ZABALA,
Antoni. A Prática Educativa: como ensinar.
1.ed. Porto Alegre: Artmed, 1998.
Breve
resumo do livro
A finalidade deste livro consiste em
oferecer determinados instrumentos que nos ajudem a interpretar o que acontece
na sala de aula, conhecer melhor o pode se fazer e o que foge a nossas
possibilidades; saber que medidas podemos tomar para recuperar o que funciona e
generalizá-lo, assim como para revisar o que não está tão claro. Talvez o
caminho que proponho não seja o mais simples nem o mais direto, porque tanta
fundamentar e proporcionar critérios e argumentos para conhecer e analisar o
que fazemos; só se o conhecemos podemos compartilhá-lo e melhorá-lo para
oferecer um ensino de qualidade capaz de promover a aprendizagem de nossos
alunos.
Após
dois capítulos dedicados a descrever e discernir a utilidade dos referenciais
que podem contribuir para a análise da prática educativa, o livro enfoca
variáveis que tradicionalmente foram utilizadas para interpretá-la: as relações
interativas (cap. 4); a organização social da sala, o tempo e o espaço (cap.
5); a organização dos conteúdos (cap. 6); os materiais curriculares e os
recursos didáticos (cap. 7) e a avaliação.
Capítulo 1
A
Prática Educativa: unidades de análise
O
autor inicia o primeiro capítulo afirmando que “um dos objetivos de qualquer
bom profissional consiste em ser cada vez mais competente em seu ofício” (p.
13). Esta competência é adquirida mediante o conhecimento e a experiência.
Para
Zabala a melhora de qualquer das atuações humanas passa pelo conhecimento e
pelo controle das variáveis que intervêm nelas. Conhecer essas variáveis
permitirá ao professor, previamente, planejar o processo educativo, e,
posteriormente, realizar a avaliação do que aconteceu. Portanto, em um modelo
de percepção da realidade da aula estão estreitamente vinculados o
planejamento, a aplicação e a avaliação.
Para
analisar a prática educativa, Zabala elege como unidade de análise básica a
atividade ou tarefa – exposição, debate, leitura, pesquisa bibliográfica,
observação, exercícios, estudo, etc. – pois ela possui, em seu conjunto, todas
as variáveis que incidem nos processos de ensino/aprendizagem. A outra unidade
eleita são as sequências de atividades ou sequências didáticas: “conjunto de
atividades ordenadas, estruturadas e articuladas para a realização de certos
objetivos educacionais, que têm um princípio e um fim conhecidos tanto pelos
professores como pelos alunos” (p. 18). Ou seja, a sequência didática engloba
as atividades.
Apoiando
em Joyce e Weil (1985), em Tann (1990) e em Hans Aebli (1988) Zabala determina
as variáveis que utilizará para a análise da prática educativa, quais sejam: as
sequências de atividades de ensino/aprendizagem ou sequências didáticas; o
papel do professor e dos alunos; a organização social da aula; a maneira de
organizar os conteúdos; a existência, as características e uso dos materiais
curriculares e outros recursos didáticos; o sentido e o papel da avaliação.
Considerando
a função social do ensino e o conhecimento do como se aprende como os
instrumentos teóricos que fazem com que a análise da prática seja realmente
reflexiva, Zabala utiliza dois grandes
referenciais: o primeiro está ligado ao sentido e o papel da educação. As
fontes utilizadas são a sócio-antropológica, que está determinada pela
concepção ideológica da resposta à pergunta “para que educar?”; e a fonte
epistemológica, que define a função do saber, dos conhecimentos e das
disciplinas. Este referencial busca o sentido e a função social que se atribui
ao ensino. O outro referencial engloba as fontes psicológica e didática.
Dificilmente pode se responder à pergunta “como ensinar?”, objeto da didática,
se não se sabe sobre os níveis de desenvolvimento, os estilos cognitivos, os
ritmos e as estratégias de aprendizagem. Este busca a concepção dos processos
de ensino/aprendizagem.
No
quadro abaixo podemos situar os diferentes elementos que discorremos até agora
para a análise da prática. Podem se observar em primeiro lugar, os dois
referenciais enunciados e como se concretizam os conteúdos de aprendizagem e
certos critérios de ensino que são so que, de forma combinada, incidem nas
características que haveriam de adotar as variáveis metodológicas numa proposta
de intervenção ideal. De certo modo, teríamos as condições da prática educativa
a partir de um modelo teórico que não leva em conta o contexto educacional em
que se deve desenvolver a prática. É neste primeiro nível que aparecem as
propostas metodológicas gerais, os métodos teóricos de forma padronizada. A
seguir situamos a realidade do contexto educacional em que há de se efetivar a
intervenção e, portanto, uma série de condicionantes que impedem, dificultam ou
delimitam o desenvolvimento ideal segundo o modelo teórico. Os espaços e a
estrutura da escola, as características dos alunos e sua proporção por aula, as
pressões sociais, os recursos disponíveis, a trajetória profissional dos
professores, as ajudas externas, etc., são condicionantes que incidem na aula
de tal maneira que dificultam, quando não impossibilitam, a realização dos
objetivos estabelecidos no modelo teórico. Neste esquema a prática educativa
pode ser interpretada não apenas a partir do que não se faz com relação a um
modelo teórico, mas também como o resultado da adaptação às possibilidades
reais do meio em que se realiza. A prática na aula, marcada por esses
condicionantes, não é o resultado de uma decisão firme sobre as finalidades do
ensino e segundo uma concepção determinada dos processos de ensino/aprendizagem,
mas corresponde àquilo que pode se fazer levando em conta a globalidade do
contexto educacional em que se desenvolve a prática educativa.
No
entanto, é frequente encontrar argumentos de professores sobre a
impossibilidade de realizar mudanças em alguma das variáveis metodológicas,
seja a distribuição do tempo, os agrupamentos, seja a avaliação. Estes
argumentos se apoiam numa desvalorização dos referenciais teóricos que
aconselhariam essas mudanças. Esta forma de atuar, que evita considerar os condicionantes
contextuais que impedem a mudança, se converte numa renúncia implícita para
questionar as condições que o tornam inviável. Nega-se a finalidade do ensino
ou a concepção psicopedagógica em vez de identificar claramente quais os
motivos que dificultam a mudança. Ao logo dos diferentes capítulos que
configuram este livro faremos um exame das diversas variáveis metodológicas,
estabelecendo os vínculos entre os diferentes valores que podem adotar e os
referenciais a que aludimos.
Capítulo 2
A
Função Social do Ensino e a Concepção sobre os Processos de Aprendizagem:
instrumentos de análise
Com base no ensino público da Espanha,
Zabala afirma que, além das grandes declarações de princípios, sua função
social “tem sido selecionar os melhores em relação à sua capacidade para seguir
uma carreira universitária ou para obter qualquer outro título de prestígio
reconhecido” (p. 27), subvalorando o valor informativo dos processos que os
alunos/as seguem ao longo da escolarização.
Uma forma de determinar os objetivos da
educação é analisar as capacidades que se pretende desenvolver nos alunos.
Contudo, existem diferentes formas de classificar as capacidades do ser humano.
Zabala utiliza a classificação proposta por Coll – capacidades cognitivas ou
intelectuais, motoras, de equilíbrio e autonomia pessoal (afetivas), de relação
interpessoal e de inserção e atuação social. Mas quais os tipos de capacidade
que o sistema educativo deve levar em conta?
Diretamente
relacionados aos objetivos da educação estão os conteúdos de aprendizagem. Coll
(1986) os agrupa em conteúdos conceituais – fatos,
conceitos e princípios – procedimentais – procedimentos, técnicas e métodos – ou atitudinais – valores, atitudes e normas.
Classificação que corresponde, respectivamente, às perguntas: “O que se deve
saber?”, “O que se deve saber fazer?” e “Como se deve ser?”. Assim, no ensino
que propõe a formação integral a presença dos diferentes tipos de conteúdo
estará equilibrada; por outro lado, um ensino que defende a função propedêutica
e universitária priorizará os conceituais.
Quanto
ao segundo referencial de análise – a concepção dos processos da aprendizagem –
Zabala afirma que não é possível ensinar nada sem partir de uma ideia de como
as aprendizagens se produzem. As aprendizagens dependem das características
singulares de cada um dos aprendizes. Daí decorre que um enfoque pedagógico
deve observar a atenção à diversidade dos alunos como eixo estruturador. Assim,
o critério para estabelecer o nível de aprendizagem serão as capacidades e os
conhecimentos prévios de cada aluno/a. Esta proposição marcará também a forma
de ensinar.
Zabala
defende a concepção construtivista como aquela que permite compreender a
complexidade dos processos de ensino/aprendizagem. Para esta concepção “o
ensino tem que ajudar a estabelecer tantos vínculos essenciais e
não-arbitrários entre os novos conteúdos e os conhecimentos prévios quanto
permita a situação” (p. 38). Na concepção construtivista, o papel ativo e
protagonista do aluno não se contrapõe à necessidade de um papel também ativo
do educador. A natureza da intervenção pedagógica estabelece os parâmetros em
que pode se mover a atividade mental do aluno, passando por momentos sucessivos
de equilíbrio, desequilíbrio e reequilíbrio. Nesse processo intervêm, junto à
capacidade cognitiva, fatores vinculados às capacidades de equilíbrio pessoal,
de relação interpessoal e de inserção social.
Após
expor, em condições gerais, o processo de aprendizagem segundo a concepção
construtivista, o autor passa a expor sobre a aprendizagem dos conteúdos conforme
sua tipologia.
Os
conteúdos factuais englobam o
conhecimento de fatos, situações, dados, fenômenos concretos e singulares. São
conhecimentos indispensáveis para a compreensão da maioria das informações e
problemas que surgem na vida cotidiana e profissional. Considera-se que o
aluno/a aprendeu um conteúdo factual quando é capaz de reproduzi-lo, portanto,
a compreensão não é necessária. Diz-se que o aluno/a aprendeu quando é capaz de
recordar e expressar de maneira exata o original. Quando se referem a acontecimentos
pede-se uma lembrança o mais fiel possível. Se já se tem uma boa compreensão
dos conceitos a que se referem os dados, fatos ou acontecimentos, a atividade
fundamental para sua aprendizagem é a cópia. Este caráter reprodutivo comporta
exercícios de repetição verbal, listas e agrupadas segundo ideias
significativas, relações com esquemas e representações gráficas, associações,
etc. Para fazer estes exercícios de caráter rotineiro é imprescindível uma
atitude ou predisposição favorável.
Os
conteúdos conceituais abrangem os
conceitos e princípios. Os conceitos se referem ao conjunto de fatos, objetos
ou símbolos que têm características comuns, e os princípios se referem às
mudanças que se produzem num fato, objeto ou situação em relação a outros fatos,
objetos ou situações e que, normalmente, descrevem relações de causa-efeito ou
de correlação. Considera-se que o aluno/a aprendeu quando este é capaz não
apenas repetir sua definição, mas também utilizá-la para a interpretação,
compreensão ou exposição de um fenômeno ou situação; quando é capaz de situar
os fatos, objetos ou situações concretas naquele conceito que os inclui.
Um
conteúdo procedimental é um conjunto
de ações coordenadas dirigidas para a realização de um objetivo. São conteúdos
procedimentais: ler, desenhar, observar, calcular, classificar, traduzir,
recortado, saltar, inferir, espetar, etc. Em termos gerais aprendem-se os
conteúdos procedimentais a partir de modelos especializados. A realização das
ações que compõem o procedimento ou a estratégia é o ponto de partida. O
segundo passo é que a exercitação múltipla – fazê-lo tantas vezes quantas forem
necessárias – é o elemento imprescindível para o domínio competente do
conteúdo. A reflexão sobre a própria atividade é o terceiro passo e permite que
se tome consciência da atuação. O quarto e último passo é a aplicação em
contextos diferenciados que se baseia no fato de que aquilo que se aprende será
mais útil na medida em que se pode utilizá-lo em situações nem sempre
previsíveis.
O
termo conteúdo atitudinal engloba
valores, atitudes e normas. Cada grupo apresentando uma natureza
suficientemente diferenciada. Considera-se que o aluno adquiriu um valor quando
este foi interiorizado e foram elaborados critérios para tomar posição frente
àquilo que deve se considerar positivo ou negativo. Que aprendeu uma atitude
quando pensa, sente e atua de uma forma mais ou menos constante frente ao
objeto concreto para quem dirige esta atitude. E que aprendeu uma norma,
considerando três graus: o primeiro quando se trata de uma simples aceitação; o
segundo quando existe uma conformidade que implica certa reflexão sobre o que
significa a norma; e o último grau quando interioriza a norma e aceita como
regra básica de funcionamento da coletividade que a rege.
Concluindo,
Zabala identifica e diferencia a concepção tradicional da concepção
construtivista, a partir dos dois referenciais básicos para a análise da prática.
Na concepção tradicional a sequência de ensino/aprendizagem deve ser a aula
magistral, que corresponde aos objetivos de caráter cognitivo, aos conteúdos
conceituais e à concepção da aprendizagem como um processo acumulativo através
de propostas didáticas transmissoras e uniformizadoras. As relações interativas
são de caráter diretivo: professor → aluno; os tipos de agrupamentos se
circunscrevem às atividades de grande grupo. A distribuição do espaço reduz-se
ao convencional. Quanto ao tempo, estabelece-se um módulo fixo para cada área
com uma duração de uma hora. O caráter propedêutico do ensino faz com que a
organização dos conteúdos respeite unicamente a lógica das matérias. O livro
didático é o melhor meio para resumir os conhecimentos e, finalmente, a
avaliação tem um caráter sancionador centrado exclusivamente nos resultados.
A
concepção construtivista apresenta uma proposta de compreensividade e de
formação integral, impulsionando a observar todas as capacidades e os
diferentes tipos de conteúdo. O ensino atende à diversidade dos alunos,
portanto a forma de ensino não pode se limitar a um único modelo. Conforme
Zabala (p. 51) “é preciso introduzir, em cada momento, as ações que se adaptem
às novas necessidades informativas que surge constantemente”. O objetivo será a
melhoria da prática. Nesta concepção, o conhecimento e o uso de alguns marcos
teóricos levarão a uma verdadeira reflexão sobre a prática, fazendo com que a
intervenção pedagógica seja o menos rotineira possível.
Capítulo 3
As Sequências Didáticas e as Sequências de Conteúdo
Neste
capítulo o autor apresenta o estudo da primeira variável que incide sobre as
práticas educativas: a sequência didática. Ele apresenta quatro unidades
didáticas como exemplo e as analisa sob os aspectos do conteúdo, da
aprendizagem, da atenção à diversidade e da sequência e tipologia dos
conteúdos. Vejamos:
UNIDADE 1
1. Comunicação
da lição: o professor ou a professora expõe o tema. Enquanto explica, os
alunos tomam notas. O professor ou a professora permite alguma pergunta a que
responde oportunamente. Quando acaba, define parte do tema que será objeto da
prova que vale nota. Segundo a área ou matéria, os conteúdos podem ser um
relato histórico, uma corrente filosófica, literária ou artística, um princípio
matemático ou físico, etc;
2. Estudo
individual sobre o livro-texto: cada um dos alunos, utilizando diferentes
técnicas (quadros, resumos, sínteses), realiza o estudo do tema;
3. Repetição
dos conteúdos aprendidos: cada menino ou menina, individualmente, memoriza
os conteúdos da lição que supõe que será objeto da prova ou exame;
4. Prova ou
exame em classe: todos os alunos respondem à perguntas do exame durante uma
hora;
5. Avaliação:
o professor ou a professora comunica aos alunos os resultados obtidos.
UNIDADE 2
1. Apresentação por parte do professor (a) de
uma situação problemática: o professor (a) expõe aos alunos uma situação
conflitante que pode ser solucionada por meios matemáticos, linguística, física
ou de qualquer outra área;
2. Busca de soluções: o professor (a) pede
aos meninos e meninas que exponham diferentes formas de resolver o problema ou
situação;
3. Exposição do conceito ou algoritmo: o
professor (a) aproveita as propostas dos alunos para elaborar um novo conceito
e ensina o modelo de algoritmo o problema ou a situação;
4. Generalização: o professor (a) demonstra
a função do modelo conceitual e o algoritmo em todas aquelas situações que
cumprem determinadas condições;
5. Aplicação: os alunos aplicam aquele
modelo a diversas situações;
6. Exercitação: os alunos realizam
exercícios do uso do algoritmo;
7. Prova ou exame: em classe, todos os
alunos respondem às perguntas e fazem os exercícios do exame durante uma hora;
8. Avaliação: o professor (a) comunica aos
alunos os resultados obtidos.
UNIDADE 3
1. Apresentação por parte do professor (a) de
uma situação problemática relacionada ao tema: o professor (a) desenvolve
um tema sobre um fato ou acontecimento destacando os aspectos problemáticos e
os que são desconhecidos pelos alunos. Os conteúdos do tema e as situações que
se propõe podem ser um conflito social ou histórico, uma diferença na
interpretação de uma obra (literária ou artística), etc;
2. Diálogo entre professor (a) e aluno: O
professor (a) estabelece um diálogo com os alunos e entre eles e promove o
surgimento de dúvidas, questões e problemas relacionados ao tema;
3. Comparação entre os diferentes pontos de
vistas: o professor (a) facilita diferentes pontos de vista e promove a
discussão em grupo;
4. Conclusões: A partir da discussão do
grupo e as conclusões obtidas, o professor (a) estabelece as conclusões;
5. Generalização: com as contribuições do
grupo e as conclusões obtidas, o professor (a) estabelece as leis, modelos
interpretativos ou os princípios que se deduzem deles;
6. Exercícios de memorização: Os alunos,
individualmente, realizam exercícios de memorização que lhes permitam lembrar
os resultados das conclusões e da generalização;
7. Prova ou exame: em classe, todos os
alunos respondem às perguntas e fazem os exercícios do exame durante uma hora;
8. Avaliação: o professor (a) comunica aos
alunos os resultados obtidos.
UNIDADE 4
1. Apresentação
por parte do professor (a) de uma situação problemática relacionada ao tema:
o professor (a) desenvolve um tema sobre um fato ou acontecimento destacando os
aspectos problemáticos e os que são desconhecidos pelos alunos. Os conteúdos do
tema e as situações que se propõe podem ser um conflito social ou histórico,
uma diferença na interpretação de uma obra (literária ou artística), a
comparação entre um conhecimento vulgar de certos fenômenos biológicos e
possíveis explicações científicas, etc;
2. Proposição
de problemas ou questões: Os alunos, coletiva ou individualmente, dirigidos
e ajudados pelo professor (a), expõe as respostas intuitivas ou suposições
sobre cada um dos problemas e situações propostas;
3. Propostas de
fontes de informação: Os alunos, coletiva ou individualmente, dirigidos
pelo professor (a) propõem as fontes de informação mais apropriadas para cada um
das questões: o próprio professor, uma pesquisa bibliográfica, uma experiência,
uma observação, uma entrevista, um trabalho de campo;
4. Busca de
informação: os alunos, coletiva ou individualmente, dirigidos e ajudados
pelo professor ou professora, realizam a coleta dos dados que as diferentes
fontes lhes proporcionam. A seguir selecionam e classificam os dados;
5. Elaboração
de conclusões: os alunos, coletiva ou individualmente, dirigidos e ajudados
pelo professor (a), elaboram as conclusões que se referem as questões e aos
problemas propostos;
6. Generalização
das conclusões e síntese: com as contribuições do grupo e as conclusões
obtidas, o professor (a) estabelece as leis, os modelos e os princípios que se
deduzem do trabalho realizado;
7. Exercícios de
memorização: os alunos, individualmente, realizam memorização que lhes
permitam lembras os resultados das conclusões, da generalização e da síntese;
8. Prova ou
exame: na classe, todos os alunos respondem às perguntas e fazem os
exercícios do exame durante uma hora.
9. Avaliação:
A partir das observações que o professor fez ao longo da sequência e a partir
do resultado da prova, este comunica aos alunos a avaliação das aprendizagens
realizadas.
A Concepção Construtivista e a atenção à
diversidade
A aprendizagem é uma construção pessoal
que cada menino e cada menina realizam graças à ajuda que recebem de outras
pessoas. Esta construção implica a contribuição por parte da pessoa que
aprende, de seu interesse e disponibilidade, de seus conhecimentos prévios e de
sua experiência. Em tudo isto desempenha um papel essencial a pessoa
especializada, que ajuda a detectar um conflito inicial entre o que já se
conhece e o que se deve saber, que contribui para que o aluno se sinta capaz e
com vontade de resolver. É um processo que não só contribui para que o aluno
aprenda certos conteúdos, mas também faz com que aprenda a aprender e aprenda
que pode aprender.
Este
conhecimento nos permite estabelecer uma série de perguntas acerca das
diferentes sequências didáticas (que
correspondem a um conjunto de atividades escolares organizadas, sistematizadas
e encadeadas entre si), com o objetivo de reconhecer sua validade, mas
sobre tudo, de nos facilitar pistas para reforçar algumas atividades ou
acrescentar outras novas. As perguntas podem ser feitas da seguinte forma, pois
na sequência didática existem atividades:
1. Que permitam
determinar os conhecimentos prévios?
2. Cujos
conteúdos sejam significativos e funcionais?
3. Que são
adequadas ao nível de desenvolvimento?
4. Que
representem um desafio alcançável, levando em conta suas competências atuais,
que permitam criar zonas de desenvolvimento proximal?
5. Que provoquem
um conflito cognitivo e promovam a atividade mental do aluno?
6. Que promovam
uma atitude favorável, quer dizer, que sejam motivadoras em relação à
aprendizagem de novos conteúdos?
7. Que estimulem
a auto-estima e o auto-conceito em relação às aprendizagens que se propõem quer
dizer que o aluno possa sentir que em certo grau aprendeu, que seu esforço
valeu a pena?
8. Que ajudem o
aluno a adquirir habilidades relacionadas com o aprender a aprender, que lhe
permitam ser cada vez mais autônomo em suas aprendizagens?
Se
utilizarmos estas perguntas, podemos estabelecer as considerações sobre as
unidades didáticas analisadas anteriormente que se expõem a seguir:
a)
Conhecimentos prévios.
Nesta
unidade, o professor supõe que todos os alunos sabem do que necessitam para
esta unidade.
b)
significância e funcionalidade dos novos conteúdos.
Pela
descrição da sequência não podemos saber se os conteúdos tratados são
significativos ou funcionais.
c) Nível de
desenvolvimento.
O
grau de complexidade da exposição e o número de variáveis determinarão a
dificuldade da compreensão.
d) Zona de
desenvolvimento proximal.
Será
necessário introduzir atividades que estimulem os alunos a expressar o que
pensam sobre o tema tratado.
e) Conflito
cognitivo e atividade mental.
f) Atitude
favorável.
A
motivação para a aprendizagem não decorre da sequência em si mesma, já que tal
como está escrita não conta com nenhuma atividade previa à exposição para
despertar o interesse dos alunos.
g) A
auto-estima e auto-conceito.
Esse
tipo de sequência dispõe poucos meios para o professor se relacionar
afetivamente com os alunos, pois os momentos de relação pessoal se limitam a
alguns contatos esporádicos,
h) Aprender a
aprender.
A
partir da exposição do professor (a) o aluno fica com o papel principal - será
que ele fará os estudos, a atividade de memorização e a prova, de maneira que
terá de se virar naquelas atividades?
Conclusões
O desprestígio de que goza esta
sequência, nas posições progressistas se deve ao fato de ser utilizada pelas
propostas que consideram que uma das funções primordiais do ensino é a
seletiva.
a)
Conhecimentos prévios.
Quando
o professor pede aos alunos diferentes formas de resolver o problema ou
conflito.
b)
Significância e funcionalidade dos novos conteúdos.
A
generalização necessária de todo conceito se produz quando já se comprovou seu
valor num caso concreto e não antes.
c) Nível de
desenvolvimento.
O
momento fundamental para determinar a capacidade dos alunos para compreender os
novos conteúdos é a atividade em que eles mesmos propõem soluções.
d) Zona de
desenvolvimento proximal.
A
informação pode indicar onde se deve situar os desafios na exposição que dará
lugar à conceitualização. Os dados que tenhamos sobre o que sabem e podem saber
ou fazer serão cruciais no planejamento dos exercícios.
e) Conflito
cognitivo e atividade mental.
O
professor propõe uma situação problemática que os alunos tentam dar uma
resposta.
f) Atitude
favorável.
Os
problemas propostos precisam ter origem em situações próximas dos interesses
dos alunos.
g) A
auto-estima e Auto-conceito.
A
potencializarão, ou não, da imagem pessoal do aluno, dependerá do tipo de
comentários efetuados e do tipo de avaliações realizadas ao longo da unidade.
h) Aprender a
aprender.
O
aluno elabora certos conceitos e faz a descontextualização necessária de toda a
generalização aplicando o conceito em todas as situações.
Conclusões:
A grande
debilidade dessa sequência é o risco que se corre de dar por bom o discurso do
professor e as respostas de alguns alunos como supostos representantes do
pensamento da maioria.
a)
Conhecimentos prévios.
Os
alunos participam na maioria das atividades que compõem a unidade, o que
possibilita a adequação das intervenções do professor.
b)
Significância e funcionalidade dos novos conteúdos.
Os
novos conteúdos de aprendizagem aparecem como meios para resolver os conflitos
que o professor propôs e não como um conhecimento fora de um contexto mais ou
menos próximo do aluno.
c) Nível de
desenvolvimento.
A
participação dos alunos durante a sequência permite reconhecer as dificuldades
de compreensão que se apresentam.
d) Zona de
desenvolvimento proximal.
A
segunda e a terceira atividades são cruciais para examinar o que pensam os
alunos, que dúvidas têm e que interpretações fazem.
e) Conflito
cognitivo e atividade mental.
O
ponto de partida dessa sequência é a criação do conflito cognitivo e a
atividade do pensamento.
f) Atitude
favorável.
O
fato de que se parte de uma situação conflitante pode facilitar que os alunos
se engajem para que este interesse não se manifeste apenas nos mais estimulados
intelectualmente.
g) A
auto-estima e auto-conceito.
As
opiniões dos alunos são a matéria-prima para a construção do discurso do
professor e para gerar as conclusões.
h) Aprender a
aprender.
Esta
sequência ajuda a promover certas habilidades de construção pessoal de
conceitos, acrescentando técnicas de estudo e memorização.
Conclusões:
Esta
sequência satisfaz em grande parte, as condições que possibilitam que as
aprendizagens sejam as mais significativas possíveis. Dado que o ritmo da
classe tem como protagonista o professor, pode-se cair facilmente numa situação
em que os alunos se limitam apenas a reproduzir as explicações finais e
considerem as atividades previas uma simples liturgia necessária para dar um
tom atual à intervenção educativa.
a)
Conhecimentos prévios.
Neste
caso, a estrutura da sequência se organiza em torno das contribuições que os
alunos fazem em cada momento. O objetivo da unidade consiste em dar resposta a
determinadas perguntas que os alunos se fazem e que considerem que é
interessante resolver. Parte do princípio que os alunos possuem um conhecimento
que elaborem suas hipóteses ou suposições. O problema surge quando nos perguntamos
qual é o grau de envolvimento dos alunos nas perguntas e hipóteses que fazem. O
papel fundamental do professor consiste em incentivar a participação.
b)
Significância e funcionalidade dos novos conteúdos.
Neste
caso, o que se aprende é sempre o resultado da resposta às perguntas que se
fazem.
c) Nível de
desenvolvimento.
As
perguntas feitas, as suposições propostas podem proporcionar informação
suficiente para determinar qual o grau de dificuldade de aprendizagem que
apresenta o tema.
d) Zona de
desenvolvimento proximal.
A
segunda e a terceira atividades são cruciais para examinar o que pensam os
alunos, que dúvidas têm e que interpretações fazem.
e) Conflito
cognitivo e atividade mental.
O
fato de que a sequência se articula segundo o esquema da pesquisa os aspectos
que chamam mais a atenção das fases de investigação podem fazer com que o aluno
demonstre muita atividade, mas se limite a seguir estritamente as ordens e
instruções.
f) Atitude
favorável.
A
atividade inicial pretende criar os primeiros interesses, deve ser a que
provoca as perguntas e passa pela manutenção constante do interesse. O papel do
professor adquire todo o seu sentido, como favorecedor e dinamizador de todo o
processo, oferecendo meios que mantenham a atenção dos alunos.
g) A
auto-estima e Auto-conceito.
Nesta
unidade todo o peso do trabalho repousa na dinâmica do grupo. Há uma valoração
das contribuições e dos conhecimentos dos alunos para solucionar os problemas e
resolver os conflitos que surgirão.
h) Aprender a
aprender.
É
um dos fatores mais claros nesta unidade, pelo fato de incluir, além das
habilidades escolares de estudo individual muitas outras de variedade e
características diferenciadas.
Conclusões:
Esta sequência apresenta uma maior
variedade de atividades, afim de que as aprendizagens sejam o mais
significativa possível. O maior risco está na possibilidade de cair no
denominado falso ativismo (observações diretas, excursões, etc.) abandonando as
atividades previas e posteriores que são básicas para alcançar a compreensão
dos conhecimentos propostos.
O
autor conclui que nestas propostas de trabalho aparecem para os alunos
diferentes oportunidades de aprender diversas coisas, e para os professores,
uma diversidade de meios para captar os processos de construção que eles
edificam, de possibilidades de neles incidir e avaliar. Que os diferentes
conteúdos que os professores apresentam aos alunos exigem esforços de
aprendizagem e ajudas específicas.
Refletir
sobre o processo ensino/aprendizagem implica apreender o que está sendo
proposto de maneira significativa. Discernir o que pode ser objeto de uma
unidade didática, como conteúdo prioritário do que exige um trabalho mais
continuado pode nos conduzir a estabelecer propostas mais fundamentadas,
suscetíveis de ajudar mais os alunos e a nós mesmos. As diferentes propostas
didáticas analisadas têm diferentes potencialidades quanto à organização do
ensino. Portanto, “mais do que nos movermos pelo apoio acrítico a um outro modo
de organizar o ensino devemos dispor de critérios que nos permitem considerar o
que é mais conveniente num dado momento para determinados objetivos a partir da
convicção de que nem tudo tem o mesmo valor, nem vale para satisfazer as mesmas
finalidade. Utilizar esses critérios para analisar nossa prática e, se convém,
para reorientá-la” (p.86).
Capítulo 4
As Relações Interativas
em Sala de Aula: o papel dos professores e dos alunos
Para
Zabala (p. 89) as relações de que se estabelecem entre os professores, os
alunos e os conteúdos de aprendizagem constituem a chave de todo o ensino e
definem os diferentes papéis dos professores e dos alunos.
A
concepção tradicional atribui ao professor o papel de transmissor de
conhecimentos e controlador dos resultados obtidos. Ao aluno cabe interiorizar
o conhecimento que lhe é apresentado. A aprendizagem consiste na reprodução da
informação. Esta maneira de entender a aprendizagem configura uma determinada
forma que relacionar-se em classe.
Na
concepção construtivista ensinar envolve estabelecer uma série de relações que
devem conduzir à elaboração, por parte do aprendiz, de representações pessoais
sobre o conteúdo. Trata-se de um ensino adaptativo, isto é, um ensino com
capacidade para se adaptar às diversas necessidades das pessoas que o
protagonizam. Portanto, os professores podem assumir desde uma posição de intermediário
entre o aluno e a cultura, a atenção para a diversidade dos alunos e de
situações à posição de desafiar, dirigir, propor, comparar. Tudo isso sugere
uma interação direta entre alunos e professores, favorecendo a possibilidade de
observar e de intervir de forma diferenciada e contingente nas necessidades dos
alunos/as.
Do
conjunto de relações necessárias para facilitar a aprendizagem se deduz uma
série de funções dos professores, que Zabala (p. 92-104) caracteriza da
seguinte maneira:
a) Planejar a
atuação docente de uma maneira suficientemente flexível para permitir adaptação
às necessidades dos alunos em todo o processo de ensino/aprendizagem. Por um
lado, uma proposta de intervenção suficientemente elaborada; e por outro, com
uma aplicação extremamente plástica e livre de rigidez, mas que nunca pode ser
o resultado da improvisação.
b) Contar com as
contribuições e os conhecimentos dos alunos, tanto no início das atividades
como durante sua realização.
c) Ajudá-los a
encontrar sentido no que estão fazendo para que conheçam o que têm que fazer,
sintam que podem fazê-lo e que é interessante fazê-lo.
d) Estabelecer
metas ao alcance dos alunos para que possam ser superadas com o esforço e a
ajuda necessários.
e) Oferecer
ajudas adequadas, no processo de construção do aluno, para os progressos que
experimenta e para enfrentar os obstáculos com os quais se depara.
f) Promover
atividade mental auto-estruturante que permita estabelecer o máximo de relações
com novo conteúdo, atribuindo-lhe significado no maior grau possível e
fomentando os processos de meta-cognição que lhe permitam assegurar o controle
pessoal sobre os próprios conhecimentos e processos durante a aprendizagem.
g) Estabelecer
um ambiente e determinadas relações presididos pelo respeito mútuo e pelo
sentimento de confiança, que promovam a auto-estima e o autoconceito.
h) Promover
canais de comunicação que regulem os processos de negociação, participação e
construção.
i) Potencializar
progressivamente a autonomia dos alunos na definição de objetivos, no
planejamento das ações que os conduzirão aos objetivos e em sua realização e
controle, possibilitando que aprendam a aprender.
j) Avaliar os
alunos conforme suas capacidades e seus esforços, levando em conta o ponto
pessoal de partida e o processo através do qual adquirem conhecimentos e
incentivando a autoavaliação das competências como meio para favorecer as
estratégias de controle e regulação da própria atividade.
Concluindo,
Zabala afirma que os princípios da concepção construtivista do ensino e da
aprendizagem escolar proporcionam alguns parâmetros que permitem orientar a
ação didática e que, de maneira específica ajuda a caracterizar as interações
educativas que estrutura a vida de uma classe, estabelecendo as bases de um
ensino que possa ajudar os alunos a se formarem como pessoas no contexto da
instituição escolar.
Capítulo 5
A Organização Social da Classe
Neste
capítulo Zabala analisa a organização social da classe. As diversas formas de
agrupamento dos alunos são úteis para diversos objetivos e para o trabalho de
diferentes conteúdos. Historicamente a forma mais habitual de preparar as
pessoas mais jovens para sua integração na coletividade eram os processos
individuais. Atualmente são diversas as formas de agrupamento dos alunos e de
organização das atividades às quais o professor pode recorrer.
A
primeira configuração considerada pelo autor é o grupo/escola em que toda escola tem uma forma de estrutura social
determinada. As características desta organização grupal são determinadas pela
organização e pela estrutura de gestão da escola e pelas atividades que toda
escola realiza. Os grupos/classe fixos
é a maneira convencional de organizar os grupos de alunos nas escolas. Além de
sua facilidade organizativa, oferece aos alunos um grupo de colegas estável,
favorecendo as relações interpessoais e a segurança efetiva. A terceira
configuração, os grupos/classes móveis
ou flexíveis são agrupamentos em que os componentes do grupo/classe são
diferentes conforme as atividades, áreas ou matérias. As vantagens são, por um
lado, a capacidade de ampliar a resposta à diversidade de interesses e
competências dos alunos e, por outro, que em cada grupo existe uma
homogeneidade que favorece a tarefa dos professores. Na organização da classe
como grande grupo todo o grupo faz o mesmo ao mesmo tempo. É uma forma de
organização apropriada para o ensino de fatos; no caso dos conceitos e
princípios aparecem muitos problemas. Para os conteúdos procedimentais é
impossível atender a diversidade; no caso dos conteúdos atitudinais o grande
grupo é especialmente adequado para a assembleia, mas é insuficiente. A
organização da classe em equipes fixas consiste em distribuir os alunos em
grupos de 5 a 8 componentes, durante um período de tempo. As equipes fixas
oferecem numerosas oportunidades para trabalhar conteúdos atitudinais. A sexta
configuração é a organização da classe em equipes móveis ou flexíveis. Implica
o conjunto de dois ou mais alunos com a finalidade de desenvolver uma tarefa
determinada. São adequadas para o trabalho de conteúdos procedimentais. Também
será apropriada para o trabalho dos conteúdos atitudinais no âmbito das
relações interpessoais. O trabalho
individual é especialmente útil para memorização de fatos, para o
profundamente da memorização posterior de conceitos e, especialmente, para a
maioria dos conteúdos procedimentais. Uma forma de trabalho individual
especialmente útil é o denominado por Freinet de “contrato de trabalho”. Nos “contratos
de trabalho” cada aluno estabelece um acordo com o professor sobre as
atividades que deve realizar durante um período de tempo determinado. Essa
forma trabalho é interessante só para aqueles conteúdos que permitem
estabelecer uma sequência mais ou menos ordenada, ou seja, alguns conteúdos
factuais e muitos conteúdos procedimentais.
Concluindo:
a forma de agrupar os alunos não é uma decisão técnica prévia ou independente
do que se quer ensinar e de que aluno se quer formar; os trabalhos em grupo não
excluem o trabalho e o esforço individuais; os contratos de trabalho podem
constituir-se num instrumento eficaz para articulara um trabalho personalizado
interessante e pelo qual o aluno sinta responsável; o papel formativo do
grupo/escola condiciona o que pode se fazer nos diferentes níveis da escola, educativamente falando, ao mesmo tempo que
constitui um bom indicador da coerência entre as intenções formativas e os
meios para alcançá-las.
Quanto à
distribuição do espaço: na estrutura física das escolas, os espaços de
que dispõe e como são utilizados corresponde a uma ideia muito clara do que
deve ser o ensino. Parece lógica que a distribuição atual das escolas continue
a ser um conjunto de salas de aula com um conjunto de cadeiras e mesas
enfileiradas e alinhadas de frente para o quadro-negro e para a mesa do
professor. Trata-se de uma disposição espacial criada em função do protagonista
da educação, o professor.
A
utilização do espaço começa a ser problematizada quando o protagonismo do
ensino se desloca do professor para o aluno. Criar um clima e um ambiente de
convivência que favoreçam as aprendizagens se converte numa necessidade da
aprendizagem e num objetivo do ensino. Ao mesmo tempo, as características dos
conteúdos a serem trabalhados determinam novas necessidades espaciais. Para a
aplicação dos conteúdos procedimentais torna-se necessário revisar o tratamento
do espaço já que é necessária uma atenção às diferenças. Quanto aos conteúdos
atitudinais, excetuando-se o papel da assembleia e das necessidades de espaço
dessa atividade, sua relação com a variável espaço está associada à série de
manifestações que constituem a maneira de entender os valores por parte da
escola.
Quanto à
distribuição do tempo:
o tempo teve, e ainda tem, um papel decisivo na configuração das propostas
metodológicas. Muitas das boas intenções podem fracassar se o tempo não for
considerado como uma autêntica variável nas mãos dos professores.
A
estruturação horária em períodos rígidos é o resultado lógico de uma escola
fundamentalmente transmissora. A ampliação dos conteúdos educativos e,
sobretudo, uma atuação consequente com a maneira como se produzem as
aprendizagens leva os professores a reconsiderar que estes modelos inflexíveis.
No entanto, é evidente que o ritmo da escola, de toda uma coletividade, não
pode se deixar levar pela aparente improvisação. O planejamento torna-se
necessário para que se estabeleça um horário que pode variar conforme as
atividades previstas no transcurso de uma semana.
Capítulo 6
A Organização dos Conteúdos
As relações e a forma de vincular os
diferentes conteúdos de aprendizagem que formam as unidades didáticas é o que
se denomina organização de conteúdos. Existem duas proposições acerca das
formas de organizá-los: uma baseada nas disciplinas ou matérias; e a outra,
oferecida pelos métodos globalizados, onde os conteúdos das unidades didáticas
passam de uma matéria para outra sem perder a continuidade.
A
diferença básica entre os dois modelos está no fato de que para os métodos
globalizados as disciplinas não são a finalidade básica do ensino, senão que
tem a função de proporcionar os meios ou instrumentos que deve favorecer a
realização dos objetivos educacionais; o referencial organizador fundamental é
o aluno e suas necessidades educativas. No caso dos modelos disciplinares a
prioridade básica são as matérias e sua aprendizagem.
Tomando
as disciplinas como organizadoras dos
conteúdos têm-se, na escola, as diversas formas de relação e colaboração
entre as diferentes disciplinas que foram consideradas matéria de estudo
possibilitando estabelecer três graus de relações disciplinares:
1)
Multidisciplinaridade: é a mais tradicional. Os conteúdos escolares são
apresentados por matérias independentes umas das outras.
2)
Interdisciplinaridade: é a interação entre duas ou mais disciplinas que pode ir
desde a simples comunicação de ideias até a integração recíproca dos conceitos
fundamentais, da teoria do conhecimento, da metodologia e dos dados da
pesquisa.
3)
Transdisciplinaridade: supõe uma integração global dentro de um sistema
totalizador. Este sistema favorece uma unidade interpretativa, com objetivo de
constituir uma ciência que explique a realidade sem parcelamento. Nesta
concepção pode se situar o papel das áreas na educação infantil e nas séries
iniciais do ensino fundamental, onde uma aproximação global de caráter
psicopedagógico determina certas relações de conteúdos com pretensões
integradoras.
Quanto
aos métodos globalizados, sua
perspectiva se centra exclusivamente no aluno e suas necessidades educacionais.
Os conteúdos que são trabalhados procedem de diferentes disciplinas, apesar de
que o nexo que há entre elas não segue nenhuma lógica disciplinar. Esse método
nasce a partir do termo sincretismo introduzido por Claparède e,
posteriormente, Decroly com termo globalismo.
Existem
vários métodos que podem ser considerados globalizados, dentre eles quatro, por
sua vigência atual, são analisados no livro: os centros de interesse de
Decroly, o sistema de projetos de kilpatrick, o estudo do meio do MCE e os
projetos de trabalho globais. O autor os analisa indicando seus pontos de
partida, suas sequências de ensino/aprendizagem e suas justificativas. Zabala
conclui que, embora todos priorizem o aluno e o como se aprende, o aspecto que
enfatizam na função social é diferente. No centro de interesse a função social
consiste em formar cidadãos preparados para conhecer e interagir com o meio; o
método de projetos de Kilpatrick considera que sua finalidade é a preparação
para a vida de pessoas solidárias que sabem fazer; para o método de estudo do
meio a formação de cidadãos democráticos e com espírito científico; e,
finalmente, os projetos de trabalho globais entendem que o objetivo é a
formação de cidadãos e cidadãs capazes de aprender a aprender. Contudo, apesar
das diferenças, o objetivo básico desses métodos consiste em conhecer a
realidade e saber se desenvolver nela.
Concluindo,
o autor afirma que inclinar-se por um enfoque globalizador como instrumento de
ajuda para a aprendizagem e o desenvolvimento dos alunos não supõe a rejeição
das disciplinas e dos conteúdos escolares. Pelo contrário, implica
atribuir-lhes seu verdadeiro e fundamental lugar no ensino, que vai além dos
limites estreitos do conhecimento enciclopédico, para alcançar sua
característica de um instrumento de análise, compreensão e participação social.
Esta característica é que os tornam suscetíveis de contribuir de forma valiosa
para o crescimento pessoal, uma vez que fazem parte da bagagem que determina o
que somos, o que sabemos e o que sabemos fazer.
Capítulo 7
Os Materiais Curriculares e os outros Recursos
Didáticos
Os materiais curriculares ou materiais
de desenvolvimento curricular são aqueles instrumentos que proporcionam ao
educador referências e critérios para tomar decisões, tanto no planejamento
como na intervenção direta no processo de ensino/aprendizagem e em sua
avaliação.
Os
materiais curriculares podem ser classificados quanto:
•
Aos diferentes âmbitos de intervenção dos professores que permitem observar a
existência de materiais que se referem aos aspectos muito gerais, relacionados
com todo do sistema educativo: materiais de caráter sociológico,
psicopedagógico ou outros de decisões no âmbito geral da escola, outros a
planejamento, etc.
•
A intencionalidade ou função que terão os materiais curriculares com diferentes
finalidades: orientar, guiar, exemplificar, ilustrar, propor, divulgar, tais
como: livros, programas audiovisuais.
•
A maneira de organizar os conteúdos encontramos materiais com pretensões
integradoras e globalizadores que tentam abarcar conteúdos de diferentes
matérias, e outros com enfoque claramente disciplinares. Blocos, fichas ou
programas de computador, ortografia, desenho, mapas, etc.
•
Ao suporte, considera-se o quadro-negro, nunca suficientemente valorizado, mas
o número um. Outros livros, cadernos de exercícios, fichas, slides, vídeo,
informática.
As críticas ao livro
didáticos, por extensão, aos materiais curriculares
As críticas referentes aos conteúdos
dos livros didáticos giram em torno dos seguintes aspectos:
•
A maioria dos livros didáticos trata os conteúdos de forma unidirecional.
•
Dada a sua condição de produto estão mediatizados por uma infinidade de
interesses.
•
As opções postuladas são transmitidas de forma dogmática, sem possibilidades de
questionamentos.
•
Apesar da grande quantidade de informação não podem oferecer toda a informação
necessária para garantir a comparação.
•
Fomentam a atitude passiva dos alunos, pois impedem que participem do processo
de aprendizagem.
•
Não favorecem a comparação entre a realidade e os ensinos escolares.
•
Impedem o desenvolvimento das propostas mais próximas.
•
Não respeitam a forma nem o ritmo de aprendizagem.
•
Fomentam técnicas didáticas baseadas na memorização mecânica. Segundo o autor esta revisão das críticas aos
livros didáticos permite observar suas limitações e orientar os professores na
determinação das características dos materiais curriculares para os alunos. O
objetivo não deve ser a busca de um livro-texto alternativo, mas a avaliação de
uma resposta global, configurada por diferentes materiais, cada um dos quais
abarca algumas funções específicas.
Os diferentes
materiais curriculares
·
Suporte
Papel (descartável e não-descartável);
Os materiais descartáveis oferecem a
vantagem de que os alunos devem trabalhá-los individualmente ou em grupo,
expressando o que entendem em cada momento, o que permite que os professores
possam conhecer a situação de cada um deles em seu processo de
aprendizagem.
·
Projeção
estática;
As imagens estáticas sejam do
retroprojetor ou dos slides, são úteis como suporte para as exposições dos
professores e úteis como complemento esclarecedor de muitas ideias que se
querem comunicar.
·
Imagem
em Movimento;
Muitos dos conteúdos trabalhados em
aula se referem a processos, mudanças e transformações. São conteúdos que
comportam movimentos no tempo e no espaço, assim sendo é muito adequado o uso
de filmes ou gravações em vídeo.
·
Suporte
de Informática;
Sua contribuição mais importante se
refere à retroatividade, isto é, a possibilidade de estabelecer um diálogo mais
ou menos aberto entre programa e aluno.
Os programas de computador podem exercer
uma função inestimável como suporte para qualquer trabalho de simulação de
processos complexos.
·
Suporte
multimídia;
Os avanços
tecnológicos permitem dispor ainda de instrumentos com novas utilidades e
capacidades. A combinação da informática e do vídeo, com o uso do disco laser.
CDI ou CD-Rom.
Uma proposta de materiais curriculares para a escola
Dada as
características diferenciadas dos contextos educativos, dos diversos ritmos de
aprendizagem dos alunos, postas pelos diferentes tipos de conteúdos e das
estratégias de aprendizagem, será necessário oferecer aos professores um grande
número de materiais. Assim todo projeto global terá que observar para cada área
ou etapa o seguinte:
• Guias didáticos
dos professores;
• Materiais para a
busca de informação;
• Materiais
sequenciados e progressivos para o tratamento de conteúdos basicamente
procedimentais;
• Propostas de
unidade didáticas.
A conclusão do
autor: de nenhum modo os materiais curriculares podem substituir a atividade
construtiva do professor, nem a dos alunos, na aquisição das aprendizagens. Mas
é um recurso importantíssimo que, se bem utilizado, não apenas potencializa o
processo como oferece ideias, propostas e sugestões que enriquecem o trabalho
profissional.
Capítulo 8
A Avaliação
Pra
que avaliar?
Para
melhorar a qualidade do ensino é preciso reconhecer e poder avaliar a
intervenção pedagógica dos professores, de forma que a ação avaliadora observe
os processos individuais e grupais, já que numa perspectiva profissional o
conhecimento pelo professor das hipóteses construídas pelos meninos (as) durante
o processo de ensino/aprendizagem é, em primeiro lugar, um meio para ajudá-los
em seu crescimento e, em segundo lugar, um instrumento que permite que os
educadores possam melhorar a atuação na sala de aula.
Nos
quadros abaixo podemos ver que toda intervenção educativa na aula se articula
em torno de alguns processos de ensino/aprendizagem que podem ser analisados de
diferentes pontos de vista:
AVALIAÇÃO DO PROCESSO INDIVIDUAL
SUJEITOS
|
Aluno/a
|
Professor/a
|
OBJETO
AVALIADO
|
Processo de aprendizagem
|
Processo de ensino
|
AVALIAÇÃO DO PROCESSO GRUPAL
SUJEITOS
|
Grupo/classe
|
Equipe docente
|
OBJETO
AVALIADO
|
Processo de aprendizagem
|
Processo de ensino
|
Como
podemos observar, procedemos de uma tradição educacional prioritariamente
uniformizadora onde as diferenças entre os alunos das mesmas idades não são
motivos suficiente para mudar as formas de ensino, mas que constituem uma
evidência que valida a função seletiva do sistema e, portanto, sua capacidade
para escolher os melhores. São bons alunos aqueles que se adaptam a um ensino
igual para todos; não é o ensino que deve se adaptar as diferenças dos alunos.
O
quadro abaixo estabelece o fato de que as experiências de vidas constituem o
valor básico de qualquer aprendizagem e obriga a levar em conta a diversidade
dos processos de aprendizagem.
Função
social
|
Aprendizagem
|
Objeto
|
Sujeito
|
Referencial
|
Avaliação
|
Informe
|
Seletiva e propedêutica
|
Uniformizador e transmissor
|
Resultados
|
Aluno
|
Disciplinas
|
Sanção
|
Quantitativo
|
Formação integral
|
Atenção à diversidade construção
|
Processo
|
Alunos professores
|
Capacidade
|
Ajuda
|
Descritivo Interpretativo
|
A Avaliação Formativa
A
partir de uma opção que contempla como finalidade fundamental do ensino a
formação integral da pessoa e conforme uma concepção construtivista, a avaliação
sempre tem que ser formativa, de maneira que o processo avaliador, independente
de seu objetivo de estudo, tem que observar as diferentes fases de uma
intervenção que deverá ser estratégica. Quer dizer, que permita conhecer qual é
a situação de partida, em função de determinados objetivos gerais bem definidos
(avaliação inicial); um planejamento
de intervenção; uma atuação e, ao mesmo tempo, flexível, flexível, entendido
como uma hipótese de intervenção; uma atuação na aula, em que as atividades e
tarefas e os próprios conteúdos trabalhados se adequarão constantemente (avaliação reguladora) às necessidades
que vão se apresentando para chegar sobre processo seguido, que permita
estabelecer novas propostas de intervenção (avaliação final e integradora).
ESQUEMA DA AVALIAÇÃO FORMATIVA
AVALIAÇÃO INICIAL →
PLANEJAMENTO → ADEQUAÇÃO DO PLANO (AVALIAÇÃO REGULADORA) →
→ AVALIAÇÃO FINAL E
AVALIAÇÃO INTEGRADORA
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