A GRAMÁTICA FEMININA*
Eduardo Sabbag **
* Na semana em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, o Professor Sabbag elabora um poema em homenagem à mulher, por ele carinhosamente rotulada de “gênero inclassificável”. Nos versos, o Professor faz curiosas associações do vocábulo “mulher” a elementos gramaticais, cujos desdobramentos podem ser conferidos nas notas de rodapé.
** Eduardo Sabbag: Advogado; Doutorando em Língua Portuguesa, na PUC/SP; Doutorando em Direito Tributário, na PUC/SP; Mestre em Direito Público e Evolução Social, pela UNESA/RJ; Professor de Direito Tributário e de Língua Portuguesa, na Rede de Ensino LFG/ANHANGUERA; Coordenador e Professor do Curso de Pós-graduação, em Direito Tributário, na Rede de Ensino LFG/ANHANGUERA. Autor do Manual de Direito Tributário, 3ª edição, pela Editora Saraiva; Elementos de Direito Tributário, 12ª edição, pela Editora RT; Redação Forense e Elementos da Gramática, 4ª edição, pela Editora RT; e diversas outras obras.
Mulher: dissílaba, na classificação;
Substantivo comum e concreto, na gramática; Perante todos, um ser “concretamente incomum”.
Do gênero feminino, como substantivo, a mulher faz parte; Como ser privilegiado, “faz o gênero” que quiser...
Mulher: gênero inclassificável!
Mulher: uma palavra sem a força do acento gráfico, Mas que soa forte, como o “sim” e o “não” de uma mulher.
Se é dito “eu amo mulher” – o cacófato; se é escrito “mulher docílima” – o superlativo na expressão; Aos prisioneiros de seus encantos, a paráfrase de Caetano adverte: “dulcíssima prisão”.
Mulher não é verbo;
Se o fosse, de conjugação única, sê-lo-ia... e no tempo verbal “mais-que-perfeito”!
Com efeito, na gramática ou fora dela;
O (vere)dito popular ensina: “Ela é a tampa da panela”.
Mulher: gênero inclassificável!
Mulher: uma palavra com seis distintas letras;
A “alma de mulher”: seis preciosos sentidos...
“Mulher” se escreve assim, no singular;
Mas sempre se “lê”, no plural, “mulheres” – um ser multifacetado que é...
Se “da vida”, a meretriz; se “fatal”, a sedutora; se “com pudor”, o encanto;
Para os desavisados, leia-se: “Mulher não é sexo frágil, só se o quiser...”
Daí o seu poder, um “poder-fato”, e não um “poder-dúvida”, como o de certos homens que não a conhece, de fato...
Mulher: gênero inclassificável!
Se “mulher-homem”, a opção;
A mulher sem homem, a falta de opção.
Mulher irascível: a TPM;
Homem ao lado de mulher com TPM: a tensão.
Homem abandona mulher, “mulher-superação”;
Mulher abandona homem, “homem sem chão”.
Lugar de mulher, o homem quer decidir;
O homem sem a mulher, perdido sem lugar.
Mulher: gênero inclassificável!
Mulher “dona de casa”, o trabalho árduo;
Mulher dentro de casa, a organização.
Mulher companheira, bem mais que ele;
Mulher fiel, o presente dele.
Mulher casada, o compromisso;
Mulher solteira, a busca disso;
Mulher professora, com quem aprendemos.
Esposa mulher, com quem convivemos.
Mulher: gênero inclassificável!
Mulher se vestindo: para outra mulher;
Mulher no espelho: idem, idem.
Cabelos brancos, tinta;
Olhos e sobrancelhas, pinta.
Coisas de mulher, o segredo;
Traição de mulher, sem segredo.
Mulher: gênero inclassificável!
Mulher moderna, o trabalho;
Mulher no sábado, o salão.
Sonho de mulher, compras irrestritas;
Mulher sonhando, paixão à vista.
Lágrimas de mulher: o mistério;
Mulher em lágrimas: Delegacia da Mulher!
Mulher: gênero inclassificável!
Alma de mulher: Chico Buarque;
Mulher e atitude: Alcione.
“Eu gosto é de mulher”: Ultraje a Rigor;
“Perfume de mulher”: filme de rigor!...
“Mulher de Trinta”, no samba de Miltinho;
A maturidade, em Honoré de Balzac.
Mulher sereia, só dentro d`água;
Mulher “Amélia”: fora...de moda!
“Mulher honesta”, no Código Penal;
Mulher e “gravidezes”, o detalhe do plural.
Mulher: gênero inclassificável!
Mulher grávida, continuidade do amor;
Mulher mãe, o amor contínuo.
Mulher que “dá à luz gêmeos”: gramática em dia! Ser “mãe-mulher”: uma beleza indizível e, enquanto bela, pleonasmo”.
De tudo, uma notável certeza:
“Mãe-mulher”, de onde viemos;
“Mulher-terra”, pra onde iremos.
março de 2011