"Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham, nem fiam. E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles".

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Supervisão e gestão na escola

RANGEL, Mary (org.). Supervisão e gestão na escola: conceitos e práticas de mediação. 3. Ed. Campinas: Papirus, 2015.

Este livro reúne estudos que auxiliam o leitor a compreender, de modo fundamentado e consistente, o trabalho da supervisão e suas contribuições à qualidade social e pedagógica dos serviços e práticas escolares, enfatizando princípios de participação coletiva e de formação docente continuada. Nos diversos temas da supervisão e de suas implicações na gestão e na mediação do trabalho pedagógico tratados, encontram-se análises e exemplos concretos de seus benefícios para o cotidiano escolar.
Em cada capítulo é demonstrado o importante papel de liderança dos supervisores para o avanço nos princípios, nos processos e nas práticas que favorecem a aprendizagem, com o pressuposto de que o conhecimento é direito do cidadão e valor essencial das instituições comprometidas com a educação. Os supervisores são mediadores. Ajudam a estabelecer a comunicação. Ajudam os indivíduos a ouvirem uns aos outros. Servem como ligação para as pessoas em contato com aqueles que têm problemas semelhantes ou com pessoas-recurso que podem ajudá-los.
Em tese, atualmente na área da educação, o conceito de mediação leva à expectativa de uma relação de reciprocidade entre o individuo e as possibilidades do conhecer, aprender. Enfatiza, através do discurso oficial no plano da ideologia intersubjetiva a “troca de experiencias entre as pessoas” para a possibilidade de conhecimento pelo “vir a ser” (Duarte, 2000). Uma perspectiva que, segundo Duarte, leva a elaborações equivocadas do pensamento de Vigotski, como, por exemplo, a defesa da centralidade das interações discursivas na constituição do sujeito social em nome da concepção marxista (p. 22).
Não obstante, dadas as influências da psicologia da sócio-histórica de Vigotski, é possível dizer que a educação recebeu de braços abertos as contribuições da psicologia social e, fundamentalmente, se direcionou no sentido de privilegiar o conceito de representação social na mediação interativa entre sujeito e objeto (Vigotski, 1999b, p. 53).
O conceito de Supervisão é esmiuçado pela própria palavra, como o profissional que possui uma “supervisão”, ou seja, quem possui a visão do todo, do conjunto das etapas do processo formativo.
A liderança do supervisor escolar é percebida como resultado de processos de ensino-aprendizagem/aprendizagem-ensino, no qual é importante a criação de um clima de construção de conhecimentos e de uma disposição social que se permita desenvolver os quatro pilares da educação. Segundo Delors (2000): Aprender a aprender ? motivação para a busca do conhecimento onde ela se encontra; Aprender a fazer ? o desenvolvimento de competências e habilidades; Aprender a conviver ? o desenvolvimento de atitudes de solidariedade; Aprender a ser ? o desenvolvimento integral da pessoa, sua autoestima, autodeterminação, responsabilidade, espiritualidade e criatividade. E, no mundo globalizado, os quatro pilares da educação se completam com o aprender a empreender.
A Supervisão Escolar surgiu historicamente, no Brasil, com a Reforma Francisco Campos, em 1931, e o supervisor escolar incorporou o papel do profissional que tinha como função inspecionar, fiscalizar, vigiar, controlar, vistoriar, gerenciar e até punir. Entretanto, essa concepção transitou de uma perspectiva mais autoritária para uma mais democrática, principalmente após a década de 1990, quando houve um movimento de educação para uma cidadania, inspirado em Freire, Piaget, Vygotsky, Giroux, entre outros. Assim, atualmente, o conceito de supervisor se aproxima mais das funções de coordenar, gerir, dialogar com a equipe educativa que trabalha. De acordo com Vasconcellos (2002, p. 88), esse profissional é “como um intelectual orgânico no grupo (conforme Gramsci); suas práxis, portanto, comporta as dimensões reflexiva, organizativa, conectiva, interventiva e avaliativa”. Devendo:
¾ “Atuar e assessorar diretamente junto à equipe de gestão e coordenação (de ensino, dos cursos, de pesquisa, de extensão)” (o. c);
¾ Envolver-se na “organização da matriz curricular e elaboração de planos de ensino e ementas, de acordo com os objetivos de curso e necessidades” (n. h.);
¾ Colaborar no “planejamento e efetivação do Calendário Letivo” (e.b.), de acordo com as exigências da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996);
¾ Empenhar-se nos procedimentos de “acolhida aos professores iniciantes, principalmente os que não têm experiência como trabalhadores em educação” (c. a.) e no planejamento da formação continuada dos demais professores;
¾ Auxiliar na “articulação entre o mundo do trabalho e o mundo da educação” (l.p.);
¾ “Orientar o planejamento e acompanhar a sua execução, dialogando sobre possíveis melhorias e posturas a serem adotadas” (e.j.);
¾ “Conhecer e auxiliar na elaboração, revisão e atendimento ao que estabelece a Organização Didática Institucional, o Projeto de Desenvolvimento Institucional.
Entre as respostas, observa-se a necessidade da atuação na formação inicial e continuada, pois, para ser um bom educador, não basta possuir sólida formação técnica e científica. Entretanto, é indispensável que o educador desenvolva conhecimentos, habilidades, competências e qualificado desempenho pedagógico, para que mobilize o educando ativamente para a construção do conhecimento.
O papel do supervisor escolar perpassa o conhecimento docente. É um profissional que deve e precisa estar envolvido com a dinâmica escolar, ou seja, necessita realizar práticas que priorizem o processo de ensino-aprendizagem como um todo. No grupo de docentes da escola, o supervisor será a referência para um trabalho eficaz e eficiente desses profissionais, sendo parceiro para tal. Por isso, o acompanhamento do trabalho docente e do desempenho discente são algumas das atribuições específicas desse profissional, assim como estar alerta aos acontecimentos da escola (v. a.d.).
Uma das características indissociáveis para a área da Supervisão Escolar está ligada ao compromisso da educação para a autonomia, da concepção de conhecimento como ferramenta para a emancipação, para a criticidade, levando a tomada de consciência da situação, como enfatiza Saviani (2010, p. 32): “A função do supervisor é uma função precipuamente política e não principalmente técnica”. Nesse sentido, cabe dialogar com os demais segmentos da instituição educativa acerca da concepção de ciência, de ser humano, de sociedade e de mundo. Avançando para a intensa conexão entre o pensar, o planejar, o executar, o avaliar, o agir pedagógico e a concomitante reflexão sobre sua prática.
Para a educadora Rangel (2010, p. 71), o que se busca nas contribuições do supervisor é encontrar nele o profissional que “acompanha, controla, avalia, direciona as atividades da escola, evitando ‘desvios’ na direção do seu sucesso”. Para atingir tal propósito, alguns atributos são indispensáveis, pois necessita ser “capaz de pensar e agir, com inteligência, equilíbrio, liderança, autoridade, ‘dominando’ conhecimentos técnicos e de relações humanas”. Diante do exposto, justifica-se a relevância do trabalho desse profissional.


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