto sem utilizar fórmulas prontas. O fio condutor deve ser seu pensamento;

    • Evite marcas de língua falada. Escrita e fala são modalidades diferentes do idioma. Evite gírias e termos excessivamente coloquiais;

    • Confie em seu vocabulário. Todos nós guardamos palavras sem uso que podem transmitir com clareza o nosso pensamento. Procure encontrá-las;

    • Seja natural. Evite o uso de palavras de efeito apenas para impressionar a banca;

    • Acredite em seus pontos de vista e defenda-os com convicção. Eles são seu maior trunfo.