"Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham, nem fiam. E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles".

domingo, 9 de fevereiro de 2014

O texto empresarial moderno no contexto contemporâneo



A modernização de estilo e de linguagem das correspondências empresariais aconteceu a partir de um momento histórico específico, o final dos anos 1970, como resultado de um contexto econômico em que a disputa por uma fatia do mercado mundial se tornou muito mais competitiva.
Uma das estratégias que passou a ser utilizada mundialmente foi a redação de informações de maneira mais objetiva. Com a necessidade de trabalhar na direção da qualidade e da fidelidade dos clientes, tornou-se importante discriminar os procedimentos e padrões utilizados no dia a dia, especificando-os em linguagem clara e sem duplicidade de sentido, de forma a minimizar o retrabalho e acelerar o intervalo de tempo entre os fatos e as ações.
Alguém pode argumentar que um texto mal escrito não representa perda financeira substancial para uma empresa. Entretanto, vejamos a seguir o que pode ocorrer quando circulam documentos deste tipo.
§   Desmotivação para a leitura: não se lê mais o texto todo, faz-se apenas uma leitura perpendicular, ou seja, passam-se os olhos para ver do que se trata.
§   Privilégio da troca oral de informações: na linguagem oral não há garantias de que a mensagem será transmitida com fidedignidade e, com frequência, ocorre falta de clareza das informações principais. Neste tipo de comunicação é comum não se observar a necessidade em verificar de que modo a mensagem está sendo compreendida e repassada aos demais destinatários. Da mesma maneira, torna-se mais fácil o descomprometimento com prazos e metas.
§   Falta de credibilidade: uma vez que a transparência é um dos valores mais prezados em nossos dias, é preciso ter em mente que uma mensagem mal elaborada, ambígua ou obscura, pode comprometer a credibilidade de uma área ou de toda a empresa diante de seus clientes, sejam eles internos ou externos.
§   Retrabalho: o retrabalho ocorre tanto para o emissor quanto para o receptor da mensagem. Há casos de empresas que precisaram de seis meses para operar um recadastramento, quando o tempo inicial previsto era de apenas um mês. Tudo isso porque um memorando estava escrito de maneira inadequada.
§   Conflitos internos constantes: a falta de clareza tende a gerar interpretações equívocas e perigosos erros de comunicação, o que pode levar a desagregação ― algo contrário à sinergia positiva necessária ao sucesso de qualquer ambiente profissional.
§   Ineficiência para novos negócios: o poder de persuasão de um texto é seriamente comprometido pela ocorrência de equívocos, o que pode resultar em perdas de lucratividade.
É muito provável que a perda gerada por falhas na transmissão de informações não possa ser mensurada em termos estritamente financeiros, mas, com certeza, o prejuízo econômico provocado pelo desgaste dessas falhas é substancial.
Conclui-se então que, em tempos de mercados mundiais e de luta por sobrevivência na era da globalização, não basta apenas investir em informação e tecnologia, mas naquilo que, dentro da sociedade humana, tem valor de troca: a comunicação.
Em termos empresariais, essa comunicação tem valores bem definidos: a clareza e a objetividade das informações proporcionam e impulsionam a fidedignidade das mensagens e a agilidade das decisões, molas da sobrevivência e do lucro.

O princípio fundamental do texto empresarial

A comunicação empresarial, diferentemente do texto jornalístico e do literário, tem como seu principio fundamental gerar uma resposta objetiva àquilo que é transmitido. Ou seja, gerar uma ação. Não podemos esquecer que existem diferenças entre os textos jornalísticos, literários e empresariais, sendo que o jornalístico tem como objetivo levar a informação, o literário, causar emoção, e o empresarial, conforme já mencionado, gerar uma ação.
Na correspondência empresarial, o documento é sempre redigido para um cliente (interno ou externo) visando a uma resposta dele. Se o cliente der a resposta que se espera, o texto foi eficaz; se não, o texto tem de ser obrigatoriamente repensado e reescrito.
Não são poucos os casos empresariais em que uma rápida providência que deveria resultar de uma mensagem demorou meses só por causa de um texto mal escrito. Também não são raras as situações em que relatórios são lidos e suas informações, embora importantíssimas, passam completamente despercebidas pelo destinatário.
Imaginemos o caso de uma grande empresa que precisasse alertar seus credenciados sobre várias mudanças — algumas fundamentais, outras nem tanto. Na estruturação da carta, no entanto, as informações secundárias acabaram obtendo tanto destaque que os credenciados não valorizaram as principais. A consequência direta desse texto mal escrito seria o atendimento parcial ao que foi solicitado, gerando posteriormente um gasto extraordinário de tempo com telefonemas explicativos.

A eficácia do texto

A eficácia do texto empresarial moderno equivale à força da retórica clássica. Na Antiguidade, o discurso retórico continha uma função expressiva e persuasiva consagrada pelos oradores. Hoje em dia, o meio empresarial gasta fortunas em marketing direto, esquecendo-se de usar em seu texto recursos que se configuram como arma preciosa no relacionamento com o cliente, seja ele interno ou externo.
Há que se perceber, antes que seja tarde demais, como o simples e-mail cotidiano funciona como instrumento de endomarketing, reforçando ou conferindo novos rumos à cultura da empresa.
O texto escrito deve ser percebido como um instrumento relacionado à função estratégica empresarial, intervindo diretamente em três grandes dimensões: na cultura da empresa, no aspecto motivacional e no econômico.

Características do texto empresarial

Ao escrever a clientes, responder a solicitações, passar informações sobre diversos assuntos, subsidiar informações para a tomada de decisões, o texto deve apresentar frases curtas com um vocabulário simples e formal.
Nem o vocabulário sofisticado nem as frases longas e rebuscadas contribuem para um rápido entendimento da mensagem, levando o leitor a um desperdício de tempo, quando não a uma desmotivação progressiva que acarretará, inconscientemente, a rejeição da mensagem.
Não devemos nos esquecer que a mudança cultural imposta na linguagem das correspondências reflete também um estilo da vida moderna, em que a informação valorizada é aquela de mais fácil digestão — haja vista a grande influencia dos meios de comunicação em massa.
Além disso, você deve reconhecer que um leitor, por mais inteligente que seja, precisa de tempo para decodificar as palavras, reconhecer seus sentidos e identificar as relações entre as ideias. Assim, torna-se evidente que quanto menor o esforço para decodificar o texto, mais o leitor aprenderá sobre a mensagem.
As características do texto empresarial moderno são conceituadas conforme a seguir:

Concisão
Concisão significa expressar o máximo de informações sem repetições e excesso de ideias. Para atingir esse objetivo, é preciso determinar com precisão as informações realmente relevantes, bem como avaliar o significado das palavras e expressões utilizadas. O texto bem escrito e que pretende ser conciso é aquele em que todas as palavras e informações utilizadas têm uma função significativa.

Objetividade
A objetividade refere-se às ideias expressas. Em toda situação de comunicação há inúmeras ideias que permeiam a informação, e todas elas estão, direta ou indiretamente, ligadas ao assunto.
Entretanto, para se expressar com objetividade, deve-se estar atento para expor ao destinatário as ideias principais, retirando do texto todas as informações consideradas supérfluas, que levam o leitor a perder o foco do assunto tratado.
A questão principal, quando se fala em objetividade, é saber definir quais são as informações relevantes que desejamos transmitir naquele momento.

Clareza
Segundo o professor Rocha Lima, dois procedimentos são fundamentais para a obtenção da clareza textual:
§  educar a nossa capacidade de organização mental;
§  aprender a pôr em execução convenientemente o material idiomático.
O motivo pelo qual se considera a clareza uma das características mais difíceis de ser obtida está no fato de, para aquele que emite a mensagem, a ideia já estar clara em sua mente. Ou seja, o emissor julga erroneamente estar se expressando com a necessária clareza, pois a ideia que está formulando lhe é familiar.
Essa relação entre o pensamento e a linguagem traz como consequência direta uma falta de percepção mais apurada sobre o próprio enunciado, uma vez que sua leitura está conectada à ideia. Portanto, o emissor não percebe as falhas ou lacunas de sentido que podem existir na passagem das ideias para seu corpo material, isto é, para as palavras.
Um exemplo do que estamos dizendo são as famosas brincadeiras verbais, muitas delas usadas como apelo de marketing, do tipo:

Cachorro faz mal à moça!
Na verdade, é um sanduiche cachorro-quente

Vou mandar-lhe um porco pelo meu irmão, que está bem gordo.
Presume-se que quem esteja gordo seja o porco

Pedro e Paulo vão se separar.
Eles não são casados entre si. Cada um vai separar-se de sua respectiva mulher

Todas essas frases possuem duplo sentido e são um problema à clareza. Muitos relatórios e ofícios também contêm construções semelhantes, além de frases intercaladas, parágrafos longos, orações excessivamente subordinadas, má colocação na ordem dos termos, excesso de concisão etc.

Coerência
A coerência diz respeito à conexão entre as ideias apresentadas no texto. Sem ela, as frases ficam perdidas e sem lógica. Evidentemente, esta característica não é apenas do texto moderno, mas de toda e qualquer comunicação escrita ao longo dos tempos. A língua escrita exige um rigor e uma disciplina de expressão muito maiores do que a língua falada, obrigando o emissor a expressar-se com harmonia tanto na relação de sentido entre as palavras quanto no encadeamento de ideias dentro do texto.
Para se obter a adequada conexão de sentido na relação entre as palavras, é necessário ater-se à significação de cada uma delas. Por sua vez, o encadeamento lógico do texto se faz principalmente mediante relações de tempo, espaço, causa e consequência.

Linguagem adequada
Para que a linguagem de qualquer documento empresarial seja adequada é preciso levar em conta quem será o destinatário da mensagem e o assunto a ser tratado.
Como hoje em dia utiliza-se o e-mail como canal privilegiado para a transmissão de vários tipos de informação, deve-se tomar muito cuidado para que a linguagem não seja influenciada por este tipo de canal, resultando em textos descuidados.
É necessário entender que o e-mail é um meio para que a organização agilize seu fluxo de informações. Entretanto, como toda mensagem transmitida constitui um documento empresarial, privilegia-se uma linguagem mais formal.
Obviamente, na circulação de informações entre colegas de departamento, a formalidade será substituída pela informalidade, ainda que com os devidos cuidados.

Correção gramatical
Qual é a imagem transmitida pela pessoa que fala de maneira errada? E pela empresa que não cuida da linguagem de seus documentos?
Erros de concordância, verbos mal utilizados, problemas de acentuação, crases e vírgulas mal colocadas comprometem a imagem da empresa, uma vez que a linguagem funciona como um espelho da qualidade dos produtos ou serviços de uma empresa: o mesmo tratamento dado à linguagem é estendido ao produto ou serviço oferecido ao cliente.


Fonte: Adaptado do livro Redação empresarial. Miriam Gold. - 4. ed. - São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010




sábado, 1 de fevereiro de 2014

A Presidenta

Presidente ou presidenta?


Para acabar de vez com toda e qualquer dúvida se tem “presidente” ou “presidenta”.

Observe:
A presidenta foi estudanta?

Existe a palavra: PRESIDENTA?

No português existem os particípios ativos como derivativos verbais.
O particípio ativo do verbo atacar é atacante, de pedir é pedinte, o de cantar é cantante, o de existir é existente, o de mendicar é mendicante...
Qual é o particípio ativo do verbo ser?
O particípio ativo do verbo ser é ente. Aquele que é: o ente. Aquele que tem entidade.

Assim, quando queremos designar alguém com capacidade para exercer a ação que expressa um verbo, há que se adicionar à raiz verbal os sufixos -ante, -ente ou -inte.
Portanto, a pessoa que preside é PRESIDENTE, e não "presidenta", independentemente do sexo que tenha.
Diz-se: capela ardente, e não capela "ardenta"; se diz estudante, e não "estudanta"; se diz adolescente, e não "adolescenta"; se diz paciente, e não "pacienta".

Um exemplo deste erro grosseiro seria:
"A candidata a presidenta se comporta como uma adolescenta pouco pacienta que imagina ter virado eleganta para tentar ser nomeada representanta. Esperamos vê-la algum dia sorridenta numa capela ardenta, pois esta dirigenta política, dentre tantas outras suas atitudes barbarizentas, não tem o direito de violentar o pobre português, só para ficar contenta".