O gênero
A crônica é fruto do jornal, onde aparece entre notícias efêmeras. Trata-se de um gênero literário que se caracteriza por estar perto do dia-a-dia, seja nos temas,
ligados à vida cotidiana, seja na linguagem despojada e
coloquial do jornalismo. Mais do que isso, surge inesperadamente como um
instante de pausa para o leitor fatigado com a frieza da objetividade jornalística. De extensão limitada, essa pausa se caracteriza exatamente por
ir contra as tendências fundamentais do meio em que aparece, o jornal diário. Se a notícia deve ser sempre objetiva e impessoal, a crônica é subjetiva e pessoal. Se a linguagem jornalística deve ser precisa e enxuta, a crônica é impressionista e lírica. Se o jornalista deve ser metódico e claro, o cronista costuma escrever pelo método da conversa fiada, do assunto-puxa-assunto, estabelecendo uma
atmosfera de intimidade com o leitor.
A obra
Os melhores contos de Rubem Braga (1985) na verdade são 39 crônicas, selecionadas pelo professor Davi Arrigucci Jr.,
que podem ser divididas em:
1. Passado
interiorano ou em Cachoeiro do Itapemirim – reunindo as crônicas em que o narrador aborda, de forma lírica e nostálgica, a vida na cidade pequena do interior, entre caçadas de passarinho, encontro com moradores da cidade grande, peladas na
rua, pescarias, cachorros amigos, e a vegetação abundante do meio quase rural:
― Tuim criado no dedo
― A moça rica
― Negócio de menino
― Caçada de paca
― Praga de menino
― Lembrança de Zig
― O sino de ouro
― O cajueiro
― História de pescaria
2. Luta contra
a repressão durante a ditadura getulista (1936 - 1945) – textos em
que o velho Braga rememora as aventuras vividas na fuga à repressão durante o Estado Novo, sempre mesclando à luta política aspectos sentimentais e existenciais:
― Diário de um subversivo
― Era uma noite de luar
― Os perseguidos
3. Observação das injustiças sociais – crônicas centradas no conflito entre
os que nada têm e os mais privilegiados. Observe-se a semelhança de Conto de Natal com Vidas Secas, de Graciliano Ramos, e principalmente
com o Auto de Natal Pernambucano que é Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto:
― O jovem casal
― Noite de chuva
― Conto de Natal
4. Casos da
cidade grande ou do exterior – textos relatando episódios passados na cidade grande, alguns de maneira bastante realista e
outros, como Marinheiro na rua, com toque surrealista ou, como O homem da estação, com claras influências do expressionismo de Franz Kafka:
― Coração de mãe
― Marinheiro na rua
― O homem da estação
― A navegação de casa
― O espanhol que morreu
― O rei secreto de França
― Um braço de mulher
― Os amantes
― O afogado
― As luvas
5. Conversas
corriqueiras – diálogos travados pelo narrador ou por personagens outras
em que predomina a observação das sutilezas psicológicas:
― Falamos de carambolas
― Aula de inglês
― A partilha
― Força de vontade
― Visita de uma senhora
― Do Carmo
6. Instantes de
epifania pura – embora a epifania apareça de forma nuclear em muitos dos
textos agrupados em outras categorias, nestes aparece de forma desnuda, pura,
sendo a essência dos textos, que descreves instantes únicos de alumbramento, de iluminação:
― Madrugada
― O mato
― Visão
7. O narrador
"voyeur" – crônicas em que o narrador observa,
atraído como um "voyeur", as ações de mulheres/meninas:
― Viúva na praia
― A mulher que ia navegar
― A primeira mulher do Nunes
― Encontro
― As meninas.
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