"Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham, nem fiam. E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles".

domingo, 26 de abril de 2015

A grande magia da Natureza

A grande magia da Natureza reside nas lições que ela nos dá. Apenas é preciso saber captá-las, saber entende-las. Claro que ela não nos fala, apenas se expõe e se mostra para nós. Para ver, basta abrir os olhos, e para entender, basta abrir a alma... Vejam o exemplo da árvore, basta que seja apenas um ramo dela, já serve de sustentáculo para a transformação da Vida. Ela tem o poder de se recriar, de resistir a muitas mutilações que lhe são impostas.
Apenas com o golpe final, é que perece. Como nossa vida... Nasce, tem seu ciclo, e chega ao fim.
A feia e até asquerosa lagarta precisou recolher-se em seu casulo para se transformar em uma linda borboleta, num autentico milagre da Natureza.
Meditemos, pensando que apenas nessa fração de segundo, em que observamos essa imagem, podemos ter a noção de que tudo na vida é assim, em tudo e para tudo, sempre dependeremos de algo ou de alguém para nossa sobrevivência, pois ninguém, nada, sobrevive sozinho. Somos um no todo. Não deve existir a individualidade. Devemos ser humildes para entender que sempre precisaremos de alguém a nosso lado. Nada somos sozinhos.
Podemos caminhar com tranquilidade para a transformação da vida, se nos dermos as mãos.
Assim, poderemos encontrar a luz e refletir a beleza da vida, se juntos estivermos. Nem que seja apenas para trocar idéias.
Cada um dos seres sejam eles animados ou inanimados possuem em si as Essências Divinas, que lhes possibilita a existência. Devemos então respeitar cada uma dessas expressões de vida, pois fazemos parte delas, como elas fazem parte de nós. Jamais poderemos nos julgar superiores a quem ou a o que quer que seja. Temos que entender que pode bastar uma minúscula bactéria para acabar com a vida da mais poderosa criatura do mundo.
Respeito e amor. Amor pela humanidade e respeito pela vida, é o que nos permitirá encontrar a felicidade, e somente a conseguiremos, se juntos seguirmos na caminhada. Cada um fazendo a sua parte, com respeito e amor. Cada um cedendo espaço para que o plano divino se complete. Não existe a autossuficiência. Ninguém se basta sozinho. Há que se entender que precisamos uns dos outros.
E quando isso é negado, a vida se encarrega de nos colocar em situações desagradáveis, dando-nos as lições necessárias para aprendermos a lição maior, que nos ensina que o sentimento maior se chama humildade. E que esta humildade é a base de tudo. Humildade para reconhecer que todos precisam de todos para sobreviver. Ninguém é melhor, e nem mais importante do que ninguém. Para o ciclo da vida se completar é preciso entender essa lição.
E humildemente, peço que quando estiver lendo esse texto, dê um sorriso porque estou lhe desejando um bom e lindo dia!


 AD

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Sentimentos e diminutivos plurais

Alguns estudiosos apregoam que não se deve usar as palavras “saudades” e “ciúme” no plural, entretanto, como é muito comum o uso do plural nestes casos e considerando que a prática do uso da linguagem, assim como um organismo vivo,  constantemente passa por mudanças, podemos inferir que os sentimentos e disposições de espírito têm plural, sim: saudades, ciúmes, alegrias, felicidades, desgostos. Palavras como pêsames, parabéns e felicitações, por exemplo, eram originalmente usadas no singular (Meu Pêsame. Parabém! Receba nossa felicitação.), mas foram sendo substituídas pela forma plural.
Isto não que dizer que o singular não exista e não seja usado. Com efeito, os substantivos que exprimem noções abstratas, vícios e virtudes em geral têm seu emprego no singular: Quanta bondade! Queremos paz e harmonia. Tenho-lhe afeição. Sinto muita saudade. A felicidade é tudo na vida. Sua alegria é contagiante.
Contudo, é usual dizermos “Desejo-lhe felicidades” ou “Que as alegrias da juventude continuem por toda a vida”, assim com a flexão numérica, exatamente pela ideia de plural, de “momentos de alegria” e de “felicidade em muitas dimensões”.

Plural do substantivo diminutivo
A formação do diminutivo se faz por meio de sufixos, entre os quais (z)inho é o que tem mais vitalidade: pão – pãozinho; pá – pazinha; mão – mãezinha; coração – coraçãozinho; pastel – pastelzinho; colher – colherinha ou colherzinha; devagar – devagarzinho ou devagarinho; igual – igualzinho e assim por diante.
O plural dos diminutivos em zinho é formado acrescentando-se zinhos ao plural do substantivo primitivo menos o S:

- pá
- pás
- pa(s)zinhas
= pazinhas

- caracol
- caracóis
- caracoi(s)zinhos
= caracoizinhos

- pão
- pães
- pãe(s)zinhos
= pãezinhos

- coração
- corações
- coraçõe(s)zinhos
= coraçõezinhos

- igual
- iguais
- iguai(s)zinhos
= iguaizinhos

- carretel
- carretéis
- carretei(s)zinhos
= carreteizinhos

- mãe
- mães
- mãe(s)zinhas
= mãezinhas

- colher
- colheres
- colhere(s)zinhas
= colherezinhas

Contudo, com os substantivos terminados em R ou Z pode-se fugir à regra, eliminando-se o e intermediário. É mais comum falar e  escrever assim:
As colherzinhas são de plástico.
O buquê foi feito com botões de rosas e outras florzinhas brancas.
Instalaram uma porção de barzinhos à beira da praia.
Que rapazinhos educados!

Essas palavras também podem ter a formação usual, naturalmente: dorzinhas ou doreszinhas; amorzinhos ou amorezinhos; mulherzinas ou mulherezinhas.

Fonte:
(Adaptado do livro) PIACENTINI, Maria Tereza de Queiroz. Não tropece na língua: lições e curiosidades do português brasileiro. Curitiba: Bonijuris, 2012.


segunda-feira, 13 de abril de 2015

A força da leitura...

Ler deveria ser proibido
A pensar fundo na questão, eu diria que ler devia ser proibido.
Afinal de contas, ler faz muito mal às pessoas: acorda os homens para realidades impossíveis, tornando-os incapazes de suportar o mundo insosso e ordinário em que vivem. A leitura induz à loucura, desloca o homem do humilde lugar que lhe fora destinado no corpo social. 
Não me deixam mentir os exemplos de Don Quixote e Madamme Bovary. O primeiro, coitado, de tanto ler aventuras de cavalheiros que jamais existiram, meteu-se pelo mundo afora, a crer-se capaz de reformar o mundo, quilha de ossos que mal sustinha a si e ao pobre Rocinante. Quanto à pobre Emma Bovary, tomou-se esposa inútil para fofocas e bordados, perdendo-se em delírios sobre bailes e amores cortesãos.
Ler realmente não faz bem. A criança que lê pode se tornar um adulto perigoso, inconformado com os problemas do mundo, induzido a crer que tudo pode ser de outra forma. Afinal de contas, a leitura desenvolve um poder incontrolável. Liberta o homem excessivamente. Sem a leitura, ele morreria feliz, ignorante dos grilhões que o encerram. Sem a leitura, ainda, estaria mais afeito à realidade quotidiana, se dedicaria ao trabalho com afinco, sem procurar enriquecê-la com cabriolas da imaginação.
Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não experimentaria nunca o sumo Bem de Aristóteles: o conhecer. Mas para que conhecer se, na maior parte dos casos, o que necessita é apenas executar ordens? Se o que deve, enfim, é fazer o que dele esperam e nada mais?
Ler pode provocar o inesperado. Pode fazer com que o homem crie atalhos para caminhos que devem necessariamente ser longos. Ler pode gerar a invenção. Pode estimular a imaginação de forma a levar o ser humano além do que lhe é devido.
Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia. Nos transportam a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal. Nos fazem acreditar que a vida é mais do que um punhado de pó em movimento. Que há algo a descobrir. Há horizontes para além das montanhas, há estrelas por trás das nuvens. Estrelas jamais percebidas. É preciso desconfiar desse pendor para o absurdo que nos impede de aceitar nossas realidades cruas.
Não, não deem mais livros às escolas. Pais, não leiam para os seus filhos, podem levá-los a desenvolver esse gosto pela aventura e pela descoberta que fez do homem um animal diferente. Antes estivesse ainda a passear de quatro patas, sem noção de progresso e civilização, mas tampouco sem conhecer guerras, destruição, violência. Professores, não contem histórias, podem estimular uma curiosidade indesejável em seres que a vida destinou para a repetição e para o trabalho duro.
Ler pode ser um problema, pode gerar seres humanos conscientes demais dos seus direitos políticos, em um mundo administrado, onde ser livre não passa de uma ficção sem nenhuma verossimilhança. Seria impossível controlar e organizar a sociedade se todos os seres humanos soubessem o que desejam. Se todos se pusessem a articular bem suas demandas, a fincar sua posição no mundo, a fazer dos discursos os instrumentos de conquista de sua liberdade.
O mundo já vai por um bom caminho. Cada vez mais as pessoas leem por razões utilitárias: para compreender formulários, contratos, bulas de remédio, projetos, manuais, etc. Observem as filas, um dos pequenos cancros da civilização contemporânea. Bastaria um livro para que todos se vissem magicamente transportados para outras dimensões, menos incômodas. E esse o tapete mágico, o pó de pirlimpimpim, a máquina do tempo. Para o homem que lê, não há fronteiras, não há cortes, prisões tampouco. O que é mais subversivo do que a leitura?
É preciso compreender que ler para se enriquecer culturalmente ou para se divertir deve ser um privilégio concedido apenas a alguns, jamais àqueles que desenvolvem trabalhos práticos ou manuais. Seja em filas, em metrôs, ou no silêncio da alcova… Ler deve ser coisa rara, não para qualquer um. Afinal de contas, a leitura é um poder, e o poder é para poucos. Para obedecer, não é preciso enxergar, o silêncio é a linguagem da submisso. Para executar ordens, a palavra é inútil.
Além disso, a leitura promove a comunicação de dores, alegrias, tantos outros sentimentos. A leitura é obscena. Expõe o íntimo, torna coletivo o individual e público, o secreto, o próprio. A leitura ameaça os indivíduos, porque os faz identificar sua história a outras histórias. Torna-os capazes de compreender e aceitar o mundo do Outro. Sim, a leitura devia ser proibida.
Ler pode tornar o homem perigosamente humano.



Fonte: Trecho do livro, PRADO, J. & CONDINI, P. (Orgs.). A formação do leitor: pontos de vista. Rio de Janeiro: Argus, 1999. pp. 71-3.